Análise Arkade: MediEvil no PS4, um remake que respeita suas origens do PS1

23 de outubro de 2019
Análise Arkade: MediEvil no PS4, um remake que respeita suas origens do PS1

Há quem diga que estamos vivendo a geração dos remakes e remasters. A Sony segue apostando firme no poder dos seus clássicos, e (re)lança — bem a tempo do halloween — MediEvil, um clássico pseudo-cult dos tempos do Playstation 1!

De volta do túmulo

MediEvil conta a história de Sir Daniel Fortesque, um valoroso cavaleiro que deu sua vida em uma sangrenta batalha para acabar com os planos do temível mago Zarok… ou pelo menos é o que diz a lenda.

Um século de paz instaurou-se no reino de Gallowmere. Sir Daniel jazia devidamente morto em sua última morada quando Zarok decidiu retornar do mundo dos mortos para uma nova investida de terror. Utilizando sua necromancia, ele reanima diversos cadáveres do cemitério local… incluindo o próprio Sir Daniel, que precisará deixar o descanso eterno para mais tarde se quiser livrar o mundo (mais uma vez) das garras de Zarok.

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Longe de ser o guerreiro de outrora, Sir Daniel agora é pouco mais que um esqueleto (sem mandíbula) dentro de uma armadura. Para dar fim aos planos do vilão, ele precisará encarar hordas de zumbis e monstros, bem como emprestar armas de outros heróis do passado, a fim de se fortalecer para o novo round do combate.

Nostalgia: uma faca de dois gumes

MediEvil é mais um destes remakes modernos que segue à risca o conteúdo original, mas dá uma boa melhorada nos gráficos para tornar o jogo condizente com os dias atuais. Já vimos as séries Crash Bandicoot e Spyro the Dragon receberem tratamentos semelhantes nós últimos anos, e MediEvil é “farinha do mesmo saco”.

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Eu joguei MUITO MediEvil nos tempos do Playstation 1. Lembro de ter terminado o jogo mais de uma vez, e a busca por todos os cálices (que despertariam todas as estátuas do Salão dos Heróis) deu um bocado de trabalho ao meu eu de duas décadas atrás.

Apesar de naquele tempo eu ter um senso crítico bem menos exigente, gostava do tom “cartunesco dark” do jogo, que subvertia consideravelmente o terror em algo que é “bonitinho”, mas que ainda pode ser um tanto assustador. Tipo filmes como Coraline e O Estranho Mundo de Jack, saca?

Apesar disso, eu sentia que o jogo era um tanto… desajeitado. O gameplay era funcional, mas não exatamente satisfatório. Sei que estamos falando de uma época em que os controles sequer tinham analógicos, mas jogos como Metal Gear Solid comprovam que era possível fazer algo mais “macio” de se jogar.

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Pois bem, 20 anos e 3 gerações de games depois, o gameplay de MediEvil ainda não é lá essas coisas. Novamente ele é apenas funcional, mas não tem a fluidez e o requinte de um legítimo jogo de 2019. O jogo ainda parece um tanto duro e desajeitado, e isso não necessariamente tem a ver com o fato do protagonista ser um esqueleto.

A irretocabilidade dos clássicos

Entendo que esta deve ter sido uma decisão consciente para manter o feeling do jogo original, mas volto a questionar até que ponto clássicos são irretocáveis. Do meu ponto de vista, mudanças que tornem a experiência de jogo como um todo melhor deveriam ser consideradas na hora de (re)lançar games antigos.

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Controles imprecisos deixam os trechos de plataforma não lá muito divertidos

Isso não é um problema exclusivo de MediEvil, e já apontei algo semelhante em outros remakes que analisei. Minha questão é: por que diabos apenas o visual merece ser melhorado? Qual o problema em melhorar também o gameplay?

Dito isso, mecanicamente este MediEvil de 2019 se comporta de forma extremamente similar ao jogo de 1998. Você ainda vai morrer em pulos mal calculados, e terá que se acostumar com uma hitbox não muito precisa e uma mecânica de defesa que deixa bastante a desejar.

Claro que hoje em dia temos facilidades como autosaves (que rolam ao final de cada fase, então nada de sair na metade), mas no geral acho que um polimento nas mecânicas de combate e locomoção seriam muito bem-vindas, e tornariam a jornada de Sir Daniel muito mais aprazível.

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Mas, sei que isso é questão de gosto, e os puristas sem dúvida vão apreciar a fidelidade do conteúdo. Avaliando o jogo pelo que ele é (e não pelo que eu gostaria que ele fosse), MediEvil entrega uma experiência bastante nostálgica — com as qualidades e defeitos que essa nostalgia abrange.

Conceitos diferenciados

Embora eu ainda me lembrasse de muita coisa do MediEvil original, confesso que me surpreendi ao relembrar como ele trazia conceitos inovadores para a época. Quem paga pau para os Estus Flasks e seus derivados dos Souls-likes de hoje em dia deveria saber que MediEvil já tinha poções de vida consumíveis (que podiam ser recarregadas e, felizmente, eram usadas automaticamente) lá em 1998!

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Pisar nessas fontes de luz verde regenera sua vida e enche (algumas) de suas poções

Além disso, embora seja um jogo de fases, o jogo tem um pezinho no MetroidVania: certas fases possuem barreiras que você só vai conseguir superar depois que conseguir um item/arma específico. E o jogo não necessariamente vai te dizer do que você precisa, então quando desconfiar que encontrou algo útil, revisite a fase (pelo mapa) e experimente.

MediEvil também trazia um conceito de sidequest que é um bocado diferente, mesmo para os padrões atuais: há alguns caldeirões em certas fases do jogo, e ao usar o medalhão neles, as bruxas surgem para lhe pedir coisas. Talvez o mais memorável destes momentos seja a incursão ao formigueiro, onde devemos coletar âmbar para a bruxa, mas também podemos libertar pirilampos (objetivo opcional que libera o cálice da fase), e dar cabo da temível formiga rainha.

O próprio Salão dos Heróis é um adendo diferenciado: você só pode acessá-lo quando coleta o cálice de uma fase, mas ele 1) precisa estar com 100% de almas e 2) geralmente fica escondido em algum canto não muito óbvio. Neste Salão, estátuas de outros heróis lhe cederão suas armas para aumentar suas chances de vitória. E, conforme recolhe cálices, sua própria estátua vai se solidificando, indicando que Sir Daniel está em sua própria jornada para ser o herói que a lenda diz que ele é.

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O Salão dos Heróis só se abre quando você tem um cálice para colocar à mesa

Acho que isso tudo contribui com o fator “pseudo-cult” que o jogo possui. Ele não me parece estar no mesmo patamar de Crash Bandicoot, Final Fantasy VII e Metal Gear Solid, mas ainda assim, há um temperinho extra que torna a aventura de Fortesque especial.

Audiovisual

Vou te falar a verdade: não achei este remake de MediEvil tão bonito assim, não. Acho que a estética diferenciada (um tanto geométrica) do jogo não deu tanto espaço para que o jogo realmente desabrochasse depois de refeito. Claro que se colocado ao lado do jogo de 1998, ele é lindo, mas não surtiu em mim aquele efeito “uau” que rolou com Crash e Spyro.

Mas é aquilo: Crash e Spyro são personagens bem mais fofinhos, que vivem em mundos bem mais fofinhos. Aqui temos zumbis, espantalhos e cemitérios por todo canto, então creio que não havia como mudar muito sem descaracterizar o conjunto da obra. O que quero dizer com isso é que, enquanto alguns remakes podem facilmente se passar por jogos atuais, MediEvil, esteticamente, meio que entrega a idade.

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Já os novos efeitos de iluminação criam toda uma atmosfera bacana

Mas isso não é nada que chegue a incomodar, e a criativa direção de arte entrega um mundo que está sempre no limiar entre o bonitinho e o sombrio. E, ressaltando o que foi (muito) melhorado, as novas texturas, superfícies reflexivas e efeitos de iluminação modernos sem dúvida deixam o jogo muito mais charmoso do que ele jamais poderia ser em 1998.

A trilha sonora original foi toda regravada, e continua sendo muito boa, tendo um jeito muito próprio de dar ritmo ao jogo (em muitos casos ela é quase incidental). Outro ótimo destaque no departamento sonoro é que agora temos um jogo 100% localizado para o nosso idioma — com dublagens, menus e legendas.

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Sir Daniel é o único que não fala em português (até porque ele mal consegue falar)

Aqui fica uma salva de palmas para a Sony, que segue acertando a mão na localização de seus títulos. E o melhor: ela não está dando este tratamento especial apenas aos principais Triple A’s, mas a todos os seus exclusivos — recentemente, Concrete Genie também chegou dublado.

Conclusão

Rejogar MediEvil tantos anos depois foi uma experiência que me deixou dividido: por um lado, foi um prazer revisitar a vida após a morte de Sir Daniel Fortesque e constatar que ela ainda funciona, e ainda foi capaz de me surpreender com alguns conceitos até que bem avançados para a época.

Em contrapartida, muitas questões de jogabilidade e game design que já me incomodavam um pouco no jogo original seguem presentes. O jogo merecia ser mais fluido, macio, gostoso de jogar. O preciosismo acaba impedindo que melhorias em termos de mecânicas e qualidade de vida fossem implementadas.

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Só para lembrar: escudos e clavas não duram para sempre (flechas e facas também não)

Assim, o que temos aqui é um jogo bastante fiel ao original — para o bem e para o mal. Se você curtiu MediEvil no PS1, possivelmente vai continuar curtindo no PS4. E, se nunca jogou, vai encontrar uma história bacana e um protagonista simpático, dentro de algumas mecânicas um tanto datadas. Ah, e se ainda lembra de algum cheat code do PS1, experimente usá-lo no novo jogo! ;)

MediEvil será lançado nesta sexta (25 de outubro), exclusivamente para o Playstation 4. Este review foi feito graças a uma cópia que recebemos antecipadamente dos camaradas da Sony Playstation do Brasil.

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