Cine Arkade: A Entrevista e o Video On Demand mostrando o futuro do cinema

10 de janeiro de 2015

Cine Arkade: A Entrevista e o Video On Demand mostrando o futuro do cinema

Vamos discutir um pouco do futuro e da internet graças ao recente sucesso que o polêmico A Entrevista fez em serviços de vídeo on demand. Tudo isso na primeira Cine Arkade do ano!

A Entrevista é um filme em que ganhou grande atenção graças ao seu controverso enredo: as pessoas já sabiam que o longa dirigido por Evan Goldberg e Seth Rogen iria dar muito pano para manga por apresentar dois jornalistas que se infiltram na Coreia do Norte a mando da CIA, para matar o líder Kim Jong-un.

Em um ato que não deveria surpreender ninguém, a polêmica surgiu, se intensificou e levou o filme para uma montanha russa de obstáculos com produtores, distribuidores e outras empresas que fazem parte do mundo cinematográfico.

No entanto, isso se tornou uma vantagem, e conseguiu mostrar uma imagem vívida sobre o futuro do streaming/serviços de VOD (video on demand) se comparado à experiência tradicional do cinema. Mas antes de de aprofundar neste tema, vamos voltar no tempo e entender um pouco o deturpado caso de A Entrevista.

Cine Arkade: A Entrevista e o Video On Demand mostrando o futuro do cinema

A ideia do o filme começou no final dos anos 2000 com a dupla Seth Rogen e Evan Goldberg pensando como seria engraçado um filme sobre dois jornalistas que seriam enviados pela CIA para assassinar o ditador da Coreia do Norte.

O que era um conceito “divertido” rapidamente se tornou realidade com a inclusão de alguns roteiristas, além da própria vida real que foi se moldando e deixando o absurdo do filme cada vez mais crível, como o famigerado jogador de basquete Dennis Rodman viajando para a Coreia do Norte graças a amizade incomum que tem com o atleta.

A produção continuou, mais atores foram chamados para participar do longa, incluindo Lizzie Caplan (Masters of Sex, Cloverfield), Randall Park (They Came Together), Timothy Simmons (Veep) e claro, o amigo de Seth Rogen de longa data, James Franco (127 Horas) interpretando Dave Skylark, o apresentador de talk show que é enviado para a Coreia o Norte junto com o seu produtor, Aaron Rapoport (interpretado pelo próprio Seth Rogen).

Cine Arkade: A Entrevista e o Video On Demand mostrando o futuro do cinema

A controvérsia se dividiu em duas partes: primeiro tivemos o próprio ditador Kim Jong-un descobrindo a existência do filme  e fazendo várias ameaças ao governo americano por ser uma “promoção ao terrorismo e um ato de guerra”, de acordo a um dos embaixadores da Coreia da Norte.

Eis que, no final de novembro, faltando um mês para o filme sair nos Estados Unidos, um ataque ao banco de dados da Sony foi feito por hackers desconhecidos. O hack trouxe diversas informações a tona, incluindo dados pessoais de funcionários e atores que estavam envolvidos na produção do filme, bem como conversas de emails entre executivos da empresa e outras.

Os hackers, que se auto-denominavam Os Guardiões da Paz, adquiriram aproximadamente 100 terabytes de documentos enquanto ameaçavam o cancelamento de A Entrevista. Até hoje não se sabe quem foi o culpado, com as únicas evidências sendo alguns poucos códigos de origem coreana. Obviamente, a Coreia do Norte nega responsabilidade pelo ataque e assim joga a batata quente para os funcionários da Sony.

Cine Arkade: A Entrevista e o Video On Demand mostrando o futuro do cinema

A consequência do ataque foi um dos eventos mais caóticos visto nos últimos meses: a Sony anunciou o cancelamento do filme… depois anunciou que os cinemas dos Estados Unidos poderiam colocar os filmes nas telonas por sua conta e risco, o que levou a quase nenhum dono de cinema correr o risco de transmitir o filme.

Para azedar ainda mais, diversos emails liberados mostravam executivos da Sony de todas as partes do mundo discutindo e falando mal do filme, explicando que ele era de mau gosto e que era desnecessariamente violento em algumas cenas.

Chegando mais perto da data de lançamento, no dia 25 de Dezembro, mensagens dos Guardiões da Paz apareceram, avisando que a Sony “sofreu o bastante” e que o filme poderia viver se o final fosse amenizado. Assim o filme poderia continuar a ser lançado normalmente mesmo após esta confusão toda.

Cine Arkade: A Entrevista e o Video On Demand mostrando o futuro do cinema

Um dia antes do lançamento, a Sony anunciou que iria disponibilizar o filme em dois formatos: em algumas salas de cinema e pela internet, por serviços de Video On Demand.

A Entrevista foi lançado em todos os serviços da internet, incluindo YouTube, Google Play, Xbox Marketplace, Amazon e Playstation Network (a queda da PSN e da Xbox Live que rolou no finalzinho de 2014 tem a ver com isso) com a opção de alugar o filme para assistir na sua casa.

O resultado foi estrondoso: A Entrevista arrecadou US$ 31 milhões somente em Video On Demand, sendo alugado ou comprado mais de 4,3 milhões de vezes, se tornando o filme que mais conseguiu dinheiro no serviço. Comparativamente, o segundo lugar ficou com o Expresso do Amanhã que conseguiu um pouco mais de US$ 3 milhões nas primeiras duas semanas disponibilizadas em VOD.

Cine Arkade: A Entrevista e o Video On Demand mostrando o futuro do cinema

Podemos argumentar que o sucesso de A Entrevista foi pela sua própria polêmica: quanto mais falavam do filme, mais pessoas ficavam interessadas e curiosas para descobrir se ele era tão aterrador quanto os hackers e a Coreia do Norte diziam ser. Mas isto não muda o fato que a explosão de A Entrevista tem tudo para ser o início de uma tendência que pode mudar a maneira com que os filmes são distribuídos e assistidos.

O Expresso do Amanhã pode ter sido um dos primeiros filmes que adquiriu um sucesso relativo em serviços de Video on Demand, porém A Entrevista fez com que pessoas nem tão ligadas nisso percebessem que o VOD existe e que pode ser tão fácil de utilizar quanto ir ao cinema.

A popularidade do Video On Demand nos mostra que existe mais uma opção para assistir filmes que remove todo o “trabalho” de ir ao cinema, trocando a “experiência de cinema” pela praticidade em juntar os amigos na sala para assistir ao filme que acabou de ser lançado diretamente pela internet, quando e como você quiser.

Cine Arkade: A Entrevista e o Video On Demand mostrando o futuro do cinema

Claro que isso não quer dizer que as pessoas simplesmente vão parar de ir ao cinema e todos nós vamos ficar em casa assistindo o primeiro filme que encontrarmos. Para muita gente, ir ao cinema é um “evento”, você se prepara e se arruma para ir a um lugar cheio de gente, que reage em uníssono ao que está ocorrendo na tela; ao passo que assistir algo em casa é muito mais intimista, e ninguém vai ligar se você estiver de pijama com a sua cara metade ou com seus amigos.

Hoje em dia até podemos até ter uma experiência similar à do cinema graças à tecnologia: home teather, televisões curvas gigantescas e tudo mais. Ainda deve demorar um pouco para vermos filmes sendo lançados simultaneamente no cinema e nos serviços de VOD, mas isso deve se tornar cada vez mais comum com o tempo.

Pessoalmente, acredito que esta realidade só estará realmente presente e acessível daqui uma década (no mínimo!), tendo como base o tempo que demora para uma tecnologia nova se popularizar, como foi o caso do CD, DVD e atualmente, o BluRay.

O que podemos perceber atualmente é que a internet está cada vez mais participativa em todos os meios de entretenimento, jogos, séries de TV, música e filmes. O próximo passo é ver como as grandes empresas irão lidar com todos os obstáculos que a internet traz, se ela vai lutar e bater de frente contra o VOD e serviços de streaming como o Netflix ou encontrar uma forma de coexistir em harmonia com estes canais, de maneira que todos possam se beneficiar (seja pela praticidade, seja pelo lado financeiro), desde quem produz o conteúdo até quem o assiste.

Tudo ainda é uma questão de tempo e o que nos resta é esperar e assistir de camarote todos os eventos se desenrolando até o grand finale, seja ele um final feliz e esperançoso ou um desfecho mórbido e lúgubre. O que temos no momento — em grande parte por conta d’A Entrevista — é um cenário caótico e instável.

5 Respostas para “Cine Arkade: A Entrevista e o Video On Demand mostrando o futuro do cinema”

  • 10 de janeiro de 2015 às 16:11 -

    leandro leon belmont alves

  • mas afinal, o filme é ruim ou não?mas sobre o assunto do Video on Demand, é mais prático realmente. assistir um filme no cinema com o pessoal do lado reagindo a cada cena é divertido. mas cada vez vai aumentando o preço do ingresso, e sem contar a alimentação… ver um filme pela net ou em consoles meio que tira o impacto da fotografia (seria os “gráficos” do filme) da película. mas se é para apreciar uma diversão sem ter pegar fila, acho válido.

    • 10 de janeiro de 2015 às 20:21 -

      Luan Barbosa

    • O filme é bem ruim, na real.

    • 11 de janeiro de 2015 às 11:57 -

      Henrique Gonçalves

    • Eu assisti e é aquele filme que vc entra já esperando o tipo de humor que o trio James Franco, Seth Rogen e Evan Goldberg fazem, que é uma mistura de humor sujo que aparece em É o Fim, Pineapple Express e praticamente todos os filmes que eles já estrelaram/escreveram/dirigiram. Eu até que gosto desse humor e por isso acabei achando engraçado em alguns momentos, mas em geral é um filme bem ok mesmo.

      Acabei não falando do filme em si pra não tirar muito o foco sobre o tema de VOD que falei no texto, só falando mesmo sobre a vantagem que o filme trouxe no lugar de uma análise formal. Ele vem pra cá dia 29 de Janeiro, e estou pensando seriamente se vale a pena publicar uma resenha dele no ar para discutir mais sobre o filme como um todo.

    • 11 de janeiro de 2015 às 12:02 -

      Henrique Gonçalves

    • No quesito VOD, eu acho que ele realmente vai ganhar um empurrão quando mais filmes entrarem nessa onda e quando as televisões gigantes ficarem mais em conta para o consumidor, assim você vai ter o acesso a “cinema em casa” ou terá um amigo que comprou justamente pra chamar todo mundo. Mas ainda acho que não vai afetar tanto pelo valor que o cinema traz para o amante do cinema, é quase a mesma coisa para quem compra cartuchos antigos de Nintendinho ou coleciona discos de vinil. Eu acho que o com o tempo o cinema vai ser tornar algo vintage que irá atrair somente um nicho bem particular… e de gente que quer se pegar no cinema também.

  • 12 de janeiro de 2015 às 14:17 -

    Joao

  • A única analogia que faço entre cinema X appletv/now/vod e etc. é livros X e-readers/tablets. O cinema (assim como os livros) tem toda sua mística e jamais deixará de existir ou de dar lucro. Os hackers podem vazar o filme antecipadamente, pode sair antes como VoD ou qualquer outra coisa, mas o cinema vai continuar tendo seu público cativo. Claro que é necessário se (re)inventar, seja criando telas curvas, telas maiores, telas 3d e etc., mas isto ocorre em qualquer ramo empresarial. Quem se acomoda fica para trás. Talvez eu volte atrás no meu posicionamento quando televisões enormes (+ de 50 polegadas) ou telões de projeção tenham um preço muito baixo para que todos possam ter acesso ao filme em toda sua qualidade. Até lá, não troco meu cinema com som surround e cadeira reclinável por assistir na tela do computador com fone de ouvido não.. Em tempo, falo tudo isto, mas nem tenho ido muito ao cinema pelos motivos que um colega acima ressaltou: está tudo muito caro!! Da pipoca à própria sessão em si, se você não tiver carteirinha se prepare para gastar mais ou menos uns 60, 70 reais pra assistir um filme e comprar um combo de pipoca e coca-cola.. É uma pena.

Deixar um comentário (ver regras)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *