Voice-chat Arkade: o ódio à Anita Sarkeesian e algumas reflexões sobre sexismo nos games

31 de janeiro de 2015

Voice-chat Arkade: o ódio à Anita Sarkeesian e algumas reflexões sobre sexismo nos games

Não faz muito tempo, apresentamos a você uma Tribuna Arkade sobre as ameaças que a criadora do Feminist Frequency vem sofrendo através do Twitter. Vamos discutir um pouco mais?

Um advogado defendeu um homem uma vez. Esse homem foi chamado por muitos anos na vida dele de “boi morto”, pois era gordo.

Num belo dia, matou alguém por isso. O advogado na defesa começou: “Senhoras e senhores membros do júri, excelentíssimo senhor juiz e excelentíssima promotoria…” e depois “Senhoras e senhores membros do júri, excelentíssimo senhor juiz e excelentíssima promotoria…”, novamente “Senhoras e senhores membros do júri, excelentíssimo senhor…”, e mais vezes, até que o juiz finalmente o interrompeu e disse que o advogado estava se comportando de forma insustentável na sala de audiência, desrespeitando a todos com essa atitude.

Voice-chat Arkade: o ódio à Anita Sarkeesian e algumas reflexões sobre sexismo nos games

O advogado então retrucou: “Se os senhores já se sentem desrespeitados com toda minha introdução, chamando-os pelos devidos pronomes de tratamento, imaginem como se sentia esse homem, sendo chamado por toda sua vida de ‘boi morto”.

Ele ganhou a causa, dizem os contadores.

Eu escrevi tudo isso, porque acredito que tudo em demasia faz mal. Seja uma ideia, uma atitude, uma atividade… É uma lástima ler todas essas frases horríveis dirigidas, sem motivo aparente, a Anita Sarkeesian. Porém, é muito provável que 99% delas sejam provenientes de pessoas que não têm a mínima coragem de dizer isso na cara (quanto mais de fazer), valendo-se do famoso poder do anonimato, que é uma das características preponderantes relacionadas ao dano moral na internet.

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Também acho demais dizer que boa parte dos games seja machista. Eu não encontrei só jogos de mulheres-objeto na minha vida. Pelo contrário. Há personagens incríveis e com um background de louvor nas costas. Lara Croft? Jill Valentine? Samus Aran? Uma mulher, para ser forte e respeitada, deve ter sua beleza ou sensualidade totalmente ignoradas? Acho isso meio impossível.

Não podemos ignorar um atributo por achá-lo ofensivo de alguma forma. Achar inválido que uma mulher apareça nua num vídeo ou sendo estuprada, implicaria achar inválido vermos um doente terminal num filme ou animais sendo caçados em seu habitat. Então vamos proibir tudo? Ok, devemos ter mais atitudes positivas nos games e outras mídias, isso é verdade.

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Então vamos falar sobre o que é positivo. Não temos heroínas nos games? Mães lutando por filhos? Jovens mulheres demonstrando seu afeto e sua dedicação por alguém? Alguém que já jogou Final Fantasy VII, por exemplo, deve ter uma ideia disso. Clementine, da série The Walking Dead, é uma grande heroína, mesmo sendo uma criança. Jill é inegavelmente uma heroína e é sensual. Sim, Jill é belíssima e os jovens jogadores querem ver suas pernas de vez em quando na tela, como veriam de alguém da escola ou em qualquer rua do Brasil (imagino que também em alguns outros países).

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Por que achar que tudo é negativo? Eu adoro ver jovens protagonistas masculinos mostrando um pouco de sua beleza também. Qual jovem não se encantou um pouco com Ezio Auditore e aquele seu sotaque charmoso? Também temos o enigmático witcher Geralt de Rívia. E o muito habilidoso Kyo Kusanagi (se eu começar a listar personagens japoneses, o negócio vai desandar!). E nem todos são só proeza de músculos, eles também têm emoções e personalidade. Desenvolvedor que se preze não se prende mais a tanto clichê (ainda que aleguem encontrar alguns obstáculos).

E mais uma vez, Clementine. Uma menina frágil e inocente que, ao pé da letra, cresceu em nossas mãos. Uma jovem que enfrentou as mais terríveis situações e permaneceu firme contra a catástrofe que tomou conta de sua vida e de tudo que ela conhecia. E, voilà, um exemplo diferente. Mais uma marca histórica para o mundo dos games. Uma de poucas? Eu diria “Mais uma!”.

Voice-chat Arkade: o ódio à Anita Sarkeesian e algumas reflexões sobre sexismo nos games

É sempre válido, sim, diversificar a cara dos games e criar personagens femininas inesquecíveis e que virem ícones de uma geração, como tantos protagonistas homens desse vasto reino chamado videogame; porém, às vezes, priorizar uma situação e guerrear contra isso até o fim não é o melhor caminho. Muitos de nós, gamers, sabemos que, quando a “fase” está difícil, o melhor é esperar um pouco. Para algo que era impossível, acabamos achando a resposta tão facilmente que nos perguntamos por que não a encontramos antes.

Eu acredito que para toda a opressão ainda existente, não só no videogame, mas em outros campos da vida, já há uma resposta e uma bem dada. Somos nós, muitos de nós que, com muita certeza, criaremos meninas e meninos para viajarem no mundo da imaginação em todas as mídias que eles quiserem e criando os personagens que eles preferirem. Sempre. Seja com lâminas ensanguentadas ou minissaias exuberantes.

Agora é sua vez de debater: utilize o espaço de comentários aí embaixo com sabedoria! ;)

13 Respostas para “Voice-chat Arkade: o ódio à Anita Sarkeesian e algumas reflexões sobre sexismo nos games”

  • 31 de janeiro de 2015 às 15:35 -

    VoidWarrior

  • Parabéns pela matéria, eu esperava ver alguém falando desse modo em um post. Em primeiro lugar não gosto da Anita Sarkeesian por 2 motivos, o primeiro todo mundo já sabe, ela não é uma Gamer daquelas que passaram a vida jogando alguns jogos pra se descontrair, o segundo são as opiniões muito exageradas dela. Quando as pessoas falam de Sexismo em jogos de vídeo-games querem se lembrar logo das inúmeras mulheres em poses sensuais (principalmente em jogos japoneses) ou que modelam alguma personalidade frágil, isso é, só sabem ver o lado ruim da coisa ao invés de pegar o lado bom e fazer multiplicar ele. Como assim o lado bom? Como seu post mostra existem várias personagens femininas que encantam os jogadores por causa da personalidade, vou citar mais alguns exemplos: Terra (Final Fantasy VI) não se pode nem falar em sexismo, o jogo era todo em 16 bits e os personagens era menores que a ponta do meu dedo polegar, mas pelos diálogos se absorvia as suas ideias e vontade e a sua força para lutar. Aya Brea (Parasyte Eve) Vou citar somente os dois primeiros jogos pois o terceiro tem uma pitada de fan-service, mas a Aya sempre se mostrou segura e além de jovem era Policial e era muito madura com as suas emoções durante o jogo. Nariko (Heavenly Sword) Ok que ela já foi até considerada Sex Symbol um dia, mas ela era bem girl power, todos os inimigos dela eram homens que queriam invadir a província onde ela morava para a destruir e “conquistar” aquele lugar, mas ela sozinha parte na luta para que isso não aconteça. A lista é pequena, é bem underground eu diria, e é difícil discutir esse tema a fundo sem gastar páginas com explicações e tendo que bater de frente com pontos de vista alheios. 

  • 31 de janeiro de 2015 às 18:34 -

    Kubrick Stare Nun

  • Concordo com a posição desse post. Eu não concordo com as posições da Anita e acho que ela ve machismo onde não existe e tenho uma baita antipatia por ela também, mas nem por isso eu acho que os babacas que ficam mandando ela se suicidar no twitter sejam menos babacas.

  • 31 de janeiro de 2015 às 19:13 -

    Renan do Prado

  • Excelente texto!!!!

    E reafirmo o que disse no post sobre as ameaças a Anite, e dessa vez de uma forma polêmica. Em minha opinião, ter orgulho em dizer “eu sou feminista” é igualmente péssimo quanto um homem erguendo a mão e dizendo: “eu sou machista”.

    A questão é simples. O feminino no Machista é a Feminista. O masculino da Feminista é o Machista. Um e o outro são o mesmo, e se machismo é ruim, feminismo é ruim.

    E pra colocar um exemplo prático no mundo gamer. “Eu sou Sonysta”, “Eu sou caixista”. Não é ruim? Todo mundo não reclama? Então.

    Se é pra erguer a mão pra gritar algo com orgulho, que seja “eu sou igual a todo mundo”. Só vai ter melhora com igualdade, é a minha opinião, e sinceramente não vejo qualquer alternativa além dessa.

    E voltando sobre a Anita, não gosto dela, e acho os ideais dela bem sem noção. E esse post é o que me prova isso.  Senão, se sensualidade significa sexismo, então eu poderia dizer que o sexismo parte da mulher? Se eu ver e me atrair por uma mulher bonita na rua, eu sou sexista, ou ela? Só essa ideia é completamente absurda.

    A Samus Aran na Varia Suit é correto, mas na Zero Suit não? O background dela como a personagem mais forte de seu universo não conta?

    Já estou me enrolando todo na minha ideia, sinal que é hora de parar kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Porém, ameaças contra a Anita são coisas completamente idiotas. Só mostram que todas essas pessoas não tem capacidade nem pra tentar formar uma opinião própria sobre o assunto…

    • 31 de janeiro de 2015 às 21:17 -

      Carlos Schneider

    • Concordo com oq vc disse, acho q a gente vive a época do extremamente e politicamente correto, onde tudo ofende e tudo agride. Acho que pela proximidade e exposição que hj a internet trouxe faz muitas pessoas como vc mesmo disse, seja feminista ou machista erguerem uma bandeira e buscar holofotes pela internet, polemizar sempre e enfiar goela abaixo as opiniões, regras e estilo de vida de um determinado grupo.

    • 1 de fevereiro de 2015 às 05:18 -

      Babiro

    • Ótimo texto Diana, realmente muito bom. Renan você falou exatamente o que eu penso sobre sexismo, machismo e feminismo. Há Tempo, quando começou a surgir de maneira demasiada esses movimentos feministas na internet, não só voltados para games mas pra qualquer outro assunto também, eu me perguntava o que passa na cabeça de pessoas que são totalmente contra algo e ao invés de fazer o oposto, faz exatamente o mesmo só que de “outra forma”. Como você disse feminismo e machismo não são diferentes, são exatamente a mesma coisa. Antes eu ficava indignado porque não encontrava ninguém que percebesse isso, as vezes as pessoas até concordavam mas quase nunca conversava com alguém que compartilhava desse meu pensamento sem precisar que alguém as convencesse. É bom ver que finalmente não sou o único. Quanto a Anita, bom é o que falei, querer combater “machismo” com “feminismo” no mundo dos games, é ser completamente hipócrita. Na minha opinião, se você acha que um jogo sexualiza demais a mulher, ou o homem porque não, você simplesmente não deve consumir o produto. Se todo o universo gamer fosse sexista, tanto pra um lado quanto pra outro, seria justo lutar por igualdade, mas sabemos que não é assim, e os dois lados da moeda estão bem representados com personagens sensacionais por usas histórias, ações e suas personalidades, e não por serem sexualizados, ainda que alguns sejam, mas isso não faz deles personagens melhores ou piores. E só pra finalizar, eu não vou nem entrar no mérito de quão idiotas essas pessoas são pra ficar ameaçando outras pessoas simplesmente por ter uma opinião diferente, e pior, utilizarem do TOTAL anonimato pra isso, Vergonhoso!!

  • 31 de janeiro de 2015 às 21:14 -

    Carlos Schneider

  • Confesso q comecei a ler o texto meio com o pé atrás e vou ser sincero, QUE TEXTO SENSACIONAL, pegou bem na veia de como as coisas devem ser. Já discuti uma vez sobre personagens extremamente sexualizadas em HQ’s em outros Blogs e que tb serve neste debate. Olha o quanto de heroínas sensacionais temos, não é pq a Mulher Maravilha ou qualquer uma outra use uma roupa mais provocante que vai deixar de ser foda. Olha os exemplos q vc deu nos Games, melhores impossível. Sobre a Anita como eu disse não quis procurar sobre oq ela realmente quer pq sinceramente cansei de certos textos e argumentos seja feminista ou machista que buscam apenas polemizar, que giram igual carrossel e não saem do lugar. Como sempre digo, muita vezes o problema n está no outro ou somente na sociedade, muitas vezes o problema está dentro de vc, que ainda n foi resolvido. 

  • 1 de fevereiro de 2015 às 09:25 -

    Henrique Gonçalves

  • Parabéns pelo gif de Taxi Driver. Ah, e pelo texto também Diana <3!

    • 2 de fevereiro de 2015 às 04:24 -

      Carlos Schneider

    • Melhor filme; 

  • 1 de fevereiro de 2015 às 13:22 -

    Lucas

  • Com essa garota ou sem ela, o sexismo e diversas outras formas de preconceito nos games existem e são bem óbvios. As pessoas preferem atacar um bode expiatório e continuar com as mesmas práticas. Podemos discordar da abordagem da Anita Sarkeesian, mas não dá pra ignorar que assim como os games refletem a vida, eles interferem no julgamento e nas escolhas principalmente dos mais jovens. É uma questão de responsabilidade dos criadores de games e de quem joga. Quer um exemplo? Jogos como Mortal Kombat sexualizam demais a mulher, mas não chegam a chocar nem mesmo no uso da violência já que os personagens estão em um contexto totalmente fora da realidade. Já jogos como GTA expõe a figura feminina ao ridículo de limitá-la à prostituição e usam a violência de forma banal contra gente comum em situações do dia a dia. Pra um adulto, MK e GTA não têm diferença um do outro. Mas pra quem está formando sua opinião, têm! E quanto ao feminismo, sou dos que pensam que todo extremismo é errado. MAS, diante de um mundo que parece feito pro homem branco, rico e heterossexual, é compreensível que alguém busque chocar pra chamar atenção pra seus pontos de vista. Quem odeia, grita a plenos pulmões seu ódio. Porque quem busca respeito não pode fazer o mesmo? Se as pessoas pensassem por si mesmas, não iriam basear suas ideologias pelas dos outros. O que está errado está errado e é bem claro. Não precisamos dessa Anita Sarkeesian pra nos dizer que a mulher é frequentemente tão desrespeitada nos games quanto é na rua. Temos é que melhorar como pessoas. É machismo? Não é machismo? É feminismo ou não? NÃO IMPORTA! Você gostaria de ver sua mãe ser bolinada na rua? Não? Então respeite a mulher. Seja no jogo, na rua, na sua casa ou onde for. E não reforce o comportamento errado de quem tenta fazer dos outros, objetos.

    • 1 de fevereiro de 2015 às 17:15 -

      Diana Cabral

    • Muito bem dito, Lucas. Sua opinião é muito importante. É um reforço do que realmente influencia a visão das pessoas em relação ao que é mostrado em games e outras mídias: educação social. Aquela que aprendemos desde o berço, das pessoas mais próximas a nós. Diante dessa educação, não há força de indústria que seja capaz de destruir a formação ética de alguém, mesmo que jovem.

    • 2 de fevereiro de 2015 às 04:34 -

      Carlos Schneider

    • Lucas acho q vc tá meio alterado mas existe uma coisa q exemplifica e resolve a metade do teu texto q se chama controle paternal, ou educação dos pais, claro q coisas passam desapercebidas mas vc tem responsabilidade pelo q seu filho vê, faz e entre-afins, até pq vc é responsável por ele financeiramente ate 18 anos se vc n tiver a guarda. N sei como é aqui, mas pode perder a guarda expor menor de idade a jogos com classificações X. Ai vc extrapola oq é para o menor e pro adulto. Achei bem confuso e gratuito seu argumento. Poderia nos dar sugestões.

  • 2 de fevereiro de 2015 às 09:38 -

    Gui Mendes

  • Muito bom o texto Diana.

    Engraçado que eu acho que se mais pessoas tivessem esse pensamento, tanto no mundo do desenvolvimento quanto fora dele, acredito que estaríamos vivendo uma indústria um pouco mais interessante e possivelmente diversificada. 

  • 2 de fevereiro de 2015 às 10:42 -

    Binholouco13

  • Parabéns pela matéria por abordar o tema de maneira Imparcial! e Parabéns para os comentaristas, porque sinceramente hoje em dia é difícil um lugar na Internet e em qualquer lugar encontrar pessoas que discutam saudavelmente um tema polemico sem dar briga!!

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