Análise Arkade: FIFA 22 eleva o padrão para a nova geração

5 de outubro de 2021
Análise Arkade: FIFA 22 eleva o padrão para a nova geração

Temos poucas certezas na vida, mas uma delas é que entre setembro e novembro de cada ano, teremos uma nova edição de cada um dos jogos de futebol mais conhecidos do mercado. Ainda que 2021 traga algumas mudanças para o lado da concorrência, a EA mantém seu legado e apresenta FIFA 22. Mesmo com toda uma sensação inevitável de se imaginar que “é o de sempre”, esta edição tem lá suas especificidades que a torna algo diferente de seus antecessores. Resta saber se esses elementos são suficientes para superar a percepção (e a desconfiança) de que é só um mais do mesmo incrementado e atualizado.

Enfim, nova geração

A primeira coisa a se notar é que esta edição, ao que parece, é a primeira a ser pensada e desenvolvida para a nova geração, diferente da anterior, que fez o caminho contrário. Se antes o Playstation 5 e o XBox Series receberam uma edição maquiada das versões de seus antecessores, agora é o Playstation 4 e o XBox One que parecem ter recebido uma alternativa menos poderosa do produto. Em outras palavras, mesmo que FIFA 21 tenha sido uma edição de transição, este é, de fato, o primeiro jogo de futebol da EA para a nona geração de consoles.

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Por si só, este não é lá um marco muito importante. A relevância disso está nas consequências durante o desenvolvimento. A primeira delas, o chamado sistema HyperMotion, se apropria do potencial de processamento gráfico das novas máquinas para adicionar milhares de novas animações — capturadas de versões reais dos jogadores — com o objetivo de conferir mais realismo e naturalidade ao jogo. Ainda que não fuja de um investimento de propaganda na divulgação do game, é uma adição que realmente faz diferença nos pequenos detalhes.

Mesmo que tenhamos alguns movimentos espalhafatosos demais, que valorizam a si mesmos, é bem interessante notar essas pequenas nuances entre diferentes jogadores, tais como posicionamento para chutes, dribles e outras reações que conferem um pouco mais de realismo, autenticidade e emoção ao jogo. Mais do que isso, tornam o tempo de reação a diferentes situações mais natural. O resultado é uma cadência um pouco mais lenta na comparação com o jogo anterior, porém mais leve e com o sistema de colisão menos truncado e robótico. Evidente que há uma trombada estranha aqui ou uma falta sem sentido acolá, mas no geral o avanço é significativo.

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Somado a esse esforço, há um trabalho refinado em relação ao controle — agora falando da experiência especificamente com o DualSense — que traz um feedback sutil pela sensibilidade háptica em chutes potentes, pancadas adversárias ou até defesas bem sucedidas, além das novas unidades de armazenamento SSD possibilitarem tempos de carregamento das partidas quase que imediatos que eliminam de vez qualquer artifício de loading ou a necessidade de cenas pré-jogo obrigatórias, mesmo que quando decidimos dar uma chance, nos mostram cortes bem legais, estatísticas e um certo clima que recicla algumas animações antigas enquanto adiciona poucas novas. Os elementos periféricos da partida, se não chegam a emular o espetáculo televiso de outras modalidades tipicamente norte-americanas, tem recebido significativas melhoras ao longo das últimas edições e na edição 22 isso fica ainda mais latente.

Não é estranha, portanto, a primeira cena do jogo, que busca diferenciá-lo de qualquer outro anterior. Logo de cara, com algumas entradas para customizarmos nosso avatar, temos uma pequena narrativa contextual para aprendermos algumas das principais funções do jogo, sobretudo as adições mais significativas.

Nosso personagem encontra, ao sair de casa para ter uma chance no PSG, personalidades como David Beckham, Lewis Hamilton, Thierry Henry e, claro, a estrela da capa, Kylian Mbappé, enquanto aprendemos a controlar a bola no meio das ruas de Paris — o que é moleza, pois quero ver fazer isso em São Paulo. É nesse momento onde somos apresentados a sistemas como controle de bola e a nova variação para seleção de jogadores quando sem a pelota, por exemplo. Criativo, inventivo e muito bem-vindo.

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Diferente, mas nem tanto

Depois da introdução surpreendente, que além desses tutoriais estilizados conta com uma partida de exibição para treinar os novos controles, percebe-se que muita coisa se mantém similar ao que vimos anteriormente, com algumas boas adições incrementais. A começar pela interface, repaginada e até mais intuitiva, mas que mostra as mesmas variáveis já conhecidas. As opções de configuração, aliás, são praticamente as mesmas e dispostas do mesmo jeito que em anos anteriores. Para esse elemento, contudo, que bom que não há tantas diferenças, porque ninguém quer perder tempo reaprendendo a navegar por menus ou redescobrindo onde acionar as mesmas preferências de sempre.

Os modos do jogo também estão lá, com ajustes. O primeiro — e talvez o mais importante dos modos offline do game — é a Carreira, seja para treinador (comandando um time inteiro dentro e fora das quatro linhas) seja como jogador. Em ambos os casos, a tendência é já aproveitarmos aquele avatar criado logo na introdução, mas há possibilidades de ajustes a qualquer momento. A primeira coisa que percebi em relação ao FIFA 21 foi uma gratíssima surpresa: a possibilidade não só de assumir um time já existente e conhecido, como também criar um do zero, definindo nome, cores, liga a qual pertence, estádio e até mesmo o arquirrival local.

Nasceu então o Arkade FC para dominar as terras tupiniquins:

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Depois disso, tudo estava tão confortável como antes. Toda a interface de gerenciamento, incluindo menus, funções de gestão de grupo, categorias de base, treinamentos, objetivos, transferências, estrutura financeira, estatísticas e progressão ao longo das temporadas se mantém basicamente a mesma coisa. Há uma ou outra cutscene diferente durante contratações, opções a mais de diálogo durante entrevistas, mas fique tranquilo que se você já é um fã da franquia vai se sentir extremamente confortável com a transição, sabendo exatamente o quê, quando e onde realizar o que já sabe fazer.

Os demais modos comuns para se jogar sozinho também estão lá, como jogar partidas amistosas, torneios já licenciados (como os principais canecos europeus e sulamericanos, incluindo, claro, a Liga dos Campeões e a Copa Libertadores da América) ou partidas importantes. O mesmo vale para o multplayer, local ou online, com times já existentes. É pegar e jogar. Destaque também para a rapidez na organização das partidas contra desconhecidos que, mesmo nesse período de lançamento, jamais me deixou esperando mais que alguns segundos.

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O modo Volta, aposta da EA de algumas edições atrás que pretende trazer variações street do esporte bretão, continua firme e forte em FIFA 22, com algumas boas reformulações. O jogo está mais rápido, com algumas firulinhas extras, dribles mais fáceis e uma ambientação toda própria. Verdade seja dita, continua sendo uma visão muito elitista do que é o futebol de rua, com quadras que mais parecem pequenas arenas olímpicas, o que funciona muito bem para a variação do Futsal, por exemplo, mas nem tanto para o bom e velho 3×3 com golzinho. Apesar disso, achei ele muito mais divertido do que nas edições anteriores.

Ainda sonho em ver uma versão com todo mundo descalço, golzinho feito de chinelo e pausa técnica para deixar o Celta do vizinho passar, mas até lá, dá pra curtir bem o Volta, principalmente agora que já temos mais clareza e distanciamento para saber que esse não é, definitivamente, o saudoso FIFA Street. Para ser bastante sincero, foi quando parei de esperar que fosse algo assim que descobri que dava para curtir melhor o formato, principalmente em respiros entre partidas tensas de um campeonato ou passagens mais dedicadas nos modos principais de campo.

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FUT, microtransações, EA

Todas essas variações não escondem, e nem tentam, que o tal FIFA Ultimate Team, o famigerado FUT, é mais uma vez a principal modalidade do game, aquela que os desenvolvedores esperam ser a com maior poder de retenção, engajamento e fidelização do seu público. Para quem desconhece o modelo, este é basicamente aquele onde montamos um time nosso para jogar contra a CPU ou contra outras pessoas em uma campanha que mistura ações individuais dentro de uma estrutura de conexão perene com os demais jogadores no mundo todo.

Jogar rende pontos de experiência e recompensas financeiras, que por sua vez permitem que contratemos mais jogadores, aumentemos o nível competitivo do nosso time para jogarmos mais vezes para ganhar mais pontos e… bem, você já entendeu. Quanto mais se joga, melhor seu time fica, com mais jogadores você pode contar e assim evoluir em uma curva virtualmente infinita de progressão. Obviamente que mesmo que haja um ou outro jogador que venha como resultado de vitórias e conquistas, o maior e mais lucrativo aspecto aqui é uma economia muito própria e bastante agressiva.

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Deste modo, seja você um veterano do modo (e empolgado o suficiente para recomeçar o trabalho de formiguinha de obter aquele time com mais de 95 pontos de classificação e de entrosamento) ou um novato, saiba que o modelo de microtransações se mantém basicamente inalterado. Depois de muitas reclamações ao longo do ano passado, houve até alguns artifícios da EA para driblar descontentamentos e até legislações, como a possibilidade de se ter uma prévia do que podemos encontrar em um pacote de figurinhas (basicamente uma lootbox repaginada), mas a verdade é que o modelo funciona bem para a empresa, é viciante e, sem cuidado, é um buraco sem fundo.

A boa notícia é que os mais dedicados (ou pelo menos os não tão apressados) até conseguem construir seu time aos poucos, ganhando jogos, comprando jogadores de outras pessoas pechinchando bem — é a forma como prefiro montar meu time — ou até acumulando pacotes e contando com uma dose de sorte. Não é um formato majoritariamente pay-to-win, onde se paga para vencer, mas é evidente que quem gasta dinheiro real para tomar atalhos chega muito mais rápido a um time competitivo para disputar o topo das Division Rivals, que acabam sendo a meta de quem quer levar o FUT a sério. Esteja avisado: está tudo exatamente como estava antes.

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Em termos de interface, o modo mudou muito pouco. Na verdade, a EA basicamente reorganizou as mesmas coisas em abas. Há os desafios fixos e os temporários, customizações de estádio e estrutura, contratos, montagem de elencos, modos variados para um ou mais jogadores, está tudo lá. Tal como nos demais, a ideia de manutenção da base parece evidente para garantir uma transição suave, sem surpresas. É como se FIFA 22 estivesse tentando te convencer que está diferente e merece um novo investimento, mas que, nas entrelinhas, tudo funciona como se nada tivesse mudado.

Bonito de se ver, lindo de se ouvir

Se eu já havia adiantado que o jogo está muito mais fluido em relação a melhorias na captura de movimentos e de animações, não há dúvidas de que outros aspectos visuais também receberam sua dose de correções e aprimoramentos, já que, afinal, estamos saltando de geração. A diferença para a versão mais parruda da edição anterior não é ainda tão enfática quanto se espera, mas há mostras de que estão no caminho certo. Sobretudo quando se trata de jogadores mais conhecidos, ou dos times parceiros, há uma suavização nos traços que os tornam menos artificiais. Texturas de pele e detalhes como suor também são notados. E os olhos estão ficando, digamos, menos assustadores, diminuindo aquele desconforto típico do uncanny valley.

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Outras melhorias incluem o gramado, efeitos de iluminação e sombra em jogos sob a luz natural ou artificial, mas há muita reciclagem que acaba enjoando. As celebrações de títulos são exatamente as mesmas para seja qual for a taça levantada, a entrada em campo já convida para que a pulemos depois de duas ou três vezes em que assistimos o trecho, e a torcida não arranca nenhum suspiro quando aparece na comemoração de gols. Houve melhorias, mas também houve pouca criatividade em mexer com o que já está feito. Uma variação de enquadramentos e de comportamentos ajudaria bastante nesse aspecto.

O que não deixa a desejar é o aspecto sonoro do jogo. Sim, a narração de Gustavo Villani e os comentários de Caio Ribeiro também são os mesmos com uma ou outra frase a mais, por motivos óbvios, e continuam muito competentes apesar da repetição, mas o que surpreende mesmo é a seleção de músicas da trilha sonora. Todas as canções são ótimas, e são muito coerentes com a proposta do jogo, incluindo a seleção específica de cada modo. No Modo Volta, por exemplo, há uma playlist bastante urbana sem cair na armadilha da caricatura ou do estereótipo. Não são canções óbvias, mas já não consigo imaginar o jogo sem elas.

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Conclusão

Se você é daqueles que tem a sensação de que estamos, ano após ano, comprando e jogando o mesmo jogo, e que as melhorias de cada edição não justificam o lançamento (quem sabe uma ou outra atualização mais robusta), não posso dizer que você esteja completamente errado. FIFA 22 conta com uma base bastante sólida e já estabelecida, arrisca pouco e mesmo na passagem de geração, vai se mostrar, em termos de jogabilidade e de interface, algo muito reconhecível e que não nos tira de um lugar de conforto. Você já viu essa animação, já fez essa jogada, já contratou esse jogador, já cometeu essa mesma falta.

Contudo, se você é daqueles que valoriza as mudanças a ponto de compreender o quanto elas realmente interferem na dinâmica e no próprio comportamento do jogador, também está longe de parecer só um grande otimista. As melhorias gráficas são, claramente, muito significativas, principalmente quando se trata de nova geração, e a cadência está diferente, com mais sutileza e suavidade de movimentos. As novas funções na seleção de jogadores sem a bola, ou mesmo na movimentação de aliados quando em postura de ataque são realmente impactantes, principalmente porque contar com a IA do jogo é brincar com os próprios nervos. A não ser o goleiro, esse continua bizarro e irritante, defendendo chutes impossíveis e deixando passar outras que até eu, jogando na escola com bola de meia, conseguiria agarrar.

Análise Arkade: FIFA 22 eleva o padrão para a nova geração

De um jeito ou de outro, FIFA é, como vários jogos anuais, sobretudo os de esportes, aquela incoerência declarada, aquele prazer culpado de cada dia. Duvido que haja algum jogador no mundo que nunca tenha a certeza de que perdeu por culpa da IA ou de eventos aleatórios, ou de decisões arbitrárias e quase cruéis da máquina. Nem todos aceitam que algumas vitórias foram tão ou mais injustas quanto. FIFA 22 segue sendo um daqueles jogos que mais ameaçam os pobres controles de um arremesso contra a parede, mas que ao mesmo tempo são os que permanecem instalados no console.

Afinal, se tem algo não muda a cada ano, com certeza é esse sentimento, a própria contradição de amar e odiar ao mesmo tempo, o tempo todo, que todo fifeiro conhece.

Disponível para PC, Playstation 5 (versão analisada), XBox Series, Playstation 4, XBox One e Nintendo Switch (em uma versão Legado que não tivemos a oportunidade de testar), FIFA 22 foi lançado no dia 01 de outubro, totalmente localizado, em vozes e texto, para o português brasileiro.

Uma resposta para “Análise Arkade: FIFA 22 eleva o padrão para a nova geração”

  • 28 de abril de 2022 às 22:21 -

    Helinux

  • Valeu!!!!

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