Dez anos de Spec Ops: The Line, um dos games mais injustiçados de todos os tempos

10 de junho de 2022
Dez anos de Spec Ops: The Line, um dos games mais injustiçados de todos os tempos

Em 2022, já podemos observar vários games da geração do Xbox 360 e PlayStation 3 como jogos que já possuem uma década de história. Neste ano, tivemos vários grandes títulos, como Mass Effect 3, Max Payne 3 ou Assassin’s Creed 3. Entre tantos jogos com “3” no título, um jogo em especial conseguiu marcar a geração trazendo, apesar de um gameplay muito parecido com seus contemporâneos, uma forma muito diferente de se jogar videogame.

Com os games de tiroteio, sejam os FPS encabeçados por Call of Duty, ou os TPS que tinham em Gears of War como grande referência, era muito comum entre os jogos daqueles dias os que traziam o tiroteio como forma de gameplay, seja nas missões, ou no modo online.

Dez anos de Spec Ops: The Line, um dos games mais injustiçados de todos os tempos

A ação, geralmente em campo de guerra, contavam com justificativas simples, mesmo com histórias melhores elaboradas após o sucesso da série Modern Warfare. Era algo como “salvar o mundo” atirando em inimigos terroristas, sendo ou ultranacionalistas russos ou inimigos que remetem ao Oriente Médio, em dias os quais soldados dos EUA estavam em ação no local, como no Iraque ou Afeganistão.

Neste contexto, surgiu Spec Ops: The Line, jogo que “enganou” muita gente ao se apresentar como um shooter genérico, com um enredo em Dubai, no qual soldados americanos deveriam combater inimigos genéricos representando terroristas do Oriente Médio. Mas quem não se deixou se levar pela proposta do estúdio alemão Yager Development, com certeza perdeu um grande game.

Dez anos de Spec Ops: The Line, um dos games mais injustiçados de todos os tempos

O enredo do game começa simples: O capitão Martin Walker, que é controlado pelo jogador, vai até uma Dubai devastada por uma tempestade de areia de proporções catastróficas. A cidade, que antes era rica e próspera, agora vive dias de caos, sem lei, e com pessoas dispostas a tudo para sobreviver.

John Konrad, um dos fundadores da Delta Force, tropa de elite do exército dos EUA, da qual Walker faz parte, ficou na cidade, para proteger com seus soldados, os cidadãos que não foram evacuados. O capitão ouve um sinal fraco de rádio e parte com seus dois outros soldados, para dentro desta Dubai devastada, para cumprir seu papel.

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Mas o que o jogador presencia após a entrada em Dubai são situações que vão muito além do “herói que derrota os homens maus e salva o dia”. Baseado no livro Heart of Darkness, Spec Ops: The Line tem uma história sombria, pesada, e leva o jogador a pensar e refletir, a todo momento, sobre o que ele está fazendo, se é certo o que está acontecendo, e se a guerra é realmente “algo legal”, como o entretenimento insiste em dizer.

Há momentos de escolhas morais no game, mas nenhum deles traz a opção “certo ou errado”. O jogo deixa o jogador desconfortável o tempo todo, em uma zona cinzenta, comum em tempos de guerra. Matar um homem que não tem chances de sobreviver ou deixá-lo queimar sem ser a pessoa que tirou sua vida? É esse tipo de questionamentos que o jogo vai oferecendo, especialmente na sua segunda metade.

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No gameplay, o jogo é honesto. Se comporta como um TPS competente, trazendo hordas de inimigos que podem ser alvejados com as armas que o jogo disponibiliza, com um ranking pontuando acertos vitais, com armas pequenas ou pesadas. A mira é agradável e o jogador não se frustra por perder “por causa do jogo”. Apenas podemos dizer que o jogo envelheceu um pouco, o que significa que recursos como saltar para desviar de granadas ou maior mobilidade do personagem atrapalham um pouco ás vezes. Mas no geral, o game segue competente até hoje.

Mas é nos seus questionamentos que Spec Ops: The Line brilha. O game anda a todo momento na zona cinza, e também faz questão de mostrar o resultado de suas ações, por mais duras que possam ser. Há momentos extremamente pesados, nos quais o jogador presencia uma guerra como ela realmente pode ser: dura, cruel e não tão heróica assim, como filmes, séries e games insistem em apresentar.

Dez anos de Spec Ops: The Line, um dos games mais injustiçados de todos os tempos

Spec Ops: The Line mostra a mente de um soldado, que precisa lidar com questões que vão desde o “cumprimento de ordens”, até a forma com que pode lidar com o caos que presencia, e com questões que foram causadas por você mesmo, em nome do cumprimento do dever. São questionamentos semelhantes aos apresentados em The Last of Us, com contextos e pontos de vistas diferentes. O final, apesar de simples, conta com variações definidas por ações do jogador, que servem para manter a reflexão, independente do final escolhido.

Infelizmente, o game não teve o reconhecimento merecido. Os fatores podem ser vários: o estúdio pequeno, que não contou com a propaganda suficiente; a mídia especializada, que não entendeu a proposta do game e, no “calor do hype”, o enxergou apenas como “mais um shooter dentre tantos outros”. O game tem média de nota 75 no Metacritic, agregador de notas usados bastante por quem acha que nota significa alguma coisa para definir um game.

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Ou mesmo o jogador não entendeu o game direito, na época. Em dias de Call of Duty e Gears of War, um shooter mais controverso e que tirava o foco do “heroísmo” para trazer o questionamento pode também não ter sido o que o jogador daqueles dias queria. Podemos elencar diversos outros fatores, mas de qualquer forma, foi um game que passou praticamente “em branco” no disputado ano de 2012, que contava com outros bons jogos disputando a atenção do jogador.

Spec Ops: The Line pode ser jogado hoje no PC, onde vive em promoção na Steam. Também pode ser jogado em todos os consoles Xbox, a partir do Xbox 360, pois está no programa de retrocompatibilidade. E, no mundo PlayStation, pode ser jogado em um PlayStation 3, com versão digital disponível na PS Store.

3 Respostas para “Dez anos de Spec Ops: The Line, um dos games mais injustiçados de todos os tempos”

  • 10 de junho de 2022 às 16:03 -

    Luís F.

  • Quem achar a história do game familiar, saiba que ele não foi a primeira “adaptação de Heart of Darkness”, do autor que o jogo presta homenagem no nome do personagem, Joseph Conrad (1899): ao filme Apocalypse Now (Coppola, 1979) bebeu da mesma fonte!

    • 18 de junho de 2022 às 13:19 -

      Felipe

    • Parabéns pela resenha. Na época que joguei há anos, quando comprei bum Humble Bundle, esperava quase nada dele, mas me surpreendi exatamente como mencionado no artigo. Eu zerei 3 vezes esse game, em várias dificuldades, fiz 90% dos achievements (45 de 40), cada vez tomei decisões diferentes e não voltei atrás. Esse é o jogo que melhor transmite o peso da guerra, em que não há certo ou errado. Caramba, deu até saudade do jogo. Na época li várias análises e a maioria super rasa, comprovando realmente os pontos apontados aqui, de gente que não entendeu a proposta do jogo e criticando a jogabilidade genérica (o que discordo, pois flui super bem, cada arma tem pelo menos alguma coisa distinta das outras, diferentemente de jogos mainstream como Call of Duty). Realmente um jogo surpreendente por ousar ser diferente e não pintar o heroísmo clichê dos “supersoldados americanos bastiões da liberdade”. O mecanismo dos vários finais fecha o jogo com chave de ouro. O único problema do game é ser muito curto. Mas acho que se propusesse a ser mais longo provavelmente ae perderia na narrativa. Esse jogo pra mim é um dos que mais chega perto da perfeição. Até a IA dos 2 aliados que te acompanham na jornada e as personalidades deles agrega muito no jogo, e eles realmente são úteis e vitais para a jornada. Com certeza um dos jogos mais subestimados da história.

  • 10 de junho de 2022 às 22:41 -

    Helinux

  • Valeu!!!!

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