Análise Arkade: The Last of Us Part II (sem spoilers)

12 de junho de 2020
Análise Arkade: The Last of Us Part II (sem spoilers)

Está chegando a hora: depois de anos de espera e alguns adiamentos, falta apenas uma semana para o lançamento oficial de The Last of Us Part II, sem dúvida um dos jogos mais esperados do ano por quem tem um Playstation 4. Nós já tivemos acesso ao game, zeramos, e hoje você confere nossas impressões em primeira mão!

“A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena”

É, eu sei que pode parecer estranho começar uma análise de The Last of Us Part II com uma frase do saudoso Seu Madruga, mas a verdade é que, em muitos momentos, enquanto eu jogava, ela ressoava em minha mente. E, convenhamos, é uma frase poderosa e verdadeira.

Como Neil Druckmann (diretor dos dois jogos) nos contou, o primeiro The Last of Us foi um jogo sobre amor, e o novo jogo é sobre ódio. No jogo original, acompanhamos um amor que demora para florescer, de pai e filha, de Joel “adotando” Ellie e superando o luto pela filha Sarah. Vemos este amor crescer até o ponto de se tornar possessivo, egoísta: Joel sacrifica uma possível cura para que Ellie, que é imune, não seja morta.

A história de The Last of Us Part II se desenvolve, em parte, como uma consequência das ações de Joel no primeiro jogo. Não vamos entrar em spoilers, mas algo terrível acontece, e Ellie, agora quase uma mulher adulta, deixa o ódio endurecer seu coração, e parte em uma missão de vingança.

Ao seguir este caminho, Ellie vai ter que passar por provações terríveis. Vai encarar diversos perigos — afinal, tanto humanos quanto infectados são um problema — vai se machucar, sangrar, sofrer. Vai abdicar de muitas coisas só para ter sua tão desejada vingança. Mas será que vale a pena? Deixo para você jogar, descobrir e tirar suas conclusões. Mas uma coisa é fato: Seu Madruga estava certo.

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O mundo de The Last of Us é cruel e violento.

Um ponto muito positivo é como o novo jogo consegue revisitar acontecimentos anteriores, agregando novas camadas de significado a eles. Através de flashbacks, podemos ver por uma nova perspectiva alguns acontecimentos derradeiros do primeiro The Last of Us, e a forma como tudo se encaixa à nova história é um baita trabalho de roteiro. Revisionismo feito do jeito certo, bem diferente de Homem-Aranha 3 (lembra?) que inventou de meter o Sandman na morte do Tio Ben e estragou toda a história.

Sendo honesto contigo, sem entregar spoilers: a história do jogo é muito boa, mas um pouco arrastada em alguns pontos. A segunda metade da campanha tem umas “barrigas” bem grandes, que podem se tornar um pouco cansativas. Eu queria poder falar mais detalhadamente sobre isso, mas não posso… o que nos leva ao próximo tópico.

Um breve disclaimer

Antes do pessoal da Sony nos mandar uma cópia do jogo, recebemos um documento de embargo, que deixava bem claro o que pode e principalmente o que NÃO pode ser falado sobre o game antes de seu lançamento. É uma lista bem grande de restrições, e todos que puderam ter acesso antecipado ao jogo — para publicar uma análise hoje — tiveram que “concordar com os termos” antes de receber o game.

Por conta destas normas, as análises não podem abordar boa parte dos elementos que compõem o game como um todo. Mesmo as imagens são de um pack disponibilizado pela Sony (então se prepare para ver essas mesmas fotos em tudo que é site). É chato, mas justo: os produtores não querem que ninguém tenha sua experiência arruinada por uma análise cheia de spoilers.

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E muitas delas nem são lá essas coisas…

Quem acompanha a Arkade sabe que nunca soltamos spoilers gratuitamente em nossas análises — quando queremos falar de um jogo com spoilers, criamos conteúdos separados, como a série Depois do Fim. Então, hoje você confere uma análise 100% livre de spoilers, que dá um panorama geral do que você pode esperar do jogo. Daqui a algumas semanas, traremos um Depois do Fim completo para debatermos o jogo como um todo e seu final. Mas, claro, isso só daqui um tempo, para que todos possam jogar e refletir sobre tudo o que The Last of Us Part II traz.

Agora sim, continuemos.

Um recomeço

Após um breve flashback que inicia o jogo, somos apresentados à “nova” Ellie, e descobrimos que ela e Joel estão vivendo em Jackson, um lugar familiar — o povoado onde vive o irmão do Joel, Tommy. Embora a situação da comunidade esteja relativamente boa, a relação de Joel e Ellie não vai tão bem — e quem lembra do fim do primeiro jogo deve imaginar o porquê.

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Quatro anos se passaram no mundo do jogo, e as coisas evoluíram: luz elétrica não é um problema em Jackson, e a vida em comunidade segue de forma controlada e próspera, com personagens se revezando em patrulhas para coletar recursos e manter os perigos afastados.

Não demora para as coisas desandarem, afinal, isso é The Last of Us, e a gente sabe o quanto o mundo do jogo pode ser brutal e violento. Quando alguma coisa acontece aqui, geralmente é para mudar (para pior) a sua situação, ou a dos demais personagens.

Por ser uma experiência muito pautada por sua narrativa, o ritmo do jogo tem aquele jeitão cinematográfico típico das obras da Naughty Dog, com eventos que levam a história adiante acontecendo de forma impactante e imprevisível. Em um momento você está cavalgando placidamente, em outro pode estar em uma fuga alucinada, ou tendo que lidar com grupos de infectados em construções abandonadas.

Mecânicas familiares (e novidades)

Felizmente, o gameplay é bastante familiar para quem está com o primeiro jogo fresco na memória (eu rejoguei a versão remasterizada em janeiro, como preparação para o novo). Você ainda vai passar muito tempo andando agachado, usando sua “super audição” para acompanhar o posicionamento de inimigos e coletando parafusos, tesouras e trapos em meio às ruínas da civilização para aperfeiçoar suas armas e criar itens e explosivos.

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“As ruínas da civilização”

O ato de navegar pelo mundo, fuçar em armários e gavetas, criar itens a partir de sua mochila, mirar e atirar é muito semelhante ao que vimos no jogo original, e meios de transporte — como cavalos e barcos — otimizam a exploração. Os recursos em geral são escassos, então optar por uma abordagem stealth que poupe munição sempre é uma boa opção.

Entre as novidades, temos uma esquiva aprimorada, que funciona mais ou menos como a da Jill no remake de Resident Evil 3, e é bem efetiva: se executada no timing correto, ela evita que até mesmo os temíveis Clickers (para não mencionar inimigos piores) coloquem as garras em você.

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Será que esses fliperamas ainda funcionam?

O arsenal está um pouco mais recheado, e os upgrades que podemos criar para nossos equipamentos (através de livros com técnicas de sobrevivência espalhados pelo jogo) melhoram bastante os itens, explosivos e munições. E, claro, através de pílulas de origem duvidosa que encontramos pelo mundo, Ellie melhora sua saúde e suas próprias habilidades, e segue usando parafusos e bancadas de ferramentas (os alicates pentelhos foram banidos do novo jogo) para aprimorar e modificar suas armas.

Um mundo maior

Ainda que The Last of Us Part II siga a cartilha Naughty Dog no que diz respeito a seu ritmo, a empresa trouxe um pouquinho do que fez em Uncharted: The Lost Legacy para a nova aventura de Ellie. Isso se apresenta na forma de áreas maiores, mais abertas, com sidequests que você pode fazer… ou ignorar e seguir adiante com a história.

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Uma das primeiras áreas abertas do jogo

Logo que chegamos à Seattle (cidade onde se passa boa parte da campanha), temos acesso a uma dessas áreas maiores. A forma como as missões secundárias aparecem é condizente com o universo do jogo: ao vasculhar bolsas e escombros, Ellie pode encontrar bilhetes de (ex)sobreviventes dando pistas de lugares próximos que podem valer uma visita. Ela então faz anotações em um mapa, e você pode dar uma passada por lá quando estiver perto.

Uma das primeiras missões opcionais envolve uma incursão a um banco. É opcional, mas lá dentro você encontra (entre outras coisas) uma shotgun, e como a gente bem sabe, sempre é bom ter uma shotgun à mão neste tipo de jogo. Essas missões são breves — quase como mini-dungeons –, e premiam o jogador com recursos que sem dúvida serão úteis para sua sobrevivência.

Say My Name

Eu sempre achei a Naughty Dog uma das melhores empresas na hora de criar personagens. Seja por diálogos, trejeitos e conversas aleatórias que rolam enquanto jogamos, os personagens que ela cria parecem “gente como a gente”. São autênticos, têm personalidade.

The Last of Us Part II faz um esforço muito consciente para tornar tudo ainda mais orgânico. E isso não vale só para os “mocinhos”, mas também para os “bandidos”: os soldados inimigos — que seriam “capangas genéricos” em qualquer outro jogo — aqui ganham nomes, e ouvir seus companheiros gritando e lamentando a morte do “Alan” ou da “Daisy” é um detalhezinho pequeno, mas que torna a coisa muito mais pessoal.

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Agora qualquer soldado inimigo tem um nome

Eu adoro jogos onde podemos nos sentir “caçadores”, e The Last of Us continua fazendo isso muito bem: rastejar pela grama, desviar a atenção com tijolos e garrafas, plantar minas de proximidade, usar silenciadores improvisados (herança de Days Gone? Provável) ou o arco e flecha (minha arma favorita, que demora um bocado para aparecer), se esgueirar pelas costas dos inimigos para abates silenciosos… eu curto muito esse lance de ser um predador, tanto para poupar munição quanto para evitar confrontos diretos contra grandes grupos de inimigos.

E por falar em inimigos, não ficaremos o tempo todo combatendo os mesmos tipos. O mundo de The Last of Us Part II é povoado por diversas facções, e elas são bem distintas entre si. Os Serafitas, por exemplo, são integrantes de uma espécie de seita pós-apocalíptica: usam longos casacos de couro marrom e, em batalha, preferem usar foices, martelos e arcos, e comunicam-se uns com os outros através de assobios. Eles não se parecem (nem agem) como os Lobos — outra facção do game, militarizada, composta basicamente por soldados bem equipados, que podem colocar até cães de caça na sua cola.

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O primeiro encontro de Ellie com os Serafitas é uma das melhores partes do jogo

Os cães, aliás, são uma novidade que pode dar muito trabalho ao jogador: eles não precisam ver nem ouvir você, e podem facilmente seguir seu rastro pelo cheiro. Isso desperta a atenção de seus donos — e os próprios também atacam com mordidas violentas. Odeio admitir isso, mas The Last of Us Part II me fez explodir muitos cães com minas de proximidade — e eles também têm nomes, o que deixa tudo mais doloroso. Não me faça matar cachorros, Naughty Dog! Isso nunca é legal! :(

Em mais um ótimo trabalho de roteiro, as reviravoltas da trama conseguem nos colocar em ambos os lados dos conflitos: The Last of Us Part II pinta um quadro que não é feito de heróis e vilões, mas de pessoas/grupos com motivações diferentes. Não é um mundo “preto no branco”, os tons de cinza aqui são muitos, e são o tempero extra de uma história pesada, violenta, que consegue fazer o jogador se sentir mal pelas suas próprias ações.

Detalhes que impressionam

Quando se fala em Naughty Dog, o capricho que ela coloca em seus jogos costuma ser um dos aspectos mais impressionantes. E ela repete a proeza aqui: The Last of Us Part II já entra com folga para a lista de jogos mais bonitos da geração, e seu visual fotorrealista fica ainda mais incrível no PS4 Pro, graças ao ótimo uso do HDR.

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Os personagens são extremamente detalhados

Como este não é um jogo de mundo aberto, há coisas e lugares que a gente só vai ver uma vez ao longo das cerca de 30 horas de campanha. E mesmo assim, há uma riqueza absurda de detalhes em cada construção parcialmente destruída, cada trecho de floresta, cado facho de luz que passa por uma fresta de vidro quebrada.

Um bom exemplo deste capricho pode ser visto na melhoria de armas: o jogo não precisava ter animações específicas para cada coisa, mas ele tem. A gente só precisa ver a Ellie trocando a corda do arco uma única vez no jogo, mas há uma animação detalhada específica para isso. As bancadas de ferramentas são quase como altares de veneração das armas, e animações de montar, desmontar, limpar e engatilhar cada arma são extremamente realistas.

Somado a isso, temos a qualidade de modelos de personagens e ambientações que é digna de um Triple A da geração atual. Imperfeições de pele, pelos faciais, roupas molhadas, machucados, tudo é extremamente caprichado. No som, idem: jogar com um bom par de fone de ouvidos enriquece ainda mais a experiência, pois o departamento sonoro do jogo contribui muito com a imersão, seja no som da chuva, no espocar dos tiros, ou nos sons asquerosos produzidos pelos infectados. Acertar um tiro no pescoço de um inimigo faz com que ele morra produzindo sons gorgolejantes, engasgado no próprio sangue. É realista de um jeito bem perturbador.

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Momentos de tensão e escuridão

The Last of Us Part II passeia por diferentes momentos com muita segurança: há trechos escuros e claustrofóbicos — alguns com novos tipos de infectados — que não devem nada aos melhores survival horrors do mercado. É um jogo que deixa a gente tenso por boa parte de sua duração, e essa tensão é potencializada pela imersão proporcionada por ambientes podres tomados por fungos e pelo som agourento de criaturas se escondendo nas sombras.

A trilha sonora, novamente assinada por Gustavo Santaolalla, continua incrível, trazendo um mix de melancolia e tensão que tem tudo a ver com o jogo. Lembra que Joel ficou de ensinar a Ellie a tocar violão no primeiro jogo? Pois prepare-se para improvisar alguns acordes usando o subaproveitado touch pad do controle!

Análise Arkade: The Last of Us Part II (sem spoilers)
“Toca Raul!”

Conclusão

Eu teria muito mais a dizer sobre The Last of Us Part II, mas por enquanto, não posso. Esta análise é antecipada, mas também é meio incompleta, pois não podemos falar de muita coisa sobre o jogo. Não que eu esteja reclamando de ter jogado um jogo desses bem antes do seu lançamento, mas né? Ossos do ofício. ¯\_(ツ)_/¯

Se bem que, convenhamos, quem tem um Playstation 4 provavelmente só está lendo os reviews pela ansiedade, e já deve estar com a pré-compra feita, ou com a grana separada. The Last of Us, eleito o melhor jogo da década pelo Metacritic, conquistou milhões de jogadores pela qualidade de sua história. E todo mundo quer ver a continuação desta história e descobrir o que aconteceu com estes personagens. Se você conseguiu fugir dos spoilers que vazaram há uns meses, persevere, pois quanto menos você souber, melhor. Eu pude jogar sem saber nada do que me aguardava e olha… eu não estava preparado para o que este jogo entrega.

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Patrulha montada

Então, se você ainda está em dúvida se The Last of Us Part II vale o seu tempo e o seu dinheiro (e toda a espera), a resposta é sim. Vale muito. É um grande jogo, com uma grande história, que vai muito longe não só para emocionar o jogador, mas também para chocar, incomodar. É um jogo áspero, amargo, difícil de digerir. Vai te fazer sorrir e te emocionar… mas também vai, com muito mais força, te deixar “na bad”.

Mas, sobre isso a gente fala na Depois do Fim. Por hora, só o que posso te dizer é: a espera valeu a pena.

The Last of Us Part II será lançado no dia 19 de junho, exclusivamente para o Playstation 4. O jogo chega 100% em português brasileiro, com dublagens, legendas, e um monte de opções de acessibilidade. Optei por jogar com o áudio original, em inglês, mas a qualidade da dublagem brasileira — que traz novamente nossa amiga Luiza Caspary no papel de Ellie — é de primeira.

Agrademos aos camaradas da Sony Playstation Brasil por nos concederem uma cópia antecipada do game.

Uma resposta para “Análise Arkade: The Last of Us Part II (sem spoilers)”

  • 13 de junho de 2020 às 00:00 -

    Helinux

  • é um game que tem tudo para ser o melhor dos melhores do estilo!!!! Merece um filme!!!! valeu!!!!

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