Análise Arkade – Kena: Bridge of Spirits, uma aventura que esbanja carisma

3 de outubro de 2021
Análise Arkade - Kena: Bridge of Spirits, uma aventura que esbanja carisma

O que acontece quando um estúdio de animação resolve lançar um game? O resultado é Kena: Bridge of Spirits, jogo que esbanja carisma e já é uma das boas surpresas do ano.

Para quem não sabe, o Ember Lab é um estúdio que ganhou notoriedade produzindo animações em CG “fofinhas” para comerciais de televisão e eventos. O trabalho mais “gamer” deles foi um fan film inspirado por Zelda Majora’s Mask, que fez bastante barulho quando foi lançado, lá em 2016.

Este filme, no caso:

Pois bem, eis que os talentosos integrantes do Ember Lab decidiram entrar para o mundo dos games, e Kena: Bridge of Spirits é seu primeiro trabalho na décima arte. E olha, queria eu que todo estúdio debutasse com um jogo tão legal!

A guia espiritual

Kena: Bridge of Spirits nos apresenta à Kena, uma jovem que tem um talento sobrenatural: ela pode guiar espíritos que estão presos ao plano terreno, ajudando-os a resolverem suas pendências, para que possam “passar para o outro lado” com tranquilidade.

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Em uma de suas peregrinações, ela estava em busca de um templo nas montanhas quando chega até um vilarejo abandonado no meio da floresta. Há algo errado ali: uma espécie de corrupção está se espalhando pela mata, colocando toda a região em perigo.

Antes de seguir seu caminho, a jovem Kena logo descobre que há espíritos por ali que precisam de sua ajuda para seguir adiante. Antes de ir para o templo, então, ela decide ajudar a todos que precisarem dela — e de quebra, liberar os arredores da corrupção hedionda que está tomando conta do lugar.

Enquanto faz isso, Kena vai encontrando e liberando Rots, pequenas criaturinhas peludas que estão no jogo basicamente para serem fofinhas e adoráveis. Ok, na verdade eles têm mais algumas utilidades, mas logo a gente fala sobre isso. Encontramos dezenas de Rots ao longo da campanha, e eles estarão o tempo todo acompanhando Kena e “brotando” nos lugares mais aleatórios.

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Os Rots sendo fofinhos <3

Falando sobre a história em si: já vimos esse lance de “purificar o mundo de uma corrupção sinistra” sendo abordado diversas vezes — inclusive em jogos excelentes, como Okami e Ori and the Blind Forest –, então, o roteiro não é realmente inovador. Mas, a história é bem contada, e se apoia em um elenco cheio de carisma.

Explorando o mundo de Kena

A verdade é que “originalidade” não é um termo que eu usaria para descrever Kena: Bridge of Spirits. Ele não é realmente inovador, e entrega uma mistura de aventura, combate e exploração por um mundo 3D que lembra, em muitos aspectos, o tipo de jogo 3D que existia lá nos tempos do PS1 e do Nintendo 64.

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E não falo isso como uma crítica: o mundo dos games atualmente está cheio de RPGs de mundo aberto, Souls-likes e roguelikes. Um jogo menos denso, com uma aventura mais linear e descompromissada cai muito bem hoje em dia. E, o fato de ser derivativo não é um problema. Ótimos jogos, como Darksiders, por exemplo, nasceram basicamente “copiando” certos elementos de grandes franquias.

Com isso quero dizer que, o ato de jogar Kena é bastante familiar. O mundo do jogo é vasto, mas linear o bastante para você sempre saber aonde ir e o que fazer. A exploração se dá a pé na maior parte do tempo, com direito a escaladas, bons trechos de plataforma e um ou outro environmental puzzle, para abrir alguma passagem ou liberar algum mecanismo.

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Kena começa sua jornada apenas com um bastão, mas conforme avançamos na aventura, ganhamos acesso a duas novas armas: um arco e flecha e uma espécie de bomba de energia espiritual. Ambas as armas são úteis no combate, claro, mas também na exploração. Enquanto as flechas funcionam como uma espécie de “tirolesa” até pontos específicos, as bombas têm um poder semelhante ao das Areias do Tempo de Prince of Persia, restabelecendo ruínas e reerguendo pontes.

Confira no vídeo abaixo a utilização das armas de Kena na exploração:

A movimentação é muito fluída e os comandos são bastante responsivos. O pulo duplo carece de um período de adaptação (ele sempre parece um pouco mais “curto” do que poderia ser), mas no geral, o game tem mecânicas muito agradáveis.

Combate, Habilidades & Rots

Exploração é o elemento principal da aventura de Kena, mas o combate também é importante. A protagonista tem basicamente dois ataques principais com seu cajado, mapeados nos botões R1 (fraco e rápido) e R2 (forte e lento). Kena também pode se esquivar e criar uma “bolha” de energia que serve de escudo — e também como parry, se for executada no timing correto.

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Kena é zen, mas também é boa de briga

A real utilidade dos Rots fica mais evidente nos combates: os inimigos geralmente surgem perto de focos de corrupção, que são representados por uma grande flor contaminada. Enquanto duelamos, vamos enchendo um medidor de “coragem” dos Rots, para que possamos usá-los para purificar essa planta e acabar com os inimigos.

Os bichinhos também concedem ataques especiais à Kena, e podem ser usados para mover objetos pesados, ou se unirem para formar uma criatura maior, útil para regar plantas e purificar estátuas e outros elementos corrompidos do cenário.

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Os Rots unidos formam essa criatura, que pode ser controlada

Confira um pouco de combate no vídeo abaixo, onde os inimigos surgem em uma sessão de corredores e a flor a ser “descorrompida” encontra-se no fim do trajeto:

Os inimigos comuns, em geral, não dão muito trabalho, mas os chefes são casca-grossa e vão exigir muita perícia do jogador nos controles. Este é um ponto que, inclusive, anda gerando discussões online. Os chefes de Kena representam um pico de dificuldade que destoa bastante do restante do jogo.

Acho que a maior dificuldade é que o parry é meio fundamental nestas batalhas, mas Kena: Bridge of Spirits não faz um bom trabalho em demonstrar, visualmente, o momento do parry.

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Estamos acostumados a ver animações de ataque que “telegrafam” o timing do parry, ou mesmo indicações visuais do momento certo de apertar o botão (estilo “sentido de aranha”). Aqui não temos nada disso: a movimentação dos inimigos tende a ser meio errática, difícil de interpretar. Assim, acertar o parry acaba sendo um exercício de tentativa e erro, não de timing.

Não acho que isso torne-se impeditivo em um nível Dark Souls ou Sekiro — jogos em que a pessoa pode literalmente desistir de jogar por não conseguir vencer um chefe –, mas fica o aviso: os chefes de Kena são agressivos, batem forte e são, sem dúvida, um ponto fora da curva de dificuldade padrão do jogo.

Audiovisual

Aqui não há do que reclamar. Kena: Bridge of Spirits é um jogo lindíssimo, daqueles que a gente sente que está jogando uma animação da Pixar, sabe? O talentoso time de design da Ember Lab utilizou sua experiência em animação para criar um jogo que realmente é de encher os olhos com sua beleza.

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O visual do jogo é incrível

É curioso, porém, o fato de que a jogatina roda em 60fps (no PS5), mas as cenas em CG que desenvolvem a história claramente foram renderizadas em 30fps. Há uma quebra de fluidez perceptível, mas isso não é nada que comprometa a experiência — é um detalhe que só o “crítico de games chato” que vive em mim nota.

No departamento sonoro, o game também não decepciona: todos os diálogos e cutscenes são dublados (em inglês), e os dubladores concedem ainda mais carisma aos personagens. Os sons de exploração e combate também soam satisfatórios, e a trilha sonora combina muito com a vibe do jogo, trazendo aquela pegada meio “tribal” de instrumentos de sopro e percussão que, nos videogames, costumamos associar com as “fases de floresta”.

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Ah, e vale ressaltar que o jogo foi traduzido para o nosso idioma e, no geral, a qualidade das legendas é bem satisfatória. Os menus e tutoriais também estão em português brasileiro. E, para os amantes da fotografia digital, alegro-me em dizer que Kena: Bridge of Spirits tem Photo Mode — que é um tanto limitado, mas nos permite tirar bons cliques do exuberante mundo do jogo.

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O Photo Mode é bem básico…
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Mas rende bons cliques! Para me ver mais, segue o @gamesphotomode no Insta! ;)

Conclusão

Kena: Bridge of Spirits é um jogo de 2021 que carrega uma aura dos jogos de exploração e plataforma 3D do final dos anos 90/início dos anos 2000. E, novamente, isso não é uma crítica, especialmente porque eu sinto falta de jogos que não sejam RPGs de mundo aberto que passam das 60 horas.

Aqui temos um jogo divertido e gostoso de jogar, que entrega uma campanha redondinha, que dura algo entre 12 e 15 horas horas e oferece um excelente mix de exploração, aventura, combate e environmental puzzles. E ainda faz tudo isso enquanto entrega uma narrativa que, se não é original, pelo menos é envolvente e cheia de significado.

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O salto de dificuldade que se apresenta na forma dos chefões é um pouco problemático, mas representa uma pequena imperfeição em uma joia que, fora isso, foi lapidada e polida com esmero. Repetir a mesma boss battle 5 ou 6 vezes até vencer o desgraçado é chato, mas não é algo que arruíne a experiência ao ponto dela não ser recomendável. O saldo, no geral, é muito positivo e o jogo é altamente recomendável!

Com Kena: Bridge of Spirits, o Ember Lab já chegou ao mundo dos games causando uma excelente primeira impressão. Agora é torcer que o jogo torne-se uma próspera franquia, ou esperar para ver qual será o próximo mundo fantástico para onde este talentoso time irá nos levar em seu próximo jogo. A qualidade deste primeiro jogo me deixa bem animado para saber o que a Ember Lab vai desenvolver no futuro!

Kena: Bridge of Spirits está disponível para PC, Playstation 4 e Playstation 5 (versão analisada).

Uma resposta para “Análise Arkade – Kena: Bridge of Spirits, uma aventura que esbanja carisma”

  • 4 de outubro de 2021 às 00:58 -

    Helinux

  • Jogo Bonito…algo da Disney me lembra no jogo!!!! valeu!!!!

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