Análise Arkade: Victoria 3 é um grande retorno do jogo de estratégia clássico

25 de novembro de 2022
Análise Arkade: Victoria 3 é um grande retorno do jogo de estratégia clássico

Surgida inicialmente em 2003, a franquia Victoria é um nicho quase cult de jogos de estratégia que surfou na onda do auge do gênero ao lado de Total War, Civilization, Age of Empires e outros. Victoria 3 surpreendeu a todos no ano passado quando foi anunciado mais de dez anos após o lançamento do segundo game da franquia, no já distante ano de 2010.

O título da Paradox Interactive traz de volta toda a glória e peso do jogo de estratégia dos anos 2000, com mecânicas mais complexas, mais de 100 países para se jogar e uma inteligência artificial promissora. Entretanto, o título claramente não amacia a experiência para novos jogadores, deixando claro que seu foco é, acima de tudo, resgatar jogadores dos clássicos para o novo título. Mas vamos explicar melhor tudo isso nessa análise completa.

Análise Arkade: Victoria 3 é um grande retorno do jogo de estratégia clássico

Uma rede complexa de fatores

Antes de mais nada, é importante ressaltar que Victoria 3 bebe da fonte dos games de estratégia mais densos, nos quais o jogador precisará desenvolver um país da miséria ao sucesso durante 100 anos da Era Vitoriana. Sendo assim, o game também possui um fator sandbox interessante, que o deixa em pé de igualdade com Civilization por exemplo. Isso porque o jogador pode moldar sua sociedade de acordo com as suas próprias escolhas, lidando com problemas pelo caminho tanto internos quanto externos à sua nação.

Victoria 3, como todo bom jogo de estratégia mais complexo, utiliza aspectos cruciais para uma sociedade real se desenvolver. Entre esses aspectos temos a política, a diplomacia, economia e guerras. Cada um desses elementos precisa ser visto e administrado com muito cuidado, uma vez que eles funcionam como uma espécie de balança, na qual a inconsistência pode causar a ruína da sua nação em um ou todos esses aspectos.

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Essa rede complexa de fatores tem como os principais pontos a economia e a política. Estas são igualmente complexas de se interagir, garantindo que até os jogadores mais experientes tenham alguma dificuldade inicialmente. No que tange a Política, grupos específicos podem surgir dependendo do país que você controla, servindo de poder político para a sua nação. Esses podem servir de base política para a sua nação ou acabarem servindo de oposição, desestruturando internamente seu país.

Com tudo isso, ´é possível já de cara notar o quão complexo o sistema de interações de Victoria 3 de fato é. Somente seus sistemas internos e simuladores de como você pode fazer sua nação prosperar internamente já seriam tranquilamente um jogo isolado. Porém, para além das questões internas de cada nação, também temos a interrelação de todas elas na trama de políticas externas que dão ainda mais vida para este mundo em asenção.

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100 anos numa partida

Essa riqueza de detalhes e sistemas complexos em interrelação são apreciados em longu´íssimas partidas que contabilizam nada menos que 100 anos dentro da timeline do jogo. Iniciando em 1836 e finalizando em 1936, o jogador precisa desenvolver sua nação desde camponeses at´é aristocratas monopolistas em um século. Com isso, o jogador precisa lidar com seus erros e acertos de modo que não é possível simplesmente voltar atrás, mas sim se readaptar a tudo que a contece, uma vez que esses 100 anos não passam tão devagar assim frente a profundidade complexa de Victoria 3.

Nesses 100 anos durante uma partida de Victoria 3, o jogador precisará trabalhar atentamente sua nação enquanto administra inúmeros recursos disponíveis, todos com alguma influência maior ou menor no processe de crescimento do país. As metas de jogo, por sua vez, podem ser criadas pelo próprio jogador no melhor estilo sandbox, ou então escolhidas entre opções pré-definidas pelo próprio jogo. Essas metas inclusive influenciam a sugestão de países com os quais você deve jogar para se tornar mais fácil alcançar tal meta.

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Entre os objetivos pré-determinados pelo próprio Victoria 3, temos o tradicional domínio econômico, a hegemonia (mais radical) e a sociedade igualitária. As três opções são bem simples a primeira vista, mas cobrem bem todos os espectros possíveis de ascenção política e econômica de uma nação. Cada uma das metas influencia o tempo de jogo e também a dificuldade da partida. Sendo que na primeira você precisa de uma dominância econômica global (algo como os EUA no mundo real), enquanto que na hegemonia voc`ê precisa dominar completamente todo o mundo.

Porém, para aqueles que curtem mais os aspectos sandbox desse tipo de jogo, é possível traçar seus próprios objetivos durante esses cem anos, podendo inclusive ajustar aspectos da inteligência artificial como agressividade por exemplo. Nações fictícias podem surgir também de acordo com as configurações que você escolher, além do jogador poder trocar de país durante a partida. Tudo é válido quando o mapa mundi está à sua disposição.

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Sistema profundamente inteligente

Praticamente tudo em Victoria 3 gira em torno da boa e velha oferta e demanda. E aqui cabe um dos maiores elogios a serem feitos ao terceiro game da franquia: seu sistema global de comércio, política e guerras é incrivelmente inteligente. Oferta e demanda aqui são modelados de acordo com um sistema de ordens de compra que são, basicamente, uma representação gráfica de pessoas que buscam determinado produto seja ele alimentício, têxtil, bélico e outros.

Assim, o sistema funciona exatamente como um mercado, onde preços baixos influenciam mais pessoas a comprarem ao mesmo tempo em que o lucro não fica tão alto assim, desvalorizando trabalhadores por exemplo. Mas isso é só a ponta do iceberg de um sistema econômico complexo que eu sinceramente não tenho graduação o suficiente para explicar como se deve. Mas na prática, esse sistema complexo e profundo é uma aula de economia e ciência política, uma vez que se comporta quase como um sistema do nosso mundo real.

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Para os jogadores de longa data isso é excelente, pois Victoria 3 usa e abusa da evolução de processamento de informações que tivemos nos últimos doze anos para trazer uma experiência que em muito supera o do segundo jogo da franquia no aspecto profundidade. Toda essa complexa rede de fatores ainda dá um senso de liberdade interessante dependendo de como o jogador obte por desbravar as nuâncias do game.

Entretanto, é importante ressaltar também que tamanho escopo de complexidade pode ser prejudicial em certo ponto. Como comentei ao início deste texto, Victoria 3 claramente é mais pensado para amantes antigos da franquia (que já terão certa dificuldade com os complexos sistemas do jogo), deixando os possíveis novatos a mercê de tutoriais burocráticos que apenas ensinam o básico, deixando o jogador um tanto quanto perdido no meio do caminho entre os comandos básicos e a excelência da jogatina.

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A faca de dois gumes da complexidade

Estou o tempo todo falando de como Victoria 3 é complexo, profundo, denso e robusto. E isso soa estranho de ser visto como um ponto negativo, uma vez que games de grande estratégia como é o caso dessa franquia bebem muito desse aspecto. Jogadores de longa data do subgênero e da franquia podem simplesmente ignorar esse ponto da minha crítica, mas é preciso avaliar o quão acessível um jogo é tanto quanto o quão bom ele pode ser.

Nesse aspecto, Victoria 3 não é nada agradável a novos jogadores. Sejam eles novos no subgênero de grande estratégia, sejam eles novatos apenas na franquia Victoria. E ser absurdamente detalhado, denso e repleto de mecânicas secundárias e terciárias não necessariamente impede o jogo de ser acessível. Uma boa curva de dificuldade e tutoriais mais didáticos resolveriam mais facilmente essa questão.

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Em vários momentos da jogatina, mesmo após o tutorial completo, me vi precisando literalmente investigar textos e mais textos do jogo para entender melhor uma ou outra mecânica, pontuação ou aspecto específico da jogatina. Felizmente Victoria 3 adotou um método interessante para facilitar essa pesquisa, com os botões “Diga-me como” e “Diga-me por que”. Estes botões explicam tanto o “como” fazer algo como também qual o melhor momento para fazer isso.

Não fossem esses artifícios, que já são escassos, o game seria ainda pior para novos jogadores. Daí tamanha complexidade e densidade de jogatina precisarem ser vistas como uma faca de dois gumes. Pois ao mesmo tempo que são artifícios muito elogiáveis e desejados pelos jogadores de longa data, eles também isolam cada vez mais a comunidade do game, deixando a experiência de jogatina impossível para novos jogadores.

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Sistema de combate nada bom

Aproveitando que entramos na parte das críticas negativas de Victoria 3, outro aspecto do jogo para além da complexidade precisa ser apontado como, talvez, o maior ponto negativo do terceiro game da franquia: seus combates. Um jogo absurdamente político com peso econômico inteligentíssimo e uma rede de interrelações de sistemas profunda pedia um sistema de combates muito melhor elaborado do que o que temos aqui.

Contraditoriamente a tudo que apresentamos de Vicotira 3 até então, o sistema de combate do jogo é terrivelmente raso. Todo o complexo jogo de guerra, estratégias e comandos é reduzido a um sistema de ordens que você dá a seus comandantes, ordens essas bem básicas, como “avançar”, “recuar” ou “esperar”. Além disso, é possível também criar rotas de fornecimento de armas e mantimentos e… bom, só. Mais nada além disso.

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Os combates são totalmente automáticos a partir daí, com o jogador tendo basicamente que ficar assistindo enquanto tudo se desenrola sozinho no mapa. Nada de comandar tropas, estabelecer estratégias próprias ou então criar espaço para armadilhas. Tudo é muito monótono e tedioso em um dos aspectos que deveriam ser mais cheios de ação e movimentos rápidos por parte do jogador.

Felizmente, a Paradox é conhecida por dar um bom suporte pós lançamento para seus jogos, com muitas atualizações gratuitas e conteúdos pagos igualmente de qualidade. Com isso, já foi divulgado pela desenvolvedora que um dos primeiros aspectos a serem atualizados no título será justamente seu sistema de combate. Se ele ficará de fato melhor ou não, só o tempo dirá. Mas por enquanto ele ainda está bem ruim.

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Um bom jogo, mas para poucos

Victoria 3 dá uma verdadeira aula de política interna e externa, economia e globalização. Seus sistemas são igualmente complexos e profundos, repletos de detalhes incríveis e que cativam os olhares daqueles interessados no nicho. Seu sistema de guerra falho não é suficiente para apagar o brilho de um excelente jogo de estratégia em meio a uma época de tão poucos verdadeiramente bons títulos desse tipo.

Mas é importante ressaltar que, apesar de seu escopo incrível e excelente profundidade na maioria das mecânicas, ele definitivamente não é um jogo acessível para todos os públicos. Desbravar Victoria 3 em todas as suas nuances pode ser uma tarefa prazerosa, mas que será vivida realmente por poucos. Aqueles jogadores fieis ao gênero que estavam ansiosos por novidades há anos podem se deliciar com o game, os curiosos podem se divertir mais com outros jogos menos densos.

Victoria 3 foi lançado no dia 25 de Outubro para PCs somente pela Steam e conta com textos totalmente em português brasileiro. Para esta análise, rodamos o game em um notebook gamer com processador i5-9300, 24GB de memória, placa de vídeo GTX 1650 (4GB) e SSD M2-2280 de 512gb.

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