Como foi a BGS do “reencontro”?

13 de outubro de 2022

Em 2019, a Brasil Game Show acontecia, com seus nomes e atrações, sem sabendo o que aguardaria, meses depois. Com a pandemia de covid-19 se alastrando pelo mundo no início de 2020, o evento, que já estava iniciando vendas de ingressos para aquele ano, teve de “puxar o freio”, e viver de lives na Internet entre outras ativações durante esse tempo.

Mas 2022 chegou e, enfim, uma nova Brasil Game Show aconteceu. E, “de raiva”, logo por toda uma semana. Foi a maneira a qual a organização resolveu trazer a “aura” de volta, com mais tempo para eventos, atividades e, também, o reencontro das pessoas. Assim, venha conosco, mais uma vez, dar “uma volta” nos corredores do evento, para conversarmos sobre como foi o evento, o que teve de interessante, e os desafios que a organização poderá encarar para a próxima edição.

O reencontro (ou novas amizades)

Talvez o que a BGS 2022 tenha significado pra muitas pessoas, foi a oportunidade do reencontro, ou de finalmente pessoas poderem se conhecer, afinal são dois anos sem evento, em meio a todas as questões envolvendo a pandemia de covid-19. A BGS sempre foi uma espécie de ponto de encontro entre amigos, que se conhecem e tem contato apenas no online, mas que moram em outras cidades, bem distantes um do outro.

E rever pessoas depois de tanto tempo tem um sabor especial, e foi o que fez o ambiente da BGS ser mais feliz. Mais do que conteúdo e atividades no evento, o que inclui a busca incessante por brinde por parte dos visitantes, poder reencontrar amigos depois de tanto tempo, ou mesmo poder ver de perto um influenciador ou um criador de conteúdo, é uma experiência única para quem estava presente nestes dias de evento.

Foi uma BGS interessante, e diferente das demais. Mesmo com pouco conteúdo focado em games neste ano (falarei disso mais pra frente), foram as pessoas que tornaram esta edição única. Seja entre amigos, ou pela possibilidade de se encontrar pessoas que são admiradas neste universo.

O ambiente

Quem esteve nos corredores percebeu: o ambiente era leve, e de muita alegria. A tonelada de influenciadores (mais de mil) presentes no evento, embora vista com olhos tortos pelos mais velhos, foi importante para o evento. Temos de nos lembrar que muitos destes influenciadores são streamers, que construíram suas comunidades durante a pandemia. Logo, era natural que seus inscritos, que vão de admiradores a amigos feitos online, pudessem se reencontrar no evento, para conversas e fotos.

Outra coisa que merece ser citado é que os micro e médio influenciadores, atualmente, possuem as comunidades mais engajadas, o que faz com que atraiam pessoas para a BGS, mais até do que grandes nomes do cenário. E, seja influenciador, famoso ou mesmo um amigo, a ambientação estava muito leve, mesmo com o cansaço natural de um evento deste porte.

Ao menos, até onde sei, nenhum incidente grave ocorreu durante os sete dias de evento. E pode ter certeza que saberíamos, pois questões desse tipo são potencializados pelas pessoas que participam do evento. Claro que quest˜oes dos mais variados tipos podem ter ocorrido, mas nada que signifique um problema grave de organização, ou mesmo uma falta de respeito imensa com quem estava no evento.

Era comum, inclusive, ver algo que a BGS, apesar de não ser perfeita neste quesito, sempre se esforçar: pessoas de cadeiras de roda, ou mesmo acamadas, andando pelos corredores e participando do evento. São raros os eventos que oferecem tamanha acessibilidade, e a Brasil Game Show seguiu este conceito, de forma respeitosa. Novamente, problemas podem acontecer aqui e ali, e devem ser reportados para o evento. Mas, mais uma vez, nada extremamente grave chegou até mim, o que me faz afirmar que a acessibilidade foi funcional.

No geral, o clima era de amizade e alegria pelos reencontros e novas amizades. O que faz com que a BGS seja, mais do que um evento de novidades e lançamentos, um evento de pessoas, onde todos aqueles que gostam de videogame, possam se encontrar e compartilhar da mesma alegria.

O conteúdo

Costumo dizer que o formato de eventos que conhecemos, aqueles com muitas novidades e até jogos não lançados para testes, irá diminuir pouco a pouco. Eles não deixaram de existir, mas com o avanço da Internet, que permite que as empresas possam ter iniciativas impensáveis anos atrás, estes eventos presenciais deixarão de ser espaços de apresentação de novidades para se tornarem festivais que celebram o videogame, e a amizade entre os fãs de games.

Mas teve conteúdo interessante sim. Entre as novidades, podemos citar Street Fighter 6, que trouxe gameplay para o público, Mario Rabbids, que também não foi lançado ainda, mas contou com jogatina para o público, e até novidades como a SpatialLabs, tecnologia da Acer que propõe jogatina em 3D, com o próprio monitor renderizando, em tempo real, os objetos do game. Nomes relevantes, como Shota Nakama (o músico japonês mais brasileiro de todos os tempos), e Takashi Iizuka, produtor de Sonic, deixaram os fãs do azulão da SEGA mais felizes.

O mercado nacional também representou bem, com a QUByte trazendo ao evento um hands-off de Project Colonies: 2120 MARS e o anúncio de Top Racer Collection, coletânea especial de Top Gear para consoles modernos. Até o Jovem Nerd anunciou game novo, sendo ele baseado em Ruff Ghanor, personagem que nasceu em um NerdCast, e que terá o apoio da Magalu Games.

Os estandes, em geral, ou ofereciam muitas atividades relevantes, como o Banco do Brasil ou a Twitch, ou se empenharam em atividades de palco, caso de Logitech, Samsung ou HyperX, ou ainda traziam novidades que geravam filas, como os simuladores de excelência da Pro Racing, uma experiência de Overclock na Kingston, ou a oportunidade de jogar com proplayers no estande da Kabum.

A presença da Marvel também foi interessante, mesmo trazendo apenas games conhecidos, como Spider-Man Remasterizado. Entretanto, abre espaço para que mais empresas do ramo tenham interesse de participar, como a Netflix, que inclusive precisa (e muito) divulgar sua plataforma de games.

E a área Indie também merece elogios. Os corredores estavam movimentados, e os jogos estavam incríveis. Logo mais falaremos de maneira mais profunda sobre este espaço, que merece destaque. Lamento apenas o BGS Jam, evento que contou com tantos jogos interessantes, feitos em 3 dias, não ter tido a cobertura necessária, pelo próprio evento. Muita gente nem soube da atividade,

Realmente, no que diz respeito a games, faltou muita coisa. Por exemplo, estamos perto do lançamento de God of War Ragnarok, e mesmo sabendo que o jogador brasileiro é um dos que mais adoram Kratos, nada do game foi levado à BGS, salvo um painel que discutiu o jogo e a franquia. Entretanto, mesmo essa ausência, ou mesmo o não comparecimento da Xbox, encaro como “problema”. Afinal, era um retorno, com questões que, com certeza, foram avaliadas muitas vezes e negociadas, renegociadas e negociadas de novo. Apenas espero que em 2023, tudo volte “ao normal”.

Mas, não encaro isso como um “defeito” do evento, já que o momento atual, somados aos desafios que a BGS encarou, foram muitos.

Os desafios para 2023

Como dito, trazer mais conteúdo em games, mesmo comentando que este tipo de evento está mudando muito do que era seu formato nas décadas passadas, será um desafio para a BGS. Mas, desta vez ela pode argumentar com estúdios, com operação no Brasil ou não, de que o público comparece. Assim, acredito que não só a Xbox retornará no próximo ano, como as “três” grandes poderão se preparar para voltar a trazer atrações de peso, como no passado.

Um outro desafio importante está relacionado à Internet. O mundo evoluiu e, agora, quase tudo depende do smartphone. Assim, stands usam mais QR Codes, conteúdos virtuais podem ser brindes, e até o Pix se tornou forma de pagamento. Porém o Expo Center Norte não é dos melhores locais para redes de celular, e isso atrapalhou muito estande em apresentar suas novidades. Sei que houve oferta de Wi-Fi gratuito, mas ainda não foi suficiente. Logo, imagino que uma parceria com operadora ou algum patrocinador de peso, para prover Internet de qualidade, seria fundamental para melhorar este quesito.

Claro, falar é fácil, e não sou eu quem irá estar na mesa de negociações. Porém é de extrema importância refletir sobre uma entrega de Internet melhor, tanto para a comunicação interna, quanto para os próprios estandes contarem com mais oportunidades de interação.

Outro ponto é em relação aos futuros eventos. Os concertos da BGS 2022, que foram excelentes, foram prejudicados por causa dos estandes em volta, com suas músicas e apresentações acontecendo em simultâneo. A BGS teve no passado a Game Music Brasil, em local separado, com várias atrações relacionadas à Game Music. Seria a hora de pensar em algo neste sentido para o futuro, novamente.

Mas, desafios a parte, não tem como negar que, apesar de todo este momento histórico que o mundo viveu, e a repercussão disso no mundo dos games e do próprio evento, a BGS 2022 conseguiu entregar mais do que o esperado. Mesmo com os temores de poucos anúncios, até o mês passado, o evento demonstrou ter trabalhado duro para entregar, dentro do possível, o importante retorno às atividades. Agora resta aguardar 2023, onde temos de certeza até agora que teremos a volta dos cinco dias de atividades, além de três nomes (não revelados), confirmados.

Junior Candido

Conto a história dos videogames e da velocidade de ontem e de hoje por aqui!

Mais Matérias de Junior