Tribuna Arkade: Activision-Blizzard é processada por denúncias de assédio

23 de julho de 2021
Tribuna Arkade: Activision-Blizzard é processada por denúncias de assédio

Recentemente, diversos casos de enormes proporções negativas envolvendo a Activision Blizzard vieram a tona, revelando severas denúncias sobre um terrível ambiente de trabalho dentro de seus estúdios. Esses casos envolvem, num espectro mais “leve”, decisões gerenciais que levaram ao fracasso de Warcraft 3 Reforged, indo muito além, envolvendo muitas denúncias de racismo e assédio sexual ocorrendo livremente dentro da empresa.

O governo do estado da Califórnia, nos Estados Unidos, abriu um processo contra a Activision Blizzard após, segundo o órgão California Department of Fair Employment and Housing (DFEH), anos de investigações e denúncias recebidas de diversos funcionários.

O processo descreve em muitos detalhes casos gravíssimos de racismo contra grupos marginalizados, além de uma forte cultura sexista, com muitos casos de assédio moral e sexual contra empregadas mulheres. As descrições são muito pesadas, por conta disso não entrarei em detalhes sobre elas, mas envolvem desde enormes diferenças de pagamentos, com mulheres recebendo muito menos que funcionários homens, trabalhando nos mesmo cargos, chegando a casos reais de abuso sexual. Um deles, inclusive, resultou no suicídio de uma funcionária.

Os documentos do processo (que você pode acessar na íntegra CLICANDO AQUI), mencionam diversos nomes de funcionários importantes nos estúdios que estão envolvidos direta ou indiretamente nesses casos. Entre as denúncias, há declarações de empregados vítimas de abuso que, ao tentar fazer denúncias para o departamento de recursos humanos ou diretamente ao alto escalão, eram desencorajados, pois membros do setor de RH e da gerência eram amigos daqueles denunciados, fazendo vista grossa para todos esses casos.

Um dos nomes citados é o de Alex Afrasiabi, que deixou a Blizzard em 2020. Muitas denúncias de assédio relatam que ele era muito direto em seus ataques à mulheres, dentro do ambiente de trabalho e em eventos, como a própria BlizzCon. Há ainda registros de que o presidente da Blizzard, J. Allen Brack, sabia dos casos. E ao conversar com Afrasiabi sobre esses casos, era condescendente, jogando panos quentes e não colocando um fim em seus comportamentos inadequados.

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Um dos NPCs de World of Warcraft que homenageiam Afrasiabi.

Alex Afrasiabi, inclusive, foi um dos grandes nomes na produção de World of Warcraft, com várias referências a seu nome dentro do MMO, de NPCs até itens. E após essas denúncias, centenas de jogadores de WOW reuniram-se em seus servidores em protesto, discutindo sobre as denúncias e exigindo a remoção dessas referências, ou pelo menos que elas sejam renomeadas.

A Activision Blizzard alega que todas essas denúncias são falsas, que a DFEH, e os “congressistas” por trás do órgão estão meramente tentando manchar a imagem da empresa sem dar a eles o direito de defesa. A empresa alega que irá a julgamento provar que nenhum desses casos é real e que não representam “A Blizzard de hoje em dia”, além de alegar que a DFEH está pintando uma imagem falsa do “passado da Blizzard”.

Após esse processo contra a Activision Blizzard vir a público, um novo relatório surgiu ao público, referente as razões pela qual Warcraft 3 Reforged foi um fracasso.

Lançado no início de 2020, o game estava cheio de bugs, tinha um visual muito aquém do prometido, um multiplayer injogável por muitos problemas de conexão, a Blizzard decidindo tomar para si as criações dos jogadores dentro do game através de direitos autoriais, literalmente matando a criatividade dos jogadores, que foi o que tornou o Warcraft 3 original no enorme sucesso que é até hoje.

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Entre os inúmeros problemas, havia o HUD mal otimizado com legendas que cobriam quase toda a tela.

Isso sem contar em diversos recursos e melhorias prometidos que não foram entregues. O novo relatório enfim explica o que aconteceu para que esse lançamento desastroso tenha ocorrido. O resumo da ópera é o que já se esperava: Corte de custos, mal gerenciamento da produção e descaso de investidores e da alta cúpula.

O projeto teria começado de forma ambiciosa, com a equipe regravando diversas linhas de diálogo do game e reescrevendo sua história (duas das promessas não entregues pelo remake), porém a equipe era pequena e logo começaram os problemas.

Quando os produtores informaram a direção do estúdio sobre eles, foram ignorados. Além disso, com custos reduzidos e uma falta de direção para o projeto, nada estava dando certo. E com o prazo para entregar o game estava se aproximando, a Activision Blizzard ignorou todos os problemas e exigiu seu lançamento. O game tinha que ser lançado e vendido.

Pois bem, o que aconteceu depois todo mundo já sabe. Um desastre. Esse relatório inclusive bate com a situação do estúdio na época. Pois em 2019, centenas de funcionários foram demitidos sem aviso, literalmente chegando de manhã para trabalhar apenas para serem informados que estavam sendo mandado embora.

Tudo isso por “corte de custos” e mudanças de filosofia dentro do estúdio, por conta da interferência direta da Activision, cujo foco era no lucro alto e rápido, com baixo custo de produção. Uma receita que qualquer um sabe que não dá certo quando se trata de grandes estúdios e títulos AAA.

Todos esses casos citados surgiram como um vulcão que entrou em erupção dentro da Activision Blizzard. Fãs do estúdio estão revoltados, e com razão. E agora temos o governo americano agindo diretamente contra o estúdio após anos de investigação.

Outro reflexo dessas denúncias veio da Bungie, que fez parte do grupo da Activision até 2019, quando tornou-se independente. O estúdio lançou uma nota pública anunciando sua completa intolerância a toxicidade em seu ambiente de trabalho. Com declarações bem incisivas contra o que está acontecendo na Activision Blizzard.

Levando em conta que antes do fim de seu contrato com a Activision a situação entre a gigante e a Bungie estava bem crítica e nociva, não é de se estranhar essa reação, principalmente pois, após a separação dos estúdios, alguns funcionários vieram a tona comentar como essa “relação” era caótica. Enquanto outros diziam que era ruim, mas não tudo isso.

Com tudo isso, a Activision Blizzard está numa péssima situação interna e externa. Toxicidade, racismo e abusos são inaceitáveis em qualquer ambiente, e apesar das defesas da empresa, continuam a surgir denúncias de má conduta dentro de seus estúdios. Teremos então que esperar para acompanhar o desenrolar desse terrível caso.

(Via: Game Informer, Kotaku, PC Gamer)

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