Análise Arkade – OddBallers e a boa, velha e divertida queimada

4 de fevereiro de 2023
Análise Arkade - OddBallers e a boa, velha e divertida queimada

Que atire a primeira bola de meia rasgada (sim, no meu bairro, a coisa era hardcore) quem nunca se viu na rua, na escola ou em qualquer outro lugar disputando uma bela partida de queimada, quem nunca levou um balaço direto no nariz que provocou até uma lágrima involuntária, quem nunca acertou um desafeto sem-querer-querendo com mais vontade do que precisava. Este jogo, que diga-se de passagem deveria ser olímpico, é um verdadeiro patrimônio cultural que une pessoas de todas as origens e pensamentos.

Nos games, ele não é dos esportes mais populares, mas tem recebido títulos interessantes nos últimos tempos, como a surpresa com tempero tupiniquim Dodgeball Academia e o inusitado Strikers Edge. A Ubisoft traz então, sem tanto alarde ou qualquer pompa, a sua visão do que lá na gringa é chamado de dodgeball, intitulado OddBallers, que como é de se esperar, é basicamente um party game multiplayer onde a mecânica básica de se arremessar coisas uns nos outros ganha contornos mais curiosos e, em certa medida, bem criativos. E, já adianto, pode ser muito divertido.

Análise Arkade - OddBallers e a boa, velha e divertida queimada

Entre e jogue

Com a ausência completa de qualquer traço narrativo ou ambientação, Oddballers é objetivo e vai logo direto ao ponto assim que ligamos o game pela primeira vez. Inicie uma sessão (on-line ou local), escolha seu personagem – que pode ser customizado na tela inicial, sendo que é possível ter até seis pré-prontos – e comece a brincadeira. De forma muito inteligente, sem precisar de tutoriais separados, a própria sala de preparação e espera é um grande campo para treinamento, até porque as mecânicas são as mais simples e não precisam de tanto estudo assim.

Uma vez que se inicia a jornada, os jogadores – em grupos de 4 ou 6, que podem ser humanos ou bots – tem pela frente uma série de desafios bastante diversos, que passam desde o básico Last Man Standing, onde vence quem derrubar todos os oponentes antes de cair, até opções que se baseiam em partidas de futebol de praia, partidas de um contra todos e gincanas que lembram até sucessos como Fall Guys onde a meta é simplesmente não ficar enroscado em um obstáculo. Os meus preferidos são o que nos pede que joguemos galinhas em um moedor e o de quebrar um banheiro químico utilizando peixes, por mais sádico (e nojento) que isso possa parecer.

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O destaque que salta aos olhos é a facilidade com que qualquer pessoa pode pegar e jogar, com três comandos básicos: arremessar, esquivar e segurar, todos eles mapeados em dois botões diferentes cada para melhor se adaptar ao estilo do jogador. Com essas três ações é possível aproveitar todos os sub-modos disponíveis com muita facilidade, bem como compreender suas variações conforme sejam necessárias. Por exemplo, há partidas onde ao morrer podemos nos tornar um canhão para atrapalhar os sobreviventes, e o botão de arremesso se torna aquele que dispara o apetrecho. Tão eficiente quanto óbvio, como é o jogo por inteiro.

Pouca estratégia, muita bagunça

Ser simples de aprender não significa ser fácil de dominar, principalmente quando se tem pela frente adversários à altura. Em uma espécie de vale-tudo, vence quem souber se adaptar melhor às condições, mesmo que nem sempre pareça ser justo. Por exemplo, nada impede que todos os jogadores se virem contra um que estiver claramente levando vantagem, nem que apelem para as formas mais sórdidas como ficar de marcação e não deixar que o seu inimigo respire. Tudo é permitido e nada é obtuso porque as regras são claras, e normalmente elas simplesmente são a de que quem pode mais, chora menos.

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O sucesso tem suas benesses, e seu personagem progride para basicamente receber prêmios que são ou elementos cosméticos divididos pelo grau de raridade, ou pontos que podem ser usados na lojinha para comprar também elementos para a customização, que vão desde roupinhas até poses de vitória e outras perfumarias que sim, fazem toda a diferença para esse modelo de jogo. Não vai demorar para que descubramos que seis slots para guardar nossos bonecos personalizados são muito pouco espaço porque são tantas e fartas as opções de combinação que vale a pena gastar um tempo montando esses avatares barrigudinhos.

Ainda que a movimentação não é lá das mais fluidas e, pelo contrário, estes personagens são extremamente desengonçados, os controles respondem bem, são de fácil adaptação e garantem uma precisão equilibrada que parece ao mesmo tempo não forçar o acerto impossível nem o erro ridículo, e mesmo que em muitos casos tenhamos a tendência de culpar o jogo por um fracasso, normalmente, a responsabilidade é nossa. Com partidas casuais, bem rápidas e completamente descompromissadas, porém, é muito fácil ter neste jogo um escape, uma forma de relaxar sem muito interesse ou competitividade, e se importar pouco com as derrotas.

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Para uma vitória, basta somar mais pontos que os adversários na soma de todas as modalidades em uma run. Vencer partidas, claro, é mais contundente, mas em alguns casos é possível pontuar mesmo perdendo. Por isso, a estratégia pode nem sempre ser a de ganhar a qualquer custo, e pode ser, por exemplo, garantir que o outro não pontue. Para o on-line com desconhecidos, essa decisão é importante, mas para o multiplayer local de sofá pode ser a forma mais eficiente de arrumar confusão na família, que, sejamos francos, é a melhor coisa de poder jogar com mais gente em casa. Mesmo que alguém se meta a jogar sério, o sistema caótico de cada partida parece sempre prevalecer.

Cores e formas

Como um jogo familiar que se preze, Oddballers não economiza nas cores saturadas e gritantes, nos efeitos exagerados e em aspectos leves e non sense, como o fato de usar animais vivos como arma ou como escudo. Cada cenário tem sua riqueza visual, ainda que não seja exatamente um expoente do poder gráfico de qualquer que for o sistema, porque não se pretende como tal. Com um aspecto que se aproveita bem do cel shading para emular traços exagerados de desenhos animados, é um jogo que sabe onde focar para a experiência que propõe.

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O tom, contudo, não é exatamente o que podemos chamar de fofinho, já que os traços exagerados e caricatos lembram muito mais o estilo adotado na franquia Rabbids (da própria Ubisoft) e não surpreendente é ter essas criaturinhas como parte dos personagens selecionáveis. Cenografia e ambiência seguem essa mesma proposta que flerta até com o low poly e, consequentemente, tem lá seus problemas de colisão de objetos e uma certa falta de acabamento que não chega a incomodar, mas é evidente principalmente quando a câmera está mais próxima.

A trilha sonora acompanha a proposta estética de leveza com canções que acabam grudando na mente depois de um tempo, efeitos exagerados de impacto e outros ruídos bem ajustados para não cansar, mesmo que transmitam aquele tom de descontração que se espera do jogo. Como já é de costume da desenvolvedora, todos os textos estão bem localizados para o nosso português brasileiro e, não havendo vozes ou diálogos, o jogo é muito confortável de se acompanhar sem precisar prestar atenção a muita coisa que não as orientações antes de cada partida sobre o que fazer.

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Tecnicamente, o jogo se mostrou muito estável ao longo de todo o período de avaliação, sofrendo pouquíssimos engasgos de conexão e, na maioria do tempo, rodando na mesma velocidade que no off-line, mesmo quando em cross-play. Seja pelo acesso privilegiado, seja pela ainda jovem carreira do game, não foi fácil conseguir encontrar outras pessoas para completar as partidas, e foi necessário, invariavelmente, apelar para bots, algo que pode se resolver se o jogo ganhar adeptos rapidamente, o que deve ser uma preocupação para os desenvolvedores.

A boa notícia é que personagens controlados pela CPU podem ser ajustados em diferentes dificuldades e se comportam relativamente bem tanto quando atacam como quando se defendem. Não são indecifráveis, mas tem um bom repertório, então jogar em formato single player não é impossível, ainda que obviamente seja muito menos divertido. Como é possível mesclar humanos e bots, o jogo é uma ótima recomendação para quem quer encontrar algo mais casual que pode durar aqueles 10 minutos de bobeira ou mesmo uma tarde inteira com amigos jogando papo fora.

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Conclusão

OddBallers é o típico jogo que tem tudo para se tornar aquele que fica instalado permanentemente para momentos de descontração, para o intervalo entre uma experiência mais densa e outra, ou para aqueles churrascos de domingo recebendo visitas em casa, porque se adequa para pessoas de todas as idades, não exige grandes habilidades com o controle e tem um elemento caótico típico das melhores produções do gênero.

Não é possível prever se o modelo de monetização é a melhor escolha para o produto e isso somente o tempo dirá, mas é fato que com uma campanha de divulgação bastante aquém dos padrões da Ubisoft, o jogo vai depender – e muito – de um boca-a-boca sólido para se manter ativo por bastante tempo. Contudo, é inegável que quem puder dar uma chance à produção encontrará um simpático e singelo game que, na descontração de um esporte intrinsecamente bobo (no melhor sentido da palavra), pode ser o ponto alto de um dia estressante ou de uma festança daquelas, até porque poucas coisas são tão divertidas quanto acertar alguém com uma galinha a queima-roupa.

OddBallers está disponível desde 26 de janeiro de 2023 para Nintendo Switch, PlayStation 4, PC, Xbox Series X/S e Xbox One totalmente localizado para o nosso português brasileiro.

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