Análise Arkade: Dragon’s Dogma 2, entre a glória e a frustração

9 de abril de 2024
Análise Arkade: Dragon's Dogma 2, entre a glória e a frustração

Um dos lançamentos mais aguardados de 2024, Dragon’s Dogma 2 chega como uma sequência independente 12 anos após o lançamento do primeiro título da franquia. Muito aguardado pelos fãs do então clássico cult de RPG da Capcom, a sequência veio com a promessa de aumentar o escopo do primeiro jogo em tudo que ele acertou, criando um mundo aberto vasto e vivo com uma infinidade de atrativos para novos e velhos jogadores.

Entretanto, não podemos simplesmente assumir que Dragon’s Dogma 2 é um sucesso absoluto, visto que em vários aspectos ele divide opiniões de público e crítica. Embora seja um jogo inovador e repleto de qualidades, ele não representa exatamente uma obra pronta e totalmente clara em suas propostas. E parte disso é o que justamente o deixa numa posição delicada entre a glória de ser um RPG fantástico mas também as frustrações envolvidas no processo de “aceitar” o jogo.

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Um “segundo” Arisen

A história de Dragon’s Dogma 2 começa com nosso protagonista (criado por nós) vivendo como um escravo em uma escavação em um local até então desconhecido. É quando um monstro ataca o local que nós descobrimos nossa linhagem de Nascém (como o Arisen foi chamado em português) e, após uma luta introdutória, fugimos do local para a nossa liberdade.

Até então, um enredo que lembra em alguns pontos o início do primeiro jogo lá de 2012. Entretanto, algumas diferenças cruciais deixam a história aqui um pouco mais interessante. Primeiramente que, por algum motivo inicialmente obscuro, nós perdemos a memória de como nos tornamos Arisen. Para quem não jogou o primeiro game, esse título é dado para uma pessoa que tem seu coração roubado por um Dragão, carregando uma marca de tal feito.

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A questão é que, nesse mundo no qual Dragon’s Dogma 2 se passa, o Arisen é o herdeiro ao trono do reino, governando com legitimidade independente da sua linhagem ou origem. Além disso, outro ponto de legitimidade do Arisen é a servidão dos chamados Peões, uma raça interplanar que existe basicamente para obedecer e ser leal ao Arisen, uma marca registrada da franquia. Mas porque isso é relevante no fim das contas?

Bom, o interessante do enredo inicial do game é justamente o fato desse mundo já ter supostamente um Arisen como governante. O que deixa nosso protagonista numa situação complicada, enquanto adquire alguns aliados no decorrer do caminho para descobrir o que se passa enquanto tenta recuperar sua memória também. A história se arrasta em alguns momentos, mas possui bons desenvolvimentos, mantendo o enredo interessante para o jogador quase sempre.

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Um mundo cheio de vida

Dragon’s Dogma 2 agrada bastante em sua história principal, mas nem de longe ela é o único atrativo da aventura. Arrisco dizer inclusive que ela nem se quer é o atrativo principal do jogo. Isso porque o mundo criado para o segundo jogo da franquia é tão vasto, rico em detalhes e repleto de vida que, ele sim, é o protagonista dessa história.

É visível inclusive pelas escolhas de design e mecânicas de jogo que a intenção era tornar o mundo de Dragon’s Dogma 2 a “desculpa” para os jogadores se manterem jogando o título. Temos decisões muito acertadas, como a IA das criaturas que é incrivelmente inteligente na maior parte do tempo, um mapa com geografia própria e caminhos sinuosos repletos de escolhas, dificuldade desafiadora que instiga a progressão e, principalmente, eventos aleatórios que podem mudar o curso da aventura.

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Escalar os monstros é bem divertido e desafiador.

Tudo isso combinado com uma infinidade de missões, conteúdos secretos, locais escondidos a serem explorados e NPCs que podem se tornar inimigos ou aliados no decorrer do caminho fazem do mundo de Dragon’s Dogma 2 um dos mais únicos dos últimos anos. Mas ser único não é necessariamente ser perfeito. Já que temos também algumas questões discutíveis como a pouca variedade de monstros em comparação com o tamanho do mapa do jogo por exemplo.

Além disso, vou reservar um momento próprio para falar sobre o fator aleatoriedade em Dragon’s Dogma 2, que embora seja incrivelmente inovador e imersivo muitas vezes, pode ser uma faca de dois gumes quando torna a experiência de jogo bem desagradável. Outros fatores relacionados ao mundo do game eu vejo como escolhas cheias de personalidade para a jogatina, como a ausência de montarias e a viagem rápida limitada. Não atrapalham necessariamente a experiência, embora ditem a forma de jogar o título.

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Como jogar Dragon’s Dogma 2

E aqui entramos em um dos pontos talvez mais controversos da experiência de jogar Dragon’s Dogma 2: a forma dele ser jogado. A progressão do game gira em torno da aquisição de níveis, liberação de novas classes e contratação de novos peões. Além é claro de melhoria de equipamentos e armas. Isso tudo é conseguido vencendo inimigos e completando missões ao redor do mundo. Até aí, nada diferente de qualquer outro RPG, não é mesmo?

Entretanto, em Dragon’s Dogma 2, o ritmo da aventura é bem diferente da maior parte das experiências que temos no mercado hoje. Fica até difícil de compará-lo com algum outro game. Ele não é cinematográfico como The Witcher 3, nem muito menos instintivo como Skyrim. Não chega a ser tão estratégico como Baldur’s Gate 3, embora se aproxime do GotY de 2023 pela infinidade de possibilidades. Seus combates lembram uma mistura de Elden Ring e Monster Hunter, e sua interação com o mapa é quase única.

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Todas essas comparações servem para exemplificar como é difícil alinhar as expectativas de Dragon’s Dogma 2 com algum outro game marcante do seu gênero. Até se compararmos a experiência de jogo com a do seu antecessor, existem diferenças o suficiente para considerarmos a experiência de jogar o segundo game bastante diferente de jogar Dark Arisen, o primeiro jogo da franquia.

Por isso o “como jogar” Dragon’s Dogma 2 fica apoiado até demais ao meu ver na forma que o jogador irá jogá-lo. E isso se tratando de um game que não possui mecânicas sandbox como os últimos games da franquia The Legend of Zelda ou então games de sobrevivência como Palworld e Enshrouded. Com isso, entramos em um fator muito recorrente na experiência de jogo por aqui: a frustração.

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As frustrações inerentes à gameplay

A começar pela aleatoriedade de Dragon’s Dogma 2, temos o que chamei de faca de dois gumes. Pois ao mesmo tempo que é muito imersivo notar algumas interações entre monstros pelo mapa e a forma que podemos topar com situações que não foram roteirizadas, embora pareçam bastante roteirizadas; essa infinidade de possibilidades também gera situações controversas e anticlimáticas para os jogadores de primeira viagem.

Caminhos que são destruídos por conta de um monstro que surgiu “do nada” obrigando o jogador a fazer um desvio absurdo; uma missão que é fracassada simplesmente porque um grifo pousou na hora e local errados; uma doença pega por um de seus peões que resulta no massacre de uma cidade inteira de NPCs; uma carroça que é destruída durante uma viagem automática resultando em você perdido há uma distância não prática do local onde você deveria ir…

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Tudo isso aconteceu comigo enquanto eu jogava Dragon’s Dogma 2. E em todas essas experiências eu não achei imersivo, incrível e nem muito menos divertida nenhuma dessas experiências. Na verdade, o maior sentimento que me invadia era o de injustiça. O motivo? O jogo só permite você começar de novo de um ponto de salvamento feito em uma estalagem, não temos como carregar saves logo antes de uma catástrofe acontecer. Então tudo isso que eu passei, não pode ser contornado.

Era pra ser algo legal e único do jogo, mas como foi feito aqui é só frustrante mesmo. Pois toda a liberdade que o jogo te promete é limitada e muitas vezes impedida por eventos aleatórios que fogem completamente do controle do jogador. Junte a isso tentativas frustradas de monetização abusiva no lançamento do jogo (que já foram revertidas) que incluíam a impossibilidade de começar um jogo do zero e você tem a receita certa para a frustração.

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Problemas de otimização

Somando-se às frustraçãos que citei acima que estão relacionadas ao gameplay e escolhas de design do jogo, temos também outro problema que permanece até a data de escrita dessa matéria: a péssima otimização de Dragon’s Dogma 2. O jogo, principalmente nos PCs, tem tido um péssimo desempenho em máquinas de todo o espectro dos seus requisitos, desde o mínimo até os acima do recomendado. A própria Capcom tentou explicar o motivo disso (culpando a quantidade de NPCs dentro do jogo), mas não convenceu muita gente.

Uma atualização já foi lançada no dia 29 de março melhorando alguns pontos, porém está longe ainda do jogo ser considerado bom ou bem otimizado nesse aspecto. E não digo só por uma mera queda na taxa de frames ou impossibilidade de alcançar os famigerados 60fps. Existem bugs de DLSS que pioram a imagem do game ao invés de melhorá-la; problemas no carregamento de texturas, bugs relacionados às sombras de baixa resolução, quedas bruscas de fps que atrapalham a jogatina e muito mais.

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Por diversas vezes me questionei inicialmente se o jogo poderia ser considerado jogável, visto os inúmeros problemas que tive com ele no meu PC, mesmo tendo configurações que eram consideradas próximas das recomendadas para o título. Felizmente não me apressei para soltar essa análise e pude testar o game após a atualização e, de fato, obtive melhoras, embora muitos problemas ainda permaneçam.

Por isso, vejo que hoje Dragon’s Dogma 2 é sim jogável no PC, mas com uma experiência bem longe da ideal. Será difícil apreciar o visual do jogo como se deve (visual esse que já não é o melhor que a geração já mostrou até então), ou mesmo ter uma experiência fluida na taxa de quadros para otimizar a experiência de combates épicos.

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Dragon’s Dogma 2 pode ter combates bem confusos ao ter problemas de posicionamento de câmera somados a quedas bruscas de fps.

Um gosto dúbio

Dragon’s Dogma 2 pode sim ser considerado ainda um dos lançamentos mais marcantes de 2024, mas vejo ele dividido quando fizerem listas de “melhores do ano”. No seu atual estado de lançamento, ele definitivamente não é um jogo estupendo que pode ser considerado um dos melhores do ano. Na verdade, seu saldo final é bem mediano. Isso porque ele possui boas ideias, coragem de sair da caixinha em alguns padrões da indústria, mas ao meu ver peca no essencial muitas vezes: a diversão.

Hoje eu recomendo Dragon’s Dogma 2 para aqueles que possuem PCs acima da média ou que não se importem tanto com quedas bruscas de FPS nos consoles. Mas para além de otimizações, ele é recomendado para os amantes de RPGs mais densos, que não se importam em se perder em histórias complexas e multifacetadas. Mas principalmente para os deste grupo que estão dispostos a se frustrar bastante para então se deparar com as glórias que o jogo carrega.

Dragon’s Dogma 2 foi lançado em 21 de março de 2024 e está disponível para PC (via Steam), PlayStation 5 e Xbox Series. O jogo possui menus e legendas em português brasileiro.

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