Análise Arkade: FIFA 21 na nova geração inova pouco, mas ainda reina absoluto

15 de dezembro de 2020
Análise Arkade: FIFA 21 na nova geração inova pouco, mas ainda reina absoluto

2020 não é um ano comum e isso não surpresa para ninguém. Certamente em dezembro do ano passado, ninguém conseguiria fazer qualquer previsão que correspondesse a tudo o que aconteceu nesses últimos meses. Na verdade, tem pelo menos uma previsão que é garantida e cumprida: os lançamentos anuais de games esportivos, e mais especificamente para os nossos interesses, os de futebol. É verdade que a Konami, para o bem e para o mal, acabou mexendo nessa dinâmica com uma atualização da edição anterior de seu PES, mas a Electronic Arts se manteve firme e nos nos trouxe o “novo” FIFA 21.

Algumas das informações desta análise já são quase que chavões para esses jogos: as inovações em termos de jogabilidade, por exemplo, são sutis, tais como as melhorias gráficas quando comparadas ao jogo anterior. Contudo, nem tudo é tão clichê assim, a começar pelo fato de que este é, de fato, o primeiro game da franquia a ser lançado oficialmente para uma nova geração de consoles — o Playstation 5 e o XBox Series S|X. E foi a partir desta versão aprimorada, rodando no Playstation 5, que pudemos experimentar o game neste final de ano.

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Gol de videogame!

A primeira das características evidentes a ser analisada é a questão do visual. Sim, o jogo está belíssimo e sim, é uma versão ainda mais sofisticada quando se compara com a dos consoles anteriores. Texturas de pele, iluminação global, torcida, gramado, efeitos gráficos e pirotecnias complementares estão todos belíssimos e fazem jus ao espetáculo televisivo que busca emular. O jogo é absolutamente impecável nesse aspecto, e se não chega ao absurdo que vimos em NBA 2k20, também não fica devendo tanto assim. Sobretudo quando temos close-ups de jogadores mais renomados, FIFA 21 impressiona.

Falando em close-ups, o próximo salto necessário a ser feito é em termos de animações faciais. É compreensível que talvez não se alcance, em momento algum, o nível de realismo e captura de expressões e movimentos que vemos em games com dois, três protagonistas (por motivos óbvios), mas ainda assim é necessário dar o passo seguinte, já que em trechos contextuais, como diálogos no modo carreira, ou ainda nas cenas pré e pós-jogo, o tal “vale da estranheza” ainda é presente e provavelmente só se torne ainda mais evidente conforme se evolui no realismo gráfico dos modelos digitais. Quanto mais perfeita é a representação digital de um ser humano, mais ele tende a parecer uma marionete se movendo.

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Por sua vez, a ambientação sonora continua extremamente competente. Os cânticos das torcidas, as reações a momentos de perigo em casa ou fora, os efeitos de chute, tudo é muito bem construído. O ponto baixo, compreensível, novamente está nas cenas de corte, onde quase todos os diálogos são somente textuais. Não seria possível dublar tantos jogadores reais, técnicos ou empresários, mas não deixa de ser um tanto quanto enfadonho passar por cutscenes animadas interativas só com legendas. Essa tramitação é parte da experiência no modo carreira, por exemplo, e acaba cansando, mas sobre isso falaremos mais adiante.

Um aspecto bastante perceptível para os fãs brasileiros é a troca de narrador depois de oito edições com Thiago Leifert à frente da produção. Conforme te contamos, este ano quem assume a voz principal Gustavo Villani, este sim narrador profissional e uma estrela em ascensão no país, com direito a tantos bordões quantos são necessários ao meio. Os comentários continuam a cargo de Caio Ribeiro que mantém o nível bom e agora, dependendo do modo, há um terceiro jornalista, no melhor estilo das transmissões de rádio, cuja voz é de André Sauer, que avisa de gols e resultados em jogos paralelos.

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Tudo isso favorece um projeto que claramente quer se aproximar ainda mais da forma televisiva de lidar com o esporte. As opções de câmera, de ponto-de-vista do jogo, corroboram com esse alinhamento, e nem sempre elas são fáceis de nos adaptarmos. Replays e tomadas da torcida nos momentos de gols, votação do melhor jogador da partida, tudo lembra demais uma transmissão real, algo que não chega a ser uma novidade, mas é um esforço contínuo evidente e que tende a aproximar cada vez mais ambos os produtos. Quem sabe logo veremos o artilheiro da rodada pedindo música no Fantástico, mas talvez isso seja sonhar alto demais.

Joga a luva, goleirão!

Já quando tudo isso fica em segundo plano e a bola rola nos gramados virtuais, há algumas novidades que podem parecer, em um primeiro momento, frescuras imperceptíveis, mas que com calma fazem muita diferença. A primeira delas, provavelmente a que mais estampa as peças de publicidade do jogo, é a chamada corrida criativa. Se desde 2017 você pode dar o comando para um segundo jogador sair em disparada para receber um lançamento, agora é possível controlar a direção para a qual ele corre, driblando a inteligência artificial (por vezes caótica) do jogo, que via de regra fazia o cara correr na direção dos marcadores sem qualquer senso de posicionamento.

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Na prática, porém, dá trabalho fazer funcionar, principalmente se você está trabalhando em uma parte populosa do campo. Quando funciona, porém, você se sente realmente no controle da jogada, e não um passageiro refém de alguns resultados aleatórios de comandos pensados. Jogadores comuns, no entanto, podem aprender a mecânica e abandoná-la rapidamente, ou usá-la só em momentos muito pontuais, já que dá trabalho e pode ser frustrante quando não funciona. Pior ainda é perceber que o adversário pode só jogar no automático e ter resultados mais promissores. Todavia, os pro-players de plantão terão aqui uma grande vantagem a ser explorada em meios mais competitivos, como partidas ranqueadas ou mesmo contra seu arqui-inimigo de sofá.

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Um outro elemento que ajuda bastante — e é mais acessível ao jogador comum — é a condução ágil, uma forma de controle de bola mais eficiente para domínio e dribles rápidos. Basta saber usar com sabedoria o botão de ombro direito do controle para conseguir ter um domínio melhor de um sistema menos vulnerável de aproximação contra adversários diretos. Somando-se isso ao sistema de bote tradicional do game que, se feito de forma desordenada ou descuidada, pode fazer com que o defensor fique para trás humilhado; e uma capacidade de bons jogadores se posicionarem melhor em comparação ao adversário, há uma clara vantagem para atacantes habilidosos no mano-a-mano. De todas as novas (e velhas) habilidades de FIFA 21, esse drible fácil é a que mais vale a pena investir pesado em treinar e dominar.

Uma outra grande característica da franquia, sobretudo na comparação com seu maior rival no mercado, são as licenças cada vez mais caras de times, seleções, jogadores, estádios e torneios, que estão ainda mais caprichadas nesta edição. Ainda assim, o jogo está bem abaixo no Brasil quando comparado a outras ligas no mundo. Há sim algum times brasileiros no jogo, seja por licença padrão, seja como parte do pacote Libertadores da América, mas nem de longe lembram as suas contrapartes reais. Para piorar, temos jogadores com os nomes mais esdrúxulos possíveis, que mais parecem ter sido gerados aleatoriamente a partir de alguns clichês.

Nem mesmo a seleção brasileira escapa do genérico. Mesmo com grande parte dos jogadores que são hoje parte da equipe canarinho presente no jogo, eles não estão na versão padrão da escalação, e aí cabe ao jogador ter a paciência exigida pela customização, ou até de assumir as escalações fantasiosas. Duvido que teremos outro Allejo surgindo, até porque jogar com times nacionais hoje está longe de ser algo que chame a atenção dos jogadores que se dedicam ao jogo, mas enfim, dá pra se divertir mesmo sem os grandes na escalação em partidas de exibição menos compromissadas.

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Tá com frio? Pega esse lençol!

Aliás, falando nos modos, os veteranos da franquia não vão sequer estranhar a interface de seleção. Está tudo lá como sempre esteve, com algumas variáveis divertidas, mas mantendo o padrão. Por um lado, é quase que natural entrar em FIFA 21 e “sem querer-querendo” já estar montando seu time do FUT (FIFA Ultimate Team), o modo principal do jogo onde montamos uma equipe para gerenciarmos em modos online, ainda que até seja possível se manter no single player por um tempo.

A boa notícia: aquela frescura de ter uma barra de stamina contínua entre partidas da edição anterior (e presente também em PES nas últimas edições) simplesmente sumiu. No lugar das cartas dedicadas a isso, agora realmente temos os modificadores mais divertidos, incluindo as de tempo de contrato e outras que dão um boost em certas características do jogador, como defesa, drible, resistência, etc. Ainda que tímida, é uma forma de se equipar perks e tornar os jogadores ainda mais diferentes de suas versões em outros times.

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Os menus ainda parecem meio confusos, mesmo passando por um processo enorme de reformulação. Em várias partes, é possível que o mesmo botão tenha comandos diferentes e vice-versa. Nem sempre as ações são óbvias e instintivas — confirmar o recebimento de novos jogadores, por exemplo, acabou ficando no gatilho direito, só pra dar um exemplo que me chamou a atenção — e é necessário sempre estar atento às descrições em cada tela para não fazer besteira. Nesse sentido, é uma interface em particular que precisa de refinamento para esta ou para edições futuras do jogo.

É a grande cartada da franquia e é onde ela continua rendendo muito dinheiro ao longo da sua vida útil. E, confesso, o jogo sabe seduzir o jogador para as famigeradas microtransações e suas loot boxes. Os mais dedicados investem pesado no modo, que tem todo um sistema bastante orgânico no que tange sua economia, com transações entre times, engajamento nos bastidores e desafios diferentões que o tempo todo inovam e superam o básico “monte um time forte e jogue partidas com dificuldade crescente”. Em outras palavras, é um modo totalmente viciante.

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No mais, o modo Carreira é onde os jogadores mais adeptos do offline vão ficar por horas e mais horas se dedicando. Há duas formas principais aqui de se jogar: como técnico (o que na verdade significa todo o staff de gestão de um clube) e como jogador, onde você se dedica somente à carreira da base ao estrelato de um craque. Esse segundo não tem muito segredo e se mantém quase idêntico ao que já conhecíamos. Treinos, metas, possibilidade de mudança de time, ir para a seleção do país, é um jeito mais personalizado de se jogar, com uma progressão cadenciada, mas muito imersiva.

Já a gerência de um time inteiro é certamente mais complexa para além das partidas em si. O sistema de negociações está ainda mais detalhado, e o técnico pode participar diretamente das conversas com jogadores (e seus agentes) em reuniões em restaurantes ou escritórios. Cada aspecto do contrato entra na discussão: salário, duração, papel do jogador no time, premiações, etc. Como tudo é feito via diálogos, mas sem vozes, o sistema acaba cansando depois de algumas conversas, mas é o modo mais eficiente de se garantir os melhores negócios. Quem preferir, contudo, pode delegar essa negociação colocando algumas amarras para seu representante.

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Os treinamentos também ganharam contornos mais integrados com os tutoriais do jogo. É possível simular todos eles, e você vai acabar fazendo isso depois de uma temporada completa, mas não deixa de ser interessante que o jogo continue ensinando suas principais mecânicas com um certo grau de desafio e de forma totalmente coerente com o conjunto da obra. Melhores treinos garantem melhor desenvolvimento dos jogadores e do conjunto. Essa relação com os seus comandados, aliás, continua funcionando bem no formato de diálogo por mensagens e traz aquele elemento que os comentaristas profissionais chamam de “ganhar o vestiário”.

Tanto seu grupo principal quanto suas categorias de base contam com meios de você aprimorar aspectos específicos dos jogadores, adaptando seu futebol para o sistema de jogo que você adotou ou mesmo para as carências do elenco. Tudo isso, somado, pode soar meio cansativo, e de fato por vezes é, mas não tem jeito… ainda que a maioria das coisas possam ser delegadas ou simuladas, fazer direito significa passar mais tempo fora do que dentro do campo.

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Para completar, há uma série de possibilidades de se acompanhar as partidas. Desde o óbvio modo controlando o time de forma padrão até a simulação das partidas com um olhar sobre a mesa tática. O melhor de tudo é poder entrar numa partida quando (e se) necessário, assumir as rédeas e promover as mudanças que achar necessárias. Mas a parte boa é que não é necessário assistir a partida inteira, ou mesmo jogar todos os jogos de uma temporada.

Há ainda a bem-vinda continuação do modo Volta, ainda mais aprimorado do que na edição passada, seu ano de estreia. Agora que já entendemos — e nos conformamos — que a expectativa de que fosse um retorno espiritual do FIFA Street foi exagerada, dá para se divertir mais casualmente com o futebol de rua (que, afinal, parece mais organizado que a versão profissional de muitos lugares por aí). É um modo mais rápido, mais direto, com mais facilidade pra fazer umas frescurinhas, mas que conforme se avança em sua rápida campanha própria acaba se tornando um mini-FIFA, já que sobram cada vez menos espaços para firulas e acabamos apelando para o futebol pragmático de resultados. Esse é daqueles modos que funcionam melhor no casual, no amistoso.

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E se essa é a sua vontade, sua intenção, fique tranquilo, porque para os peladeiros de final de semana, aqueles que curtem escolher um time para cada partida tranquila sozinho ou com alguém do lado ou online, os bons e velhos amistosos estão lá, com partidas convencionais, ou mesmo com outros modificadores. Quer jogar uma final de Champions League? Vai lá e joga com seu primo de 8 anos. Quer jogar a final da Libertadores? Sem problemas. Seleção contra clube? Tranquilo. A partidinha marota e sem compromisso está garantida, funciona, diverte, mesmo que as vezes possa despertar em você um desejo incontrolável de arrebentar o controle na parede. Só tome cuidado porque eles estão cada vez mais caros.

Aliás, por falar nisso, vale ainda destacar o uso do DualSense, uma vez que tivemos acesso à versão Playstation 5 do jogo. É simples, mas eficaz: só de ter um gatilho mais pesado para corrida conforme o jogador se cansa já evidencia um uso prático muito bem planejado e que vai para além do virtuosismo por si, como a vibração em cada gol.

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Ainda considerando a parte técnica em um console da nova geração, o jogo roda liso, as telas de carregamento nem precisavam existir, já que a partida é quase instantânea e, tirando um ou outro probleminha de colisão que ainda persiste, o game parece bem refinado e tira um bom proveito do poder de um novo console. Até por não mudar tanto assim neste primeira incursão aos novos consoles, não há riscos nesse aspecto.

Conclusão

FIFA 21 é tudo aquilo que já esperamos que fosse, e se isso é algo bom ou ruim, depende das expectativas. Para ser bem sincero, já faz tempo que não espero grandes revoluções na fórmula da franquia, e aceitar isso garante poucas decepções. Para quem joga desde a edição passada, o único grande diferencial é de fato a versão para nova geração e os detalhes mais sofisticados na jogabilidade, mas considerando a retrocompatibilidade das plataformas atuais, só os mais preciosistas com gráficos ou aqueles que exigem tudo o que as mecânicas novas exigem vão sentir a diferença.

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Há correções aqui e ali, há modos de corrida dinâmica para os iniciados; a inteligência artificial melhorou, inclusive dos sistemas defensivos, mas ainda há conjuntos que continuam com atitudes e posicionamentos estúpidos; os goleiros são uma incógnita em cada lance e a sensação de que, as vezes, o jogo decide por você continua lá. Ou seja, nada tão diferente assim do que já estamos acostumados.

Dito isso, FIFA 21 não chega a ser revolucionário e nem reinventa a bola, mas como ninguém esperava isso da EA para sua franquia mais estável em termos de público e vendas, o game consegue cumprir bem seus objetivos, melhorar alguns aspectos carentes, manter aquilo que está funcionando e oferecer uma experiência sólida de futebol virtual. No final do dia, bater uma bolinha com FIFA continua sendo uma das experiências virtuais mais divertidas que há.

Talvez sejamos um tanto quanto conformados com poucas mudanças e é possível que, tal como promete a Konami com PES, esse seja o momento de alterações mais profundas no inevitável FIFA 22.

Até lá, aproveitemos a edição atual, já disponível para Playstation 4, Playstation 5, XBox One, XBox Series S|X, PC e Nintendo Switch (em seu formato Legacy) totalmente em português brasileiro.

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