Análise Arkade: Starfield é tudo que a Bethesda tem de melhor

25 de setembro de 2023
Análise Arkade: Starfield é tudo que a Bethesda tem de melhor

Starfield já está entre nós há quase um mês, após anos de um desenvolvimento árduo e demorado. O game representa um marco por ser o maior projeto da Bethesda até então e, além disso, ser também sua primeira IP inédita depois de mais de vinte anos de Fallout e Elder Scrolls. Agora, chegou finalmente o momento de destrincharmos esse game em todos os seus erros e acertos, após mais de 80 horas testando quase tudo que o título tem a oferecer.

Porém, vale lembrar também que já falei um pouco de Starfield lá em seu lançamento, no nosso texto de primeiras impressões sobre o game. Naquele texto, eu tinha pouco mais de 30 horas de jogatina, as quais me deram uma boa noção inicial do jogo mas, como eu suspeitava, nem de longe me deram o vislumbre certeiro do que a jogatina completa de Starfield tem a oferecer para nós jogadores. Por isso, permaneçam sentados enquanto viajamos pelo hiperespaço dessa análise completa.

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Um “poeira” especial

Tal qual outros games da Bethesda como Fallout 4 e Elder Scrolls IV Oblivion, no início de Starfield nosso personagem encontra-se em uma situação bastante “mundana” para o universo do qual ele faz parte. Enquanto em Fallout somos por sorte o único sobrevivente de um apocalipse nuclear e em Oblivion somos um prisioneiro que recebe uma missão secreta do rei, em Starfield somos um minerador que acidentalmente se vê numa trama maior que ele mesmo.

Apelidado de “poeira” inicialmente, fazemos parte de uma equipe de mineração que busca ferro em um planeta longínquo, mas que está passando por problemas para obter o recurso. É nesse momento que uma das escavadeiras da equipe acaba acessando uma caverna subterrânea que esconde uma distorção gravitacional misteriosa, oriunda de um artefato antigo desconhecido. E nosso personagem, ao tocar nesse objeto, acaba tendo visões misteriosas e desconexas.

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A partir desse ponto, começamos a criar nosso personagem em Starfield, o qual acaba sendo levado para um grupo conhecido como Constelação, que é responsável por explorar, estudar e pesquisar os mistérios da galáxia. Ao fazer parte desse grupo, começamos nossa jornada através do grupo local de estrelas tornando nossa jornada nesse mundo interplanetário cada vez mais complexa e cheia de camadas.

É muito interessante como a Bethesda sempre se mostrou muito competente em iniciar histórias. De Morrowind a Fallout 74, passando por diversos títulos das franquias já conhecidas da empresa, independente de erros ou acertos, as introduções de cada um de seus games sempre são primorosas e com excelentes chamadas à aventura. E Starfield não deixa nada a desejar nesse quesito: um ótimo gancho para iniciar uma trama complexa aos poucos, com introduções orgânicas de mecânicas básicas de jogo e um senso de continuidade gratificante.

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Ao “infinito finito” cheio de loadings

Cheguei a comentar um pouco sobre isso no texto de primeiras impressões de Starfield. O game possui exaustivamente telas de carregamento entre alguns ambientes, sendo talvez o ponto mais negativo do jogo. Com o passar do tempo, você acaba se acostumando com essas telas, não sendo algo impeditivo para curtir a jogatina proposta. Mas não podemos deixar de ressaltar que em pleno 2023, um game precisar de loadings variados entre ambientes diversos é um tanto retrógrado.

Em certos pontos, vale ressaltar, essas telas de carregamento são bem encaixadas com a jogatina, dando imersão mesmo que em cenas automáticas. Como é o caso quando levantamos voo a partir da superfície de um planeta, quando acoplamos nossa nave em outras naves ou bases espaciais ou então quando viajamos pelo hiperespaço. Entretanto, em outros momentos da jogatina esses loadings não são tão imersivos assim, jogando somente uma tela preta na cara do jogador com o loading no cantinho.

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Quando entramos em algumas construções, quando entramos na nossa própria nave, quando usamos o fast travel a partir do menu do jogo e vários outros momentos. Essa inconstância tanto nos momentos de loading quanto na falta de imersão em metade deles é um tanto incômoda, sendo que só deixam de ser incômodas pelo fato de nos acostumarmos com a presença delas durante toda a jogatina.

Talvez com momentos de carregamento melhor pensados, até com animações próprias para cada ambiente de transição ou algo do gênero poderia suavisar essa sensação. Visto inclusive que a maioria dos loadings não são nem um pouco demorados. Isso, claro, se você utiliza um SSD no PC ou esteja jogando no Xbox Series. Porque em testes utilizando um HDD tradicional esses loadings se mostraram um pouco mais incômodos no que tange seu tempo de duração.

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O arroz com feijão da Bethesda

Starfield pode ser facilmente considerado um dos maiores projetos que a Bethesda já criou. Seja pelo escopo do game, que é enorme; seja pela qualidade e profundidade de suas mecânicas de jogo. Nada que seja necessariamente novidade para a empresa que nos deu pérolas como Fallout 4 e Skyrim. Entretanto, a sensação é de que Starfield condensou tudo que seus desenvolvedores aprenderam com os games passados.

A criação de personagem é super completa e cheia de detalhes interessantes, não só estéticos como, principalmente, de status. Os combates possuem bastante inspiração na franquia Fallout, mas podemos também observar como eles não deixaram de se atualizar com outros grandes lançamentos dos últimos anos servindo de inspiração, como foi o caso de Cyberpunk 2077, que claramente serviu de inspiração para algumas movimentações e mecânicas de combate por aqui.

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Os combates em terra são muito divertidos e variados.

Outro momento mais “inédito” para games da Bethesda é tudo que tem a ver com as naves espaciais. Desde sua compra e construções até seus controles e combates. Temos um pouquinho de No Man’s Sky aqui e ali, uma pitada de Elite Dangerous acolá. E no geral um sistema mais sandbox na construção das naves que por si só poderia ser um game completamente independente focado só em combates de nave. E já seria um bom jogo só com isso.

Por fim temos os sistemas de relações com NPCs, desde a construção de relacionamentos amorosos como vemos em Fallout até a entrada em diversas guildas e facções diferentes, como vemos em Elder Scrolls. Tudo cheio de camadas e conteúdos extras inseridos. É possível facilmente zerar a campanha principal em menos de 30 horas. Mas isso porque essa campanha é uma de várias outras histórias, mecânicas e missões que tornam o game realmente imenso e convidativo.

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Construir e modificar naves é uma atividade que, para os mais entusiasmados, pode comer horas e mais horas de jogatina.

Tamanho de conteúdo que pode assustar

Starfield é tão completo e cheio de mecânicas paralelas e secundárias que num primeiro momento você se vê realmente perdido naquele mundo. São tantas coisas pra se descobrir, tantos recursos e mecanismos que às vezes passamos direto de muitas coisas por muitas horas de jogo, o que acaba se tornando uma faca de dois gumes na experiência como um todo. Esse fator gera dois grandes problemas que observei durante a minha jogatina de Starfield.

O primeiro deles é justamente a barreira do aprendizado para que alguns jogadores realmente apreciem o que é mais apreciável em Starfield. Se apegar à história, aos personagens com os quais nos deparamos e com os mistérios construídos no decorrer da aventura é um processo longo e que pode ser visto como exaustivo por alguns jogadores. Podendo levar inclusive a uma desistência da jogatina por uma boa parcela deles.

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Temos diversas mecânicas de crafting, pesquisa e desenvolvimento em Starfield. Que nem sempre são explicadas como se deveria dentro do jogo.

Já por outro lado, a tal da FOMO (Fear of Missing Out, na sigla em inglês), que é uma síndrome relacionada à tecnologia que gera o medo de ficar de fora de algo ou perder conteúdos que poderiam ser interessantes para você pode afetar em peso jogadores iniciantes de Starfield. Isso porque pelo escopo da aventura e quantidade de coisas a se fazer no game, muito pode ser deixado para trás na jogatina.

Além, é claro, da frustração iminente quando se descobre uma mecânica nova no jogo depois de dezenas de horas de jogatina que poderia ter tornado sua experiência muito melhor lá nas primeiras horas se fosse descoberta antes. Esse último ponto, ao meu ver, é o pior de todos. Pois expressa uma falha na curva de aprendizado do jogo, devido a quantidade de mecânicas e narrativas presentes nele.

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A coleta de recursos e análise de planetas pode se mostrar mecânicas “vazias” ou “desnecessárias” para os jogadores inicialmente, mas se tornam mais relevantes pra segunda metade do game.

Mas e os bugs?

Uma questão recorrente entre quaisquer lançamentos da Bethesda são se os bugs no momento do lançamento do jogo são completamente quebrados impedindo a jogatina como em Fallout 76 ou se são bugs eventuais que, mesmo representando a necessidade de melhorias no jogo, não afetam diretamente a jogatina de forma desastrosa, como em Skyrim. E bom, em Starfield temos algo mais próximo de Skyrim nesse sentido.

Ao longo das oitenta horas nas quais joguei o game, vi sim diversos bugs, mas não o suficiente para eu chamar o jogo de “completamente bugado”. Mas sim, são falhas que precisam ser corrigidas com o tempo pela Bethesda através de atualizações. Objetos flutuando em locais inósptos e NPCs tendo interações estranhs ou agindo de modo grotesco enquanto conversamos são alguns dos exemplos de bugs mais recorrentes durante a jogatina.

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Objetos flutuando ou atravessando paredes, bugs clássicos da Bethesda.

Infelizmente, presenciei alguns outros bugs que estes sim me atrapalharam durante a jogatina. Em dois momentos específicos, após modificar minha nave e salvá-la, ela ocupou o lugar da nave antes da modificação no local de pouso, mas sem remover a nave anterior de lá, criando uma sobreposição que me impedia de acessar minha nave diretamente. Só consegui sair desse bug ao utilizar a viagem rápida para outro planeta, fazendo minha nave ser carregada em outro lugar.

Mesmo assim, Starfield não chega nem perto de outros lançamentos verdadeiramente quebrados como foi Cyberpunk 2077 nos consoles da geração passada ou então No Man’s Sky em seu lançamento. Nem mesmo se compara ao lançamento polêmico e cheio de problemas de Fallout 76. Em sua maioria os bugs aqui são facilmente resolvidos pelo próprio jogador, ou então trazem mais uma experiência cômica para a jogatina do que realmente uma frustração.

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A grandeza está nos detalhes

Através de todas as qualidades e defeitos que Starfield me apresentou durante as dezenas de horas de jogatina que tive, um fator se mostrou repetidamente impressionante durante toda a jogatina: a riqueza de detalhes do título. Essa riqueza de detalhes se apresenta tanto na variedade visual que as centenas de planetas e sistemas apresentam para nós, como também na jogabilidade em si e também no enredo das histórias.

Starfield traz narrativas verdadeiramente interessantes e cativantes, seja em sua história principal repleta de tons filosóficos e científicos como também em suas centenas de missões secundárias. Seja em encontros aleatórios ao se chegar em planetas específicos seja em missões secundárias mais robustas como as liberadas quando você ingressa em alguma organização ou religião do jogo.

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Esse é um dos tripulantes da minha nave comendo enquanto eu pilotava ela no espaço interplanetário. Só consegui ver esse datalhe no modo foto, enquanto explorava o interior da minha nave.

Já no âmbito de mecânicas, temos níveis primorosos de detalhes que ajudam o jogador a se sentir imerso em um universo rico em conteúdo e visual, mesmo com as várias telas de carregamento. A variação de gravidade entre planetas, objetos espalhados por cenários que contam verdadeiramente histórias do que aconteceu ali antes de nós chegarmos e a variedade incrível de biomas, cidades, NPCs e animais, que nos dão a sensação de vida.

Tudo nessa jogatina me traz essa sensação de algo verdadeiramente grande e interessante. Não fosse esse brilhantismo nos detalhes, é possível que o game se mostrasse chato, tedioso ou mesmo repetitivo com o tempo, fazendo as horas burocráticas iniciais para se apreender este mundo nada recompensadoras. Mas a verdade é que, para além de quaisquer barreiras iniciais que Starfield possa ter, o que o jogo entrega a partir daí é verdadeiramente incrível.

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Com o tempo você passa a se apegar verdadeiramente a vários personagens dessa história. Algo que só lembro de ter vivenciado de forma parecida em Red Dead Redemption 2.

Um dos melhores RPGs da Bethesda

Não acho exagero dizer que o saldo final de Starfield é bastante positivo. Mesmo que tenha alguns problemas que me impeçam dizer que ele está no pódio de Game of the Year de 2023, é lúcido dizer que ele é sim um dos melhores lançamentos do ano, mesmo que não encabece essa lista no pódio dela.

A riqueza de profundidade que o jogo possui em suas mecânicas, narrativa, sons, efeitos visuais e imersão mostram de fato que este não é um projeto qualquer de caça-níquel da Bethesda. Ele é verdadeiramente algo grandioso e uma IP nova primorosa para a empresa. Tanto que o projeto sobreviveu a vários desafios durante seus anos de desenvolvimento, desde a Pandemia de Covid-19 até a compra da Bethesda pela Microsoft.

Starfield foi lançado oficialmente em 6 de setembro de 2023 para Xbox Series S/X e PC (via Steam).

2 Respostas para “Análise Arkade: Starfield é tudo que a Bethesda tem de melhor”

  • 27 de setembro de 2023 às 08:58 -

    Juarez

  • Cara, boa análise, bem completa. Mas vc precisa arranjar, urgentemente, um sinônimo para “jogatina”.

    • 29 de setembro de 2023 às 15:27 -

      Gilson Peres

    • Valeu pelo toque fera, vou prestar mais atenção nesses vícios de linguagem haha

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