Chimoltrúfia, uma das melhores personagens que Chespirito criou em sua vida

8 de fevereiro de 2023
Chimoltrúfia, uma das melhores personagens que Chespirito criou em sua vida

No dia 8 de fevereiro de 1974, nascia Florinda Meza. A atriz, que nasceu em Juchipila, no México, teve uma infância pobre e difícil, mas encontrou na arte a saída para uma vida melhor. Ainda adolescente, já percebeu gosto e talento pela música, dança e atuação, já trabalhando como modelo e, ao se destacar no teatro, enquanto cuidava de seus irmãos, recebeu a oportunidade de sua vida.

Foi vista por Roberto Gómez Bolaños, o nosso Chaves, que a convidou para interpretar uma mulher com muito mais idade do que a sua. Para registro, Florinda viveu a eterna Dona Florinda de Chaves, na fase clássica (os episódios que todos conhecemos por aqui), no alto de seus 20 e poucos anos. Sim, a “velha coroca” tinha, quando começou a viver a personagem, 22 anos.

Chimoltrúfia, uma das melhores personagens que Chespirito criou em sua vida
A “velha coroca” nos anos 70, nos seus 20 e poucos anos

Florinda se destacou, se consagrou entre as artistas mexicanas, se tornou a esposa de Chespirito e ficou ao seu lado até sua morte, em 2014. Nós brasileiros, só a conhecemos como a Dona Florinda e algumas personagens avulsas de Chapolin, e isso nos faz enxergar a atriz com uma ótica muito inferior ao que ela realmente fez em vida.

Florinda fez, além de Chaves, teatro, cinema, musicais e muitas coisas mais, sempre com muita qualidade. Mas, pelo menos para mim, foi em 1980, que Florinda Meza viveria a sua melhor personagem, e que, também para mim, simboliza uma das maiores criações da carreira de Chespirito: a Chimoltrúfia. A personagem surgiu para complementar a esquete dos Los Caquitos, que representa uma nova época para Chespirito.

Após dez anos de Chaves e Chapolin, o criador das séries resolveu condensar todos os seus personagens em um único programa. E, com as mudanças que Bolaños teve de lidar, entre saídas de personagens e a própria idade, que não permitia mais tanta comédia circense, a ideia foi apostar no humor pelo roteiro, explorando a saga dos dois ladões, o Chaveco (ou Chompiras) e Botijão, que abandonam a vida de crimes e se tornam homens honrados.

Chimoltrúfia, uma das melhores personagens que Chespirito criou em sua vida

Para ilustrar um ex-ladrão regenerado, Chimoltrúfia surgiu como esposa de Botijão. É uma típica personagem de Chespirito: pobre, com muitas limitações impostas pela dura vida, mas sempre contente e bem humorada. Durante os episódios ela vive em sua casa ou trabalha como camareira em hotel, sempre “cantando”, usando seu talento em cantar, mas de uma forma oposta, com verdadeiros berros que deixam todos a sua volta desesperados.

O “charme” da personagem é o seu jeito de falar, que garante palavras ditas de maneira errada. A ideia central é uma pessoa que, apesar de não ter pouco estudo, foi bem educada pela vida, por se tornar uma pessoa decente, honesta e honrada, que seria de muita ajuda para um marido que abandonou a vida de crimes.

Ela se veste de forma semelhante à Dona Florinda, com avental e vestido, embora suas roupas sejam mais velhas e gastas, fazendo um contraponto com a “valentona do 14”, que era uma mulher vinda da alta sociedade. Outra mudança está no cabelo. Se Dona Florinda vivia de bobes no cabelo, Chimoltrúfia fica completamente despenteado e arrepiado, somando-se sardas e poucos dentes para compor seu visual.

Chimoltrúfia, uma das melhores personagens que Chespirito criou em sua vida
Florinda chegou a reviver a personagem no YouTube

A personagem também tem temperamento explosivo, não levando desaforo para casa e dando socos e pontapés em quem a ofende. Com bordões como “O que você está pretendendo tratar de querer insinuar?” ou “Você sabe que quando eu digo uma coisa eu digo outra, porque assim é como tudo, e tem coisas que eu nem sei, eu tenho ou não tenho razão?”, a personagem é cativante e extremamente importante neste universo de personagens.

Chimoltrúfia pode ser considerado um contraponto de Dona Florinda. Se a “valentona do 14” mostra amargura, por ter sido da alta sociedade e ter sido obrigada a viver na humilde vila, sempre demonstrando descontentamento por estar ali e conviver com seus vizinhos (embora a personagem sempre mostre o seu lado bom, o que define aqui uma luta interior ao invés de maldade pura), a Chimoltrúfia é alguém que vive nas mesmas condições, porém a vida toda, o que fez dela uma pessoa que aprendeu a ser feliz com pouco, e que a deixa orgulhosa de ter como o seu maior bem, a decência e a vida honrada.

Mas além disso, ela é realmente muito engraçada. É possível rir muito com a atuação de Florinda como Chimoltrúfia, em momentos impagáveis, como as lendárias discussões na delegacia, que quase sempre aconteciam aos finais dos episódios, da forma “delicada” com a qual ela resolvia seus problemas ou mesmo dos pontapés que quase sempre eram direcionados ao Chaveco, quando “escapulia” o que ele pensava a respeito dela.

Pra mim, Chespirito acertou muito ao desenvolver a Chimoltrúfia. Los Caquitos, diferente de Chaves, contava com temas (e ás vezes, até piadas) mais maduros, com seus personagens vivendo situações que não fariam sentido na vila. Mas ainda assim, a figura divertida, porém inocente da personagem, garantia não apenas boas risadas, como a oportunidade de Chespirito compartilhar bons valores, através de alguém que “não tinha nada, mas tinha tudo”.

Florinda Meza estará no Brasil em breve, no festival Educafest. Será a primeira vez que a atriz participará de um encontro com fãs, com um evento no Rio de Janeiro, em 20 de abril, e outro em São Paulo, no dia 22 do mesmo mês.

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