As ausências da Brasil Game Show 2016 e os desafios do mercado nacional

9 de setembro de 2016

As ausências da Brasil Game Show 2016 e os desafios do mercado nacional

A Brasil Game Show 2016 foi um sucesso, e tivemos a oportunidade de conhecer vários games que ainda estão em desenvolvimento, porém sentimos falta de muita coisa bacana, que por várias razões, fizeram falta nos corredores do SP Expo, nos primeiros dias de setembro.

A feira sempre contou com uma postura aberta a todos, com convites para estúdios, marcas e empresas com representação no Brasil ou não. A área independente, por exemplo, nunca esteve tão grande e, mesmo com tantas dificuldades encontradas por este pessoal, foi bacana encontrar tanta coisa legal por ali, além de conversar com o pessoal do mercado indie. Outro aspecto interessante da feira, está no interesse das fabricantes de hardware e acessórios, como a HyperX, Razer e a Nvidia, que sempre estão presentes apresentando suas novidades.

Mas seja por crise, desinteresse ou porquê não, preconceito com o nosso mercado, o fato é que sentimos falta de bastante coisa. Jogos, empresas ou iniciativas que muito tem para somar no nosso crescente e interessado mercado nacional, mas que ficaram ausentes da edição deste ano. Dentre as faltas, podemos citar algumas aqui:

Games mobile

As ausências da Brasil Game Show 2016 e os desafios do mercado nacional

Os games móveis estão, cada dia mais, conquistando mais e mais jogadores. Seja com títulos casuais ou com games criativos, como Punch Club, já passou da hora de acabarmos com o preconceito dos games de celular por causa de alguns títulos caça-níqueis feitos sem responsabilidade com a indústria, pensando apenas no lucro. Eles sempre existirão, mas muitas opções interessantes estão aparecendo, pedindo uma chance para aparecer em seu smartphone.

Mas por alguma razão, os games móveis passaram longe da BGS. Apenas a Warner, com seu game baseado no filme Esquadrão Suicida, e a Com2Us, com seu Summoner Wars, é que representaram o gênero. Além deles, Clash Royale teve finais de seu campeonato na BGC. O caso da empresa coreana é ainda mais curioso, pois eles estiveram na feira comemorando mais de 60 milhões de downloads de seu game, o que reforça o poder destes jogos. Conversamos com o representante da Com2Us, Casey Lee, que comemorou o cenário atual e contou para a gente sobre os novos desafios do game:

Sabemos das dificuldades de se manter um estande e oferecer novidades constantes para os visitantes, mas uma união dos estúdios de desenvolvimento, ou mesmo uma ação da própria BGS, oferecendo uma área específica para que estúdios de games móveis possam participar. Ou ainda, Google e Apple, com suas lojas de smartphones, poderiam enxergar na BGS uma chance de divulgar suas lojas, produtos e de quebra, os jogos mais queridos da galera.

Portáteis

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Seja sincero: tirando os portáteis que ocasionalmente aparecem na mão do pessoal que levou o seu console para a feira, quantos PS Vitas ou 3DSs você viu na BGS? Pois nós também não vimos nada, nada, deles. Sabemos do interesse cada vez menor com o portátil da Sony e a ausência da Nintendo (falaremos disso mais para a frente), porém eles estão de fato, mortos?

E além destes consoles, também temos as iniciativas da Hyperkin: o SupaBoy, que é um Super Nintendo que pode ser ligado na televisão ou tratado como um portátil, o o Smartboy, que ainda está em desenvolvimento e é um acessório que transforma seu smartphone em um Game Boy das antigas. A Hyperkin já esteve na BGS em edições passadas, mas não esteve este ano, e isso é uma pena.

Estúdios Renomados

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Cara, eu quero muito jogar Mafia III, mas não foi na Brasil Game Show que tivemos esta oportunidade, já que a 2K não estava lá e por isso, nada do terceiro Mafia, nem da tradicional franquia de basquete NBA 2K. Lembro de 2013, quando ao entrar na feira para mais um dia de trabalho, fui abordado por uma representante da CD Projekt Red, falando em inglês, me convidando para uma sessão fechada de The Witcher 3, que ainda estava em fase alpha de desenvolvimento, em um espaço pequeno e bem reservado. Na edição deste ano, tivemos estande da empresa polonesa, onde foi apresentado o Gwent, além da oportunidade de acompanhar a presença cada vez mais constante deles aqui, incluindo o GOG.com.

A ausência da Blizzard também foi sentida, pois não existe hora melhor para o estúdio, que tem Overwatch conquistando corações, dia a dia. O game estava jogável em alguns estandes, mas nada como jogar Overwatch, Heroes ou Diablo em um local tipicamente Blizzardiano. Bethesda, sentimos sua falta.

Para estes estúdios, especialmente os que não tem representação aqui no Brasil, as dificuldades apresentadas são relacionadas a nossa economia e aos problemas políticos que influenciam negativamente na confiança de investimento. Mas, se observarem o exemplo da CD Projekt, poderiam observar melhor nosso potencial. Ou poderiam se unir e oferecer seus games em estandes de parceiros, como o Playstation e Xbox. A Square Enix fez isso e por esta parceria, muitos puderam jogar Final Fantasy XV.

Nintendo

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Sem dúvidas, a ausência mais sentida da feira, desde a sua decisão de não participar mais da mesma, em 2013. A empresa apresentou o Wii U em uma oportunidade, e nunca mais vimos Mario e seus amigos nos corredores do evento. Tudo bem a empresa sair do país, embora ainda não engolimos direito esta história, mas não ia matar ninguém colocar um estande, por menor que fosse. A ausência do Wii U e principalmente, do 3DS, são um tiro no pé, ainda mais neste exato momento em que Pokémon GO está fazendo muito sucesso, alavancando e muito a venda de produtos derivados da série, incluindo o portátil da Big N.

A Nintendo precisa observar com mais cuidado o nosso mercado. O brasileiro adora a marca, pois desde a época do Super Nintendo, aprendeu a amar o Mario e a curtir seus games. Seus erros do presente não podem ser colocados na conta do jogador brasileiro, pois ele poderia consumir mais os produtos da companhia japonesa, se tivesse a oportunidade de conhecê-los.

Pokémon GO

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Para um jogo que te incentiva a jogar pelas ruas, todo cuidado é pouco.

É um caso a parte da Nintendo, já que o game está sob a responsabilidade da Niantic. Estivemos, no mesmo período da BGS 2016, na Bienal do Livro, também em São Paulo. Vimos por lá um interesse de marcas em criar Pokéstops e incentivar a caça de Pokémons em seus stands, passando tempo enquanto aguardava em uma fila para pagar as compras, por exemplo.

Mas na feira de games, uma das poucas referências ao game veio da Família Lima, que gravou para o seu canal o tema do jogo. E a Niantic perdeu uma chance de ouro de colocar nas mãos de mais de 600 mil visitantes (números não-oficiais, mas que representam o aumento significativo do público do ano passado, de 500 mil) a oportunidade de caçarem Pokémons lendários, interagirem em Pokéstops especiais e nos propiciar mais momentos inusitados nestas jornadas.

Os desafios do mercado nacional

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O mercado, como um todo, precisa refletir bastante sobre o cenário pós-BGS. Temos que avaliar o sucesso de marcas que estão presentes aqui, pois temos em nossa língua e com suporte oficial os dois games de futebol preferidos da galera, FIFA e PES; também pudemos conferir, em primeira mão, games aguardados como Resident Evil VII, Steep, For Honor e Batman Arkham VR; também pudemos conhecer o Playstation VR. E todas as outras coisas bacanas que a feira apresentou, mostram a nossa força como potência gamer. O que inclui a questão do eSport, com stand da Pain Gaming (que inclusive ofereceu novidades interessantes) e a Brasil Game Cup, com transmissão na TV com parceria com o Esporte Interativo.

Também pudemos ver muitas ideias criativas e interessantes: O Wipace, da Kinship, proporciona um controlador pequeno que pode ser acoplado no tênis e utilizado em várias iniciativas; a escola Super Geeks ofereceu uma Game Jam com crianças; a Copag esteve presente na feira, apresentando uma linha de produtos muito criativa, com jogos de cartas que são ao mesmo tempo, jogos de dominó e tabuleiro; sem mencionar o satisfatório desempenho criativo do universo indie brasileiro, com muitos jogos legais e criativos. Tudo isso são pontos a favor, que ajudam e muito a consolidar espaço.

Mas não podemos ficar alheios quanto as ausências na BGS. Elas representam um cenário a se observar, nos convidando a observar as razões as quais empresas tão relevantes não estão com estandes ou jogos dispostos, o que significaria, em tese, games localizados e maior suporte, seja para o jogador, distribuidores, ou para a imprensa.

Como desafio, enxergo a necessidade de fazer com que os estúdios olhem para o Brasil como mercado consumidor, que está cada vez mais consumindo produtos originais e interessado nas novidades, assim como o jogador, que precisa entender que, mesmo com o alto preço dos jogos, pirataria mais atrapalha do que ajuda neste aspecto. Também precisamos falar sobre preços, tentando ajudar mais pessoas a terem mais acesso aos produtos relacionados aos games. Os impostos são mesmo o fator principal dos altos preços? E se são, o que podemos fazer para diminuir o valor dos jogos? E por fim, o nosso mercado, ás vezes, precisa olhar para o nosso próprio mercado, pois temos aqui mesmo, “do nosso lado”, ideias criativas e interessantes, a todo momento.

Por isso, fica o convite. Para todos: jogadores, imprensa e empresários podem juntos gerar uma conversa saudável, sempre focando melhorias para o nosso mercado. Podemos coletar informações, descobrir muitos “porquês” e cada um na sua posição, continuar trabalhando para que o nosso mercado de games seja cada vez mais forte e atraente, para estúdios, games, marcas e ideias. E que assim, possamos gastar mais tempo curtindo mais e melhores novidades na BGS, ou em qualquer outro evento relacionado a games no Brasil.

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