RetroArkade: Police Story, a consagração mundial de Jackie Chan

19 de fevereiro de 2017

RetroArkade: Police Story, a consagração mundial de Jackie Chan

Hoje a RetroArkade vai desligar um pouco o videogame, para dar play no videocassete e assistir as fitas empoeiradas de Police Story, clássicos do cinema de pancadaria, e que serviram para consagrar definitivamente Jackie Chan como um dos grandes atores do gênero em todos os tempos.

Entre lutas coreografadas, cenas absurdas e comédia pastelão, vamos juntos relembrar os clássicos filmes, que pudemos assistir à exaustão na Sessão da Tarde, ou durante as madrugadas da Globo, no Corujão. Só não vá se empolgar tal como fazia quando criança e sair quebrando a casa toda, combinado?

Police Story – A Guerra das Drogas (1985)

Após uma impressionante perseguição exibida logo no começo do filme, o policial Ka Kui (ou Kevin, na nossa dublagem) consegue praticamente sozinho prender um grande traficante de drogas de Hong Kong. Mas, a partir daí, o honesto policial precisa lidar com vários problemas no seu dia a dia na polícia, como a corrupção, as brechas na lei e também precisa sempre se resolver com sua namorada, com quem tem muitas discussões.

Num misto de ação e comédia, comuns nos filmes do ator, Police Story consegue garantir cenas hilárias, como a troca de fitas de provas durante um julgamento, a cena no qual ele precisa atender a seis telefones ao mesmo tempo enquanto almoça, ou as discussões entre o policial e sua namorada, mas também consegue mostrar a dura vida de um policial honesto, que precisa conviver em meio a uma rede de corrupção, que envolve o crime organizado, a lei, e até alguns policiais também. Jackie Chan toca na ferida ao mostrar todas estas dificuldades, sem deixar de lado a ação.

Vale mencionar também que Police Story foi um retorno aos filmes “para Hong Kong”, pois sua tentativa de atacar o mercado norte-americano com A Fúria do Protetor, lançado no mesmo ano, foi um grande fracasso, o que fez com que, pelo menos temporariamente, seu foco voltasse para o público local, que já assistia a seus filmes desde os anos 70, com clássicos já existentes até então, como Drunk Master e Projeto China. Este último, já faz parte da era “ação-comédia” que vendia muito bem por lá e aumentou ainda mais o prestígio de Chan.

RetroArkade: Police Story, a consagração mundial de Jackie Chan

Foi em Police Story que Chan tomou uma decisão que iria marcá-lo dali em diante: com a sua produtora Golden Harvest tendo que lidar na época com empresas rivais, que viviam procurando meios de fazer sucesso com as mesmas fórmulas, o ator passou a explorar mais as acrobacias nas cenas de ação, deixando o combate corpo a corpo em segundo plano. Esta escolha, além de gerar cenas impressionantes e muitos machucados para Jackie (ele machucou as costas em um acidente que quase o deixou sem acesso aos membros inferiores, além de ser eletrocutado por um erro de um operador, que ao invés de ligar as luzes de natal numa bateria de carro, ligou na tomada), também agradou muito um novo público, o dos Estados Unidos.

Anos após o lançamento do filme, no início dos anos 90, adeptos de cinema em geral começaram a encontrar, comprar e conversar sobre o “tal” Police Story, e rapidamente o filme foi se tornando cult por lá. As cenas de tiroteio na favela, somadas a perseguição no ônibus e a luta no shopping center ao final acabaram por gerar muitas fitas com exibição ruins nestas partes, pois, por ser material de baixa qualidade, e contar com os espectadores rebobinando estes trechos a todo momento, foi natural que houvesse um desgaste justamente nestas partes. O que fez com que tanto filme quanto ator começassem a ser observados com mais atenção por Hollywood, o que foi concretizado a partir de 1997 com Mr. Nice Guy (Bom de Briga), que garantiu a Chan mais e mais filmes por lá, passando pela série a Hora do Rush e até participando do remake de Karate Kid.

RetroArkade: Police Story, a consagração mundial de Jackie Chan

Com história simplista, mas com muita ação e comédia pastelão, o filme também caiu nas graças do público brasileiro, que acabou se identificando muito com esta proposta. Com isso, Chan virou figura carimbada na Sessão da Tarde, na Globo, mas também na Sessão Kickboxer, da Band, com seus diversos filmes, o que contribuiu mais ainda para que o ator mantivesse seu prestígio e carinho dos fãs por aqui, que até hoje assistem seus filmes clássicos e procuram ver os novos também. Ainda é possível encontrar o filme à venda hoje em DVDs, mas infelizmente, com uma dublagem nova, o que tira um pouco o valor nostálgico do filme, mas mesmo assim é altamente recomendado para todos aqueles que gostam de um bom filme de ação.

Agora, vamos a uma curiosidade e ALERTA DE SPOILER, selecione o texto em branco para ler (ou “apague a luz” do site logo acima): O final de Police Story foi totalmente cortado na edição ocidental, e posteriormente na oriental também. Jackie acredita que, para que a lei seja cumprida, todos devem pagar por seus erros, inclusive um policial, por isso, em seu final, Ka Kui vai preso junto com o vilão, já que também cometeu um crime ao fazer justiça com as próprias mãos. Mas esta cena não foi considerada interessante de ser exibida no mercado ocidental, que conta com situações exatamente contrárias, com o policial saindo como herói após algo desse gênero. Por fim, o filme termina com um frame congelado e algumas cenas de gravação do filme. Mas Ka Kui foi punido sim, tanto que no começo do segundo filme ele começa rebaixado para o departamento de trânsito.

Police Story 2 – Codinome Radical (1988)

Em primeiro lugar, preciso confessar: eu adoro estes nomes que dão para os filmes lançados no Brasil. Dito isto, obviamente que o sucesso do primeiro filme acabou gerando uma sequência, lançada três anos depois e com consequências diretas do primeiro filme. A diferença aqui, é que Chan decidiu fazer tudo com mais profundidade, talvez para chamar mais atenção de outros mercados no mundo. As cenas de ação são mais insanas, o teor do filme é, na medida do possível, mais pesado, e até o humor inocente não é tão inocente assim.

Ka Kui ainda precisa lidar com seus problemas pessoais na polícia e com sua namorada, mas para piorar, o mafioso o qual ele atrapalhou todos os negócios antes, agora quer vingança, o que resulta em mais cenas de lutas aceleradas, mais acrobacias e mais tiroteios. Mesmo assim, as mesmas notas do piano são tocadas, só que em outro tom: o policial honesto que é humilhado e luta por sua redenção, o bandido perverso que não desiste até o confronto final, além da mistura entre lei, agentes da polícia e o crime organizado, está tudo lá de novo.

RetroArkade: Police Story, a consagração mundial de Jackie Chan

O nome Police Story, que havia sido colocado no filme de propósito, genérico mesmo, para evitar imitações, acabava então, se tornando em uma franquia, com Ka Kui evoluindo como policial e mais e piores bandidos aparecendo para infernizá-lo, assim como o ciúme de sua namorada, com as mulheres bonitas que sempre aparecem em seu caminho. Além disso, percebemos também muito mais “de Hollywood” no filme, com muitas explosões e tiroteios do que os combates mano a mano, que mesmo em número menor, continuam a não decepcionar.

Temos que entender Police Story 2 por duas óticas diferentes: analisando friamente como um filme, temos um “mais do mesmo”, com um Jackie que até tenta ampliar a fórmula de sucesso do primeiro filme, mas acaba apresentando apenas uma parte 2, sem muito de novo a oferecer. Mas, analisando como um trabalho de Chan, temos aqui um maluco que filme a filme, continuava a se aventurar nas acrobacias mais malucas, que podiam render muitos e diversos machucados. E o resultado eram saltos de edifícios, quebra quebra em rodovia movimentada e uma nova destruição de um shopping center.

Police Story 3 – Supercop (1992)

Lembra quando falamos sobre a evolução de Ka Kui em sua vida de policial? Pois ao lidar com os traficantes mais barra-pesada de Hong Kong nos últimos anos, seus colegas lhe deram o “título” de Supercop, e com isso, novas missões aparecem para o incansável policial, que agora precisa se infiltrar em uma organização criminosa para prender os chefões.

Desta vez, Ka Kui vira “bandido” para conhecer e acabar com o tráfico de drogas em Hong Kong, mas também na Tailândia e na Malásia. Essa “virada de mesa” garante um pouco mais de desconforto ao espectador, já que agora o filme é mais cinza por causa disso, e o policial pode brigar com outros policiais, e até matar um agente, mas claro, nos padrões éticos e morais que Jackie exige em seus filmes, assistindo ao longa você irá entender muito bem estas questões.

Com isso, o policial acaba sendo então um agente de ação internacional, ajudando a Interpol no desmanche de uma quadrilha que atua por boa parte da Ásia, e também garante ao filme mais ambientes do que as ruas de Hong Kong. Tudo isso evolui um pouco o conceito da série, mas também atrapalha um pouco no produto final, pois o maior número de ambientes e situações tiram muito do que é ação e pancadaria do filme, e um policial infiltrado também acaba fazendo menos ação para evitar chamar atenção. Mesmo assim, é um legítimo “história de polícia” e também fez muito sucesso ao seu lançamento.

Police Story 4 – Primeiro Impacto (1996)

Como um quarto filme de uma série ganha um subtítulo de Primeiro Impacto eu não sei, mas o fato é que agora estamos em 1996 e Jackie já é um ator conhecido nos Estados Unidos, e em breve estaria estrelando muitos filmes por lá.

Evoluindo ainda mais o conceito apresentado no terceiro filme, o agora agente internacional Ka Kui viaja com a espiã Natasha na Ucrânia, tendo que lidar com conspiradores da antiga KGB soviética que ainda não aceitavam o fim da União Soviética e buscam roubar a ogiva de um míssel nuclear, em uma missão de apoio para a CIA e a inteligência russa.

Embora seja Ka Kui em ação e tenhamos muita ação e porrada no filme, no fim, este filme acaba sendo mais um filme comum do próprio Jackie Chan, como Operação Condor, por exemplo, do que um filme de policiais. O filme segue todo o estilão do ator de se fazer filmes, mas peca por colocar um policial que foi consagrado por seu envolvimento com bandidões barra-pesada da Ásia em missões de espionagem, como um James Bond genérico.

Uma aula de ação e pancadaria

RetroArkade: Police Story, a consagração mundial de Jackie Chan

Ainda houve um filme chamado New Police Story, de 2004, ou o Police Story: Lockdown, de 2015, que, mesmo estrelado por Chan e contando com alguns elementos da franquia, não é considerado parte da vida de Ka Kui, o que é uma pena, pois seria muito bacana ver o policial já veterano, ainda mais com o enredo de melancolia que o filme carrega. Mas de qualquer forma, Police Story, em todos os seus filmes, sejam os dois primeiros, feitos para o público asiático, ou os dois últimos, já procurando aceitação ocidental, dão uma aula no quesito ação.

Se os filmes não são um primor em história e qualidade visual, não há como não valorizar o trabalho de Chan e seus dublês, que caem de verdade de prédios enormes, se arrebentam pelos asfaltos das ruas e num jeito meio Jackass de ser, se arriscam a todo momento para garantir ao público as melhores cenas de ação possíveis. Em uma era “segura” com muita computação gráfica e atores “grandalhões” que contam com dublês para quase tudo, a lição de ação em Police Story faz do filme algo obrigatório a ser exibido em qualquer lugar que se meta a fazer filmes de ação, especialmente os de Hollywood, que andam muito pragmáticos, ultimamente, salvo raras exceções.

E, para quem gosta de pancadaria, filmes asiáticos ou mesmo de uma boa ação desprentenciosa, os filmes Police Story estão à disposição para serem assistidos de novo e de novo, seja em uma VHS velha, em algum DVD em lojas de departamento, ou mesmo nas sessões da tarde da vida. Com certeza, você irá acompanhar ação do início ao fim, sem medo de ser feliz.

Uma resposta para “RetroArkade: Police Story, a consagração mundial de Jackie Chan”

  • 19 de fevereiro de 2017 às 11:35 -

    Robson Brito Leite

  • Definitivamente não sabia que esse filme Primeiro Impacto fazia parte da franquia Police Story. Belíssimo artigo. Eu gosto muito dos dois primeiros. O terceiro ainda não vi.

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