Análise Arkade – O quebra-cabeça engenhoso de Reus

15 de outubro de 2016

Análise Arkade - O quebra-cabeça engenhoso de Reus

Já imaginou um game onde você assume o papel de um planeta e precisa se virar para fazer a vida prosperar na sua superfície? Descubra como é desafiadora a vida da mãe natureza com a nossa análise de Reus, da Abbey Games.

Reus, da debutante holandesa Abbey Games, é um god game extremamente simpático, e ao mesmo tempo intrigante. Não é fácil descrevê-lo: o jogo apresenta poderes divinos e elementos de estratégia (como vilas e recursos), misturados com uma engenhosa e desafiadora levada puzzle.

No game, você é o espírito de um planeta vazio que após eras de hibernação resolveu acordar e cultivar a vida em sua crosta. Você conta com a ajuda de quatro criaturas colossais para cumprir essa tarefa: quatro avatares que representam elementos da natureza: os pântanos, as montanhas, os oceanos e as florestas.

Análise Arkade - O quebra-cabeça engenhoso de Reus

Com esses quatro ajudantes de peso, você deve criar mares, selvas e desertos, tudo em uma interface 2D giratória muito divertida e inovadora. Parece legal, e bem tranquilo de se fazer, certo? Bem, pense de novo, pois Reus é um dos jogos mais “poker face” da história recente: o que ele tem de inocente na apresentação, ele tem de complexo e desafiador debaixo do capô.

O visual simpático de Reus conquista logo de cara. Você é apresentado à um planeta fixo no centro da tela, enquanto gira a câmera à vontade ao redor da superfície para interagir com os gigantes e o cenário. Tudo bem desenhado, num estilo leve e colorido.

A música dá um tom calmo e progressivo, remontando à grandes games de estratégia como a série Sim City e Civilization. Os enormes corpos dos gigantes rangem, estalam e seus passos pesados retumbam enquanto eles cruzam o planeta atrás de seus afazeres. Sinais sonoros marcam eventos importantes e ajudam a guiar o jogador. Para todo efeito, o som de Reus é muito bacana e bem elaborado.

Análise Arkade - O quebra-cabeça engenhoso de Reus

No que diz respeito a apresentação do game, apenas alguns detalhes poderiam ser melhorados. O principal deles é o fato de que os elementos do jogo (árvores, minerais e animais) não são tão distintos quanto poderia se esperar. Você não vai ter problemas para distinguir um tipo de rocha do outro, por exemplo, mas uma caracterização mais enfática com certeza cairia bem.

Isso é importante porque o game todo gira em torno da criação e combinação constante de pedras, bichos e plantas, e o jogador precisa saber o que cada um faz para se dar bem.

Toda rodada de Reus começa da mesma forma: você, o planeta, é vazio e inabitável, nada mais que uma rechonchuda bola de pedra boiando no universo. Mas você tem o espírito da vida e quer ver a natureza crescer e prosperar em sua superfície. É aí que entram em cena os gigantes.

Cada um desses simpáticos titãs tem habilidades ligadas à uma força da natureza: o gigante dos oceanos – um caranguejo colossal – pode criar mares, por exemplo. Escolha o lugar, mande ele trabalhar, e voilà: a base para a vida está assentada.

Análise Arkade - O quebra-cabeça engenhoso de Reus

A partir daí, os demais colossos entram na brincadeira. Crie florestas e pântanos ao redor dos mares, crie montanhas e desertos entre elas. Plante árvores frutíferas com o gigante das florestas, crie animais peçonhentos e ervas com o gigante dos pântanos, e assim por diante. Cada um dos seus ajudantes pode criar um tipo de elemento, e esses elementos mudam de acordo com o lugar onde são colocados.

Como não poderia deixar de ser, esse paraíso natural acaba atraindo um tal de ser humano. E aí é que os desafios começam.

A essência de Reus é a luta constante entre o equilíbrio da natureza e o progresso humano. Você se dividirá entre dar recursos aos humanos e manter eles na linha. O game une de forma fantástica essa ideia de estratégia e progresso com um puzzle de combinações.

Os humanidade precisará de recursos naturais para prosperar, e cabe a você fornecer isso a eles. Mas não adianta plantar mil pés de tomate em uma vila: você precisará combinar as coisas para que elas funcionem melhor. Reus chama essas combinações de “simbioses”, e é essencial que o jogador as entenda.

Por exemplo: coloque uma planta ao lado de um animal, e este animal vai gerar muito mais alimento. Faz todo o sentido. Por cima disso, você tem a opção de melhorar cada recurso, transformando o carvão em um minério mais valioso, por exemplo. Isso é feito pelos gigantes, e às vezes eles precisam de embaixadores (uns carinhas que as vilas te dão de presente) para poder fazer isso.

Com tudo isso em jogo, os seres humanos prosperam, e isso significa que eles podem se tornar gananciosos, entrando em guerra com outras vilas ou até perdendo o respeito pelos gigantes – e os atacando. Nesse caso, será necessário aplicar uma boa dose de disciplina (do tipo “estou enviando um gigantesco monstro de rocha para ter uma conversinha com vocês” de disciplina).

Análise Arkade - O quebra-cabeça engenhoso de Reus

Os comandos do game são muito ágeis e fáceis de assimilar – os gigantes podem ser selecionados usando-se as teclas de 1 a 4, e suas habilidades podem ser ativadas com o grupo de teclas QWER e próximas, uma boa pedida já que a mão esquerda de 99% dos jogadores de PC se concentra nessa área.

Isso dá um ritmo muito legal a Reus. Em instantes você se verá mandando os gigantes pelos quatro cantos do planeta para plantar, melhorar e combinar recursos, atacar e defender vilas e finalmente atender os requisitos dos projetos de cada uma.

Reus é um god game de combinações e experimentação fantástico, porém infelizmente este que é um de seus grandes pontos altos também acaba revelando o seu principal ponto negativo: a falta de intuitividade.

O game não comunica tão bem como poderia suas próprias regras ao jogador. Não que ele não explique elas por escrito, porque isso ele faz e extensivamente, em seus tutoriais e em sua Wikia – para a qual existe até um link dentro do jogo. O problema é que ele não faz isso de forma intuitiva.

Análise Arkade - O quebra-cabeça engenhoso de Reus

Quer um exemplo? Em determinado momento, você perceberá que um tipo de minério precisa ser melhorado. Quem colocou esse minério foi o gigante da terra, mas o upgrade só pode ser feito pelo gigante dos oceanos. E para completar, o gigante dos oceanos só tem acesso à habilidade de upgrade se ele ganhar um embaixador das florestas – o que por sua vez exige todo um outro conjunto igualmente complexo de interações para ser conseguido. Intrincado, não?

Pois é disso que estamos falando. Talvez sequências um pouco mais lógicas/diretas ajudassem aqui, e com certeza conquistariam de cara os jogadores mais casuais. É ótimo que o game tenha essa complexidade, uma raridade nesta época recheada de AAA’s fúteis, mas isso não significa que uma melhor apresentação das regras não viesse bem a calhar.

Resumindo: você entende e curte as combinações e coisas interligadas de Reus, mas você não consegue pegar elas “de cara”.

Análise Arkade - O quebra-cabeça engenhoso de Reus

Essa falta de intuitividade na jogabilidade de Reus é a grande “bola na trave” do pessoal da Abbey Games. Não é demérito do game nem da equipe, mas é a grande diferença entre um game se tornar massivamente bem sucedido – algo que Reus teria potencial para ser -, ou tornar-se bem sucedido apenas para um grupo de jogadores.

Reus se divide em dois modos: um modo de “eras”, onde você tem tempo marcado para tentar atingir o máximo de desafios possíveis (do tipo “criar uma vila com 200 pontos de prosperidade à beira-mar”, ou “completar todos os projetos de uma vila desértica”), e o modo livre.

É no último que você poderá experimentar combinações, usar o máximo do potencial dos gigantes e literalmente estudar o game, com calma.

Análise Arkade - O quebra-cabeça engenhoso de Reus

Ambos são muito interessantes e divertidos. Enquanto o modo mais objetivo te desafia com tarefas pré-definidas e te recompensa com uma porção de conquistas e novos elementos (como tipos de animais diferentes, minérios mais ricos, etc), o modo livre te deixa moldar a face de um planeta inteiro e suas civilizações à vontade.

Graças à um sistema muito bacana de experimentação e recompensas, Reus tem um ótimo fator replay, que premia e ensina ao mesmo tempo, algo que tira o melhor do seu lado puzzle. Além de tudo, o game conta ainda com 123 achievements no Steam.

Por fim, Reus é um ótimo game, que leva a experimentação a um nível sensacional, e cuja grande falha é apenas o fato de não tornar esta que é a sua maior qualidade mais intuitiva e acessível.

Uma apresentação melhor das próprias mecânicas poderiam facilitar a vida dos jogadores, sem prejudicar de forma alguma a sua bem-vinda complexidade. Não se trata de tornar as coisas mais simples só por tornar, e sim de apresentar de maneira mais nítida os seus próprios elementos.

De todo modo, o game é um feito incrível da Abbey Games, uma experiência bastante divertida e potencialmente muito cativante. O visual simpático pode esconder uma mecânica complexa e às vezes difícil de assimilar, mas ainda assim o jogo recompensa e muito bem pelo seu próprio aprendizado.

17 Respostas para “Análise Arkade – O quebra-cabeça engenhoso de Reus”

  • 9 de junho de 2013 às 13:05 -

    leandro leon belmont alves

  • bela analise desse game. e gostei muito dos “Colossus” das fotos

    • 9 de junho de 2013 às 16:49 -

      Daniel Zimmermann

    • Valeu Leandro, o jogo é muito bom, recomendo, principalmente se você curte ir aprendendo e se aprofundando nos detalhes.

      • 9 de junho de 2013 às 17:19 -

        Tzar

      • Bela analise Daniel Zimmermann,cairia muito bem uma versão para smartphones e tablets.

      • 9 de junho de 2013 às 21:46 -

        Daniel Zimmermann

      • Valeu Tzar. O game realmente seria legal em plataformas mobiles.

  • 9 de junho de 2013 às 14:16 -

    Renan do Prado

  • Excelente análise!!! Eu tinha confiança de que Reus seria um ótimo game e que bom que de fato ele é!!!!

    • 9 de junho de 2013 às 16:47 -

      Daniel Zimmermann

    • Valeu Renan, ele é um game muito bom mesmo, do tipo que recompensa o aprendizado.

  • 9 de junho de 2013 às 15:24 -

    Kubrick Stare Nun

  • Poxa Daniel, eu achei o tutorial de Reus até bastante longo. Eu curto mais esse negócio de ir descobrindo os detalhes jogo na marra mesmo, dá até um gostinho extra o prazer de ir descobrindo os novo poderes, perceber que os humanos podem travar guerras, descobrir que os seus gigantes podem destruir as vilas humanas, etc…

    Tá bom que isso tudo não faz dele um “Plants VS. Zombies” em nível de casualidade, mas não vejo isso como um ponto negativo.

    • 9 de junho de 2013 às 16:46 -

      Daniel Zimmermann

    • Pois é Kubrick, como você viu, eu fui e voltei neste assunto várias vezes na análise. Realmente é ótimo que o game precise de experimentação para ser aprendido (na verdade é disso que se trata Reus pelo que notei: experimentação).

      Mas o meu ponto é que talvez essa experimentação pudesse ser mais nítida, com coisas que fizessem qualquer pessoa captar de cara – sem deixar de respeitar 100% a riqueza de mecânicas dele. Eu curto games assim, mas conversei com alguns amigos que disseram “Pô, eu achei legal, mas não entendi o que tinha que ser feito muito bem e parei de jogar”.

      Então eu tentei fazer um meio-termo, explicando que o jogo é rico em detalhes, mas que não os torna tão fáceis de entender como poderia. É complicado mesmo, isso me levou a pensar se não estamos nos tornando gamers preguiçosos, que querem tudo mastigado.

  • 9 de junho de 2013 às 16:28 -

    Cabramacho

  • Achei bem complicado de inicio, mas a medida que fui obtendo as conquistas e iniciando novamente com novas metas o jogo ficou interessantíssimo.
    Recomento Reus pra quem gosta de inovação.

  • 9 de junho de 2013 às 22:29 -

    Chinalia

  • Realmente ótima analise Daniel Z. O jogo me pareceu bem interessante, jogos de estratégia são muito cativantes, uma parte do Trailer na Steam q me lembrou de Battle for Middle-Earth nas batalhas “q é um dos meu favoritos” Assim tb como cities xl 12, Sim City e Civilization.

    • 9 de junho de 2013 às 23:25 -

      Daniel Zimmermann

    • Obrigado Chinalia, ele é bem interessante sim, vale a pena!

  • 10 de junho de 2013 às 10:07 -

    Daniel Breitschaft

  • Excelente análise… Pra mim que sou fanático por conquistas, esse game vai ser um prato cheio, e com as novas melhorias que o Steam está implantando em sua comunidade, com certeza logo sairá uns Steam Cards para o game.
    E vamos conquistar !!!

    • 10 de junho de 2013 às 12:10 -

      Daniel Zimmermann

    • Seria bem legal ter Steam Cards para este game mesmo.

  • 10 de junho de 2013 às 11:00 -

    Ghighix

  • Gostei do artigo! Parabéns!

    • 10 de junho de 2013 às 12:10 -

      Daniel Zimmermann

    • Valeu doutor!

  • 10 de junho de 2013 às 19:13 -

    Babiro

  • Muito boa a sua análise Daniel, o game parece bem interessante mesmo, vou dar uma conferida nele quando estiver com tempo!!!!!!

    • 10 de junho de 2013 às 22:16 -

      Daniel Zimmermann

    • Valeu, vale a pena conferir sim!

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