Análise Arkade – A bela e intimista jornada de That Dragon, Cancer

5 de fevereiro de 2016

Análise Arkade - A bela e intimista jornada de That Dragon, Cancer

Imagine. Pense sobre a trajetória de um pai que tem seu filho de um ano diagnosticado com um gravíssimo câncer no cérebro. Pense em quão doloroso, complicado e desesperador é passar por essa situação. Pense em todas as alegrias que uma família tem com uma criança, e como esses fatos mudam tudo.

Ryan Green viveu isso.

E That Dragon, Cancer é sobre isso.

Mas também é sobre muito, muito mais, e você vai saber sobre esses detalhes em seguida.

Veja o trailer de lançamento:

A história

Ryan e sua esposa, Amy, pais de 3 filhos, passaram por esta situação inexplicável quando o mais novo de suas crianças, Joel, foi diagnosticado com câncer quando tinha apenas um ano de idade. Mesmo lutando bravamente esta batalha contra o câncer, Joel faleceu aos cinco anos de idade.

Eis que Ryan, um desenvolvedor de games, decidiu mostrar (com o que sabe fazer melhor) como foi passar por esta situação na forma de um jogo realmente intimista e muito tocante.

O início, a família e Joel

Ao iniciar o game, somos recebidos com gráficos poligonais e gravações de uma família. Os irmãos mais novos perguntam aos pais as razões de Joel não correr como as crianças de sua idade correm. Questionam também por que Joel não fala como as crianças da sua idade falam. Os pais respondem que Joel é um pouco mais devagar que as outras crianças, mas que chegará lá, em seu tempo. Tudo isso reproduzido com letras no fundo em um texto que dá um tom delicado e poético ao diálogo.

Enquanto isso, controlamos um pato em um lago, enquanto um pequeno e poligonal Joel lança pedacinhos de pão para alimentá-lo. Em seguida vemos do que mais Joel gosta, tendo a oportunidade de brincar com o garoto.

Essa cena pode parecer um pouco boba para quem lê, mas o áudio é real, retirado de filmagens da própria família. O interessante aqui é que não aparecem os outros irmãos ou os pais, apenas Joel e o pato, em um momento de introdução do personagem principal nesta narrativa.

Análise Arkade - A bela e intimista jornada de That Dragon, Cancer

Os gráficos

Vamos fazer uma pausa na linda história para comentar sobre os gráficos. Em um estilo Low-Poly, os gráficos parecem um pouco rústicos e dão uma impressão de estarem mal-acabados, pois os personagens não possuem expressões nem muitos detalhes: Joel possui um rosto sem olhos e sem boca, Ryan possui característicos óculos e Amy conta com seus longos cabelos para lhe representar. Os demais personagens também contam com poucos detalhes e o ambiente também. O que não descarta a imersão, pois as animações são muito bem-feitas e os jogos de câmera são bem interessantes.

Análise Arkade - A bela e intimista jornada de That Dragon, Cancer

E o dragão aparece…

Enquanto as cenas iniciais passam, vemos que algo está errado. Joel não está tão bem, e Amy (a mãe) é introduzida na narrativa aos poucos, como uma voz que liga para o celular de vez em quando, informando sobre exames, condições e diferentes preocupações com a saúde do menino.

Aí eu admito, comecei a entender que algo mais forte viria.

… e o sofrimento também

Aos poucos, as cenas começam a intercalar com o calmo (até demais) e sem graça cenário do hospital, e o gameplay começa a deixar claro a situação em que Ryan estava: Mãos atadas, você sente que precisa ajudar Joel, mas… O que pode ser feito? Você não é um médico, você não tem medkits, não tem cogumelos, power-ups, continues, nada que possa curá-lo. Você é apenas um pai com um filho doente. E isso dói.

Mas a vida é bela

Mas o game não é de todo triste e melancólico. Temos cenas muito doces e belas, como quando um cão visita joel no hospital ou quando vemos as homenagens dos apoiadores do financiamento do Kickstarter em varais com cartazes espalhados pela clínica. Estes pontos felizes das memórias dos pais de Joel, sobre as coisas que ele gostava, sobre como ele se comportava com seus irmãos, os áudios e a alegria de todos com aquela criança, tudo é lindo e muito emocionante.

Os sentimentos ficam claros

As reações de Ryan e Amy são bem diferentes e são retratadas de formas interessantes: Ryan é um pouco mais pessimista, e literalmente afunda em sua tristeza e desespero, não sabendo como lidar inicialmente com a situação. Já Amy tenta resgatá-lo, sempre acreditando que possa existir uma solução, nem que seja divina.

Análise Arkade - A bela e intimista jornada de That Dragon, Cancer

Com o andamento do game, fica mais clara a força dos dois, e como cada um lidou com o progresso (negativo) da doença do pequeno Joel.

Dizer mais sobre a história não é necessário, pois todos sabemos como termina. Mas é preciso jogar para SENTIR como começa, se desenvolve e termina (spoiler: o final é lindo, e ‘terminar’ o jogo é uma tarefa árdua e…difícil).

Os sons

O áudio é a grande sacada neste game, pois grande parte da emoção e imersão vem da obra de arte que são os diálogos, áudios retirados de vídeos da família e da música, que o conduz durante as diferentes situações de alegria, tristeza, pavor e redenção durante o game. Como os áudios foram realizados pelos próprios pais (Ryan e Amy), você consegue sentir o que eles sentiram em cada entonação, em cada palavra, é realmente muito tocante.

O Gameplay

Sim, resolvi deixar para o final os aspectos do gameplay, pois não é o foco do game: Basicamente trata-se de um point and click padrão, com poucas funções, geralmente utilizando o mouse para cumprir os objetivos. Em outros momentos, algumas teclas também são necessárias para passar por minigames menores.

Sim, nada demais.

Análise Arkade - A bela e intimista jornada de That Dragon, Cancer

Concluindo

That Dragon, Cancer é uma jornada simples de dois pais com um filho em uma situação rara e difícil, que decidiram compartilhar com o resto do mundo seus sentimentos e sensações, homenageando seu filho Joel de uma forma delicada e muito bela.

Um jogo para poucos, um jogo para quem não tem problemas com derramar algumas lágrimas, refletir sobre as relações interpessoais, o significado da vida, morte e tudo mais. Um jogo para você nunca mais esquecer. Um jogo para te marcar como a vida de Joel marcou as vidas de todos a quem conheceu.

That Dragon Cancer está disponível para PC, Mac e Ouya.

Você pode encontrá-lo neste link.

Bonus:

Esta linda foto de Ryan e Joel.

Análise Arkade - A bela e intimista jornada de That Dragon, Cancer

3 Respostas para “Análise Arkade – A bela e intimista jornada de That Dragon, Cancer”

  • 6 de fevereiro de 2016 às 21:44 -

    Diego

  • Nossa, chorei muito ao ler a matéria. Não teria coragem de jogar este game. Pois perdi meu filho nessa mesma situação. Só eu e minha esposa sabemos do sofrimento que passamos. Desde o diagnóstico com 7 anos até quando nosso filho amado nos deixou menos de 1 mês de completar 9 aninhos. A saudade é imensa, jogávamos Video game quase todos os dias. Era o meu grande amigo e parceiro de todas as horas. Ainda não consigo falar muito a respeito pois sofro demais. Filho, te amaremos por toda a eternidade. Pai, Mãe e Maninha.

    • 15 de fevereiro de 2016 às 23:16 -

      Joao Bonorino

    • Obrigado pelo feedback, Diego, e fico feliz que tenha gostado da matéria. Desejo muita sorte e muita força nesse momento. É uma situação realmente muito complicada, e jogando o game pude sentir um pouquinho dessa dor e entender uma pequena fração do que pessoas como você e o Ryan passaram. Um grande abraço e tudo de bom!

      João Bonorino

  • 11 de fevereiro de 2016 às 07:41 -

    Roney Colella De Souza

  • Existe um filme cuja trilha sonora se assemelha bastante à desse jogo. A cena mais marcante é uma em que um garoto encosta a mão no rosto do avô e pergunta com uma voz entristecida: “Ser velho é doloroso?” 

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