Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

24 de fevereiro de 2019

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Seguindo a tradição iniciada em Far Cry 3 de criar uma nova aventura aproveitando-se do mesmo mapa do lançamento “original”, a Ubisoft lançou Far Cry: New Dawn, uma nova aventura dentro do universo de Far Cry 5, o último “capítulo” de sua tradicional série de FPS.

E agora é hora de mais uma vez voltarmos ao condado de Hope County para conferir como essa nova aventura pós-apocalíptica acabou se saindo. Dando seguimento aos eventos que encerraram a aventura de Far Cry 5. Então prepare suas armas e vamos lá!

O novo amanhecer

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Antes de mais nada, fica aqui o aviso de spoilers do final da Far Cry 5 a seguir! Não temos como dar prosseguimento a essa análise sem falar do final do jogo anterior, portanto, esteja avisado! Aliás, além de nossa análise de Far Cry 5, já debatemos o controverso final do game em nossa coluna Depois do Fim. Ficam aí as dicas de leitura para quem quer ficar por dentro de tudo antes de embarcar para a realidade pós-apocalíptica de New Dawn.

Aviso dado, lá vai spoiler: no final verdadeiro de Far Cry 5, o jogador escolhe prender e colocar um fim na seita apocalíptica de Joseph Seed. Durante a prisão, porém, rola algo impossível de ser impedido pelo jogador: o holocausto nuclear. No final de Far Cry 5, a tensão política mundial atinge seu limite, e bombas nucleares explodem em todos os cantos do globo. Ironicamente, nosso personagem acaba sendo salvo por Seed, que nos leva para um bunker subterrâneo, a fim de fugir da radiação. Ao subir dos créditos, é absolutamente compreensível ficarmos indignados, simplesmente porque não é lá um final muito feliz.

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Corta para 17 anos depois do ocorrido, época em que se passa New Dawn. O mundo ainda não se recuperou totalmente, mas sobreviveu, e certos lugares voltam a florescer com vida selvagem e humana. Um desses lugares é Hope County, agora um lugar coberto por flores estranhas e cheias de cor, animais não diferentes dos normais, mas que sofreram mutações: há cervos brancos anões, híbridos de antílopes e cabras, javalis enormes, gambás de pelo claro, ratos pelados e até terríveis animais lendários (dos quais falaremos mais adiante).

Nesse novo mundo, os habitantes de Hope County começaram a reconstruir seus lares e suas vidas para, quem sabe, viverem em paz. Claro que isso não dura muito, pois um novo inimigo aparece: os Salteadores, uma gangue de criminosos assassinos que aterrorizam e pilham todos os recursos de diferentes áreas e seus habitantes. A gangue é comandada pelas gêmeas Lou Mickey, duas mulheres insanas e cruéis, que demandam obediência absoluta ou morte violenta.

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Mickey e Lou, as cruéis vilãs de New Dawn

E é aí que o jogador entra. Nesse novo mundo, um grupo viaja o país de trem ajudando em sua reconstrução: salvando pessoas, erguendo novas cidades e aniquilando bandidos e perigos. Esse grupo é comandado por Rush, um visionário que quer reconstruir os Estados Unidos, e você é seu chefe de segurança, seu braço direito. Ao responder ao pedido de ajuda de Hope County, seu grupo é dizimado pelas gêmeas, e cabe a você reunir os poucos aliados que sobraram e ajudar na reconstrução do condado, além de colocar um fim no reino de terror das gêmeas.

Um amanhecer nublado, de potencial desperdiçado

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Far Cry New Dawn segue de acordo com as consequências do final de Far Cry 5. Muitos personagens originais voltam, agora mais velhos ou com sequelas, os mesmos locais estão ali, mas devidamente afetados pela passagem do tempo (e pelas bombas, claro). Várias referências ao jogo “original” podem ser encontradas em notas de diário, arquivos de áudio e etc. Além, é claro, de missões que fazem conexões diretas com a história que foi contada em Far Cry 5.

Infelizmente, porém, o game não explora isso muito bem. Na verdade, o game sequer explora o mundo atual de New Dawn com muita profundidade. Se você jogar somente as missões principais do game (incluindo as secundárias que são necessárias pro andamento da história), consegue terminar o game todo em poucas horas. Não há muita exploração ou aprofundamento deste mundo e de seus personagens, tudo acaba passando rápido demais.

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Em resumo, a forma como game entrega a história é: vá a Hope County, ajude seus habitantes, mate os bandidos, fim. Levando em conta os três últimos games da franquia, sempre tivemos histórias em que o vilão é praticamente o protagonista, além de ser o personagem mais desenvolvido, enquanto o personagem do jogador está na posição secundária. Mas aqui, nós mal temos tempo de realmente conhecermos as gêmeas e o que as levou a serem “malvadas”.

De certa forma é quase como um beat ‘em up antigo: não precisamos necessariamente conhecer as motivações do vilão, e sim dar um fim nele. É quase a mesma coisa aqui. Há uma pitada de histórias e motivações, mas tudo é muito superficial, apressado. O game oferece pouquíssimas missões de história, o que resulta em uma jornada curta, que quando você menos espera, já acabou.

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Inclusive, há certos momentos do game em que o jogador pode tomar decisões diferentes, fazer ou não fazer algo, matar ou não matar um personagem. Mas no fim das contas, o resultado não muda, as escolhas não criam bifurcações nem influenciam na história. Não que devessem, afinal estamos falando em uma “expansão”, ao estilo Blood Dragon Primal. Mas o que conta mais é que New Dawn é uma história diretamente ligada à original, e não uma aventura paralela e descompromissada (que era o conceito de jogos como Blood Dragon e Primal).

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Talvez possamos concluir New Dawn como um game para passar o tempo, explorar seu mapa e principalmente jogar em co-op, mas isso não apaga o fato de que sua história não foi muito bem contada. Ok, este é um jogo “intermediário” entre a série principal e até custa mais barato, mas isso não muda o fato de que seu mundo poderia ter sido muito melhor aproveitado. A sensação que fica é que não houve muito planejamento para sua história, o que é uma pena, em especial pelas vilãs que ilustram a capa do game, que acabam sendo bem esquecíveis.

A diversão mora no co-op

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

A principal característica de Far Cry New Dawn é poder jogar a aventura inteira em co-op com um amigo. Funciona assim: se você estiver jogando em modo solo, você pode atribuir um companheiro NPC para te acompanhar, as famosas Armas de Aluguel. Esses NPCs são recrutados através de missões secundárias, cada um possuindo suas próprias características: Um sniper, um especialista em stealth, um especialista em explosivos e etc, contando ainda com um cachorro que pode rastrear inimigos e animais e um javali capaz de causar dano imenso.

A qualquer momento no game (após você passar a parte de tutorial e liberar o mapa), você pode convidar um amigo que tenha o game a entrar em sua partida. Basta abrir o menu, mandar o convite e está feito. O jogador entra no lugar da Arma de Aluguel atual, mantendo a jogatina no número máximo de dois personagens na “party”.

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Jogar em co-op torna tudo mais divertido, seja apenas andando de carro por aí, conquistando bases inimigas em stealth (ou tentando ser stealth), ou simplesmente trocando tiros com tudo e todos que apareceram em sua frente. Porém, há alguns problemas presentes no modo co-op que comprometem um pouco a experiência.

O primeiro problema é que o progresso do jogador “host” não é levado ao jogador “visitante”. Isso significa que se você terminar o jogo inteiro como visitante — apenas entrando na partida de outro jogador — seu progresso na campanha não avançará nada. Ou seja, as missões concluídas, itens coletados e a maioria dos troféus ficarão somente com um jogador. Curiosamente, armas compradas e/ou fabricadas, pontos de habilidade ganhos e vantagens compradas continuam valendo para ambos. Por que somente isso pode ser importado é algo que não entendemos, mas é bem chato.

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

O segundo problema é que algumas missões do game aparentemente não foram pensadas para jogatina co-op, incluindo as Armas de Aluguel. Em certas missões, os jogadores encontram algum NPC que precisa ser levado do ponto A ao B por veículo. Pode acontecer de haver somente lugar para dois personagens, o motorista e o NPC; ou seja, o outro jogador fica sem ter como acompanhar. Em algumas missões há um veículo secundário, mas em outras não, e o jogador terá que correr ou pular no teto do veículo e torcer para não cair.

O mesmo gameplay de Far Cry 5, mas com algumas novidades

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Essencialmente, Far Cry: New Dawn tem o mesmo gameplay de Far Cry 5. Ou seja, sistema de combate, movimentação, navegação, sistema de missões e conquista de bases, gerenciamento de itens, é tudo meio que a mesma coisa. Mas há algumas novidades que adaptam o gameplay ao mundo pós-apocalíptico.

Primeiramente, sendo este um mundo devastado, a moeda vigente é Etanol, e não é tão simples consegui-lo! Para ganhar Etanol, você deve conquistar bases inimigas, ou rejogá-las em dificuldade maior para melhorar suas recompensas. Outra possibilidade é roubar caminhões-tanque inimigos e levar o combustível até uma base. Basta sequestrar o veículo e levá-lo a qualquer base conquistada — só tente não explodir o caminhão no processo.

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

O game possui uma quantidade imensa de armas e veículos, todos com pequenas modificações interessantes. Armas artesanais remendadas com miras feitas de canos, silenciadores feitos de lata, e até mesmo armas completamente mirabolantes, como um lançador de serras circulares (vamos chamá-la de Balestra de Makita) ou um estilingue multiuso.

O principal objetivo do game é melhorar a base da resistência, Prosperity, um mix de fazenda com alojamento e campo de treinamento que serve de novo lar para os mocinhos do game. Você precisará coletar recursos e Etanol para melhorar diferentes áreas da fazenda: Bancada de armas, Enfermaria, Garagem, Horta, e etc. Cada área melhorada libera novos equipamentos ao jogador, permitindo que armas e veículos novos sejam comprados ou criados.

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Como já é padrão na franquia, as Vantagens, ou perks desbloqueáveis, também estão aqui. Ao completar missões e diversos desafios diferentes (caça ao tesouro, caçar animais lendários, obter proficiência com diferentes armas) você ganha pontos que pode trocar por habilidades, que vão desde conseguir destrancar cofres e portas, desarmar armadilhas, pescar, consertar veículos, e muito mais. Mesmo itens como a wingsuit ou o arpéu precisam ser destravados como se fossem habilidades.

E a partir de certo ponto na história, novas habilidades são liberadas para o jogador trocar por pontos de vantagem. Essas habilidades extras são muito poderosas e transformam por completo a experiência do game. Porém, elas acabam sendo pouco aproveitadas, pois você as libera já na reta final da campanha, e encontra utilidade para elas mais na exploração descompromissada do que avançando nas missões principais.

Expedições

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Uma das novidades mais legais de New Dawn são as Expedições. Ao melhorar a base de Prosperity, o jogador habilitará o heliporto, e ao conversar com o simpático piloto de sotaque francês, o jogador pode cumprir missões extras fora do mapa do game, em áreas totalmente novas, que não podem ser acessadas de nenhuma outra maneira.

As Expedições possuem uma estrutura bem simples: chegue até um lugar, invada-o (explodindo tudo ou em modo stealth, fica a seu critério), recupere uma pacote (sinalizado por uma fumaça rosa) e fuja para o ponto de extração. Aí é só sobreviver até o helicóptero voltar para buscá-lo.

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Essas missões são muito divertidas, e permitem que os jogadores sejam criativos para tentar roubar o pacote sem serem vistos, aproveitando-se dos próprios cenários para bolar estratégias. Sem contar os mapas, que são muito legais: há os restos de uma estação espacial que caiu na Terra e até mesmo a famosa Ilha de Alcatraz, em Los Angeles.

Confira nosso gameplay co-op de uma Expedição completa:

Esse é mais um modo de jogo que brilha no co-op: um jogador pode avançar pelos telhados do complexo matando snipers, por exemplo, enquanto outro vai por baixo limpando a área até o pacote. São poucos mapas de Expedições, mas todos eles são bem legais — e também podem ser revisitados em dificuldades mais elevadas. Sem dúvida uma ótima novidade, que torcemos para que se torne recorrente em futuros jogos da série.

Audiovisual

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Far Cry New Dawn tem o exato mesmo motor gráfico, mapa e personagens de Far Cry 5. Então nesse quesito não há muito o que falar. O que há de novo no entanto é que os cenários estão consideravelmente diferentes, com ruínas e escombros, construções tomadas pela relva, muitas flores coloridas e uma aurora boreal sempre visível no céu.

O apocalipse da Ubi é um dos mais coloridos que vimos por aí: a cor predominante é o rosa, que está em todo lugar. Nas flores, nos objetos ou nos intrincados grafites que decoram as bases e veículos dos Salteadores, há rosa por tudo. Curiosamente, este não é o único jogo pós-apocalíptico de 2019 que se apoia no cor-de-rosa: Rage 2 vem aí, e também promete muito rosa.

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Uma coisa interessante do game é que seu cenário, fauna e flora pós-apocalíptica não segue a “receita padrão” que se espera. Em outras palavras, o game não tem cara de Fallout ou Metro. Não há monstros mutantes de 6 braços cuspindo fogo e voando, nem nada do tipo. As mutações que o mundo aqui são menos bizarras, limitando-se a animais com cores diferentes, novos tipos de plantas e flores e algumas fusões entre espécies. Os animais com visual realmente mutante são as criaturas lendárias, que são animais comuns, mas com barrigas brilhantes e pele escamosa e amarelada. Esses bichos são agressivos e duros na queda, então tenha cuidado se der de cara com um deles!

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Uma coisa legal para quem jogou Far Cry 5 é encontrar diferentes pontos do mapa completamente transformados, como monumentos, casas e etc. Diversos cenários emblemáticos podem ser revisitados, e é interessante vermos como eles foram afetados pelo tempo. Da igreja onde começa o quinto jogo até a enorme maçã do pomar da família Seed, passando pelos restos da megalomaníaca estátua de Joseph Seed, há muitos lugares familiares aqui, transformados pela natureza selvagem.

No departamento sonoro o game é bem competente, apesar de em certos momentos no início do game o áudio sofrer alguns glitches, como não fazer nenhum barulho de tiro por alguns segundos e etc. O game possui várias músicas famosas licenciadas que você pode ouvir no rádio dos veículos, deixando a exploração mais divertida.

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

Para nós brasileiros, o ponto alto é sem dúvida alguma a dublagem, impecável e maravilhosamente boca suja. São tantos palavrões, gírias e expressões de nosso cotidiano usados de maneira perfeita que torna os diálogos com certos personagens realmente hilários, cheio de p***a, c*****o, p*** que pariu e muito mais. Esse é o tipo de jogo que dá pra jogar dublado sem medo de ser feliz e de quebra dar boas risadas — espere até reencontrar nosso velho amigo Hurk, mais maluco do que nunca!

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

A Ubisoft Brasil não brinca em serviço, e contratou um timaço de dubladores para dar vida aos personagens do game. Há vozes icônicas presentes, como Mabel Cezar (que dublou a Jay Kyle no clássico Eu, a Patroa e as Crianças) no papel da gêmea LouMarcelo Campos (a voz de Trunks do Futuro) e Edward Elric como Irwin.

Nossos camaradas da Ubi tupiniquim são tão doidos que criaram até um trailer brasileiro em live-action, com direito a Pepê & Neném encarnando as gêmeas, saca só:

Conclusão

Análise Arkade: o apocalipse rosa (e raso) de Far Cry New Dawn

O photo mode de New Dawn é muito divertido!

Far Cry: New Dawn é sem dúvida alguma um game divertido, mas que infelizmente não aproveita todo o potencial que tem. Temos uma história curta e pouco desenvolvida, com um par de vilãs que poderia se tornar icônico na franquia, mas que foram fracamente aproveitadas.

Definitivamente, New Dawn é um game para ser apreciado por dois jogadores, apesar do game não ter sido muito bem pensado para o co-op em certas missões. Com uma campanha curta e poucas missões, o melhor conteúdo presente no game é certamente suas Expedições, que superficialmente lembram até o estilo de Payday: Entre, roube, fuja, não morra.

É uma pena que a Ubisoft não soube aproveitar bem o potencial que New Dawn tinha, o game poderia ser uma experiência muito maior, principalmente por ser uma sequência direta de Far Cry 5, mas nesse quesito o game acaba decepcionando.

Far Cry: New Dawn foi lançado no dia 15 de fevereiro com versões para PC, Playstation 4 Xbox One.

Deixar um comentário (ver regras)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *