Análise Arkade: Tempest 4000 é pura nostalgia psicodélica

25 de julho de 2018

Análise Arkade: Tempest 4000 é pura nostalgia psicodélica

Ainda que tenha marcado época pelo estilo bastante sofisticado, Tempest, jogo que chegou aos arcades pela veterana Atari lá no começo da década de 1980, não é dos jogos antigos mais conhecidos e cultuados dos dias atuais. Isso não significa, contudo, que o jogo não seja um marco histórico, uma vez que trouxe tecnologias e sistemas pouco explorados na época.

Tempest 4000, produzido pela Llamasoft e distribuído pela própria Atari e lançado agora para uma nova geração de sistemas e de jogadores, é uma grande homenagem ao jogo original em todos os aspectos!

Relembrando um clássico

A releitura que temos aqui poderia muito bem ser considerada uma remasterização, não fossem questões técnicas — e até burocráticas. Afinal, o game não foi apenas “maquiado” como são os remasters, ele foi totalmente refeito com e para tecnologias muito diferentes das que existiam há quase quatro décadas.

Mas na prática, é basicamente o mesmo jogo, desafiador, nostálgico e viciante na medida certa, com configurações estéticas e de jogabilidade muito fiéis às de antigamente, ainda que (obviamente) com os ajustes necessários para o século XXI.

Análise Arkade: Tempest 4000 é pura nostalgia psicodélica

Este novo Tempest, aliás, não resgata só questões práticas, como também seus princípios de curva de aprendizagem, de persistência e de engajamento: é, definitivamente, um jogo de desafios. Desafios estes espalhados ao longo dos 100 níveis disponíveis, cada qual com sua particularidade de configuração do ambiente e sua consequente dificuldade crescente.

Em termos de experiência, portanto, Tempest 4000 busca resgatar a dinâmica do título original, que é potencializada pelos indispensáveis rankings online e da competitividade global possível nos dias atuais.

Na prática, um shoot ‘em up diferenciado

Como dito, o jogo original é reconhecido por ter sido vanguardista em alguns pontos. Pouco se explorava em termos de espaço tridimensional nos games daquela época, e Tempest, tal qual Battle Zone (outro clássico que foi ressuscitado recentemente), foi capaz de trabalhar conceitos avançados de profundidade abusando do ponto de fuga e linhas vetoriais para “simular” um ambiente 3D, em um tempo onde o level design, por questões técnicas, se pautava pela distribuição chapada bidimensional dos espaços (aka, os jogos 2D).

O mais legal é que sua releitura atual consegue reproduzir isso com bastante sucesso, explorando recursos modernos sem, contudo, parecer sofisticado demais. Há muito mais luzes e cores em Tempest 4000, mas o cerne da ideia se mantém incrivelmente próximo do original.

Análise Arkade: Tempest 4000 é pura nostalgia psicodélica

No game, o jogador controla Claw, uma nave que move-se meio que como uma aranha em sua teia, e deve destruir todos os invasores alienígenas antes que eles alcancem o topo da “teia”. A descrição poderia ser dedicada a uma infinidade de games, e desavisados certamente a ligariam a Space Invaders e seus clones, porém, a pegada aqui é ligeiramente diferente justamente pelo fato deste não ser ser “mais um shooter de navinha 2D”.

A dinâmica de movimentação — que acompanha o layout da fase — e a já citada profundidade simulada são responsáveis pelo diferencial aqui: cada nível diverge do outro pelo padrão de movimentação que nos limita pelo recorte da “arena”.

Confira um pouco de gameplay abaixo para entender como o jogo funciona na prática:

Soma-se ao desafio da mobilidade limitada a crescente ameaça de inimigos, que vêm “do fundo da tela” na direção da nave protagonista e, ao alcançá-la ou atingi-la, podem lhe tirar uma vida. Cabe ao jogador compreender e se adaptar a cada nível para dar cabo dos inimigos de forma ágil, destruindo-os, desviando de projéteis e sobrevivendo a hordas e mais hordas ininterruptas.

Com três modos de jogo distintos — que vão desde o clássico e impiedoso Pure ao mais amigável Classical e ao competitivo Survival — o jogador pode se adaptar ao que de melhor o jogo oferece.

Análise Arkade: Tempest 4000 é pura nostalgia psicodélica

A simplicidade e a precisão da jogabilidade ganham contornos interessantes com elementos que se tornariam quase um padrão universal do gênero: ataques especiais e power-ups. Sim, é possível disparar, de tempos em tempos, bombas poderosas que “limpam” a tela, bem como usar outros artifícios para se livrar de situação complicadas, tal como melhorar o tiro e até receber aliados para se dar bem nessa guerra. Algo que torna o jogo ainda mais reconhecível a quem já viu alguma vez na vida um game de navinha.

Uma psicodelia necessária

Em termos audiovisuais, a fidelidade está lá até certo ponto. O menu inicial, confuso e diagramado de forma bagunçada, é tão (pouco) amistoso à navegação quanto eram os menus nas primeiras gerações de jogos. Até a tipografia é muito respeitosa ao legado daquela época. O mesmo acontece com a batida eletrônica sintética, tão hipnotizante quanto simples em seus padrões.

Mas é no visual que há toques que deixam o jogo diferente do que o era no original. Veja a comparação abaixo entre o atual e o original:

Análise Arkade: Tempest 4000 é pura nostalgia psicodélica

Tempest 4000 de 2018 X Tempest original de 1981

Ainda que o contexto pareça muito similar, abusando das linhas firmes, das figuras muito bem estruturadas em retas e vértices, há um trabalho especial com efeitos de luz e valorização da profundidade de campo. É quase uma evolução da aparência de neon clássico para as possibilidades de um sistema mais dinâmico, como se houvesse uma adição técnica digna dos efeitos psicodélicos próprios dos anos 1980. É moderno, sem deixar de ser nostálgico.

A soma destes elementos traz consigo um jogo bastante pautado pela geometria e que, mesmo com efeitos, explosões e uma profusão de cores, consegue ser preciso na localização do jogador, ainda que por vezes a sobreposição destes efeitos pirotécnicos possa fazer uma verdadeira bagunça na tela. No geral, todavia, o jogo é agradável, coerente e empolgante a sua maneira.

Conclusão

Tempest 4000 consegue encontrar um saudável equilíbrio entre se manter fiel às suas raízes e apresentar uma abordagem mais moderna de um clássico dos tempos do Atari. É meio que um remake com cara de remaster, que atualiza conceitos visuais, mas o faz não de forma gratuita ou exagerada, mas se preocupando em manter o feeling de outrora, revitalizando o clássico Tempest sem descaracterizá-lo.

Análise Arkade: Tempest 4000 é pura nostalgia psicodélica

Se a dificuldade crescente e constante honra os arcades clássicos, os diferentes modos de jogo permitem que o jogador possa experimentar esse desafio de acordo com suas metas. A repetição faz parte da experiência — como fazia nos limitadíssimos cartuchos de Atari –, e nem sempre o jogo vai oferecer layouts amigáveis para se pensar numa estratégia padronizada, exigindo que o jogador improvise e se adapte, ainda que sempre dentro de uma fórmula.

O show de luzes e os inimigos implacáveis estarão lá para hipnotizar e encantar ao mesmo tempo que fazer os mais perfeccionistas arrancarem os cabelos a cada vida perdida. O que talvez seja a essência de Tempest, dos clássicos do Atari… e do mundo dos videogames como um todo.

Tempest 4000 está disponível para Playstation 4, Xbox One e PC.

Deixar um comentário (ver regras)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *