Análise Arkade: The Quarry, um amontoado de clichês de filmes de terror adolescentes

1 de julho de 2022
Análise Arkade: The Quarry, um amontoado de clichês de filmes de terror adolescentes

Quem acompaha o trabalho da Supermassive Games sabe que a empresa meio que se especializou em um nicho: o das histórias interativas de terror.

The Quarry, mais recente lançamento do estúdio, apresenta uma atualização desta fórmula, que vem sendo lapidada desde os tempos de Until Dawn… mas, ao mesmo tempo, também não traz nada de muito inovador para o gênero.

Bem-vindo ao acampamento Hackett’s Quarry

The Quarry se passa no acampamento Hackett’s Quarry, aquele típico acampamento de férias estadunidense que a gente já viu em diversos filmes (nem todos de terror).

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O que deveria sr o último dia de acampamento para um grupo de jovens —  Abigail, Dylan, Emma, Jacob, Kaitlyn, Nick e Ryan, (além de Laura e Max, que estão “em outra timeline”) — acaba se tornando um pesadelo e uma luta pela sobrevivência quando eles, obviamente, acabam ficando presos lá.

Aí, muitas coisas estranhas começam a acontecer: algumas criaturas humanoides pra lá de sinistras começam a surgir na mata, botando medo nos adolescentes. Para piorar, uma dupla bizarra de caçadores está na região, e eles não estão interessados em caçar apenas animais — se é que você me entende. Até o xerife da região é um sujeito meio macabro, ou seja, não tem muito para onde correr.

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Tem como confiar num xerife assim?

Dramas adolescentes… quem se importa?

The Quarry quer que você simpatize com os jovens e se importe com eles… mas, na minha opinião, não faz um bom trabalho. Talvez eu já esteja velho demais para isso, mas todos os draminhas adolescentes que se arrastam pelas primeira horas de jogo não fizeram com que eu me conectasse (ou me importasse) com os membros do grupo.

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Não ajuda o fato dos personagens serem bastante estereotipados (a tímida, o atleta, a “blogueira”). Os relacionamentos, os romances e bincadeiras — incluindo o clássico Verdade ou Desafio ao redor da fogueira, outro clichê — que rolam entre eles simplesmente não me fisgaram.

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“Momentos antes da desgraça acontecer”

E quando a gente não se importa muito com os personagens, o fato deles viverem ou morrerem meio que não importa muito, sabe? O clima de tensão e terror se perde no meio de situações bobas e mortes tragicômicas. Sendo bem honesto, eu só segui jogando (ou seria assistindo?) para acompanhar o desenrolar da história — que, por mais previsível e cheia de clichês que seja, mas funciona como obra de entretenimento.

As decisões que tomamos, os QTEs que acertamos (ou falhamos) levam a narrativa por diferentes caminhos. Dizem por aí que The Quarry possui nada menos que 186 finais únicos. Jogando, eu fiz um final onde apenas 2 jovens morreram. No “Modo Filme” (já falo mais sobre isso), decidi ver o final em que todos morrem. Agoras faltam “apenas” outros 184 finais para eu ver… mas realmente não me sinto compelido a jogar de novo e de novo — embora eu saiba que este é o apelo desse tipo de jogo.

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Voltar ao chalé ou apreciar a paisagem?

Muito desse meu desinteresse se deve à dublagem. O elenco do jogo traz alguns bons atores de filmes e séries — incluindo David Arquette, da franquia Pânico, Ariel Winters de Modern Family e Justice Smith, protagonista de Detetive Pikachu –, mas as dublagens brasileiras são, em geral, péssimas. As falas não se conectam de forma natural, o que faz com que muitas conversas sejam duras de acompanhar de tão artificiais.

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Isso para não mencionar os trocadilhos ruins, tipo “cervejadar”…

Vou deixar um exemplo abaixo, para você não achar que eu estou exagerando. Tire suas próprias conclusões:

Repare que as dublagens e as legendas nem sempre dizem a mesma coisa

As dublagens pobres só pioram um roteiro que não se esforça muito para ir além da cartilha básica do “terror adolescente”, e é repleto de clichês e diálogos mal escritos. E é arrastado, também: a campanha de The Quarry pode se esticar por umas 10 horas, com capítulos extremamente longos (especialmente o 7) que tornam a experiência bem cansativa.

Mas é pra jogar ou assistir?

The Quarry segue a fórmula de gameplay estabelecida pela Supermassive Games em seus outros jogos, ou seja: a gente passa mais tempo assistindo do que jogando, e nossas ações limitam-se a QTEs, os famosos Quick Time Events — ou EARs, Eventos de Ação Rápida, segundo a tradução oficial em português — e a tomar decisões em momentos específicos.

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As decisões podem eenvolver caminhos ou mesmo comportamentos diferentes

As ações de contexto envolvem basicamente comandos no direcional analógico, com uma janela relativamente grande de acerto. Fora isso, o gameplay se resume a explorar alguns ambientes bem limitados em busca de pistas, itens e informações. Também é possível encontrar cartas de tarô que, seguindo a tradição da produtora, nos permitem vislumbrar algumas possibilidades de futuro.

Entre as novidades, temos a possibilidade de segurar a respiração em algumas situações tensas, bem como um número bem limitado de “vidas”, que podemos usar para rebobinar o tempo e tentar impedir que algum personagem morra. Ambos os recursos devem ser utilizados com cautela.

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Gaste vidas para evitar (algumas) mortes, mas use o recurso com cautela

The Quarry é tão consciente de suas limitações como “jogo” que traz, já de cara, um “Modo Filme“, onde você pode deixar o controle de lado e apenas assistir ao jogo, pulando os QTEs/EARs, as decisões e os trechos de exploração (que, convenhamos, não agregam muito, mecanicamente).

Com opções de “Todos Vivem”, “Todos Morrem” e a “Cadeira do Diretor” — onde podemos estabelecer certos padrões de comportamento para cada personagem e ver como isso afeta a narrativa. O lado ruim é que, “jogar” no “Modo Filme” desabilita os troféus e conquistas do jogo.

Audiovisual

Cada vez mais eu me pergunto porque diabos a Supermassive Games não trabalha com filmes logo de uma vez — ou com jogos realmente filmados, como os bons e velhos games em FMV, que andaram ganhando uma repaginada nos últimos anos graças, em grade parte à Wales Interactive, que vem lançando um punhado de filmes interativos.

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Sim, é a atriz da Alex, de Modern Family :)

Digo isso porque eles já gastam um caminhão de dinheiro contratando atores e lienciando músicas famosas. Recriar os atores digitalmente para deixar tudo “com cara de videogame” é uma etapa que não precisaria estar ali — na minha opinião. Façam um filme, logo, oras.

Até porque, convenhamos, é aí que as escorregadas acontecem. Por mais realistas que sejam os modelos, ainda rola aquele famoso uncanny valley, a estranheza que sentimos diante de seres humanos “de mentira”. Cabelos bugando, texturas popando do nada e sombras flickando são alguns dos problemas técnicos que rolam aqui — pelo menos na versão Xbox Series S, que foi a que joguei.

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Olhos e texturas de pele muito artificiais ainda causam o tal do uncanny valley

Como já dito, o jogo chega ao Brasil 100% em português — mas, a dublagem, como já dito (e demonstrado), não necessariamente contribui com a experiência — acho que para jogar com o áudio original, só mesmo mudando o idioma do sistema. Para quem planeja fazer live, o jogo traz o já conhecido “Modo Streamer“, que tira as músicas licenciadas para ninguém tomar strike.

Conclusão

The Quarry segue a fórmula que tornou a Supermassive Games famosa nos últimos anos. Ou seja, quem curtiu Until Dawn e a série The Dark Pictures Anthology vai curtir este aqui também. E, quem não curtiu, dificilmente vai passar a gostar do formato, visto que o jogo é um “mais do mesmo”.

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Para mim, infelizmente, o jogo não “clicou”. Por pior que seja, um filme de terror vai durar ali umas 2 horas, em média. Aqui temos um “quase filme” com cerca de 10 horas de clichês sangrentos e diálogos ruins. Demanda muito mais tempo, comprometimento (e dinheiro) do que “alugar” um filme ruim. Pois é, o preço é um fator que deve ser levado em conta, uma vez que The Quarry está com um preço absurdo, mesmo na Steam.

Sei que tem gente por aí gostando de The Quarry, e entendo que ele pode funcionar para muita gente — lembrando que o game tem um fator replay gigantesco, para quem aguentar rever tudo dezenas de vezes em busca de todos os finais possíveis. Eu não tenho tempo nem paciência para isso. Mas se você tem, vai fundo.

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Spoiler sem contexto

Mas recomendo que espere por uma promoção. Poucos jogos no mundo “valem” 350 reais, e este, definitivamente não é um deles.

The Quarry está disponível para PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One e Xbox Series X|S (versão analisada). O jogo está 100% em português brasileiro.

2 Respostas para “Análise Arkade: The Quarry, um amontoado de clichês de filmes de terror adolescentes”

  • 1 de julho de 2022 às 22:50 -

    Helinux

  • Acredito que o filme Sexta Feira 13 e Halloween foi influência e o pontapé inicial para muitos filmes e games!!!! Com o tempo foram produzido filmes de Eu sei o que vocês fizeram no verão passado e lenda urbana…teve outros, não lembro!!!! Sem contar que para jogos de PC e até mesmo no Nes teve o estilo Point Click em determinados games, posso citar o clássico Maniac mansion que tem algo haver com o estilo de filmes e determinados jogos de terror. Também teve a fase de jgos interativos e FMV em jogos de PC, Sega CD explorou muito isso também!!!!Until Dawn foi outro que eu gostei em determinadas partes, a ambientação do jogo me agrada e muito…tem todo aquele ar de mistério e suspense. Em termos de filmes, cutscenes em games…o ideal mesmo é que não seja muito grande, pode desanimar um pouco isso!!!! valeu pela a analise, me trouxe determinadas lembranças de alguns jogos e filmes dos tempos de VHS!!!! fui

  • 3 de julho de 2022 às 02:12 -

    Lilu

  • Sinceramente, concordei com boa parte da matéria. Em minha opinião, a Supermassive só acertou com Until Dawn (um dos meus jogos preferidos de terror), tanto The Quarry quanto a trilogia de The Dark Pictures deixaram muito a desejar, simplesmente não colou.

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