Análise Arakde: The Callisto Protocol é um bom game de terror, mas não muito além disso

21 de dezembro de 2022

Uma série de Survivor Horror que verdadeiramente marcou o mundo do video games foi Dead Space, que, após ser finalizada, deixou um grande vácuo no gênero de terror futurista nos games por um bom tempo. E então, anos depois, Glen Schofield, criador da série, anunciou The Callisto Protocol como seu sucessor espiritual.

The Callisto Protocol, anunciado em 2020, foi um dos games mais aguardados desses últimos dois anos e finalmente foi lançado agora no finalzinho de 2022, então, vamos ver se o game faz jus ao hype recebido!

O horror em Calisto

The Callisto Protocol é ambientado num futuro distante, em que a humanidade colonizou o sistema solar. Nós acompanhamos Jacob Lee, um piloto de carga a caminho da Lua de Calisto, em Júpiter, para realizar uma entrega para a Prisão de Ferro Negro, um “último serviço” antes de deixar o ramo de entregas perigosas.

Perto de chegar na Lua, sua nave é invadida em pleno voo por Dani Nakamura, acusada de terrorismo na Lua de Europa. Jacob tenta proteger sua nave ao abrir o compartimento de cargas para expelir os invasores para o espaço, mas tudo dá errado e sua nave sofre danos severos, entrando em rota de colisão com a lua.

Jacob sobrevive à queda, infelizmente com seu copiloto perdendo a vida. Ele é então resgatado pelo Capitão Leon Ferris, porém é ordenado pelo diretor da prisão, Duncan Cole, a ser preso, junto de Dani, que também sobreviveu à queda.

E logo após ser preso, e ter um dispositivo rastreador implantado em sua nuca, tudo repentinamente se transforma num inferno. Jacob acorda em sua cela e descobre que a prisão inteira está destruída, seus presos estão soltos e monstros grotescos estão matando tudo e todos o que encontram pela frente.

A missão de Jacob é simples: Fugir de Calisto com vida. E basicamente essa é a premissa do game. Conforme avançamos, vamos desvendando o mistério sobre o que está acontecendo em Calisto, tanto através de cutscenes como ao encontrar arquivos de áudio de personagens que morreram durante os eventos do game.

Narrativamente, The Callisto Protocol é um game bem simples. Não há muita dificuldade para entender a história, mas passamos a maior parte do percurso sem realmente saber o que está acontecendo. Isso faz sentido até, pois Jacob está preocupado em fugir, não em explorar. Mesmo assim, o mistério vai sendo construindo progressivamente conforme avançamos, apesar de não gerar “conectividade” entre o jogador e a história.

O game tem uma história simples, mas apenas isso, não sendo muito envolvente ou cheia de plot twists. Ela ela chega ao final de forma totalmente aberta, deixando claro que teremos sequências no futuro, porém o game falha um pouco em desenvolver os seus personagens, tanto pela pressa da situação (ninguém está ali para conversar, obviamente), quanto na forma que a narrativa é entregue.

Progressão e decisões de design estranhas

The Callisto Protocol não esconde que é um sucessor espiritual de Dead Space, mas segue por um caminho totalmente diferente de sua inspiração. As semelhanças ficam em suas características básicas: Terror espacial com criaturas mutantes, medidor de vida nas costas do protagonista, HUD holográfico e no gameplay básico. Mas para por aí.

O game é totalmente linear, não possuindo um mapa para os jogadores se localizarem. Apesar de pessoalmente eu gostar de games lineares, grande parte do apelo de games de terror, creio eu, está na exploração, em não saber inicialmente para onde ir e descobrir o caminho, explorando de pouco em pouco. E num Survivor Horror, os cenários, ou melhor dizendo o mapa em si, é uma das mais importantes partes da criação de seu terror.

Aqui, você encontrará no máximo algumas bifurcações no caminho. Um caminho dará seguimento na história e o outro levará até uma área sem saída em que você encontrará conteúdos extras. Explorar é um fator importante aqui para encontrar itens e recursos úteis, mas acaba parecendo mais como caça a colecionáveis, algo que te recompensa, mas não é necessário.

E então entramos na maior diferença entre The Callisto Protocol e Dead Space: O gameplay e os combates. Como já disse, no básico, os games são muito similares. Você tem diferentes armas de fogo, a habilidade de usar uma espécie de “stasis” para imobilizar inimigos, e pode pisar em inimigos no chão. Mas a entrega desses recursos básicos também é diferente e, honestamente, estranha.

O game possui poucas armas de fogo, com o jogador passando um bom 1/3 da aventura apenas com a pistola, até encontrar novas armas. As armas são bem básicas, podendo ser melhoradas através de impressoras 3D encontradas em locais estratégicos. Elas possuem tiros secundários, mas somente quando melhoradas ao máximo. Ou seja, você não usará essas funções secundárias até estar na reta final da aventura, ou se você gastar todos os seus créditos em um única arma, negligenciando outros upgrades importantes.

Aliás, aproveitando o gancho sobre você ter apenas uma arma por uma boa parte do game – por basicamente metade da duração da aventura você terá um inventário limitado a 6 itens e barra de vida baixa. E você só ganhará mais espaços e mais vida quando conseguir uma roupa de exploração (mostrada no vídeo de gameplay mais abaixo). Isso é muito tempo para o jogador passar tendo que sobreviver literalmente no limite, pois qualquer golpe de um monstro drena quase metade de sua vida, e você ficará sem espaço para itens muito rápido. E como o game é bem linear, se você deixar itens para trás, não poderá voltar para coletá-los posteriormente.

A stasis aqui, chamada de GAR, é um poder que só é útil em batalhas. Ele serve para puxar inimigos para próximo de você e segurá-los no ar, podendo, no máximo, jogá-los para longe. O GAR é extremamente útil em lutas contra muitos monstros, já que em trechos com muitos inimigos o game convenientemente coloca diversas armadilhas de cenários, como paredes de espinhos, lâminas giratórias e etc.

E então temos o combate corpo-a-corpo, que é a principal forma de luta do game. Os monstros que você encontra são verdadeiras esponjas de balas, mesmo os mais simples, e mesmo que você use armas mais fortes. Isso, aliado com a escassez de munição (na reta final do game isso muda), fazem com que o combate manual seja a opção mais usada.

O problema é que as lutas físicas são sempre iguais. Você usa um cassetete eletrificado para bater, vai batendo no inimigo até que ele se defenda ou até um ícone de mira aparecer – quando isso acontece, se você atirar rapidamente, desmembrará o inimigo, facilitando a luta. Porém, todas as lutas resumem-se a: um lado ataca, depois o outro.

The Callisto Protocol possui um sistema de esquivas bem simples, basta segurar o analógico para um lado e, quando o inimigo atacar, Jacob esquivará automaticamente. Após a primeira esquiva, você deve colocar o analógico para o outro lado e ir trocando a direção a cada golpe inimigo. Repita isso até o inimigo parar de atacar e aí é sua vez de distribuir porrada (E isso vale para todos os inimigos, até mesmo chefões).

A forma como enfrentamos os inimigos em The Callisto Protocol é, no mínimo, estranha. O gameplay funciona muito bem, mas o foco no uso de armas brancas, com as armas de fogo no fim sendo basicamente equipamentos secundários, usados realmente quando há muitos inimigos em tela e contra chefões, torna a progressão do game mais engessada.

E, como mencionei antes, um recurso vindo direto de Dead Space é você poder pisotear inimigos. Porém essa habilidade é simplesmente inútil em batalha. Em Dead Space, você pode atirar nas pernas de um inimigo, derrubando-o, e então pisoteá-lo para economizar munição. Aqui, pisotear inimigos vivos não causa dano nenhum. Pisotear serve somente para desmembrar inimigos já mortos, fazendo-os droparem itens, e para quebrar caixas de itens encontrados pelo caminho, apenas isso.

Além disso, existe a questão do tempo necessário para realizar ações. Atualmente o game recebeu uma atualização que acelera e muito tudo isso, mas antes da atualização, usar itens de cura e até mesmo trocar de arma eram coisas que demoravam demais, ao ponto de serem extremamente incômodas durante batalhas, já que os inimigos não vão esperar você realizar tais ações. A atualização mais recente do game basicamente aumentou a velocidade dessas ações em 1,5x ou até 2x no caso da cura, em que Jacob deve ajoelhar, olhar a injeção de cura, aplicá-la em seu pescoço, e esperar até todo o líquido ser injetado.

Como está no título dessa análise, The Callisto Protocol é um bom game, mas essas decisões de design quebram a experiência, deixando-a muito engessada e repetitiva, principalmente em relação aos combates.

Audiovisual e problemas de performance

The Callisto Protocol é um game incrivelmente bonito. Tudo nele é criado com uma riqueza de detalhes impressionante, principalmente graças a seu visual fotorrealista.

Todos os cenários são muito bem construídos, desde salas e corredores intactos até trechos de destruição extrema e com muita carnificina espalhada. Aliado aos efeitos de iluminação que criam texturas altamente grotescas nos corpos de inimigos, poças de sangue, vísceras e nas massas de carne que cobrem o chão e as paredes de locais altamente infestados. E é claro, em seus monstros, que são incrivelmente grotescos e nojentos.

Os atores reais modelados dentro do game estão simplesmente perfeitos, com destaque especial para Josh Duhamel, que interpreta Jacob, e Karen Fukuhara (A Kimiko de The Boys) como Dani Nakamura. Seus visuais ingame são simplesmente perfeitos, desde rostos, cabelos, expressões faciais e até mesmo suor e os poros da pele, tudo foi feito com extremo cuidado e detalhes.

The Callisto Protocol possui poucas músicas, que tocam em momentos intensos, como lutas contra chefões ou momentos importantes. A maior parte do tempo é preenchida por sons ambientes, que são excelentes. Podemos ouvir gritos e grunhidos de monstros e vítimas distantes, os sons de coisas passando acima ou abaixo de nós por tubulações de ar. Sons de vento, metal rangendo e os grotescos sons de sangue jorrando, ossos se partindo e etc.

E há ainda um destaque para as animações de morte de Jacob, que são muito violentas. Infelizmente algumas dessas animações são demoradas demais, o que acaba atrapalhando quando estamos num trecho difícil em que podemos morrer muitas vezes, como numa batalha contra chefão. E, de forma muito controversa, algumas animações de morte estão bloqueadas por um season pass, que trará DLCs de história futuramente.

No entanto, apesar de toda a sua beleza visual, The Callisto Protocol roda de forma muito problemática, principalmente nos PCs. A última atualização do game corrigiu muitos desses problemas, mas como eu passei pro eles enquanto joguei, não posso deixar de falar sobre.

Apesar do meu PC poder rodar o game todo no Ultra de forma lisa, ele travava constantemente, principalmente em cutscenes. E isso não acontecia por meu PC não estar dando conta do recado (pois estava tranquilamente), mesmo PCs “da NASA” sofriam para rodá-lo. Cutscenes travando, gameplay com “soluços” e bastante input lag, e telas de loading muito demoradas. Atualmente o game está em um melhor estado, mas jogá-lo na época de lançamento foi difícil.

The Callisto Protocol possui localização em português brasileiro apenas em suas legendas, textos e menus. Infelizmente, o game sofre quando se trata de legendas. As vezes elas aparecem, as vezes não, muitas vezes precisando recarregar uma cena ou um arquivo de áudio para que elas apareçam corretamente.

Conclusão

É impossível falar de The Callisto Protocol por si só sem compará-lo com Dead Space, afinal ambos os games nasceram do mesmo criador e da mesma “ideia básica”. Mas ao analisá-lo de forma isolada, The Callisto Protocol é um game bom. Simplesmente isso.

Ele é um game absurdamente bonito, com muitas doses de ação e um Survival Horror competente, com recursos muito escassos. Porém, não vai além disso. Pessoalmente não achei o game muito assustador, apesar de ter vários jumpscares que infelizmente são repetitivos, o que quebra a magia muito rápido.

E, comparando com Dead Space, o game parece não atingir o potencial que poderia e deveria ter atingido, sendo muito mais linear, muito mais voltado ao combate corpo-a-corpo e com pouca profundidade e desenvolvimento de seu mundo e seus personagens. Se você me perguntar qual dos dois eu prefiro, acho que posso dizer com tranquilidade que Dead Space oferece mais, foi mais ousado e entrega uma experiência mais completa (visto que The Callisto Protocol termina de forma aberta).

The Callisto Protocol foi lançado no dia 2 de dezembro com versões para PC, Playstation 5 e Xbox Series X/S.

Uma resposta para “Análise Arakde: The Callisto Protocol é um bom game de terror, mas não muito além disso”

  • 21 de dezembro de 2022 às 20:59 -

    Helinux

  • A ambientação do game é boa, gosto disso!!!! Valeu!!!!

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