Análise Arkade: Pikmin 4 é a evolução da franquia – maior, melhor e em português!

Pikmin 4 é um jogo surpreendente. Ele entrega exatamente o que os fãs de longa data esperam de um novo título da franquia, e ao mesmo tempo atualiza a fórmula, tornando-a muito mais acessível para quem “chegou agora”.

A “mesma história” de sempre

Como de praxe, acho justo aproveitar o início deste texto para fazer um disclaimer: como alguém que não teve praticamente nenhum console da Nintendo antes do Switch, eu tive pouco (ou nenhum) contato com algumas de suas principais franquias.

De fato, eu fui jogar Pikmin pela primeira vez há poucas semanas, com o pacote Pikmin 1 + 2 que a Nintendo lançou, remasterizado, para seu console atual. E, ainda que eu não tenha achado nenhum dos jogos anteriores uma obra-prima, eu entendo o apelo que eles possuem, justamente por serem diferentes de quase tudo o que a Nintendo costuma fazer.

Pikmin 4 não reinventa a roda: ainda temos o azarado Capitão Olimar se perdendo em um planeta distante. Porém, dessa vez nossa missão é justamente ir ao resgate dele. No papel de um recruta novato da unidade de resgates, embarcamos em uma missão para resgatar o antigo protagonista.

Claro que essa missão de resgate acaba tendo um início meio atrapalhado: nossa própria nave acaba se acidentando e, com isso, a tripulação é separada. Ou seja, antes de resgatar o Capitão Olimar, precisaremos encoontrrar nossos próprios companheiros — e em seguida dar um jeito de reparar nossa nave.

Felizmente, os Pikmin estão prontos para nos ajudar: mais fofinhas e variadas do que nunca, as criaturinhas serão nossas aliadas na hora de explorar o mundo e coletar tesouros. E, dessa vez ainda temos mais um ajudante: Otchin, o “Salvacão” que talvez seja a maior novidade em termos de gameplay.

Pikmin 4: Salvacão e Dandori

A dinâmina principal de Pikmin 4 ainda é a mesma, e envolve recrutar e “pastorear” os Pikmin, para que eles unam forças para realizar diferentes atividades, como destruir barreiras, carregar coisas e superar obstáculos.

A figura do Otchin, porém, torna tudo muito mais dinâmico. O simpático cãozinho alienígena pode farejar pontos de interesse, quebrar barreiras, atacar inimigos, empurrar/puxar coisas… e, conforme cresce, acaba tornando-se inclusive um meio de transporte, uma vez que pode carregar nas costas não só nosso protagonista, como também dezenas de Pikmin.

Otchin talvez seja a novidade que mais afeta o gameplay, tornando Pikmin 4 muito mais amigável — ou talvez o termo mais apropriado seja “dinâmico”. Com controle do Salvacão, o jogador deixa de apenas delegar tarefas, e passa a poder interagir mais diretamente com o mundo do jogo.

Como alguém que não é particularmente habilidoso em jogos de estratégia em tempo real, achei que essa mudança melhora — muito — o jogo como um todo. Otchin me permite tomar a frente da ação, e o trabalho em conjunto dele com os Pikmin cria uma cadência muito mais agradável.

E por falar nos Pikmin propriamente ditos, também existem novidades entre eles: as criaturinhas de gelo podem congelar superfícies de água e inimigos. Tamém há um novo tipo de Pikmin bioluminescente, útil basicamente nas missões noturnas (já falo mais sobre isso). Junto dos já existentes, as novas criaturinhas chegam para aumentar o leque de possibilidades do game. Saber como (e quando) usar cada tipo de Pikmin é essencial para progredir.

Outra boa nova é um sistema de fusão, que nos permite criar itens que facilitam a nossa vida. Conforme resgatamos mais tripulantes da nossa nave, vamos acessando as habilidades de cada um, que se mostram bem úteis ao longo das mais de 20 horas de campanha (isso para não mencionar o vasto conteúdo pós-game).

Cavernas, missões noturnas e o tal do Dandori

Outras novidades relevantes incluem as cavernas — áreas exploráveis subterrâneas que possuem seus próprios tesouros e desafios. Há diversas cavernas espalhadas pelo mundo, e muitas delas servem inclusive de caminhos para chegarmos a novos lugares na superfície.

Os desafios noturnos são mais uma adição de Pikmin 4. Ocasionalmente, durante a noite, o jogo assume um clima de tower defense, e devemos proteger nossa base de criaturas invasoras. A passagem do tempo limita nossa exploração do amanhecer ao entardecer, ou seja, o ciclo de dia e noite segue causando impacto no game, ainda que de um jeito bem menos emergencial que nos primórdios da série (quando havia um limite de dias para concluirmos todos os objetivos).

Falemos agora do Dandori, algo que é inerente à franquia, mas que só foi nomeado agora. Pikmin 4 é, nas palavvras de seu criador (um tal de Shigeru Miyamoto, manja?) um “jogo de Dandori“, termo japonês que no jogo é explicado da seguinte maneira:

Parece confuso, eu sei, mas Pikmin sempre foi sobre isso: organização. Coordenar múltiplos Pikmin e realizar várias tarefas simultaneamente, de maneira ágil e organizada, está na essência da série. Manda um grupo de Pikmin pra um lado, enquanto enfrenta um inimigo do outro e tenta não sacrificar nenhum Pikmin… tudo isso de olho no relógio.

O conceito do que é Dandori sempre fez parte de Pikmin. A novidade é que agora a Nintendo “deu nome aos bois”. De fato, existe até a “Batalha Dandori“, um interessante modo de jogo competitivo de tela dividida em que dois jogadores disputam para ver quem coleta mais tesouros dentro do limite de tempo estipulado.

Pikmin 4 em PT-BR!

Esta é a parte em que abordamos os aspectos audiovisuais do jogo, mas eu não poderia começar falando de outra coisa que não seja o fato deste ser mais um Triple A exclusivo da Nintendo a receber localização para o português brasileiro. E o trabalho de localização foi muito bem feito, tanto nos diálogos quanto nos menus e nos (vários) tutoriais. Isso, por si só, faz de Pikmin 4 um jogo bem mais acessível para o público brazuca.

Sigo sem entender a cabeça da Nintendo: porque ela se dá ao trabalho de traduzir certos jogos (sendo que alguns nem precisavam tanto assim disso), enquanto deixa seu maior lançamento do ano sem localização? Não faz sentido. Enfim, mas, o fato é que Pikmin 4 está localizado e isso é muitíssimo bem-vindo!

Falando de audiovisual: como tudo o que tínhamos até pouco tempo atrás eram relançamentos de plataformas mais antigas, essa é a primeira vez que estamos diante de um legítimo jogo novo de Pikmin, que aproveita as capacidades da plataforma atual da Nintendo.

E olha, colocar Pikmin 4 ao lado de Pikmin 1 + 2 escancara a evolução que a série teve. O novo jogo é tecnicamente impressionante, com um mundo digital bastante realista (na medida do possível), vasto e imersivo. É a primeira vez que um jogo da série foi desenvolvido com a Unreal Engine 4, e o motor gráfico não só dá conta do recado, como eleva o patamar gráfico da franquia.

A Nintendo conhece as limitações do seu hardware, e também sabe como evitá-las. O jogo usa de forma muito inteligente efeitos de desfoque para priorizar o que está em primeiro plano, permitindo que objetos próximos estejam sempre nítidos, em detrimento do que estiver mais distante.

A própria modelagem dos personagens — agora temos um protagonista customizável –, dos Pikmin e do “legado da Nintendo” que vamos encontrar ao longo da aventura impressiona, bem como a variedade de ambientes. E o jogo ainda entrega um bom desempenho, mantendo o framerate estável tanto com console no dock quanto em modo portátil.

O departamento sonoro também entrega o que se espera de um jogo com o “padrão Nintendo de qualidade”: músicas animadas e grudentas e efeitos sonoros marcantes. Os latidos do Otchin são adoráveis, e as cavernas e missões noturnas ganham toda uma ambientação sonora condizente.

Conclusão

Pikmin 4 é o que se espera de uma legítima continuação: maior, melhor, mais completo e com mais recursos. Ele pode parecer um pouco complicado em uma primeira olhada, mas também deve ser o jogo mais acessível da franquia, servindo como uma excelente porta de entrada para quem nunca se aventurou por este mundinho em miniatura.

As novidades implementadas aqui foram cirúrgicas: melhoram a experiência do jogador e a dinâmica de gameplay sem prejudicar tudo o que já foi previamente estabelecido. Pikmin 4 ainda é um jogo de estratégia (e Dandori), mas agora o jogador tem mais controle, participa mais da ação.

Com toda a série principal disponível no Nintendo Switch, Pikmin 4 é, sem dúvida, um título obrigatório para os fãs de Olimar e sua turma. É um jogo que mostra a Nintendo fazendo o que faz de melhor: evoluir sua própria fórmula e dar ao jogador algo que é novo, mas também imediatamente familiar — e muito divertido.

Pikmin 4 está disponível exclusivamente para Nintendo Switch.