Análise Arkade: mergulhando em ABZÛ, novo game do diretor de arte de Journey

2 de agosto de 2016

Análise Arkade: mergulhando em ABZÛ, novo game do diretor de arte de Journey

Hora de mergulhar no oceano cheio de segredos, mistérios e belezas de ABZÛ. Já jogamos o novo game do diretor de arte do incrível Journey, e trazemos aqui nossas impressões deste belo game!

Contextualizando

Journey é um game que cativou muita gente (inclusive este que vos escreve). Sua vibe contemplativa, seu visual surreal e sua história subjetiva — potencializados por uma trilha sonora majestosa — tornaram o game um clássico indie que marcou o PS3 (e posteriormente o PS4).

Matt Nava foi o diretor de arte de Journey. Anos depois do lançamento do game, ele deixou a Thatgamecompany e fundou um novo estúdio indie, o Giant Squid Studios.

Análise Arkade: mergulhando em ABZÛ, novo game do diretor de arte de Journey

ABZÛ é o primeiro game deste novo estúdio, e ele traz um feeling muito semelhante ao de Journey. Por isso, não estranhe as inevitáveis comparações que serão feitas no decorrer desta resenha, ok?

Uma jornada submarina

Journey começava em um deserto sem te explicar praticamente nada. ABZÛ faz a mesma coisa — com o diferencial que aqui você “acorda” no meio do oceano. O caminho a seguir inicialmente é para baixo. Mergulhar é sua única opção, e é também o cerne do gameplay de ABZÛ.

Abaixo, gravamos os primeiros 10 minutos do jogo para você ter uma noção de como ele funciona:

Você vai estar praticamente o tempo todo debaixo d’água, mas não se preocupe, pois aqui não há limite de oxigênio, nem nada do tipo. Simplesmente flutue pelas águas apreciando a paisagem, enquanto interage com criaturas marinhas, descobre segredos e desbrava templos e construções submersas.

Em uma pegada meio Okami, você vai encontrar lugares obscuros no meio do oceano. Sua função é devolver a cor e a vida para estes lugares, para que eles possam voltar a serem habitados por peixes, tubarões e outras criaturas. Ao devolver a cor aos ambientes, você também devolve a vida a eles.

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Como em Journey, aqui não há uma narrativa sendo construída de forma objetiva: conforme avança pelo jogo você vai encontrando painéis que meio que ilustram acontecimentos envolvendo o povo do protagonista — basicamente um mergulhador sem nome — e um grande tubarão branco. Não há nenhum diálogo, nenhuma linha de texto. Você recebe informações vagas e interpreta os acontecimentos como quiser.

Biologia marinha

Uma das coisas que você vai fazer enquanto explora o mundo submarino de ABZÛ é libertar peixes, tartarugas e outras criaturas. Ao interagir com formações de coral específicas, uma nova espécie de animal marinho é liberada naquele cenário.

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Ainda que você não possa interagir diretamente com “peixes pequenos”, cardumes grandes ocasionalmente te dão um boost de velocidade, e você sempre pode “pegar carona” em bichos maiores — tubarões, baleias, arraias, tartarugas, entre outros — o que é bem legal, pois lhe dá uma nova perspectiva daquele vasto universo marinho.

Confira nossa carona e uma arraia no vídeo abaixo:

Ainda que o jogo mantenha uma aura de surrealismo, fica claro que houve uma atenção especial às centenas de animais marinhos que você encontra: é possível ver o nome (as vezes até o nome científico) de cada criatura presente no jogo. Todas elas foram criadas com base em animais reais, tanto extintos quanto contemporâneos.

Também é interessante observar a vida que pulsa naquele ecossistema: desde cardumes de milhares de peixes que formam verdadeiros redemoinhos até atividades predatórias, lulas assustadas esguichando jatos de tinta… tudo ali é muito vivo, muito orgânico.

Análise Arkade: mergulhando em ABZÛ, novo game do diretor de arte de Journey

Ao encontrar certas estátuas, você pode sentar para meditar (imagem acima), e enquanto faz isso, fica livre para passear com a câmera pelos cenários e ver de perto como cada animal se comporta.

Audiovisual

ABZÛ é um jogo simplesmente lindo. Ainda que se passe quase todo debaixo d’água, a equipe de criação conseguiu encher o oceano de cores e formas, de modo que cada área do game possui uma identidade visual bem definida. A simples cor das algas altera drasticamente a atmosfera dos ambientes, e a forma como criaturas reais se misturam com estes cenários psicodelicamente surreais é muito bacana.

Confira abaixo o oceano de ABZÛ em quatro momentos diferentes. repare como a cor da água e das lagas altera completamente a “vibe” dos cenários:

Análise Arkade: mergulhando em ABZÛ, novo game do diretor de arte de Journey

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A trilha sonora orquestrada assinada por Austin Wintory — que foi indicado ao Grammy por seu trabalho em Journey e também compôs a trilha da série The Banner Saga — é inspiradíssima e dita o ritmo do jogo com maestria, hora animada, hora lúgubre e melancólica. Difícil não se deixar levar pelas emoções que a trilha sonora por si só desperta.

Já ressaltei ali em cima a impressionante maneira orgânica com que a vida marinha foi retratada no game, e quero te mostrar um exemplo aqui. Olha esse cardume turbilhonante composto por milhares de peixes aí embaixo e diga se esta não é uma das coisas mais incríveis que você já viu em um game:

Incrível, né? ABZÛ tem momentos de extrema beleza que são de tirar o fôlego do jogador, e demonstram um capricho acima da média não só na direção de arte ou na trilha sonora, mas também na criação daquele ecossistema e da vida marinha em si.

Journey-like

Sabe como RPGs de fantasia medieval com câmera isométrica são chamados de Diablo-likes”? Pois bem, ABZÛ é um Journey-like. E acho que esse é o seu principal problema: ele parece preocupado demais em “emular” Journey, e por isso, acaba não construindo uma identidade própria.

Quase tudo o que vimos em Journey, vemos aqui também: a história subjetiva contada através de painéis e pinturas, os indícios de uma civilização perdida, a carona em criaturas maiores… claro que nada é simplesmente “copiado”, mas “adaptado”. O incrível surf na areia de Journey, por exemplo, é substituído por corridas com baleias tipo essa:

Saca o que eu quero dizer? É diferente, mas ao mesmo tempo familiar. ABZÛ deixa uma sensação de déjà vu em vários momentos, simplesmente porque suas mecânicas — e seu estilo como um todo — acabam lembrando do que já vimos em Journey.

Isso quer dizer que ABZÛ é um jogo ruim? Longe disso! Ele é extremamente relaxante, envolvente e gostoso de jogar. A questão é só que Journey foi marcante também por seu pioneirismo, por ser uma experiência diferente do convencional. ABZÛ não tem esse vanguardismo a seu favor, e por ter o diretor de arte e o compositor de Journey envolvidos em sua concepção, as comparações acabam sendo inevitáveis.

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Quando terminei Journey, eu fiquei com uma sensação de plenitude que não sei descrever. A jornada do game foi tão poderosa e satisfatória que chegar ao final me deixou com uma sensação de “dever cumprido” muito boa. isso não aconteceu em ABZÛ. Achei que ele termina meio que sem acabar, não rola um fechamento satisfatório… ainda que a jornada em si tenha valido a pena.

Ainda há outro ponto em que Journey leva vantagem: seu multiplayer cooperativo incidental. Em Journey, era possível encontrar outros jogadores aleatoriamente pelo jogo, e seguir com eles (ou não) pela jornada. Isso era mágico, tornava a experiência muito mais emocionante, ainda que sequer soubéssemos quem era o outro player. Em ABZÛ não há nada do tipo, sua jornada será solitária, exceto pelos pequenos robôs que lhe acompanham ocasionalmente… e pela exuberante vida marinha, claro.

Conclusão

As 4 ou 5 horas de duração de ABZÛ irão te levar por um passeio incrível, relaxante e emocionante pelo fundo do mar. A história é super vaga e subjetiva, mas aqui eu acho que o que vale aqui é mais a experiência do que a história em si.

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Ainda acho que o jogo seria melhor e mais impactante se não ficasse tão preocupado em tentar ser “um novo Journey“. Acho que ele tinha conteúdo para oferecer algo mais… só faltou ousar mais, sair das amarras e seguir seu próprio caminho. Eu gostaria que ele fosse menos Journey e mais ABZÛ.

Apesar disso, o que falta em ousadia sobra em beleza e capricho. Se você gostou de Journey, sem dúvida vai gostar de ABZÛ. Ele talvez não seja tão marcante e provavelmente não se torne um clássico como seu “irmão” da Thatgamecompany, mas ainda entrega um passeio surrealmente belo pelo fundo do mar.

ABZÛ está sendo lançado hoje, dia 2 de agosto, para PC e PS4. O game possui menus e legendas em português brasileiro.

Uma resposta para “Análise Arkade: mergulhando em ABZÛ, novo game do diretor de arte de Journey”

  • 3 de agosto de 2016 às 14:18 -

    Glauco Lima

  • Estou louco para jogar esse aih kkkkk amo journey e quero mais jogos nessa linha kkkkk

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