Cultura Arkade: A saga do bruxo Geralt de Rívia — Livro 1, O Último Desejo

21 de junho de 2014

Cultura Arkade: A saga do bruxo Geralt de Rívia -- Livro 1, O Último Desejo

É com imenso prazer que trago para vocês a minha primeira análise de um livro tudo a ver com games. O Último Desejo é o primeiro título da série literária que deu origem à aclamada franquia de games The Witcher, desenvolvida pela CD Projekt Red. Leia a resenha a seguir!

Andrzej Sapkowski, nascido em 21 de junho de 1948 — sim! Hoje é seu aniversário! Yay! –, na Polônia, começou sua carreira de escritor em 1996, escrevendo contos do gênero fantasia para uma revista polonesa chamada Fantastika.

O reconhecimento foi tão grande que Andrzej, morando atualmente em Lódz, Polônia, iniciou uma série de romances sobre Geralt de Rívia, nosso protagonista. O autor já recebeu vários prêmios literários por suas obras, alcançando um enorme sucesso.

Por conta disso, e quem sabe para acalmar um pouco os ânimos de quem já está esperando ardorosamente por The Witcher 3, vamos dar uma volta na obra sem a qual esse jogo tão cultuado não existiria.

Lembrem-se de que se trata de uma resenha do livro, portanto, pode haver diferenças entre as características da história e do personagem no livro e no game! Vamos lá!

Enredo

A saga de Geralt tem forte influência da mitologia eslava e já começa com a impressão do que se tornaria uma, digamos, “marca” do jogo eletrônico: uma cena de sexo. Isso significa que é pornográfico?? Não. Os momentos eróticos não são escassos, mas têm todo o cuidado do autor de valorizar o envolvimento entre os envolvidos.

Geralt chega como um forasteiro à cidade de Wyzim a fim de receber três mil ducados por seus serviços como bruxo (a tradução adotada no Brasil para a denominação “witcher”). E lá encontra uma grande tarefa, que pode por sua própria vida em risco.

Apesar da má fama da cidade — por motivo não revelado — que ele declara como de sua origem (Rívia, por isso ele é “Geralt de Rívia”, seu nome acompanha o lugar de onde vem), suas habilidades como bruxo são altamente valorizadas, sendo até mais respeitadas se comparadas com as de feiticeiros, sacerdotes, druidas, guerreiros etc., pois os bruxos têm mais efetividade.

Os “witchers” são treinados desde a infância para lidar com os piores seres existentes no mundo, sendo exímios em muitas áreas, como combate, feitiços, uso de poções e conhecimento sobre propriedades naturais de diversas plantas e ingredientes.

No decorrer de seu treinamento, os jovens devem passar por etapas de exposição a variadas ervas, hormônios etc., mas muitos não conseguem chegar até o final, quando devem suportar outros complicados experimentos. Aqueles poucos que conseguem passam a estar prontos para a vida que os aguarda, tendo a capacidade de mudar sua própria estrutura em batalha, o que os faz parecer monstruosos aos olhos das outras pessoas.

Um dos assuntos em destaque é a religião. Em uma de suas conversas com uma profetisa, discute-se sobre a existência e importância de deuses e deusas e sua relação com as forças da natureza. Também há vários outros questionamentos sobre o amor, a política, a frivolidade, a maldade, a ganância e a corrupção.

A saga de Geralt de Rívia, vez ou outra, também gira em torno de contos já bastante conhecidos desde nossa infância — mesmo que da forma mais atenuada possível –, fazendo parte da narrativa como um jogo entre destino, ironia, lenda e realidade. Sapkowski passeia com maestria entre eles, mostrando como as peças se repetem com novos atores.

Há também momentos cômicos e filosóficos entremeados pelas mudanças do mundo e do próprio Geralt, que entra em conflito com sua profissão e com sua funcionalidade na refletida mudança com relação aos seres que caça e àqueles aos quais seria inclinado a prestar seus serviços.

Estrutura

O Livro 1 não tem uma narrativa linear, tornando a leitura um prazeroso jogo de juntar as peças que revelam mais do mundo do bruxo Geralt, onde nem sempre a aparência condiz com a realidade.

A descrição é ricamente construída em torno de uma ambientação medieval e rústica, povoada por seres de diversas raças e tipos. Apesar de detalhada, a narrativa descritiva é fluida e engrandece a imaginação do leitor, tanto em relação à vegetação e às localidades, como às batalhas, que são um show para as mentes dos amantes de RPG.

Metade da narração se passa no que poderia ser considerado o momento presente, enquanto a outra metade vai se desenrolando como uma série de contos, referentes às memórias de aventuras do bruxo.

Protagonista

Geralt é um sujeito de poucas palavras, direto e concentrado. Sua impassividade e frieza, no entanto, não lhe retiram a humanidade. Ele inspira confiança, mas seu treinamento é determinante em seus serviços.

Embora seja impelido a se ater aos fatos e ao seu conhecimento, mostrando-se avesso a crenças religiosas, Geralt respeita a sabedoria e a convicção das pessoas e, geralmente, não ignora aquilo que desconhece, já que ele se desenvolveu para pressentir o oculto por necessidade de trabalho e, principalmente, de sobrevivência.

Ele parece um ser neutro que não se importa com o passado das pessoas e com suas motivações, Geralt apenas quer cumprir sua parte do serviço; mas será muito claro, no decorrer da leitura, que isso não está totalmente certo. O witcher é sempre visto como um monstro sanguinário, porém, não faltam aqueles que querem usufruir de seu trabalho.

O bruxo acredita que se seguir determinadas regras, tudo estará em conformidade com o que lhe compete. Contudo, ele mesmo sabe que não há certezas no mundo e que suas escolhas são cruciais. Isso, inclusive, é uma forte característica dos jogos inspirados nesta obra, nos quais as decisões tomadas pelo jogador o levam a um caminho único e sem volta. Geralt não é simplesmente herói ou vilão; é um personagem num mundo de possibilidades.

O Lobo Branco, como é conhecido, por conta da cabeleira quase totalmente branca — um pequeno efeito colateral das mudanças fisiológicas que sofreu –, e da imagem do lobo, que carrega presa a uma corrente no pescoço, insígnia de sua corporação, é muito mais que um frio exterminador de monstros. Ele adora sarcasmo e uma boa caneca de cerveja.

Apesar do aspecto soturno e misterioso, mostra-se afável, justo, leal e cumpridor de sua palavra. Por outro lado, é extremamente mortal e temido por pessoas que o desconhecem e apenas o veem como o monstro aniquilador de criaturas terríveis.

Ele, como todos, carrega um destino, cuja revelação pode ser ainda mais obscura e devastadora no futuro do bruxo, mas isso se desdobrará ainda mais no segundo livro da saga. Aguarde por mais de Geralt de Rívia, leitura obrigatória para os fãs do game e do gênero RPG.

Cultura Arkade: A saga do bruxo Geralt de Rívia -- Livro 1, O Último Desejo

Título: O Último Desejo

Idioma: Português

Páginas: 381

Editora: Wmf Martins Fontes

4 Respostas para “Cultura Arkade: A saga do bruxo Geralt de Rívia — Livro 1, O Último Desejo”

  • 21 de junho de 2014 às 18:52 -

    leandro leon belmont alves

  • mesmo o livro parecendo otimo….o primeiro Witcher é praticamente injogável

    • 22 de junho de 2014 às 00:00 -

      armando_neto

    • Injogável pq o-o? um dos melhores rpgs q já joguei… tenho minhas dúvidas se gosto mais do primeiro ou do segundo o_o

    • 22 de junho de 2014 às 17:05 -

      Ricardo

    • Injogável? Só que não. Tão fantástico quanto a sequencia. 

  • 22 de junho de 2014 às 17:16 -

    Ricardo

  • Estou terminando de ler Times of contempt. Tô adorando todos os livros.Infelizmente aqui no Brasil só temos traduzido os 3 primeiros livros da série, os 2 livros de contos e o primeiro livro da saga; Pra quem entende inglês, temos os outros livros belamente traduzidos por fãs da série, mas apenas em inglês.Recomendo a todos a leitura, especialmente por que os personagens do livro estão todos de volta ao terceiro do jogo da série!  Como por exemplo Ciri e Yennefer, que são muito importantes na saga do Bruxo e certamente serão igualmente importantes no terceiro jogo da série.Abraços!

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