Análise Arkade – ToeJam & Earl: Back in the Groove nem parece um jogo novo

28 de fevereiro de 2019

Análise Arkade - ToeJam & Earl: Back in the Groove nem parece um jogo novo

A dupla de aliens mais cheia de estilo do mundo dos games está de volta: ToeJam & Earl: Back in the Groove marca o retorno destes icônicos personagens que nasceram lá no Mega Drive no início dos anos 90, e agora chegam para a atual geração… em um jogo que lembra muito o que jogávamos nos anos 90!

De volta para o passado

A história do ToeJam & Earl original trazia a dupla de “heróis” para a Terra para recuperar as peças de sua nave e poderem voltar para Funkotron, planeta natal da dupla. ToeJam & Earl: Back in the Groove parte da mesmíssima premissa, a diferença é que agora o jogo foi mais “inclusivo”, e além de trazer a dupla que dá nome ao jogo, traz também duas garotas como personagens controláveis.

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Na prática, a história é essencialmente a mesma: enquanto pilotavam uma nave emprestada próximos da Terra, eles acidentalmente criam um buraco negro e acabam sendo sugados por ele (junto com a própria Terra). Novamente a nave se divide em várias partes, e para retomar sua viagem, eles precisarão (mais uma vez) recolher as peças dela, que espalharam-se por diversas fases.

Explorando sem perder o ritmo

Na prática, o novo jogo parece um remake turbinado do game original: há fases bônus, mini-games de ritmo (coisas que já apareceram em jogos posteriores da série) e novos power ups, mas o grosso da experiência ainda é o mesmo, ou seja, explore, colete as partes da nave e tente não encostar nos terráqueos pentelhos.

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Cada fase é uma espécie de ilha flutuante, vista de perspectiva isométrica. Nosso trabalho é explorá-la, sacudindo elementos do cenário em busca de grana e itens, coletando presentes e evitando contato com criaturas que podem nos causar dano — de diabinhos a operários com britadeiras, passando por fãs descontrolados, dançarinas havaianas e furacões. Nem todo terráqueo é hostil e nem fase tem uma peça da nave escondida; neste caso o jeito é encontrar o elevador e seguir para o próximo “andar”.

Confira meu gameplay de 2 andares no vídeo abaixo, com direito a bastante exploração e alguns mini-games:

O gameplay é simplesmente funcional, não sendo primoroso, nem fluido. Os personagens bugam ocasionalmente ao cair em lagos e há inimigos — como o cupido — que ao atingirem o jogador, invertem os comandos do controle por alguns segundos, o que pode se tornar bem irritante.

Os presentes que coletamos podem tanto ser coisas úteis quanto armadilhas. Você pode, por exemplo, conseguir um tênis com molas, um aparelho de som que coloca todo mundo pra dançar, um alimento que recupera sua vida — mas também pode acabar entrando em combustão espontânea, ou comendo uma comida podre que vai te fazer vomitar.

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A maioria dos presentes que coletamos são misteriosos, a gente só descobre o que ele faz quando usa. Ou você pode pagar para um NPC identificar o que há dentro do embrulho, mas além de caro (dois dólares) isso meio que tira o fator surpresa e a graça da imprevisibilidade deste recurso.

As personagens femininas inseridas não agregam nenhuma nova mecânica, o que muda são os stats de cada herói: há alguns mais rápidos, outros mais lentos, uns podem carregar mais presentes do que os outros, e por aí vai. Também há level ups — ativados através de um velhinho vestido de cenoura — que melhoram aleatoriamente as estatísticas de cada herói.

Mas é um jogo novo ou um remake?

Vamos entrar em um campo um tanto polêmico aqui. ToeJam & Earl: Back in the Groove é um jogo “novo”, mas que se parece demais com o jogo “velho”. Salvo os novos power ups e a possibilidade de jogatina online, ele respeita (até demais) as convenções estabelecidas pelo jogo original, sem se preocupar em acrescentar novos ingredientes que realmente deem um novo sabor à receita.

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As partes da nave nem estão reeealmente escondidas…

Isso é até legal pelo fator nostalgia, mas não se pode negar que a simplicidade da fórmula é um tanto limitadora. Por exemplo: temos 4 modos de jogo, mas o que muda é que em 2 deles os desafios são procedurais/aleatórios. A experiência em si — explorar e coletar peças da nave — continua sendo a mesma. Tem coop online e local, mas o gameplay em si é sempre o mesmo.

Já questionei o quanto clássicos são irretocáveis em outras oportunidades, e aqui levanto novamente esta bola: até que ponto o preciosismo deve interferir no potencial de um novo jogo? Quão errado seria atualizar velhas fórmulas, mantendo o que era relevante, mas sem medo de acrescentar coisas novas?

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Fases no escuro ou na neve são o máximo de variação que encontramos

Digo isso porque achei este novo ToeJam & Earl extremamente raso e repetitivo, justamente porque ele se parece muito com o jogo original. A fórmula funcionava nos anos 90, que era uma época muito mais simples em termos de game design como um todo, mas o conceito poderia muito bem ter sido expandido neste novo jogo — algo que não acontece em momento nenhum.

Entendo que, por ser um projeto financiado via Kickstarter, talvez seja isso que os fãs queriam: um game que entregasse a mesma experiência que lhes marcou há mais de 20 anos. Porém, pessoalmente acho que perdeu-se a chance de atualizar as coisas, tornar o game relevante para os tempos atuais. Do jeito que está, ele é um produto datado, que ignora décadas de evolução da indústria e cujo foco está mesmo no saudosismo dos fãs.

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Essa vibe de “jogo velho” é proposital? Sem dúvida. Mas não há saudosismo que justifique limitações que não necessariamente estão contribuindo com a qualidade de um jogo. Resident Evil 2 Remake está aí para provar que velhas fórmulas podem sim ser revistas e atualizadas da maneira certa.

Audiovisual

ToeJam & Earl: Back in the Groove é um jogo de 2019 que não tem vergonha de parecer um jogo dos anos 90. Os personagens são majoritariamente 2D, inseridos em um ambiente 3D isométrico de cores fortes, mas muita simplicidade.

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É um visual que remete diretamente ao do jogo de Mega Drive, mas na minha opinião perdeu-se a oportunidade de tornar o visual mais rico, atualizado. O que sobra é um jogo que não é necessariamente feio, mas que parece feio por emular um estilo que não é atemporal como a pixel art. Certas coisas não envelhecem tão bem quanto o bom e velho pixel 2D.

Os personagens até são lisinhos e bem desenhados, mas os cenários destoam, e têm uma cara de arte 3D tosca do início dos anos 90 — o que provavelmente é proposital, mas causa estranheza. Este definitivamente não é lá um jogo agradável aos olhos.

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As fases bônus também são bem feinhas…

Já os seus ouvidos não terão do que reclamar: a trilha sonora é simplesmente fantástica, um funk instrumental com contrabaixo em evidência cheio de swing,  que flerta com soul music e hip hop, sempre mantendo um ritmo contagiante. Tem playlist no Spotify, e recomendo que você clique aqui e ouça, pois ela é maravilhosa!

Conclusão

Talvez o problema afinal de contas seja comigo, não com o jogo. E não seria a primeira vez que isso acontece: jogos como Oddworld e o remake de Wonder Boy tiveram o mesmo efeito em mim, o que me leva a crer que talvez eu espere mudanças demais onde os fãs mais ardorosos só querem “mais do mesmo” e nostalgia.

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Há trilhas ocultas, que só aparecem quando você caminha perto delas

Então, se você é um fã de ToeJam & Earl das antigas, é bem provável que vá curtir o novo jogo, pois ele é extremamente similar ao clássico de Mega Drive. E, sem exagero, a trilha sonora por si só já faz ele valer a pena — ainda que ela possa ser apreciada mesmo sem o jogo.

Ou, se você é realmente fã da dupla, pode simplesmente dar uma assoprada no cartucho e continuar curtindo o game de 1991. Na prática, é quase a mesma coisa.

ToeJam & Earl: Back in the Groove será lançado amanhã (1º de março), com versões para PC, Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch. O game possui menus e legendas em português brasileiro.

Uma resposta para “Análise Arkade – ToeJam & Earl: Back in the Groove nem parece um jogo novo”

  • 1 de março de 2019 às 00:19 -

    Roney

  • eu achei que mudou bastante coisa, graficos mais cartunescos, personagens e itens novos; no geral não deixa de ser um otimo roguelike

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