Análise Arkade: Bayonetta 3 e seu multiverso ambicioso (até demais)

17 de novembro de 2022
Análise Arkade: Bayonetta 3 e seu multiverso ambicioso (até demais)

Bayonetta 3 era um dos meus jogos mais esperados, desde que foi anunciado… porém, se passou TANTO TEMPO desde que ele foi anunciado que, confesso, minha empolgação pelo título acabou dando uma esfriada.

Porém, o jogo foi lançado há algumas semanas, e eu passei os últimos dias perdido no “multiverso da loucura” criado pela Platinum Games. Agora, chegou a hora de te dizer o que achei nesta análise!

O multiverso das Bayonettas

Depois de tretar com anjos e demônios em suas aventuras anteriores, Bayonetta agora vai encarar uma nova ameaça: os homunculi. Inicialmente não sabemos exatamente o que eles são, mas a chegada de Viola logo deixa a trama mais clara. Ah, e vale ressaltar que a história deste novo jogo é independente dos anteriores. Se este for seu primeiro contato com a franquia, pode vir sem medo: você não ficará “boiando”.

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Viola é uma Umbra Witch em treinamento que veio de outro universo. Um universo paralelo no qual Bayonetta e sua amiga Jeanne já estão mortas. E os homunculi são, basicamente, criaturas cujo único intuito é destruir o multiverso como um todo.

Quem criou os homunculi é algo que eu vou deixar para você descobrir jogando, mas uma coisa é fato: a treta aqui é grande. Se quiser salvar o multiverso, Bayonetta precisará viajar para diferentes realidades a fim de recuperar as Engrenagens do Caos, artefatos que, supostamente, podem virar a mesa neste conflito.

Um detalhe curioso é que a Platinum Games trata os diferentes universos meio que como lugares e épocas diferentes do nosso mundo. Então, não é como se fôssemos para um mundo maluco, totalmente diferente do nosso. O que de fato acontece é que vamos para o Egito, ou para uma versão pseudo-apocalíptica de Tóquio.

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Essa versão de Tóquio conta com um universo? Em Bayonetta 3, conta

Não que haja certo ou errado em um conceito puramente teórico como o multiverso… mas confesso que isso vai contra o que eu esperava, quando se fala de “multiverso”. Não estraga o jogo, nem nada do tipo, só não foi bem o que eu esperava.

Desconstruindo padrões

Apesar de ser o novo capítulo de uma série já bem estabelecida, Bayonetta 3 subverte muitos conceitos emblemáticos da franquia. Embora ainda seja um jogo de fases, ele é muito menos linear: cada fase na verdade é um grande hub, por onde podemos transitar livremente. Há segredos e colecionáveis para encontrarmos em cada fase, e “coletar” os sapos e gatos demoníacos fujões sem dúvida dará algum trabalho aos colecionistas.

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Por um lado, este maior escopo do jogo é promisor, mas é inegável que ele também torna a navegação um pouco confusa. Parece que os produtores quiseram arrumar um meio termo entre jogo de fases linear e jogo de mundo aberto. E o resultado é uma mistura que até funciona, mas que demanda um tempinho para o jogador se aclimatar.

Outra novidade: agora o arsenal da Bayonetta é muito mais direto ao ponto. Antes, podíamos equipar armas diferentes nas mãos e nos pés da personagem. Agora não é mais assim, os kits de armas meio que não levam em consideração os pés, mas isso é compensado pela maior variedade de equipamentos que vamos encontrar ao longo da campanha — cada um com suas respectivas habilidades.

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Uma das novas armas é um “trabuco” gigante

Viola, que também é uma personagem controlável, agrega suas próprias novidades. Seu gameplay é consideravelmente diferente do da protagonista, e até o Witch Time funciona de um jeito novo com ela — baseado em defesa, não em equiva. Se ela não evoca demônios como Bayonetta, sua katana pode se transformar em um imenso gato demoníaco — com um nome bem peculiar, dentro da série.

Traçando um paralelo com um jogo que você talvez conheça melhor, a dualidade de gameplay entre Bayonetta e Viola é como a de Dante e V em Devil May Cry V: existem similaridades aqui e ali, mas a experiência de jogar com uma é bem diferente da que temos com o outra.

Kaijus demoníacos

E, não podemos esquecer da maior novidade, que é a possibilidade de controlarmos os demônios colossais que são evocados (ou criados com os cabelos de Bayonetta), graças à nova mecânica Demon Slaves. Se nos jogos anteriores essas criaturas apareciam apenas em finalizações e momentos contextuais, em Bayonetta 3 elas podem ser chamadas quase em qualquer situação e possuem seus próprios ataques e golpes especiais.

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Claro que não dá para o jogador abusar deste recurso: há uma barra de magia que é consumida enquanto o demônio está em campo. Além disso, Bayonetta fica vulnerável enquanto “dança” para sua cria atacar. Por fim, se o seu demônio apanhar muito, ele pode se voltar contra você, o que agrega um interessante fator “risco x recompensa” à novidade.

Esta mecânica dos Demon Slaves um acréscimo muito interessante, que mostra como este é um jogo maior e mais ousado, que se esforça para ir mais longe. E o mais legal é que, ao longo do jogo, vamos encontrar diferentes demônios, que podem ser equipados e “summonados” para nos dar uma mãozinha nas batalhas. Cada um possui suas próprias peculiaridades, e ir descobrindo a melhor forma de utilizar cada um deles rende ótimas surpresas.

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Isso gera momentos grandiosamente insanos, com direito a um “Godzilla” surfando por prédios, enquanto um homunculi gigantesco toca o terror pela cidade. Ter mais controle destas criaturas colossais rende alguns dos momentos mais incríveis de Bayonetta 3… mas tamb´em cobra seu preço.

O preço da ambição

E o tal preço é cobrado nos aspectos técnicos. Bayonetta 3 é um jogo ambicioso, que sonha alto… mas que é exclusivo de um console com um hardware bem mais modesto. O Nintendo Switch “sua a camisa” para dar conta de entregar todas as maluquices mirabolantes que Hideki Kamiya e sua equipe colocaram no jogo.

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Não me odeiem, Nintendistas, mas é um fato: o Nintendo Switch é uma plataforma incrível, mas também tecnicamente limitada. Há um limite do que ele pode ou não fazer — e certos jogos extrapolam esse limite. É o caso de Hyrule Warriors 2, por exemplo… e de Bayonetta 3.

É como se o hardware do Switch acabasse virando um gargalo. O jogo se esforça, mas nunca alcança seu verdadeiro potencial, por estar “preso” a uma plataforma mais modesta. É louvável que o Switch segure os 60fps na maior parte do tempo, mas quando o framerate cai em momentos mais frenéticos, ele realmente despenca!

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Quando há muitas criaturas gigantes na tela e você evoca um dos seus monstros, o jogo meio que vira uma apresentação de slides — e infelizmente não estou exagerando. Não joguei em modo portátil (com o Switch fora do dock), mas acredito que isso não só deve deixar o jogo mais feio, como também comprometer ainda mais sua performance.

Além disso, o fato de termos cenários maiores, também faz com que eles pareçam mais… genéricos. Falta identidade, sabe? Não é aquele tipo de jogo que alguém bate o olho e fala “isso é Bayonetta 3. Sem contar que, com mapas maiores, vemos elementos muito menos detalhados. Coisas como pedras e cachoeiras são realmente feias, quando vistas de perto.

E por falar em “perto”, a câmera torna-se um problema quando há muitos bichos gigantes na tela. Ela se esforça para não perder Bayonetta de vista em meio ao caos — e o jogo deixa monstros gigantes transparentes para que a gente possa ver através deles — mas é fato que as coisas tendem a ficar confusas e bagunçadas, e a gente nem sempre entende o que está acontecendo.

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Olha que efeitos mais feios…

O que é uma pena pois, em termos de direção de arte, o jogo continua impecável. O design das protagonistas e dos homunculi é realmente inspirado. Bayonetta 3 segue sendo deliciosamente cafona, com suas cutscenes tão cinematográficas quanto ridículas. E eu adoro isso. O multiverso está acabando, mas Bayonetta nunca perde a pose — ao passo que Viola torna-se um bem-vindo alívio cômico, apesar da pose de punk durona.

Vale ressaltar que a polêmica substituição da dubladora de Bayonetta quase não é sentida. A substituta, Jennifer Hale, traz a mesma entonação, os mesmos trejeitos que Hellena Taylor criou para a bruxa. Se há algum estranhamento, ele dura poucos minutos, e logo os ouvidos se acostumam.

Conclusão

Com base em tudo isso, Bayonetta 3 me gerou sensações conflitantes. Por um lado, eu amo o fato dele ser ambicioso, grandioso. Por outro, sinto que o jogo acaba sendo vítima de sua própria ambição, o que afeta a qualidade do produto final.

Análise Arkade: Bayonetta 3 e seu multiverso ambicioso (até demais)

Eu adoraria ver Bayonetta 3 em um Playstation 5 ou Xbox Series X, rodando do jeito que ele merecia, e não duvido que a galera do PC vai fazer o jogo rodar de forma inacreditável graças aos emuladores e mods.

Mas, estou analisando o produto “real oficial”, que a Nintendo e a Platinum Games me entregaram, rodando na plataforma para a qual ele foi desenvolvido. E, neste cenário, seu desempenho deixa bastante a desejar.

Apesar disso, quando Bayonetta 3 consegue brilhar, ele brilha forte. E brilha daquele jeito cafona e exagerado que são tão característicos da franquia. A história é meio qualquer coisa e não aproveita o potencial do multiverso, e o jogo roda sofrido, mas, apesar de tudo isso, ainda é uma experiência única e muito divertida.

Análise Arkade: Bayonetta 3 e seu multiverso ambicioso (até demais)

Em um mundo tão cheio de roguelikes, Souls-likes e RPGs de mundo aberto genéricos, precisamos de mais jogos como Bayonetta 3. Jogos cafonas, frenéticos e malucos, que não se levam a sério. E Bayonetta 3 representa o ápice de tudo isso, ainda que de um jeito meio torto e capenga.

Bayonetta 3 foi lançado em 28 de outubro, exclusivamente para Nintendo Switch. Infelizmente, o jogo não possui nenhum tipo de localização para o nosso idioma.

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