Análise Arkade: Dead By Daylight é diversão (e carnificina) para jogar com os amigos

28 de junho de 2017

Análise Arkade: Dead By Daylight é diversão (e carnificina) para jogar com os amigos

Os famosos filmes de terror dos anos 1980 e 1990 eram baseados na onipresença de um maníaco assassino que persegue, um a um, um grupo de pessoas isoladas do resto do mundo — normalmente, um bando de adolescentes em uma cabana ou em um acampamento — e estes filmes acabaram marcando uma geração inteira.

Destes filmes surgiram nomes como Freddy KruegerGhostface, Jason Voorhees, Leatherface, e tantos outros que, independentemente do fator sobrenatural, sempre surgiam do nada para gerar gritos de desespero nas vítimas e também na plateia dos cinemas pelo mundo.

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Com o passar do tempo, esse subgênero perdeu sua força e deu lugar a outras expressões do medo em filmes de horror e de terror. Mas esses personagens icônicos se mantém até hoje no imaginário coletivo sendo ícones não só do seu tempo, mas do próprio terror em si. No universo dos videogames, com jogos não tão memoráveis e algumas participações especiais em outras franquias, estes assassinos nunca tiveram lugar de destaque, e é exatamente nesta brecha que a Behaviour Interactive investe com Dead By Daylight.

Narrativa tão profunda quanto um pires

Não é novidade para ninguém que filmes de maníacos nunca foram primorosos em termos narrativos. A história se repete e, como dito acima, não foge muito do esquema de isolar um grupo de pessoas em um lugar que, por extremo azar, é habitado por um assassino, ou é amaldiçoado, ou algo do tipo. Os arquétipos clássicos sempre estão presentes, como o esportista, a líder de torcida, o nerd, a garota mais sóbria, o medroso, o debochado, e por aí vai.

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Dead By Daylight não se preocupa, portanto, em estabelecer uma introdução à situação base do game, exatamente porque ela já está em nosso inconsciente. Quando encontramos um grupo de sobreviventes no meio do nada, tentando escapar a qualquer custo, já sabemos como foram parar ali, mesmo nunca tendo visto nada do jogo anteriormente. Sem subestimar o seu público, o game vai direto ao que interessa: tentar escapar do assassino antes de ser pego. Tão simples quanto o gênero sempre foi nos cinemas.

Puro multiplayer

Dead By Daylight, desde a sua gênese, é pensado como uma experiência estritamente multiplayer. Ele traz um sistema assimétrico de competição e cooperação, onde é possível juntar um grupo de até cinco jogadores em uma partida, sendo que quatro deles serão personagens acuados (e potenciais vítimas) e um assume o manto do assassino. Tanto de um lado quanto de outro há modelos básicos de personagens, trajes e adereços que podem ser utilizados para mudar um pouco o visual de cada um.

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A dinâmica base do game leva os jogadores para uma espécie de arena fechada — ambientada em lugares como uma fazenda abandonada, um hospital destruído e um mangue sinistro — onde a missão de cada um dos sobreviventes é encontrar geradores e religá-los para acionar as saídas do lugar. Quando conseguem consertar uma quantidade mínima desses dispositivos, a saída fica disponível e, ao ser aberta, possibilita a escapada. O único que tem uma missão diferente é, obviamente, o assassino que (pasmem!), tem a meta de simplesmente matar todo mundo antes que escapem.

Nos dois modos básicos de jogo — sendo o assassino ou um dos sobreviventes –, há a possibilidade de se jogar partidas ranqueadas; nas quais os personagens podem evoluir em um sistema bem simples, e o maior benefício é o ganho de “moedas” que podem ser usadas para comprar perks que dão certas vantagens (a maioria passivas) ao longo das partidas. Alguns perks são realmente úteis, mas é preciso um bocado de paciência para se aprofundar na leitura dos prós e contras de cada um.

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A segunda opção é um jogo mais livre, sem possibilidade de evoluir personagens, mas com todas as perks liberadas desde o princípio, um modo mais descompromissado para quem não quer se preocupar muito e só se divertir com os amigos. Aliás, esse modo de jogo — Kill Your Friends — só funciona em  grupos fechados por convite, não dá para simplesmente buscar uma partida pública assim. Apesar disso, esse segundo é, de longe, o meu favorito.

Jogar Dead by Daylight “de galera” é simplesmente muito divertido. Ainda que o áudio da party inclua todo mundo — inclusive o assassino — e dificulte a vida de quem almeja bolar estratégias em grupo, este é aquele tipo de jogo que é fácil perder a noção da hora jogando. O pessoal da Starbreeze foi muito gentil e nos concedeu mais de 5 keys do jogo, de modo que pudemos reunir parte de nossa equipe para um fim de semana de jogatinas até altas horas da madrugada.

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E é assim, sem nenhum receio de parecer simples demais, que Dead By Daylight e mostra como um jogo bastante sincero em sua proposta. A bela cena cinemática em CG que abre o jogo não tem nenhuma intenção além de estabelecer o clima de um clássico filme B gore sem meandros ou tentativas vazias de ser mais profundo. É quase como o jogo de mesa de Detetive que se joga com baralho comum: começa a partida, um é vilão, os outros são vítimas. O vilão ganha se matar todo mundo, as vítimas ganham se conseguem fugir do local. Simples assim…

Sendo a caça

Tão direto quanto a história (ou a falta dela) e os objetivos do jogo é a sua jogabilidade. Não há modo tutorial para se aprender comandos e movimentos básicos, nem fase de testes, nada disso. E ao começar a primeira partida, fica claro que realmente isso seria desnecessário. Dead By Daylight é didático e descomplicado de se jogar, mesmo para quem explora diferentes recursos e possibilidades de ação.

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As vítimas podem andar, correr ou andar agachadas, bem como pegar alguns itens espalhados em baús pelo cenário, usar perks manuais e interagir com elementos do cenário, como os geradores, janelas e alçapões. É possível se esconder em armários ou mesmo derrubar coisas para atrasar o assassino, em caso de perseguição. O legal é que estes objetos são gerados proceduralmente, para cada partida ser diferente.

Apesar disso, as mecânicas propriamente ditas são bem simples e diretas, sempre com um botão de ação mostrando quando a interação é possível. Não há nada mais elaborado que precise ser desenvolvido, ou que demande habilidades especiais… exceto talvez os quick time events pentelhos.

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Pois é, o jogo é cheio de elementos um tanto burocráticos de Quick Time Events (os famigerados QTEs), onde é necessário acionar um botão específico no tempo exato para executar uma ação corretamente. Isso é usado principalmente quando o jogador está arrumando os geradores — erros significam estouros que atrasam o conserto e denunciam a sua posição ao assassino — e também quando está se recuperando de ferimentos ou curando outro jogador. Os QTEs aqui são quase injustos de tão rápidos, o que acaba sendo um pouco frustrante de vez em quando.

Confira abaixo uma partida completa do ponto de vista dos sobreviventes:

Por mais pentelhos que sejam, os QTEs apresentam um fator aleatório a mais e agregam uma certa tensão para o jogador, que precisa estar atento o tempo todo, já que não há como prever quando eles vão aparecer — há até perks que facilitam sua vida com os QTEs. Por um lado, eles cumprem seu papel, afinal a tensão é elemento fundamental para manter a atenção em estado máximo em um jogo de terror. Por outro lado, as vítimas acabam ficando bastante dependentes do acerto, já que errar, além de mostrar para o assassino onde você está, atrapalha bastante a árdua missão de escapar do assassino.

Sendo o caçador

Temos 6 tipos de assassinos no game, e cada um tem pelo menos um ataque e uma habilidade especial que pode ser tanto um ataque quanto uma armadilha. Há, por exemplo, um assassino que pode ficar invisível, mas para atacar ele precisa se mostrar, enquanto outro pode deixar armadilhas de urso espalhadas pelo cenário. O “Doctor” lança raios que não causam dano, mas afetam a sanidade dos sobreviventes, o que deixa a coisa ainda mais tensas para eles.

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Jogando como assassino, temos a capacidade de saber o tempo todo onde estão os geradores, o que dá uma pequena vantagem na hora de procurar por possíveis sobreviventes. O que ajuda um bocado, considerando que os cenários são bem grandes. Felizmente, eles escapam dos petelhos QTEs, e o máximo com que têm de se preocupar — além de matar — é saber onde estão os ganchos, onde irão espetar os sobrevivente até que garras infernais venham buscá-los… isso se o malandro não escapar e continuar na partida!

Confira abaixo uma partida completa jogada como a assassina que pode deixar armadilhas e se teleportar:

No geral, Dead By Daylight é um jogo bastante simples de se jogar. Não há complicações, movimentos elaborados e não há um abismo tão grande entre jogadores novatos e experientes. A base da experiência é explorar o ambiente a seu favor, usar os recursos disponíveis quando possível e entender o ponto de vista de cada um dos dois lados. Mas gostar (ou não) de QTE é fundamental para se aproveitar o jogo e para o sucesso na difícil missão de escapar das garras dos assassinos.

Audiovisual

Com um ponto de vista em terceira pessoa para sobreviventes e em primeira pessoa para assassinos, Dead By Daylight passa longe de ser uma experiência visualmente deslumbrante. Tem um estética que caberia tranquilamente na geração anterior sem muitos prejuízos, o que não chega a ser ruim, mas não encanta. Os ambientes, sempre fechados e restritos, oferecem pouca variação de texturas, e a névoa noturna só ajuda a ter essa sensação de não haver muito o que olhar com calma.

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Claro que não é o tipo de jogo contemplativo, onde o jogador para para tirar fotos das belas paisagens, mas exatamente por não necessitar de ambientes tão amplos e de detalhes tão definidos por sempre estar escuro, o jogo poderia ter mais recursos visuais interessantes e uma variedade maior de cenários e objetos. A mesma característica pode ser vista nos personagens. Ainda que os vilões tenham visuais inspirados e até bem construídos, não são exatamente marcantes. Os sobreviventes são ainda mais genéricos e parecem ter saído de um banco de modelos gratuitos do 3DStudioMax.

O design de som é um pouco mais inspirado. O efeito de poder ouvir os batimentos do coração do personagem como um modo de sentir a aproximação do assassino é muito bem resolvido e as músicas remetem aos temas clássicos do cinema, ainda que só apareçam em momentos específicos — para aumentar a tensão das perseguições. Os efeitos sonoros, no geral, cumprem seu papel, sem necessariamente se destacar. O que faz sentido, pois parece que tudo foi trabalhado para não atrapalhar a comunicação dos jogadores.

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Em termos gerais, ainda que sejam gráficos e sons satisfatórios, eles ficam longe de serem marcantes. O ambiente é limpo demais para o clima de terror, com texturas simples e as vezes simplórias, com personagens esquecíveis — tal como os dos filmes onde o jogo se inspira — e vilões melhor trabalhados, mas que pouco vemos ao longo da jogatina, já que quem os controla tem visão em primeira pessoa e quem foge deles certamente não quer vê-los muito de perto. Se o áudio tem recursos interessantes, também fica longe de ser impactante como poderia. Em termos artísticos, portanto, o jogo é só “ok”.

Conclusão

Dead By Daylight é um jogo completamente multiplayer que precisa ter uma comunidade forte e atuante para funcionar. Jogar sozinho é impossível, e, ainda que seja possível entrar em partidas ranqueadas, os servidores ainda não estão tão povoados como seria o ideal.

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Este é um jogo que se beneficiaria bastante se distribuído gratuitamente, ou dentro de planos como a Gold ou a Plus, para ue os jogadores pudessem experimentá-lo com seus amigos. Aqui estamos falando de um jogo digital que chega custando bem menos que Evolve, mas é sempre bom lembrarmos dos erros que enterraram o jogo da Turtle Rock antes dele de fato mostrar tudo o que tinha pra oferecer.

Dead By Daylight é um game ideal para se jogar com amigos naquela madrugada marota de final de semana, para bater um papo enquanto se pendura um ao outro em um gancho amaldiçoado, e que garante a tensão dos filmes clássicos de terror com assassinos, sem se levar a sério demais. Rende partidas divertidas, boas reviravoltas, e se não é exatamente belo, certamente está alinhado com sua proposta direta e sem firulas.

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Enfim, o que temos aqui é um jogo que oferece uma experiência divertida e descompromissada, tal como o gênero cinematográfico no qual é inspirado. Demanda que o jogador esteja disposto e encontre pessoas igualmente dedicadas para que a diversão realmente aconteça. Afinal, caçar os amigos é bem mais divertido do que caças desconhecidos aleatórios e, em se tratando deste jogo, não há nada melhor do que caçar seu amigo… ou escapar das garras dele.

Dead By Daylight já estava disponível para PC há tempos, e chegou ao XBox One e ao Playstation 4 no último dia 20 de junho. Infelizmente na versão para consoles não há localização para o português brasileiro.

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