Cine Arkade Review – 118 Dias

Confira a nossa resenha do primeiro filme dirigido por Jon Stewart sobre a emocionante jornada do jornalista Maziar Bahari, 118 Dias.

118 Dias nos mostra a jornada de um jornalista durante o seu tempo cobrindo as eleições presidenciais do Irã em 2009, que foi palco dos famigerados protestos sobre a corrupção na disputa eleitoral que favoreceu o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad contra os candidatos Mir-Hossein Mousavi e Mehdi Karroub. Os protestos ficaram conhecidos como a Revolução Verde, pela cor representativa ao partido de Mousavi.

O filme pinta este cenário de fundo mas foca principalmente no jornalista, Maziar Bahari, e em tudo que aconteceu com ele durante este tempo. O titulo do filme conta exatamente o tempo em que ele ficou aprisionado após ter sido acusado como um espião da CIA por ter aparecido no programa humorístico The Daily Show, e ter feito uma entrevista satírica admitindo que fazia parte da organização americana.

Talvez por um sentimento de culpa ou de curiosidade por ver que está história é bem interessante, o próprio criador do programa The Daily Show, Jon Stewart, decidiu adaptar o livro escrito por Bahari – Then They Came for Me, para o cinema e dirigir pela primeira vez o longa metragem sobre a experiência de Bahari aprisionado pelos iranianos.

Assim 118 Dias une um filme surpreendentemente bem dirigido com algumas cenas reais que foram gravadas durante os protestos de 2009. O longa também tem uma vantagem por contar boa parte de sua história em dois lugares: a sala de interrogatório e a cela de Bahari, contando com espaços mais amplos somente no começo do filme quando os personagens estão se estabelecendo na trama, e mesmo assim quase todas as cenas são assistidas pelas lentes da câmera de Bahari, simplificando o processo de direção sem deixar banalizado ou amador demais, sendo uma preocupação real por ser o primeiro trabalho de Stewart na cadeira de diretor.

E na verdade os primeiros 30 minutos são cruciais para nos fazer simpatizar com Bahari e absorver toda a tensão que irá ocorrer mais para frente. No início vemos o contato que ele tem com sua mãe e o quão frágil esta conexão se mantém pela morte de seu pai e sua irmã, e também vemos que ele tem uma esposa grávida o esperando em Londres.

Todos estes elementos podem ser considerados clichês mas eles se justificam por darem o impacto que precisamos sentir na hora de seu aprisionamento, além do fato que estamos falando da vida real — que é cheia de clichês –, com tudo ficando muito mais verdadeiro (ainda que nem tão empolgante) quanto o mundo fictício.

O que me leva para a tortura de Bahari durante estes 118 dias, que é mostrada não de forma muito visceral e fantasiosa como vemos nos filmes. A tortura aqui é mais psicológica do que física e este fator deixa 118 Dias muito mais tenso do que seria caso o filme nos apresentasse uma hora de tortura gráfica e física.

Assim vemos a sanidade de Bahari se quebrando aos poucos enquanto ele tenta sobreviver ao seu confinamento, e o que deixa tudo mais tenso é a interação entre Bahari – interpretado por Gael Garcia Bernal (Amores Perros) – e o interrogador conhecido como Rosewater – interpretado Kim Bodnia (Pusher) –, apelido criado por causa da água de rosas que ele usava antes de interrogar Bahari, que por sua vez sentia somente esta fragrância por estar vendado na maior parte do tempo. Também é por isso que o título original do filme é Rosewater.

Outro fator que dá maior profundidade a Bahari é a sua forma de lidar com a tortura nos momentos de paz em sua cela, formando cenas interessantes entre ele e seu passado enquanto o subconsciente luta para sobreviver neste tempo tão estressante.

Como o primeiro trabalho de Jon Stewart, ele faz um ótimo trabalho dirigindo e adaptando o livro para um roteiro de cinema, especialmente nos dez minutos iniciais, onde absorvemos toda a história de Bahari de uma forma clara e concisa, além de ser esteticamente agradável.

Como um todo, 118 Dias é um filme veloz e impactante por causa da experiência aterradora de Bahari sendo acusado de algo tão preocupante por fazer algo banal quanto participar de uma esquete em um programa humorístico – mesmo com eles acreditando que o programa fazia parte de um braço da CIA -, que por sua vez mostra o nível de desespero e paranoia do governo iraniano em uma época tão dramática do país.

118 Dias é um filme que vale a pena assistir justamente pela performance do personagem principal e todas as tribulações emocionais atribuídas a ele, que juntas criam um filme emocionante do começo ao fim e sem parar por um segundo.

118 Dias estreou em todo o Brasil no dia 5 de Janeiro.

Henrique Gonçalves

Joguinhos e entretenimento.