Análise Arkade: Baldur’s Gate 3 é o sublime RPG da Larian que te leva para Forgotten Realms

19 de agosto de 2023
Análise Arkade: Baldur's Gate 3 é o sublime RPG da Larian que te leva para Forgotten Realms

Depois de seis longos anos em desenvolvimento, com três desses em acesso antecipado, Baldur’s Gate 3 finalmente foi lançado oficialmente. Agora com seu conteúdo completo, melhorias em vários aspectos e uma tonelada de conteúdos extras. A Larian Studios conseguiu trazer um resultado extremamente positivo depois de um financiamento coletivo, centenas de profissionais envolvidos e anos de trabalho duro.

O resultado? Bom, se você não vive em uma caverna, já teve ter percebido que Baldur’s Gate 3 está dando o que falar internet afora. Seja pelo fato de ter se tornado o jogo com a maior pontuação em avaliações tanto no Metacritic quanto no Opencritic em 2023 (desbancando o até então soberano Zelda Tears of the Kingdom), seja pelas inúmeras interações, possibilidades de jogatina e profundidade de personagens que o game proporciona.

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Claro que posso estar me adiantando aqui e entregando de primeira o quão grandioso e estupendo esse jogo acabou se tornando, mas é proposital. Pois essa análise vai servir não pra você saber se o game é bom ou não, mas sim os motivos pelos quais ele é tão bom. Por isso, junte seu material de RPG, não esqueça seu D20 e vamos para aventura.

O Hóspede Maldito

Antes de mais nada, é importante lembrar que a história de Baldur’s Gate 3 é completamente independente dos games anteriores da franquia, não necessitando que jogadores busquem os games de literalmente mais de vinte anos atrás para se aventurarem nesta nova história. Aqui, seu personagem começa a aventura em uma nave extraplanar dos Ilitides, também conhecidos como Devoradores de Mente.

Durante sua breve estadia na nave, você acaba topando com personagens que também foram abduzidos enquanto a nave está sendo atacada por uma raça inimiga, que monta dragões cromáticos vermelhos. Para os mais interados em Dungeons & Dragons, estamos falando dos Githyanki. Depois de uma sequência de ação que ensina muito bem os comandos básicos e conceitos mais simples do game, acabamos com a nave sendo derrubada.

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Ao acordar em uma praia, descobrimos que temos um verme dos Ilitides depositado atrás de um dos nossos olhos. Esse verme é normalmente utilizado para que o hospedeiro se torne ele mesmo um Devorador de Mentes. Entretanto, por algum motivo misterioso, nós e nossos aliados não nos transformamos. E é aí que nossa aventura começa, tentando encontrar um meio de remover esse verme antes que a transformação se torne realidade.

Essa premissa aparentemente simples se mostra cada vez mais complexa e repleta de camadas no decorrer da jogatina. Com cada vez mais personagens surgindo para acrescentar novas nuances e pontos de vista à narrativa, bem como complexificar ainda mais a jornada. Além disso, não há um único caminho a se trilhar para tentar resolver o problema principal da história: há diversos caminhos igualmente possíveis de serem trilhados, o que acarreta em novas consequências mais à frente.

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Uma sessão de RPG de mesa

Baldur’s Gate 3, caso você não saiba, é um jogo de RPG de turnos com exploração livre ambientado no sistema de RPG de mesa mais famoso do mundo: Dungeons & Dragons. Mais precisamente, a versão 5.0 desse RPG. Desse modo, não só as raças, localidades e personagens são originários da ambientação de Forgotten Realms dos livros, como também todo o seu sistema de combate, progressão e curva de dificuldade foram baseados nisso.

Não é uma novidade para a Larian Studios desenvolver games nesses moldes, afinal toda a brilhante franquia Divinity também é do estúdio. Mas é a primeira vez que eles assumem o manto da franquia Baldur’s Gate. E foi um acerto e tanto eles conseguirem desenvolver o terceiro capítulo dessa franquia. É notável o avanço e a expertise que adquiriram com os diversos títulos de Divinity em que já trabalharam.

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Com isso, temos em Baldur’s Gate 3 a experiência definitiva de um CRPG, aqueles games de RPG para computadores e videogames que tentam simular a experiência de um RPG de mesa. E não é exagero dizer que nesse game a sensação de liberdade que temos é muito próxima daquilo que experienciamos em uma sessão de RPG de mesa com amigos.

Isso porque é possível interagir com cada NPC, cada objeto, cada pedacinho do terreno do game. A liberdade aqui não é simplesmente a que vemos em um mundo aberto genérico do tipo “vá onde você quiser”: isso é o básico de Baldur’s Gate 3. Aqui nós temos total liberdade de interação com objetos, interação com personagens e, o mais surpreendente: interação com a história do jogo. Mas sobre isso preciso falar mais detalhadamente.

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A sua história do seu jeito

Onde talvez Baldur’s Gate 3 mais brilhe é na sua interação com personagens não jogáveis. Sejam eles os nossos companheiros de jornada, sejam eles os NPCs que encontramos durante a jogatina. Todos possuem histórias profundas e complexas, interações interessantes e, principalmente, um leque enorme de possibilidades de como nos relacionamos com eles.

Nossas escolhas já começam na criação do nosso personagem principal. Com ele, escolhemos uma raça, uma classe, às vezes uma sub-classe e também um antecedente histórico. Fora todas as outras características estéticas e de status já tradicionais de jogos de RPG. Mas com os atributos que citei inicialmente, nós temos variações distintas de opções de resposta de acordo com os NPCs com os quais estou conversando.

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E o mais surpreendente de tudo: essas criaturas que eu chamo de NPCs são na verdade praticamente toda e qualquer criatura presente em Baldur’s Gate 3. Você consegue dialogar com guardas, vendedores, transeuntes, ladrões de estrada e vários outros humanoides. Mas não para por aí: você é um druída ou tomou uma poção que lhe permite falar com animais? Pois bem, agora você consegue conversar com qualquer cachorro, boi, esquilo, urso, passarinho, porco do mato ou qualquer outro animal que você encontra mundo afora.

Ainda quer mais? Pois bem, praticamente todo inimigo com capacidade de fala é passível de participar de uma conversa antes que um possível embate realmente aconteça. Ao ponto das coisas poderem tomar rumos tão diferentes que o combate em si pode nem de fato acontecer. Como quando consegui convencer algums ogros seguranças de um acampamento goblin a simplesmente mudar de lado e passarem a me ajudar ao invés de apoiarem os goblins. Esse é o nível de liberdade de Baldur’s Gate 3, fruto de mais de duas milhões de linhas de diálogo.

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Combates em turno criativos

Mas claro que um RPG que se preze não seria um RPG sem seus combates. Embora o fator role play de Baldur’s Gate 3 seja de fato seu aspecto mais louvável, os combates não deixam nada a desejar também. Você anda com um grupo de até quatro personagens jogáveis, sendo possível obter aliados NPCs não controláveis em determinadas situações. E os inimigos podem ser quantos a cena couber, indo de um ladrão solitário até mais de trinta ratos sanguinários por exemplo.

O “arroz com feijão” das batalhas táticas por turnos está presentes aqui: testes de iniciativa, diferenciação de terrenos, vantagens de posicionamento, ataques de oportunidade, golpes críticos, condições especiais, magias com os mais variados efeitos, itens mágicos e especiais que te concedem vantagens ou desvantagens, reações elementais e muito mais. Mas tudo isso com a liberdade do roleplay que eu havia comentado anteriormente.

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Um bom exemplo disso foi quando eu enfrentei um elemental de lava de oitavo nível, que andava tranquilamente num poço de lava que simplesmente era morte imediata para mim. Posicionei os personagens do meu grupo estrategicamente para uma emboscada de maneira sorrateira, passando em testes de ladinagem. E só quando o elemental percebeu minha presença que o combate realmente começou. Nesse momento, usei um dos meus personagens para jogar água de um jarro no elemental, esfriando um pouco seu corpo de magma.

Foi uma tentativa às cegas, eu não sabia se aquilo teria ou não algum efeito. Mas usei a lógica e o pensamento criativo que Baldur’s Gate 3 me instiga a ter em todo momento. Felizmente descobri que o jogo havia me recompensado pela tentativa, já que com o corpo resfriado pela água, o elemental de magma se tornou lento e incapaz de jogar ataques de fogo durante um turno, até que ele pudesse se esquentar novamente. Por essas e outras o combate do game é incrivelmente detalhado e variado, sendo sempre muito divertido.

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Inúmeras possibilidades

Acho que já ficou claro a essa altura que a palavrinha mágica para definir Baldur’s Gate 3 é liberdade. Mas outras duas também estão bem próximas dessa: criatividade e interpretação. Já que se trata aqui de um RPG. Mas existe uma funcionalidade no game que potencializa tudo isso, e me deixou muito satisfeito ao longo das mais de 70 horas que já joguei.

Estou falando basicamente do recurso de salvamento do jogo. Pode parecer besteira falando assim, mas em Baldur’s Gate 3 nós podemos salvar nosso game em literalmente qualquer momento em que seja possível pausar. No meio de uma cidade, na segurança do nosso acampamento, no meio de um diálogo com algum NPC, durante um combate daqueles bem desafiadores, literalmente qualquer momento em qualquer lugar.

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Isso é brilhante pois permite ao jogador, caso ele queira, vivenciar vários leques de possibilidades de suas escolhas, entendendo mais claramente o peso de cada decisão e deixando a cargo do jogador vivenciar a história baseado no acaso ou realmente querendo construir uma narrativa direcionada a uma construção de personagem específica. Muitos podem achar isso ruim, por remover um pouco do peso das escolhas do jogador, mas eu vejo de outro modo.

Games com muitas opções de escolha em seu enredo podem se tornar sufocantes depois de certo tempo jogando. Simplesmente pelo jogador se ver preso às suas escolhas anteriores ou simplesmente descobrindo que o final que ele queria fazer precisava de ser traçado por outro caminho horas atrás. Fora os games narrativos que obrigam o jogador a rejogar inúmeras vezes para absorver a história como um todo.

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Como em Baldur’s Gate 3 temos uma gameplay com pelo menos uma centena de horas de história, simplesmente refazer tudo de novo para mudar a resposta de um diálogo seria impraticável. Por isso essa possibilidade de salvar quando quiser é brilhante: ao resgatar um load e tomar uma decisão diferente, você leva sua história por um novo caminho rapidinho. E, obviamente, tira proveito disso quem quer.

Alguns acertos necessários

Baldur’s Gate 3 é sublime no mais exato sentido do termo: apresenta inexcedível perfeição material, superlativamente belo, esteticamente perfeito. Mas existem sim alguns mínimos detalhes que, ao serem melhorados, podem trazer ainda mais grandeza para a experiência de jogo como um todo.

Isso, é claro, sendo bem exigente com o nível de detalhes aqui, já que o game, sem exagero, beira a perfeição dentro de seu gênero. Mas não seria nada mal alguns ajustes de qualidade de vida nos menus do jogo, principalmente em seu inventário, já que este é cheio de detalhes e, dependendo de quantas coisas você estiver carregando, pode ficar difícil encontrar algo em específico. Algum recurso de organização personalizada de inventário (como vemos em Diablo) seria um belo acréscimo aqui.

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Fica difícil de se orientar com tantas coisas pra prestar atenção.

Além disso, temos também alguns comportamentos um tanto irritantes por parte dos NPCs que nos acompanham durante a nossa jornada. O mais grave deles é relacionado a espaços com lava ou armadilhas, quando vez ou outra um NPC simplesmente ignora o terreno mortal ou a armadilha que ele mesmo detectou anteriormente e acaba morrendo de graça ou acionando desnecessariamente um explosivo por exemplo. Não é tão recorrente, mas é profundamente irritante quando acontece.

Outro comportamento irritante de NPCs, mas este não tão grave quanto o anterior, é ao utilizarmos o salto para chegar a lugares que seriam inalcançáveis andando. É fato que cada raça e cada personagem possui suas vantagens e desvantagens físicas, que se relacionam também com os equipamentos que estão usando. Mas, algumas vezes um NPC simplesmente não salta por cima de um precipício por exemplo, como se fosse incapaz de fazê-lo, sendo que ele é perfeitamente capaz de fazer aquele movimento sozinho. Quando isso acontece, você precisa selecioná-lo manualmente e fazer o movimento por ele.

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O melhor RPG do ano?

Como eu havia comentado antes, esses pontos a serem acertados no game são meros detalhes que nem de longe atrapalham a experiência como um todo. Baldur’s Gate 3 em seu saldo final é, sem dúvidas, um marco e tanto na indústria que, infelizmente, não deve virar um padrão de qualidade a ser seguido. Digo isso não pelo jogo não ser bom o bastante pra isso, pois ele é. Mas simplesmente porque, realisticamente, o padrão de qualidade que a Larian atingiu aqui pode não ser facilmente alcançável por outras companhias.

Estamos falando de um financiamento coletivo, feito por uma empresa apaixonada pelo gênero com o qual ela trabalha, seis anos de árduo trabalho, três anos de acesso antecipado com inúmeras correções e adequações do material. Reproduzir algo dessa magnitude em outros contextos é potencialmente improvável, embora não necessariamente impossível.

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Mas o ponto aqui é que temos em mãos um dos maiores e melhores RPGs da última década, não só de 2023. Então se você curte o gênero, gosta de D&D e ama batalhas por turno, Baldur’s Gate 3 é a experiência definitiva do gênero pra você.

Caso você tenha receio com o sistema de turnos e prefira mais um RPG baseado em ação, fica aqui o meu convite para que você experimente esse jogo, seja sozinho ou com amigos. Talvez ele mude a sua opinião, e essa viagem sem dúvida valerá a pena.

Baldur’s Gate 3 estava em acesso antecipado desde 2020, mas foi lançado oficialmente no dia 3 de agosto de 2023 para PCs (via Steam e Epic). Sua versão para PlayStation 5 está prevista para o dia 6 de setembro, com uma versão para Xbox Series ainda em desenvolvimento. O jogo possui todas as suas mais de 2 milhões de linhas de diálogo em português brasileiro, tendo somente as dublagens em inglês.

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