Análise Arkade – EA Sports FC 24 é malemolente, as vezes até demais

5 de outubro de 2023
Análise Arkade - EA Sports FC 24 é malemolente, as vezes até demais

Apita o árbitro, abrem-se as cortinas e começa o espetáculo! Finalmente, depois de tanta antecipação – faz mais de um ano da revelação que um dos principais jogos de futebol do mercado estava em processo de divórcio com a entidade máxima do futebol – finalmente chega ao mercado o tão esperado (pelo menos por uma parte dos jogadores) EA Sports FC 24, cujo nome ainda não caiu nas graças da comunidade, mas que inicia uma nova era para esta tradicional franquia da EA Sports. A questão, como diriam certos humoristas, é saber se FIFA sem FIFA é golpe ou não.

Começando pelo óbvio

Antes de mais nada, é bom dizer aquilo que todo mundo já sabia: FC24 não reinventa a roda e continua sendo uma atualização do que já vimos em FIFA 23.

Se o menu principal foi parcialmente reformulado para o formato vertical, se outros foram atualizados, a essência está toda presente novamente e a grande maioria da interface é exatamente a mesma, sobretudo em modos como o Ultimate Team, a Carreira e as partidas rápidas.

Eu até imaginava que na questão da identidade visual poderia haver uma grande mudança até para marcar a passagem de uma marca para outra, mas o que se vê é que a ruptura parece ser mínima para evitar estranhamento do público cativo.

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Deste modo, todos os adeptos de longa data terão um impacto mínimo no que diz respeito ao aspecto visual. E isso não só em menus, espaços de gerenciamento e configurações, mas sim no projeto como um todo. Os modelos de personagens até passaram por leves atualizações, inclusive alguns se mostram mais envelhecidos, como o caso de Cristiano Ronaldo e Messi, mas nada que seja de fato significativo. Comemorações, ângulos de câmera, cenas de corte nos diferentes modos, texturas de gramado, tudo permanece rigidamente a mesma coisa do que já era.

Beleza e fluidez

Visualmente, portanto, há pouco o que celebrar, e a grande evolução está na movimentação dos jogadores. Nas primeiras partidas, senti como se o jogo estivesse um pouco mais frouxo, se é que isso faz sentido. É como se os personagens estivessem mais moles, tivessem mais flexibilidade, um alcance de movimento maior.

Fruto da tecnologia Hypermotion V, que evoluiu a forma de captura e processamento dos movimentos de jogadores reais, esta fluidez se mostra mais genuína, como se fosse menos encenada, já que parte da captação em partidas reais e não de um espaço controlado, como era até a edição passada.

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Outra questão relativo ao movimento está no sistema de aceleração do game, que investiu em perfis que variam entre o prolongado e o explosivo. Ou seja, cada jogador tem uma combinação entre esses dois conceitos no momento da correria, e saber tirar o melhor proveito disso é essencial para colocar a bola na frente e deixar o marcador comendo grama. Considerando a possibilidade de se girar rapidamente sobre o último marcador, esta é a melhor forma de se conseguir ótimos resultados e gols de vantagem.

Soma-se a isso a emulação completa do estilo de vários dos mais conhecidos jogadores do mundo real, que foi difundida com a tecnologia PlayStyles, e temos aqui algumas reproduções muito reconhecíveis para quem acompanha a versão de carne e osso, e mesmo que os rostos se mantenham firmes no famigerado vale da estranheza, a jogabilidade está mais fiel do que nunca.

Esta tecnologia, intitulada de PlayStyles, é subdividida em Finalizações, Controle de bola, Passes, Defesa, e Goleiro, e realmente distancia um atacante lento, mas truculento de um ponta ágil e escorregadio. Não é a mesma coisa quando a gente colocava o Roberto Carlos no ataque lá no Winning Eleven da geração PSOne para implantar a correria, mas é quase.

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Isso tudo não significa, porém, que não tenhamos algumas melhorias gráficas, porque alguns detalhes pouco relevantes tiveram sua dose de incremento. O movimento das roupas, por exemplo, é mais naturalizado, o que pode garantir uma certa plasticidade mais autêntica a replays e animações como a de entrada, recebimento de cartões e comemorações. Nada disso importa tanto assim quando a bola está rolando, claro, mas vale o destaque porque em jogos sequenciais assim, o mínimo se torna o máximo.

Aliás, há algumas adições mais divertidas no que se refere a essas cenas do entorno do jogo. Algumas delas são parte das aberturas, que dependendo da importância do jogo e do jogador em destaque, são diferentes e, de vez em quando, nos seguram um pouco mais antes de as pularmos.

Outras, as mais inovadoras, estão na aplicação de cartões, que agora acontecem muitas vezes em primeira pessoa pelo ponto de vista do árbitro. Ou seja, assim que você faz uma falta dura e a cena vai para esta perspectiva, é curioso ver a reação do jogador ao receber a punição. Uma bobeira, claro, mas esta fez a diferença para mim.

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Já pelo lado sonoro, um tiro certeiro e confortável. A seleção da trilha musical é sempre muito bem feita com canções populares e outras menos conhecidas que garantem a animação antes e depois do apito do juiz. A sonorização da partida se mantém em alto nível, com uma infinidade de cantos e reações da torcida, efeitos da batida na bola que garantem uma certa gravidade a chutes mais potentes e outros sons característicos de uma peleja.

Destaque, uma vez mais, para a versão brasileira com Gustavo Villani na narração e Caio Ribeiro nos comentários, dupla que repete pela quarta vez a parceria na franquia ainda com as mesmas frases e bordões, mas que funcionam para o propósito.

Não consigo dizer se houve a gravação de novas linhas de diálogo, mas é evidente que poderia haver uma maior renovação aqui, porque talento ambos tem de sobra e, mais especificamente o narrador, tem muito mais a oferecer. A inclusão de um segundo comentarista também seria bem vinda, quem sabe até discordando um do outro, mas provavelmente é uma mudança no paradigma da EA que não deve ser fácil de fazer funcionar.

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Bola rolando

Tradicionalmente, as análises desses games anuais de futebol trazem uma sensação de que esse é praticamente o jogo anterior, só que com algumas perfumarias a mais, algo que também se mostra uma das maiores críticas ao modelo de negócios adotado nestas franquias.

E se EA FC 24 é sim, uma continuidade clara do que foi FIFA 23, é também aquele que me trouxe uma maior sensação de mudança na forma de se jogar, no modo de se aproveitar brechas e detalhes, e até nas escolhas que melhor se adaptam a como jogamos. Não tenho dúvidas em dizer que esta passagem de um jogo para outro foi aquela onde mais senti diferença na hora da verdade, dentro das quatro linhas.

Para garantir que não seria um estranhamento de pura falta de costume, eu me organizei para estar ativo no jogo anterior até dias antes de receber a nova edição, e foi o momento inclusive onde melhor me saí no antigo FUT porque a reta final do ciclo de vida é quando as cartas raras de jogadores brotam de todos os lados.

Então quando peguei a versão de avaliação do EA Sports FC 24, estava com o anterior fresco nas memórias afetiva e motora. Também convidei um amigo com quem jogo frequentemente para ouvir o que ele sentia sobre o game em seu primeiro contato e a reação foi a mesma. Está bem diferente, ao menos naquilo que uma edição pode se distanciar da outra.

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Este “diferente” se conecta com aquela malemolência da qual falei no início do texto, com jogadores mostrando movimentos mais fluidos, recursos de arranque mais sofisticados, junto com controles de drible mais acessíveis. Junta tudo isso e é possível dizer que o jogo está mais fácil do que nunca de controlar e de fazer jogadas mais plásticas, diminuindo assim o efeito da correria desenfreada vista nas edições passadas e valorizando o melhor trabalho com a bola nos pés.

Os controles se mantém os mesmos, mas o uso de comandos para manter a bola mais colada aos pés no melhor estilo Messi abre a chance de desconcertar defesas inteiras com um único movimento.

O grande e mais preocupante problema é que o sistema de marcação e tomada de bola não recebeu o mesmo tratamento evolutivo, mesmo que aqueles zagueiros com bons índices sejam beneficiados pelo tal PlayStyles. O posicionamento padrão da defesa se mantém bastante deficiente, a saída de bola desleixada é ainda mais punitiva e o bote para tomada é muito mais fácil de ser evitado por jogadores minimamente preparados.

Em outras palavras, o fato de ficar mais fácil atacar tornou a ação de defesa ainda mais complicada não porque ela em si piorou, mas porque o adversário tem muito mais recursos para supera-la.

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Duas coisas resultam disso: uma delas é que jogos que normalmente ficavam amarrados naquele 1 a 0 sofrido podem até seguir com a mesma diferença, mas não é raro terminarem em um 5 a 4, por exemplo. Tive partidas jogando em multiplayer local com até 7 a 5, no desespero para terminar a partida antes de tomar um empate.

No on-line, idem. Muitas vezes eu sofria para ganhar pela diferença mínima e me esforçava mesmo perdendo por um tento atrás, e isso pode até continuar acontecendo, mas com muito mais gols de ambos os lados. Nunca fiz, nem nunca tomei tantos gols na vida, de pessoas reais ou da CPU, mesmo no início de uma nova edição e montando um time totalmente novo e cheio de falhas.

O outro desdobramento disso é que a diferença entre quem se especializa mais e quem joga casualmente aumenta consideravelmente, já que aquele que não consegue organizar a defesa no braço, que não sabe lidar com as configurações avançadas do time, e que não consegue marcar com cuidado, vai sofrer muito mais contra aqueles que tem um entendimento melhor desses sistemas.

Zebras se tornaram mais difíceis, goleadas são mais frequentes e impiedosas, e gols que deveriam ser impossíveis se tornaram corriqueiros. Por exemplo, é muito mais fácil fazer um gol de escanteio tocando a bola curta e driblando todo mundo correndo pela linha de fundo do que cruzando para um cabeceio tradicional. Quando eu digo “muito”, é muito mesmo! Já nem tento mais cobrar um escanteio normal.

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O comportamento dos zagueiros frente ao perigo, se for depender da IA, é uma coisa de maluco e está ainda mais distante do referencial real. Se contarmos que os goleiros sempre foram um problema crônico da franquia e tomam gols absurdos só para depois operarem milagres inacreditáveis, defender em EA Sports FC 24 é um verdadeiro desespero.

Quem pretende se dar bem nas jogatinas multiplayer on-line ou até mesmo na dificuldade mais elevada contra a CPU jogando modos solo, vai precisar dedicar bastante aprendizagem sobre o que fazer quando estiver sem a bola. Se isso já era uma questão antes, agora é quase que um pré-requisito.

Modos de jogo

Para quem já acompanha a saga nos últimos anos, uma boa e uma má notícia: a boa é que todos os modos consagrados estão presentes, sem tirar nem colocar, com ajustes, melhorias, detalhes aqui e acolá, mas essencialmente iguais. A má notícia é a mesma: não há nada aqui que já não tenha sido visto antes, e estão plenos o já citado Ultimate Team, o modo Carreira para treinador e para jogador, as partidas únicas tradicionais ou com alguns modificadores, o Volta fingindo ser o que nunca será, o Clubes (que perdeu o Pro no título) é uma transposição direta, além de treinamentos, configurações e outras formas de ajustes.

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Falando mais especificamente do UT, pouca coisa está diferente. Além da já falada atualização dos menus que, sendo sincero, pioraram o acesso a alguns elementos, como desafios diários, semanais e permanentes, e da tradicional e necessária recomposição de pontos de cada jogador, o sistema de entrosamento via três estrelas é exatamente o mesmo, o sistema comercial continua com os mesmos parâmetros que passam batidos para uns e irritam outros, e as melhorias de qualidade de vida adicionadas recentemente, como os Momentos, permanecem.

A grande diferença está na possibilidade de escalar jogadores e jogadoras no mesmo time, o que finalmente faz integrar o futebol feminino de verdade no jogo em sua essência, e não mais como um extra como parecia ser nas edições anteriores.

Mais do que um elemento justo e bem-vindo de inclusão e reconhecimento, contudo, é também um aspecto estratégico fundamental, porque saber mesclar as qualidades de todas as opções é essencial para montar um time equilibrado. Um ataque com Mbappé, Kerr e Salah pode significar um complemento entre características que mesmo depois de um ano eu ainda não tinha conquistado no FIFA 23. Com duas laterais ágeis municiando esse trio então, a coisa fica bem divertida.

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Já no modo Carreira para treinador, nada de novo no sistema de negociações, montagem do time, e até as animações e entrevistas são exatamente as mesmas. É até enfadonho responder as mesmas perguntas a cada fim de jogo, principalmente porque eram idênticas, palavra por palavra, ao que já vimos antes.

De novidade, além de um ajuste aqui e outro ali na navegação, está a preparação do time, que agora fica sob o comando de auxiliares que o jogador, no papel de manager do time, contrata. Com a possibilidade de se chamar mais de um para cada região do campo – goleiro, defesa, meio de campo e ataque – resta ao treinador acompanhar o desenvolvimento da equipe e escolher focar mais em desempenho ou preparo físico, de acordo com a rotina exigente de jogos. Simples, efetivo, mas pouco significativo no pacote geral.

Nos demais modos, nada a se destacar, ainda que se possa exaltar que a Carreira para jogador ficou mais específica para desenvolver realmente o seu avatar e aqui sim brilha mais uma vez o sistema PlayStyles para torna-lo totalmente único. No geral, entretanto, EA Sports FC 24 se arrisca muito pouco, adiciona elementos pontuais em engrenagens já muito bem ajustadas, mas sem oferecer atrativos inovadores para a sua comunidade.

Além de uma escolha conservadora que garante um choque muito menor na passagem de uma marca para outra, o que significa manter uma identidade facilmente reconhecível, ainda coloca poucas variáveis novas que perigariam azedar o caldo. Risco baixo, resposta segura. Para quem está, depois de décadas, mudando de nome pela primeira vez, compreensível.

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Conclusão

EA Sports FC 24 é, para surpresa de zero pessoas, exatamente o que se espera de uma nova edição de uma franquia anual. A grande ruptura da marca parece ser demais para algo tão bem estabelecido no mercado, campeão de vendas no mundo todo ano a ano, e não se esperava outra coisa. Modos mantidos, interface com mudanças leves e atualização daquilo que já se tinha é o pacote básico, que mantém as maiores licenças do futebol mundial – infelizmente, sem o futebol brasileiro quase que por completo, à exceção de versões genéricas restritas às competições continentais – e o modelo de monetização que não deve ser superado tão cedo.

Adições pulverizadas podem ser celebradas, como o método de treinamento automatizado e terceirizado ao longo da Carreira; ou jogadoras incluídas no UT, mas todas elas são ínfimas diante o todo. O que realmente vai mexer com algumas verdades estabelecidas é a evolução da movimentação que acarreta em controles mais maleáveis e defesas mais apavoradas. Há quem vá gostar da melhoria, há quem vá odiar, mas tanto um quanto o outro vai continuar cultivando aquele desejo de jogar o controle na parede sempre que tomar um gol que julgar injusto ou sempre que perder uma partida onde teve o dobro de posse de bola e de chutes ao gol. Afinal, esse FIFA sem FIFA continua sendo mais FIFA do que nunca.

EA Sports FC 24 foi lançado oficialmente no dia 28 de setembro de 2023 para Playstation 5, XBox Series S|X, Playstation 4, XBox One, PC e Nintendo Switch, com localização total e completa em textos e áudio para o nosso português brasileiro.

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