Análise Arkade: Ruff Ghanor mistura roguelite e deck builder com competência

29 de fevereiro de 2024
Análise Arkade: Ruff Ghanor mistura roguelite e deck builder com competência

Lembro com muito carinho até hoje de quando noticiei aqui no Arkade, durante a já distante BGS 2022, que Jovem Nerd e Azaghal oficializaram o desenvolvimento de um game baseado nas histórias de Ruff Ghanor. Agora, quase dois anos depois, eis que posso analisar o jogo em toda a sua glória para vocês. Claro que, para quem acompanha o universo de fantasia criado nos Nerdcasts de RPG durante anos, esse game é um marco. Mas será que o jogo satisfaz até aqueles que não visitaram esse universo antes?

Pois bem, Ruff Ghanor, como o jogo foi chamado oficialmente, é um jogo de construção de baralho e uso de cartas (conhecido como deck builder) que utiliza mecânicas de roguelite em sua essência. Sendo definitivamente um game independente de orçamento não muito alto, temos em mãos um título virtualmente simples, mas que esconde regras e mecânicas inteligentes em um visual que, mesmo simples, agrada aos olhos. Vamos falar de tudo que o jogo proporciona nessa análise completa.

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O início de uma lenda

Ruff Ghanor tem uma história complexa e bem interessante, ambientada no primeiro livro de uma trilogia escrita por Leonel Caldela que fora lançado em 2014. No livro, chamado “A Lenda de Ruff Ghanor“, o protagonista que dá nome à história é treinado em um mosteiro de seguidores de São Arnaldo e precisa enfrentar a iminente ameaça do dragão vermelho Zamir.

A história do jogo segue exatamente a mesma premissa, sendo dividida em três atos e uma introdução, nos quais o jogador pode vivenciar os primeiros embates e treinamentos de Ruff Ghanor enquanto este cresce durante anos no mosteiro e precisa vencer distâncias a fim de superar as ameaças criadas pelo maligno dragão Zamir. O mais interessante no âmbito do jogo, talvez seja o fato de que temos caminhos distintos a serem seguidos nas interações de história, trazendo situações diferentes e diálogos únicos para a aventura.

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Como se trata de um roguelite, o game é focado em runs, ou seja, partidas nas quais tentamos avançar o máximo possível na história antes que a progressão da dificuldade do jogo faça com que sucumbamos. Uma vez que nosso herói caia, precisamos iniciar a história novamente fazendo as mesmas escolhas de outrora ou não, a fim de liberar novas cartas e itens para tentar chegar ainda mais longe na narrativa.

Possuir vários caminhos de diálogos e um sistema de testes que lembra vagamente o que vemos em Baldur’s Gate 3 é um agrado e tanto para que os jogadores continuem engajados na história de Ruff Ghanor mesmo após várias derrotas seguidas. Isso por si só é um acerto e tanto, além de ser um ponto super positivo da história, já que manter uma história minimamente interessante mesmo que seja repetida diversas vezes não é tarefa fácil num jogo.

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Acima de tudo, um deck builder

Mesmo que Ruff Ghanor tenha mecânicas bem demarcadas que o levam para o subgênero dos roguelites, a espinha dorsal da experiência de jogo é definitivamente o deck builder. Isso porque combates, interações com NPCs, bonificações decorrentes de vivências da história e senso de progressão são todos atrelados à mecânicas desse gênero de jogo.

Nosso baralho possui um número limitado de cartas que pode ser aumentado com o tempo. Temos no total quatro tipos básicos de cartas: três focadas em funções de classes de RPG (ataque, defesa e magia) e uma nêutra (para habilidades passivas mais generalistas). Os tipos de cartas podem ser mesclados livremente e eles vão ditas basicamente se sua run será mais focada em controle, dano direto ou outros aspectos.

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Essa variedade de tipos de cartas pode soar como demasiadamente simples nos primeiros momentos de jogo, mas basta passar por algumas partidas para notar que são o suficiente para gerar combinações excelentes para estratégias variadas. Além disso, dependendo de como você responde às interações com NPCs e supera testes de exploração, tipos de cartas específicos podem ser liberadas em maior ou menor quantidade.

Com isso, a progressão do seu baralho fica diretamente relacionado a forma que você constrói a personalidade do seu Ruff Ghanor no decorrer das interações e progressão da história no geral. Na experiência de jogo, dá pra ver como foi uma solução elegante e bem inteligente para atrelar o sistema de deck builder à narrativa como um todo, tornando a jornada um tanto quanto pessoal não só pelo seu baralho, mas também pela forma que você vivencia a história.

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Um roguelite que não é para todos

Já no que tange os aspectos de roguelite de Ruff Ghanor, temos sim alguns deslizes, mesmo que leves. Nosso protagonista possui uma barra de vida única que não é recuperada entre as batalhas. Somente com algumas interações específicas bem sucedidas é que podemos tanto aumentar nossos pontos de vida base como também curar um pouco de pontos de vida. Além de, claro, podermos utilizar cartas de cura durante as batalhas.

Assim, quando nosso Ruff Ghanor morre em batalha, a run é finalizada e voltamos para o menu principal do jogo, com a possibilidade de gastarmos pontos para liberar novas cartas para o nosso baralho ou então aumentar a quantidade máxima de cartas que podemos carregar em nele. Entretanto, todas as cartas que liberamos durante as partidas, as melhorias de cartas, cartas nêutras e itens de buff são perdidos de uma run para outra.

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Até aí nada de exatamente particular se comparado com outros roguelites disponíveis no mercado. O problema talvez seja o excesso de fator aleatório que podemos ter em nossas partidas. Isso porque quando falamos de um deck builder, já estamos falando de um jogo com uma parcela de RNG ( (Geração de Número Randômico, em português) considerável, já que a cada rodada perdemos todas as cartas da nossa mão e compramos novas do baralho. Agora em Ruff Ghanor temos também o RNG do comportamento das criaturas de cada missão, que pode complicar ou simplificar bastante as runs.

É uma linha muito tênue entre a aleatoriedade que faz o fator replay ser revigorante em jogos roguelite e a aleatoriedade exaustiva que faz cada partida se tornar uma partida de pura sorte ou azar. E bom, digamos que Ruff Ghanor pode escorregar um pouco para o outro lado da linha vez ou outra, o que pode desagradar aqueles não tão aficcionados pelo gênero de roguelite assim.

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Artes belíssimas, animações nem tanto

Aqui temos outro fator que pode dividir opiniões entre quem joga Ruff Ghanor: seus aspectos visuais. As artes do jogo em sua maioria são muito satisfatórias e remetem diretamente à identidade visual já conhecida da franquia da empresa Jovem Nerd. Entretanto, confesso que esperava um pouco mais de movimentação nos modelos dentro do jogo, mesmo se tratando de um game independente.

Os personagens e inimigos são muito variados esteticamente e bem desenhados, com cores fortes e belos traços. Porém eles possuem pouca ou nenhuma movimentação mesmo em batalhas, com os personagens se movendo de forma muito dura na tela e com animações repetitivas muitas vezes.

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A sensação que fica é a de que os efeitos de animação não acompanham a qualidade dos desenhos e artes criadas para o jogo.Já as cartas em si são bem simples em suas artes, porém muito competentes para a sua proposta. Possuem arte sbelas e texto claro. Não é preciso ser um especialista em cardgames ou RPGs para se habituar facilmente às mecânicas e regras do jogo em si.

A única crítica nesse aspecto talvez fique para o menu da forja, no qual liberamos cartas permanentemente e escolhemos quais cartas irão para o nosso deck. Nesse menu é bem cansativo abrir carta por carta para ler sua descrição, já que na lista completa o texto delas fica pequeno demais para que possamos lê-las.

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Um ótimo primeiro passo

Apesar dos pesares, Ruff Ghanor é um jogo muito competente naquilo que é sua proposta original: um deck builder com mecânicas roguelite com o intuito de recontar a história do primeiro livro da saga de livros do Leonel Caldela. Claro que o game precisa de ajustes de level design aqui e ali, mas seu material já garante horas e mais horas de entretenimento para quem curte roguelites com batalhas por turno.

Se você já é fã da franquia e do material do RPG do Jovem Nerd, aqui tem uma ótima releitura da história, de um modo interativo e criativo que pode ser bastante viciante. Já se você, assim como eu, nunca tinha lido a obra original ou ouvido os podcasts, pode ter em Ruff Ghanor a experiência cativante o suficiente para que busque mais sobre esse universo expandido rico em detalhes e totalmente brasileiro.

Ruff Ghanor foi lançado no dia 22 de fevereiro de 2024 e está disponível para PC (via Steam), PlayStation 4 e Xbox One. Aparentemente teremos versões para PlayStation 5 e Xbox Series futuramente.

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