Análise Arkade: Tunche traz mistura de beat ‘em up e roguelite para a Amazônia

12 de novembro de 2021
Análise Arkade: Tunche traz mistura de beat 'em up e roguelite para a Amazônia

Tunche é um simpático jogo peruano que mistura o gameplay de um beat ‘em up com a evolução cíclica de um rogue-lite. Agora, vamos te contar o que achamos do game.

Pancadaria folclórica

Tunche se passa na Floresta Amazônica, um cenário que nós, brasileiros, conhecemos bem, mas que, convenhamos, é bem pouco explorado no mundo dos games.

Há muito da cultura sul-americana em Tunche: entre os chefes, por exemplo, temos o Mapinguari e um boto cor-de-rosa, figuras conhecidas do folclore indígena. Tunche, aliás, é o nome de uma criatura que vive no coração da mata, e que supostamente está envolvida com a corrupção que está se espalhando pela floresta.

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No game, cinco jovens aventureiros — Rumi, a feiticeira; Pancho, o músico; Qaru, o menino-pássaro e Nayra, a guerreira, + uma convidada especial, a garotinha do jogo A Hat in Time — contarão com a ajuda de uma velha xamã para explorar a floresta, expurgando as criaturas malignas que estão vivendo lá e, quem sabe, encontrar o tal Tunche.

Cada personagem tem uma motivação, uma backstory para estar nessa missão, e conforme jogamos com cada um deles, vamos conhecendo um pouco da história de cada um por meio de belas histórias em quadrinhos. Ainda que o foco de Tunche não seja a narrativa em si, é legal que o jogo não se limite à pancadaria e traga um pouquinho de história para seus protagonistas.

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Também acho muito bacana como ele é pluricultural: temos elementos do folclore brasileiro, claro, mas há também referências à cultura da Colômbia, da Bolívia e do Peru. Este é um jogo feito na América do Sul, por um time que realmente entende as crenças e lendas desta região.

Beat ‘em up + roguelite

Mecanicamente, Tunche mistura a pancadaria frenética de um beat ‘em up 2D com o sistema de evolução de um roguelite, ou seja, temos apenas uma vida e devemos ir o mais longe que conseguirmos.

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Quando morrermos, voltamos para o acampamento e teremos que recomeçar a jornada do início… mas, teremos acumulado algumas pedras preciosas e outras “moedas” para comprar alguns perks e habilidades que, em teoria, deixarão o próximo ciclo mais fácil.

O lado beat ‘em up de Tunche é simples, mas funcional. Todos os personagens possuem um botão de ataque simples, outro de ataque à distância, bem como um launcher — ataque que lança os inimigos para o alto. Também temos pulo e rolamento/esquiva entre as habilidades mais básicas de cada guerreiro.

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A pancadaria é honesta, mas um pouco formulaica. Embora tenhamos cinco personagens que, teoricamente, deveriam ser diferentes, na prática o gameplay não muda quase nada de um para outro. Os combos básicos de todos são parecidos, e se o visual do ataque de projétil muda, o efeito em si é basicamente o mesmo.

Uma coisa legal é que Tunche tem aquele esquema de juggler, ou seja, você pode continuar espancando o inimigo no ar, sem deixar ele cair no chão. Aliás, o launcher permite a execução de air combos, em uma dinâmica que até lembra um pouco Devil May Cry.

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Por falar em Devil May Cry, aqui nosso desempenho também está sempre sendo julgado — letras representam a “nota” que recebemos durante os combates. Porém, como aqui o gameplay é muito mais simples, “jogar bonito” é mais uma questão de acumular hits sem tomar dano.

Os problemas desta mistura

A natureza cíclica do gênero roguelite se mostra um problema em Tunche. Ele emula o sistema de Hades, com a possibilidade de escolhermos diferentes “salas” para seguirmos em frente, e os ícones de cada uma indicam os diferentes tipos de recompensas que encontraremos lá.

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Aqui temos 3 opções de “próxima sala” para visitar

Até aí, tudo bem. O problema é que, ao misturarmos a repetição do roguelite com as limitações do beat ‘em up, temos uma experiência que torna-se cansativa muito rápido — problema que é agravado pela evolução demorada dos personagens.

Veja bem, existe uma razão para beat ‘em ups, em geral, serem experiências curtas e intensas: a fórmula “siga para a direita batendo em todo mundo” simplesmente não se sustenta por muito tempo. É simples demais. Fazer isso por uma hora é ótimo… mas repetir isso por 5, 6 horas, torna-se maçante, dada a simplicidade das mecânicas.

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Por isso, acho que misturar estes dois gêneros acabou sendo um experimento um tanto equivocado: recomeçar a jornada do zero demanda muita paciência do jogador — especialmente porque, ao longo dos quatro “mundos” do jogo, pouca coisa muda, e estaremos sempre descendo a porrada em sapos, peixes, macacos, criaturas de barro, entre outras.

Outras questões (im)pertinentes

Acredito que você concorde que, em um roguelite, os combates precisam ser rápidos e viscerais. Jogos como Hades e Dead Cells entendem isso muito bem: com bons reflexos e habilidade, é perfeitamente possível limpar uma área em questão de segundos — e sentir-se muito poderoso ao fazer isso.

Os inimigos de Tunche, por sua vez, demoram MUITO para cair. E como eles chegam em grupos grandes, as batalhas acabam demorando mais do que deveriam. Considerando que o gameplay é um tanto raso e jogo se resume a combates e mais combates, isso ajuda a desgastar a fórmula ainda mais rápido.

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Não ajuda o fato de que os upgrades são caros, o que faz com que a evolução de cada personagem seja lenta (até demais). Para piorar, não há como fazer upgrades no meio de uma partida — só temos acesso à “lojinha” no acampamento, no início de uma nova run. E, como você depende de pedras preciosas e outras “moedas” para comprar melhorias, se você morrer cedo, talvez se frustre ao perceber que não pode comprar nada.

Incomoda também o fato de que tudo o que você acumula em uma run fica restrito ao personagem que você estava jogando. Ou seja, se quiser testar outro herói, vai ter que começar com ele zerado, sem dinheiro nem habilidades. Seria bom se pelo menos as pedras preciosas fossem compartilhadas, para que pudéssemos acelerar a evolução dos outros protagonistas.

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Aí entra algo que eu, infelizmente, não pude testar, que é o multiplayer local: ao contrário de outros roguelites, que são estritamente para um jogador, Tunche aceita até quatro jogadores simultâneos, o que deve deixar as coisas bem mais divertidas. Com quatro players se ajudando na pancadaria, coletando ouro e evoluindo os personagens simultaneamente, o progresso deve ser bem menos penoso.

Audiovisual

Aqui está um ponto onde não há do que reclamar: Tunche é um jogo belíssimo e muito bem resolvido em termos de audiovisual. Tudo é desenhado à mão, e o estilo artístico “sem bordas” esbanja estilo e carisma. Chega a dar pena de espancar criaturas tão fofinhas quanto a fauna “corrompida” do jogo.

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O departamento sonoro do jogo também dá um show: as músicas são bem naquele estilo “fase de floresta” que estamos acostumados, com muitos instrumentos de sopro e percussão que combinam bem com a temática do jogo.

Não há vozes no jogo, mas isso realmente não faz muita falta. A história de cada personagem é apresentada na forma de histórias em quadrinhos, e o bom trabalho de localização — com menus e legendas em português brasileiro — não deixa ninguém ficar boiando.

Conclusão

Eu adoro beat ‘em ups. E alguns roguelites — como Hades e Dandy Ace — realmente me conquistaram. Porém, a mistura desses dois gêneros, que eu jurava que resultaria em algo incrível, se mostrou algo muito mais cansativo e repetitivo do que eu gostaria.

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Sendo justo, uma run completa de Tunche dura cerca de uma hora… porém, até você conseguir ir até o final sem morrer, vai gastar um bom tempo lutando contra os mesmos inimigos de novo e de novo, suando para acumular moedas que (talvez) vão lhe permitir comprar algum upgrade.

Talvez misturar beat ‘em up com roguelite não tenha sido uma grande ideia, no fim das contas. Ou a mistura funcione melhor no multiplayer, que infelizmente não tive tempo para experimentar.

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De qualquer forma, larguei Tunche realmente cansado, com um gostinho amargo na boca. Se você curte beat ‘em ups e roguelites, talvez seja melhor continuar apreciando-os separadamente. A mistura dos dois, na minha opinião, não resultou em um jogo particularmente bom.

Tunche foi lançado em 02 de novembro, e está disponível para PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series X|S (versão analisada) e Nintendo Switch. O game possui menus e legendas em português brasileiro.

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