Análise Arkade: Valley, o impressionante novo jogo dos produtores de Slender: The Arrival

27 de agosto de 2016

Análise Arkade: Valley, o impressionante novo jogo dos produtores de Slender: The Arrival

Os produtores do fenômeno Slender: The Arrival entregaram esta semana seu novo game: Valley tem uma pegada diferente e bem interessante, vem conferir nosso review!

Mistério no vale

Valley te coloca no papel de um pesquisador que está em busca da LifeSeed (semente da vida). Suas buscas te levam até um vale “secreto” exuberante, onde, aparentemente, a LifeSeed já foi encontrada no passado, e utilizada para fins misteriosos (e altamente questionáveis) por um projeto “científico” chamado Pendulum.

Pouco depois da sua chegada, você encontra a L.E.A.F. Suit, uma espécie de traje cibernético meio steampunk que era utilizada pelos pesquisadores de antigamente — chamados Pathfinders –para se locomover pelo amplo vale em busca de segredos. Coincidentemente (ou não), a L.E.A.F. Suit cabe como uma luva no personagem, que irá se aproveitar das habilidades fantásticas do traje para explorar o vale as instalações em ruínas que estão ali.

Análise Arkade: Valley, o impressionante novo jogo dos produtores de Slender: The Arrival

A história de Valley é um tanto subjetiva, mas possui uma mensagem poderosa (e bem atual). Quase tudo é contado através de audiologs e anotações que você vai encontrando. O que começa como uma aventura simpática e colorida logo vai assumindo contornos mais sombrios, conforme você vai descobrindo o que aconteceu no vale em décadas passadas.

Sendo bem honesto, o clima de “conspiração” que vai se revelando lembra um bocado o excelente Bioshock, e até um pouco das influências da identidade visual meio steampunk do neo-clássico da Irrational Games pode ser sentida aqui. Por mais fragmentada e indireta que seja, a história de Valley é muito interessante, e a mensagem que ela passa é cada vez mais importante neste nosso mundo real.

O senhor da vida e da morte

A L.E.A.F. Suit será sua maior aliada em Valley. Além de permitir que você corra muito rápido e realize saltos enormes — no melhor estilo Hulk — ela ainda lhe concede o poder digno de um deus: você pode absorver a energia vital de criaturas vivas para “recarregar” suas energias… ou pode trazer de volta a vida criaturas mortas.

Tipo assim ó:

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Esta “magia” ocorre ao pressionar de um botão, e, embora não haja lá muita variedade de criaturas para você dar/tirar a vida (basicamente plantas, cervos, coelhos e os Daemons, uns fantasminhas verdes esquisitos), a vida do vale em si tem um papel fundamental no game: quando você morre, drena a energia das formas de vida do vale para reviver, de modo que, se todas as plantas e animais de uma região morrerem, você não pode mais dar respawn.

Confira mais de 10 minutos de gameplay que capturamos abaixo. Este trecho é logo depois do personagem “vestir”L.E.A.F. Suit no início do jogo, por isso há um ar de tutorial, pois eu ainda estava aprendendo os poderes do traje:

Esta dicotomia de drenar a vida para reverter a morte — chamado de quantum death pelo jogo — é bem interessante, ainda que não seja tão bem explorada no decorrer da campanha: basta ter um pouco de cuidado (e manter plantas e animais vivos) para que a morte não se torne necessariamente um problema para você. Claro que há mais impacto nesta questão de vida x morte no panorama geral da história, mas sobre isso a gente fala logo mais.

Correndo, saltando e aproveitando o momentum

Ainda que Valley tem uma vibe semelhante à dos famigerados walking simulators — sub-gênero do qual eu não sou um grande fã –, felizmente a L.E.A.F. Suit altera bastante a dinâmica do jogo, pois permite que você corra a velocidades incríveis e cruze dezenas de metros com um único salto. Conforme progride na campanha, ela ainda será “turbinada” com um grappling hook, e permitirá até que você desafie as leis da gravidade correndo pelas paredes ou até mesmo sobre a água!

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A silhueta de um Pathfinder usando a L.E.A.F. Suit.

Essa sensação de liberdade e velocidade que o game propicia é simplesmente espetacular. Correr pelas belas planícies do jogo coletando orbes de energia e restaurando a vida de árvores mortas é uma atividade mecanicamente simples, mas muito empolgante. Também rolam alguns trechos mais elaborados de plataformas, mas não é nada impossível, até porque a jogabilidade em si é bem simples e intuitiva.

Quando pintar um abismo que parece intransponível, fique de olho nas pistas que o cenário te dá, pois tão importante quanto correr e saltar você também deve aproveitar o momentum, pegando embalo em ladeiras e rampas para garantir o impulso necessário. Variações deste tipo de situação — envolvendo o grappling hook e pisos quebráveis — aparecem ocasionalmente, exigindo que você esteja sempre ligado nos arredores para não acabar “preso” em uma área.

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Há também um pouquinho de combate no jogo: o vale é “patrulhado” por entidades feitas de pura energia — chamados Amrita Swarms — que irão lhe atacar com orbes de energia ou “correr” na sua direção. Sem armas reais, o que você pode fazer é gastar seus “tiros” que concedem vida para “pacificar” estas criaturas. Existem diferentes tipos de Amrita Swarms, e com o tempo elas vão se tornando mais agressivas.

Uma mudança brusca

Valley começa de um jeito muito colorido, com seu personagem correndo solto por amplas planícies ensolaradas cheias de plantas, córregos e cachoeiras. As primeiras 3 ou 4 fases são muito vivas, ágeis e empolgantes.

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O jogo começa assim…

Porém, de repente parece que a Blue Isle Studios resolveu honrar sua fama de “produtora de Slender: The Arrival, e muda drasticamente o tom do jogo. Saem as planícies verdejantes e ensolaradas, entram bases em ruínas, túneis escuros, cavernas subterrâneas e complexos militares abandonados.

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Mas logo fica assim.

Essa quebra é feita de maneira brusca, o que causa certa estranheza — especialmente porque o começo do jogo é muito legal. O ritmo acelerado e divertido do início assume um tom mais sombrio, e o jogo flerta de leve com o terror ao usar sons, sombras e silhuetas para criar uma atmosfera de tensão. Isso afeta até as mecânicas mais interessantes do jogo — correr e saltar — e ele acaba ganhando um ritmo mais lento, pois você diminui a marcha da exploração para coletar anotações e audiologs enquanto suga a energia de geradores e evita sentinelas pentelhas.

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Easter egg de Slender detected! :o

Pessoalmente, acho que rolou uma “crise de identidade” forte aí que acabou tirando um pouco do brilho do game — literalmente e figurativamente. Entendo que conforme você elucida os segredos do vale ele tenha que “se transformar” em algo mais sinistro e misterioso, só acho que essa mudança foi muito repentina, e o tempo que você passa “desacelerado” explorando ruínas e cavernas genéricas mancha um pouco a ótima primeira impressão que o jogo deixou antes…

Felizmente…

Felizmente essa mudança não dura até o final do jogo, que restabelece um pouco de sua vivacidade antes da reta final — em um dos trechos de plataforma mais legais da história, aliás. A campanha de Valley durou cerca de 9 horas para mim, e acho que cerca de 4 dessas horas foram “escuras” e um pouco apáticas, ainda que esclarecedoras em termos narrativos . No geral, o saldo ainda é bem positivo.

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Também compensa muito o fato de que o final do jogo é simplesmente incrível. Ainda que a mensagem passada seja bem piegas — preservação do meio ambiente –, ela é passada de maneira muito impactante, fugindo dos clichês para surpreender o jogador aos 45 do segundo tempo. O fim do jogo revela algumas “verdades” bem dolorosas sobre o vale, a L.E.A.F. Suit e tudo o que aconteceu ali.

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Fecha com chave de ouro o fato de o fim do jogo ter um ritmo alucinante, e também o fato de você poder chegar a mais de um final diferente. Em alguns momentos (leia-se os trechos escuros e cheios de túneis e ruínas) eu quase quis que Valley fosse mais curto, mas não desanime, pois as revelações que te esperam no final da jornada fazem ela valer a pena.

Audiovisual

Produzido com a sempre versátil engine Unity, Valley é um jogo muito bonito. Mesmo quando você está correndo a toda ele flui bem, o que é essencial para transmitir a sensação de velocidade proposta. Claro que as texturas ficam meio grosseiras quando vistas de perto, mas quando você observa a paisagem como um todo, o resultado é bem bacana.

Por falar em velocidade, confira mais um pouco de gameplay, desta vez mostrando uma frenética corrida por trilhos eletrificados que dão um boost nas habilidades do seu traje! Bote um reparo especial na trilha sonora, que é muito boa!

Apesar disso, o level design deixa um pouco a desejar, entregando ambientes vazios e genéricos — especialmente na segunda metade do jogo, com todos os seus complexos militares e túneis que são essencialmente iguais.

Faz falta também um pouco mais de direcionamento na hora de cumprir os objetivos: em muitos casos seu objetivo está acima ou abaixo de você, mas é difícil perceber isso (no escuro, fica ainda pior) de modo que pode ocorrer de você ficar “batendo cabeça” até encontrar a passagem correta. Isso sem contar as (muitas) vezes em que o objetivo sequer é sinalizado pela “bússola”, o que deixa o jogador ainda mais perdido.

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O áudio como um todo é muito bom. A trilha sonora orquestrada combina lindamente com o jogo, e a maneira como ela evolui — inserindo pausas dramáticas e crescendos — para acompanhar a cadência dos seus saltos durante a exploração é muito legal, ainda que em alguns casos a “emenda” da trilha fique bem nítida.

Temos vozes basicamente em audiologs, e elas são muito boas, apaixonadas e convincentes. Os sons ambientes cumprem bem seu papel na hora de inserir o jogador naquele universo. Infelizmente, o jogo está 100% em inglês, e as legendas (meio bugadas) geralmente não acompanham a fala dos audiologs, então é fundamental que você tenha um bom nível de entendimento do idioma para não ficar boiando.

Conclusão

Apesar de ser meio inconstante, Valley oferece uma experiência diferenciada e bem impressionante. Ele não é um walk simulator, nem um jogo de plataforma,  nem um jogo focado em história, mas passeia por tudo isso com bastante segurança enquanto você explora cada cantinho do belo, mas misterioso vale que dá nome ao jogo. E, sem exagero, correr e saltar pelo vale é uma das coisas mais empolgantes que um game me proporcionou nos últimos tempos. Passa uma sensação de liberdade muito poderosa.

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Salvo a notável crise de identidade que acomete o jogo de uma hora pra outra, no geral ele oferece uma experiência satisfatória e um final incrível. Você vai se sentir estimulado a seguir em frente, seja pelas habilidades empolgantes da L.E.A.F. Suit, seja pela história, cuja pegada enigmática e conspiratória vai te manter interessado, por mais fragmentada e indireta que seja.

Se os jogos que “passam uma mensagem” estão cada vez mais em alta — vide Firewatch, ABZÛ e tantos outros — acho que Valley é o que melhor mistura uma história instigante com boas mecânicas de gameplay na hora de passar a sua mensagem ao jogador. Acho que só por isso ele já merece um espacinho na sua coleção.

Valley foi lançado em 24 de agosto. O game está disponível para PC, Playstation 4 e Xbox One.

Uma resposta para “Análise Arkade: Valley, o impressionante novo jogo dos produtores de Slender: The Arrival”

  • 28 de agosto de 2016 às 22:26 -

    Glauco Lima

  • gostei muito da proposta do jogo! irei comprá-lo o quanto antes para explorar o vale por mim, mesmo, kkkkkkkk

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