RetroArkade – O dia em que os quadrinhos da Turma da Mônica ficaram em 3D

28 de novembro de 2021
RetroArkade - O dia em que os quadrinhos da Turma da Mônica ficaram em 3D

As três dimensões sempre foram algo admirado e trabalhado pelos seres humanos. Nos tempos da Grécia Antiga, passando pelos árabes, até Leonardo da Vinci, o desenho com noções de perspectiva com ilusão de profundidade é algo que é aperfeiçoado até hoje, tendo seu lugar garantido em salas de cinema, levando mais profundidade em diversos filmes.

Nos anos 80, a situação não era diferente. As três dimensões estavam presentes já no cinema, com aqueles óculos de cores diferentes, mas também nos videogames que, começavam, no final desta década a melhorar o conceito de jogos tridimensionais. Já nos anos 90, a “década da consolidação”, todo mundo falava em 3D.

Nos videogames, arcades e consoles caseiros traziam games o mais realista possível para aquela época. No cinema, Toy Story e Cassiopéia iniciariam uma história de longas feitos usando o recurso. Enquanto na tecnologia, dia após dia surgiam pesquisas e produtos usando e abusando das três dimensões.

E, neste cenário, até um artista de histórias em quadrinhos quis se aventurar nas três dimensões. É claro que estou falando de Mauricio de Sousa e a sua Turma da Mônica que, em 1994, começou a fazer histórias em quadrinhos em 3D, em um misto de projeto experimental e a busca de arte ao tentar algo bem diferente, e único, do usual nos gibis.

Uma brincadeira que ficou tridimensional

Em seu livro Maurício, a História que não está no Gibi, o artista conta que, almoçando com seus filhos pequenos em um restaurante, em algum domingo de 1994. Para distraí-los, ele desenhou a Mônica em uma taça, para que os olhos da personagem se movimentasse a partir da taça, gerando um efeito especial.

A ideia era desenhar a Mônica sem os olhos na frente, colocando-os na parte de trás. Mas, sem querer, os dois olhos se tornaram três. Assim, Mauricio tentou “corrigir” o desenho fazendo um olho só, que no efeito, se tornou em dois. Ele percebeu, assim, que era possível visualizar imagens semelhantes em uma profundidade virtual, sem uso de óculos especiais.

Naqueles dias, era comum o uso de brincadeiras em três dimensões, usando óculos especiais. A Elma Chips, vendia um álbum que vinha com uma lupa que, em efeitos específicos, escondia elementos nas páginas, fazendo a criança procurá-lo com o elemento.

Mauricio, que além de autor sempre gostou de trabalhar com invenções, no melhor estilo Franjinha, viu ali uma oportunidade para explorar em seus gibis.

3D Virtual

Ainda em 1994, em setembro, o 3D Virtual já foi implementado nas revistas da Turma da Mônica. Mônica #93 foi a primeira a contar com a novidade, em sua capa, local das primeiras aparições da arte tridimensional.

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Ocasionalmente, as outras revistas também tiveram capas em 3D, com a página três explicando sobre a novidade, e ensinando as crianças a como usá-la. As revistas, que já vendiam milhões de unidades mensais naqueles dias, viram uma boa recepção por parte das crianças, que tentavam aprender a ver em três dimensões, sem um óculos. E anos antes do Nintendo 3DS.

Uma coisa que ficou marcado já naquela época, era que algumas pessoas conseguiam visualizar a profundidade de maneira fácil, enquanto outras demoravam para conseguir, e outras ainda nunca conseguiram ver nada em três dimensões. Estou no terceiro grupo, infelizmente. Mas quem vê, diz que é só colocar a revista perto do nariz, deixar a visão vesga propositadamente, e ir afastando aos poucos.

As crianças iam, por elas próprias, buscando meios de ver da melhor maneira possível as imagens no 3D proposto.

Dois meses depois da capa, chegou a vez do 3D ir para as histórias, em Mônica #95. O Espelho Dimensional, que colocava a garota do vestido vermelho dentro de um espelho 3D feito pelo Franjinha, foi a primeira história a usar a tecnologia.

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As histórias, de forma geral, eram simples, até sem falas, apenas para a interação tridimensional. Além das imagens repetidas, os quadrinhos em 3D também não tinham moldura, e no começo da historinha, a icônica frase: “Olhe as ilustrações em 3D como se o foco visual estivesse por trás do papel”.

Assim, as historinhas apareciam, eventualmente, nos gibis da Turma. Mas da mesma forma que os quadrinhos tridimensionais surgiram, eles saíram de circulação. E de maneira orgânica, as historinhas, que tinham chegado com força em 1994, foram diminuindo em volume em 1995, até fevereiro de 1996, quando Chico Bento, no gibi de número 237, trouxe a última historinha neste formato.

Um Mauricio de Sousa experimental

Maurício sempre gostou de fazer experiências com suas criações. A própria turminha surgiu assim, da vontade de contar histórias com personagens baseados em sua vida, ou situações que aconteciam ao seu redor. Apesar da Turma da Mônica estar consolidada entre os quadrinhos mais vendidos do Brasil, Mauricio sempre tentou coisas novas.

Faz historinhas com jogadores de futebol, como Pelé, Ronaldinho Gaúcho e o Neymar. Até a sua própria versão dos Beatles ele tentou. Mas foi nas últimas décadas que ele se superou. Trouxe a Turma da Mônica Jovem, investiu em crossovers, incluindo um com a DC, ofereceu liberdade criativa a diversos artistas na Graphic MSP, e ainda hoje, segue tentando manter este espírito de experimentar e testar novas ideias em seu estúdio.

O 3D Virtual é mais uma destas experiências, que marcou a vida de muitas crianças. Todos queriam tentar, nos anos 90, ler os quadrinhos de forma tridimensional, e se divertiam de uma forma diferente, além das historinhas propriamente ditas. O que traz mais um capítulo interessante de uma das histórias mais ricas que a arte brasileira pode contar.

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