Análise Arkade – Avatar: Frontiers of Pandora encanta, mas ainda é um “Ubisoft: The Game”

14 de janeiro de 2024
Análise Arkade - Avatar: Frontiers of Pandora encanta, mas ainda é um "Ubisoft: The Game"

Uma das promessas para o final de 2023 era o mais novo projeto da Ubisoft lançado com exclusividade para a nova geração e PCs. Avatar: Frontiers of Pandora é o primeiro jogo da franquia de James Cameron desde 2009, quando Avatar: The Game chegou, duas gerações de consoless atrás.

O novo game da Ubisoft é ambicioso em alguns aspectos, mas não sai da zona de conforto em outros, trazendo algumas “marcas registradas” da empresa em seu processo de desenvolvimento.

Felizmente, para quem gosta da franquia dos Na’vi, talvez tenhamos em mãos uma obra que finalmente faz jus à grandiosidade dos longas, ainda que, talvez, seu apelo fique restrito aos fãs mais ávidos da obra de James Cameron. Vamos elaborar mais sobre tudo isso ao longa desta análise.

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Sobrevivente dos Sarentu

O primeiro aspecto muito interessante de Avatar: Frontiers of Pandora para fãs da franquia é a sua história. A começar pelo fato dela ser canônica e acontecer no período entre os dois filmes já lançados da franquia. Mesmo que não tenhamos contato direto com nenhum dos personagens vistos nos filmes como Jake Sully, por exemplo, os acontecimentos do primeiro longa repercutem diretamente no que acontece no jogo.

Seu personagem é uma criança do extinto clã Sarentu, que foi criado em uma escola de humanos desenvolvida pela RDA. Entretanto, logo fica claro que a escola está mais para uma prisão e que as crianças Na’vi são prisioneiras com o intuito de serem “catequizadas” para servirem de espiãs dos outros clãs quando crescerem. Tudo dá errado quando um certo humano muda de lado e cria uma verdadeira revolução dos povos nativos contra os humanos (história do primeiro filme).

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Mas isso tudo é o prólogo da aventura, pois o jogo mesmo se passa no período de alguns anos antes de Avatar: O Caminho da Água, quando os humanos da RDA retornam à lua Pandora para tentar reconquistar o território para si. Você, como um dos únicos sobreviventes do seu clã, se junta a Resistência, uma organização paramilitar que é fruto da união de humanos e Na’vi contra a RDA.

Como os extintos Sarentu eram um clã de contadores de história que caminhavam entre os demais clãs, cabe a você seguir os passos dos seus ancestrais e criar novas alianças entre os clãs Aranahe, Zeswa e Kame’Tire, habitantes das regiões mais próximas, para que, juntos, consigam fazer frente às ameaças da RDA.

Falando do rteiro em si, é interessante como o jogo carrega vários subtemas e detalhes que enriquecem a jornada e fazem sentido dentro do universo de Avatar… mas quase tudo é bastante previsível. No entanto, funciona bem para a proposta de manter o jogador engajado.

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Cada um dos sobreviventes Sarentu possui suas próprias questões mal resolvidas.

Mundo vasto a ser explorado

Talvez o ponto mais elogiável de Avatar: Frontiers of Pandora seja a construção visual de Pandora. Como tem sido praxe nas produções grandes da Ubisoft, aqui temos um game de mundo aberto em primeira pessoa que passa para terceira pessoa quando assumimos o controle de alguma montaria.

Mesmo que as comparações com a franquia FarCry sejam meio que inevitáveis em alguns momentos, e muito daquela identidade típica do que se convencionou chamar de “Ubisoft: The Game” esteja presente aqui, é fato que a jornada dos Na’vi caminha com as próprias pernas em vários aspectos.

Não é exagero dizer que o mundo de Avatar: Frontiers of Pandora é, até o presente momento, um dos mais belos e vastos já criados pela Ubi. O mapa é vasto e repleto de detalhes, rico em vegetações e fauna, com biomas que, mesmo que à primeira vista pareçam somente florestas tropicais, possuem na realidade variações interessantes e bem distintas entre si. E, claro o lado fantástico da biosfera de Pandora torna tudo ainda mais interessante.

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Seu Ikran (montaria voadora) é conquistado relativamente rápido no jogo.

Durante as mais de 50 horas de exploração em Avatar: Frontiers of Pandora, vamos passar por pradarias, florestas tropicais densas, cavernas labirínticas, locais litorâneos, montanhas, despenhadeiros, rochas flutuantes, labirintos de pedra, florestas venenosas, pântanos sombrios e muito mais. É uma excelente variedade de paisagens para um jogo que se passa em um mundo selvagem.

E toda essa variedade de territórios e paisagens possui seu peso tanto na narrativa quanto nas mecânicas de progressão do seu personagem. Já que, como você controla um Na’vi, precisa de fato conhecer os biomas e territórios a fim de entender o que fazer em cada local e como usufruir da melhor maneira possível de tudo o que Pandora tem a oferecer.

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Progressão sem nível: a parte ruim

Um aspecto que definitivamente divide opiniões em Avatar: Frontiers of Pandora é o formato escolhido para a progressão do seu personagem. Fugindo de mecânicas mais voltadas ao RPG, o jogo trabalha com a ideia de poder atrelado aos seus equipamentos. Desse modo, o que seria o nível do seu personagem na verdade é a soma dos atributos de todos os seus equipamentos.

Esse é um conceito que já foi utilizado em outros jogos e até funciona, mas aqui tem dois grandes problemas: a necessidade quase exaustiva de se utilizar do sistema de crafting para um melhor aproveitamento da progressão e a variedade muito pequena de tipos de armas e equipamentos.

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Seus equipamentos são pouco variados, enquanto os do seu Ikran são puramente estéticos.

No primeiro caso, temos o fato da economia do jogo não se basear na lógica monetária que estamos acostumados na maioria dos jogos. Isso por um lado é interessante, uma vez que estamos falando de tribos comunitárias que fazem negócios e escambos com base na confiança que você possui dentro do clã. É por meio dessa confiança que você pode ter acesso aos melhores equipamentos e às receitas que lhe permitirão montar suas armas por conta própria.

Isso se torna um problema por tudo ser um tanto quanto burocrático para ser conseguido. Colher as matérias primas para cada produção não é fácil visto que os materiais possuem níveis de raridade que são impositivos para a arma ser construída ou não. Junte isso ao fato de termos três tipos de arcos, dois tipos de armas de fogo e nenhuma arma corpo a corpo, e o processo como um todo se torna cansativo e com forte sensação de repetição.

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Progressão sem nível: a parte boa

Por outro lado, ter essa progressão não linear faz com que o processo de crescimento aos pouquinhos se torne mais orgânico — após superado o processo burocrático de confecção de equipamentos.

Tudo gira em torno da exploração do mundo e isso conversa muito bem com a temática do jogo em si. Ganhar pontos de habilidade requer encontrar árvores especiais espalhadas pelo mapa, assim como aumentar sua vida e energia.

Coletar recursos requer mapear a fauna e a flora dos diversos biomas, para entender o que cada elemento provém de matéria-prima. Tudo isso é computado em um banco de dados bem útil nos, que permite inclusive que você marque recursos de maior interesse no momento, para serem vistos com mais facilidade quando você topar com um deles. Habilidades especiais também são debloqueadas quando encontramos árvores-coração, que nos conectam à Eywa, a alma de Pandora.

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Encontrar determinados elementos no mapa são mini-puzzles por si só.

Além disso, vida e energia também são aumentados encontrando plantas específicas. Os espécimes coletáveis possuem níveis de qualidade que dependem do clima e horário no qual são coletados e como você remove as partes da planta (o que é bem imersivo quando usamos um Dualsense). Equipamentos cosméticos para a sua montaria voadora também são coletados ao redor do mundo, bem como recursos voltados à tecnologia dos humanos.

Tudo isso, junto, justifica a pura e simples a exploração de Pandora, e mostra que o título do jogo não é por acaso: o personagem principal dessa história é a exuberante Pandora. Mesmo que esses aspectos girem em torno de alguns clichês já conhecidos da Ubisoft — como o domínio de bases para diminuir o nível de poluição/influência humana — aqui tudo tem uma roupagem nova, mais ambientalista, que é agradável e conversa bem com a temática da franquia Avatar.

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A zona de conforto que dá certo

Avatar: Frontiers of Pandora não é nem de longe um jogo inovador. Entretanto, isso nunca foi prometido pela Ubisoft. Na verdade, em todo o material promocional do título, fica claro que se trata de um game tradicional da empresa ambientado no universo criado por James Cameron. E, tendo jogado o título por dezenas de horas, pude constatar que isso não é ruim. Na verdade, a franquia Avatar se encaixou muito bem nos conceitos já conhecidos dos jogos da Ubi.

Aqui temos algumas mecânicas já conhecidas de jogos de mundo aberto, como uma forma de visão especial para mapear o cenário e inimigos; “plantas-corda” que ajudam a alcançar locais mais altos; recursos coletáveis em pontos específicos do mapa, entre outras coisas. Além de conceitos vindo de outros jogos do gênero: existe uma habilidade para você entender a movimentação dos inimigos semelhante ao que vemos em Horizon Zero Dawn por exemplo, além de podermos seguir rastros olfativos, como em The Witcher 3.

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Puzzles para hackear locais humanos são bem comuns no jogo

Por outro lado, não temos em Avatar: Frontiers of Pandora um ponto que é amplamente criticado nas produções da Ubisoft: seus mapas com excesso de informação guiando exaustivamente o jogador do ponto A ao ponto B. Aqui na verdade as informações no mapa são bem pontuais e pouco intrusivas. Aos mais aventureiros, existe a opção de navegação às cegas, que permite remover todos os ícones tradicionais desse tipo do jogo, para tornar a experiência realmente selvagem e imersiva.

Tudo isso traz um ar saudável para o gameplay, mesmo que visivelmente dentro da zona de conforto do que são os jogos principais da empresa. Além disso, o respeito com o material original é visível e comparável ao que vimos em Hogwarts Legacy no início de 2023. Avatar: Frontiers of Pandora traz visual e atmosfera muitíssimo fiel aos filmes de Avatar. Utiliza modelos iguais para a construção de fauna e flora e até o idioma dos Na’vi foi representado fielmente, mesmo quando jogamos com a dublagem em português brasileiro.

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Batalhas anti “esponja de balas”

Com todas as peculiaridades no que diz respeito à progressão de personagem dentro de Avatar: Frontiers of Pandora, os combates (que são um dos principais alicerces do jogo, além da exploração) são bem competentes e divertidos. Entretanto, é preciso que o jogador se acostume com esses combates para poder tirar alguma diversão deles.

Isso porque não temos aqui um caos repleto de explosões e balas como vemos na franquia FarCry, por exemplo. Os combates de Avatar: Frontiers of Pandora são mais estratégicos, uma vez que nosso personagem é muito mais vulnerável a tiros do que normalmente vemos em jogos do gênero. Ainda temos curas rápidas e recuperação automática de vida quando saímos de combate por alguns segundos, mas a morte chega rápido quando somos muito afoitos e irresponsáveis.

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Combates aéreos são igualmente únicos e muito divertidos.

Inicialmente isso pode ser frustrante, mas passadas algumas horas de jogo, passer a ver isso como uma baita qualidade. Digo isso porque, mesmo que nosso personagem fique mais forte com o passar do tempo, nossos inimigos também ficarão. E com isso, o nível de ameaça permanece equilibrado e o jogador nunca se sente poderoso demais. Mesmo estando em level alto, em muitos momentos, a abordagem stealth ainda será a melhor opção — e ela costuma ser muito recompensadora quando dominamos bases inimigas, por exemplo.

Já contra a fauna de Pandora, os combates mudam completamente de ritmo, o que também encaro como um aspecto positivo devido ao fator imersão. As feras possuem pontos fracos e, em momentos que somos o caçador, somos recompensado com abates “limpos” (livres de sofrimento para os animais), com recursos de melhor qualidade. Já quando somos a caça, aproveitar a verticalidade dos cenários e trabalhar posicionamento com ataques certeiros é sempre a melhor saída.

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Um jogo que respeita os fãs

Com tudo que eu apresentei aqui, podemos resumir que Avatar: Frontiers of Pandora não é necessariamente um jogo para agradar a todos. Se você não curte jogos tradicionais da Ubisoft, é bem provável que você também não goste do que tem aqui. A roupagem é nova (e incrível), mas ele ainda é, sob muitos aspectos, uma nova roupagem do famigerado “Ubisoft the Game”. Do mesmo modo, se você já não é fã dos filmes do James Cameron, é bem difícil que esse jogo mude sua visão.

Por outro lado, se você curte games da Ubisoft como Assassin’s Creed Odyssey e Valhalla, ou então FarCry 5 e 6, tem um cenário familiar o bastante aqui para se perder por dezenas de horas. E, se você é fã dos filmes de Avatar, aí sim a jogatina torna-se praticamente obrigatória.

Nunca antes Pandora foi tão aberta à exploração no mundo dos games. A recriação deste mundo fantástico — com direito a momentos icônicos dos filmes reproduzidos na experiência de jogo — foi feita com esmero, seguindo à risca a cartilha de estética, linguagem, narrativa e trilha sonora dos filmes. O jogo é canônico, afinal, e realmente consegue fazer a gente se sentir na vastidão selvagem de Pandora.

Avatar: Frontiers of Pandora foi lançado em dezembro de 2023 para PlayStation 5 (versão analisada), Xbox Series e PC. O game está 100% localizado para o nosso idioma, com textos, menus e dublagens em português brasileiro.

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