Análise Arkade – One Piece: World Seeker traz o mundo aberto para os jogos de mangá/anime

28 de março de 2019

Análise Arkade - One Piece: World Seeker traz o mundo aberto para os jogos de mangá/anime

No mundo dos games, estamos acostumados a ver Luffy do Chapéu de Palha e sua trupe envolvidos em jogos de luta ou musous. One Piece: World Seeker vai contra isso, e traz um jogo de ação e aventura em mundo aberto que é bem legal, confira nossa análise!

Bem-vindo à Ilha Prisão

One Piece: World Seeker coloca Luffy e sua tripulação na prisão. Mas calma, não é nada assim tão drástico: estamos falando da Ilha Prisão, uma extensa ilha cuja superfície é tomada não apenas por prisões para piratas, mas que também engloba cidades, campos, vilarejos, minas e portos.

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A ilha é vasta, e totalmente explorável

Como bons piratas que são, os Chapéus de Palha foram atraídos para lá por tesouros, mas quando Luffy arruma confusão com o comandante da Marinha, logo fica claro que o território é dominado por Marinheiros e Piratas, o que cria facções rivais — os pró-marinha e os anti-marinha — e torna a vida de quem simplesmente vive lá um inferno.

O vídeo abaixo é a intro animada do game, e dá um panorama geral do que se trata a história:

Após conhecer Jeanne, uma jovem revolucionária que luta para tirar o povo da ilha do meio desta pseudo-guerra civil, Luffy decide dar uma força para ela, ajudando a população e investigando quão profundas são as conspirações que envolvem a ilha.

Assim, ficamos livres para explorar todos os cantos da ilha, interagindo com NPCs, saindo no soco com capangas (e até robôs!) de ambas as facções e enfrentando rivais clássicos dos mangás e animes enquanto cumprimos missões variadas aqui e ali.

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Conversar com os NPCs é parte importante da aventura

Ainda que seu mundo aberto seja um tanto limitado e contido, One Piece: World Seeker representa meio que uma quebra de paradigma dentro dos “games baseados em mangás e animes”, que até então estavam presos (na esmagadora maioria dos casos) aos gêneros de luta e pancadaria de arena — pelo que pesquisei, há um mobile game de Dragon Ball que flerta com mundo aberto, de resto, é tudo fighting game (2D ou 3D de arena, nos moldes de Xenoverse e Jump Force) ou musou.

Considerando que a Bandai Namco cuida dos jogos dos principais mangás e animes que existem, espero que este One Piece: World Seeker faça sucesso o suficiente para permitir que outras franquias se aventurem por outros gêneros. Eu adoro Dragon Ball FighterZ, mas mesmo não sendo um grande fã de mangás e animes, sei que eles têm MUITO mais a oferecer do que “apenas” pancadaria.

Explorando a Ilha

Em algum livro de game design que li, o autor afirmava que “andar não é gameplay”. Admito que este livro é um pouco antigo — de antes dos “walking simulators” se tornarem um gênero tão prolífico –, mas de qualquer modo, eu concordo que o ato de ir e vir em um videogame precisa ser minimamente interativo, divertido. Tipo o voo de Anthem, ou as teias e acrobacias de Marvel’s Spider-Man.

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Luffy e seu braço elástico em ação

E locomoção é algo que os produtores de One Piece: World Seeker se esforçaram para fazer direito. O jogo aproveita a elasticidade do protagonista não só no combate, mas também na exploração. Em um esquema que remete ao supracitado Homem-Aranha, Luffy usa o potencial de suas “Gomu Gomu” técnicas para usar seus membros de maneiras malucas, impelindo-se para cima e verticalizando bastante o ato de explorar.

Conforme expande suas habilidades, você pode propelir-se para o alto com o Gomu Gomu no Rocket, planar pelo ar por alguns segundos, usar suas pernas como um helicóptero (Gomu Gomu no UFO), “laçar” outra superfície com seu braço elástico, planar mais um pouco, e por aí vai. É um loop simples, mas funcional, e que torna a movimentação muito mais dinâmica e interessante.

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Planar pelo ar é uma delícia!

Confira um pouco de exploração no vídeo abaixo:

Isso fica mais legal em cidades e outros ambientes que ofereçam possibilidades para Luffy ter onde “se agarrar” — quando estamos em campo aberto, só nos resta correr pra lá e pra cá. E como há muitas missões do tipo “garoto de recados” por aqui (já falo mais sobre isso), ter uma boa mobilidade é essencial, e o jogo entrega mecânicas que são simples, mas divertidas de serem usadas e combinadas.

Saindo no Soco

Bom mas nem só de exploração se faz um jogo de One Piece, né? O combate é parte importante da aventura, e ele é satisfatório, ainda que um tanto repetitivo. Há basicamente um botão de ataque, mas os ataques mudam conforme a “postura” de combate que Luffy adota — aka suas diferentes Gears: ele pode ser elástico e ágil (Gear Second), ou lento e pesado (Gear Third), transformando seus membros em enormes balas de canhão. Posteriormente na campanha, liberamos a Gear Fourth que é a mais poderosa, mas de uso mais limitado.

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Na hora do pau, esta é uma das técnicas mais devastadoras de Luffy

Além de tudo isso, há ataques à distância (Gomu Gomu no Pistol) que lhe permite mirar e dar socos de longe, e as habilidades de Haki de Luffy fazem as vezes de poderes especiais. O jogo até flerta com o stealth ocasionalmente, permitindo que o jogador esconda-se em barris e nocauteie inimigos sorrateiramente. Não funciona lá muito bem, mas felizmente o stealth quase nunca é obrigatório por aqui.

Veja um pouquinho de pancadaria abaixo:

A árvore de habilidades não é nem grande nem pequena demais, oferecendo um bom mix de novas habilidades e aprimoramentos para o personagem. Podemos coletar ou construir equipamentos, que influenciam os atributos de Luffy, aumentando sua vida, sua resistência e seu poder de ataque.

Pirata ou Garoto de Recados?

Sabe aqueles jogos de mundo aberto que basicamente transformam o jogador em um garoto de recados, obrigando-o a ir de um lado pro outro para encontrar/entregar/coletar/buscar coisas aleatórias para personagens aleatórios? Pois é, One Piece: World Seeker é tipo isso.

Boa parte das missões têm esse vício, especialmente as secundárias. Encontre ingredientes pro almoço de fulano, joias para o vestido de ciclana, ervas para o chá de beltrano, e por aí vai. Ajuda muito o fato da mobilidade ser agradável — e o jogo contar com um sistema de fast travel bem prático –, mas considerando o escopo da campanha (que passa das 15 horas), essa estrutura tende a ficar chata com o tempo.

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Prepare-se para ficar catando coisas para todo mundo…

O jogo ainda tem uma mania um tanto irritante de te obrigar a “adivinhar” onde estão alguns objetivos. Por exemplo, você pode precisar falar com uma pessoa “de camisa marrom e boina verde”, ou encontrar “uma casa a noroeste do porto”.

Se liga na legenda de diálogo da imagem abaixo:

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É esse tipo de informação que o jogo te dá de vez em quando, e você precisa se virar para encontrar a pessoa na área estabelecida. Sendo justo, a habilidade Kenbunshoku Haki de Luffy (que é basicamente o Detective Mode do Batman) ajuda bastante, mas como ele só capta as coisas que estão próximas — e tem cooldown –, tem suas limitações.

Também acontece do jogo te dar uma área muito grande para explorar, e encontrar UMA pessoa específica dentro deste espaço é um saco. “É como encontrar uma agulha no palheiro”, como dizem por aí. Deixo um desses casos ilustrado na imagem abaixo:

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Olha o tamanho da área de busca para achar UMA pessoa específica.

Fora isso, alguns capítulos trazem objetivos vagos e genéricos como “explore a ilha” sem te dizer exatamente o que você precisa fazer. Eu acabei descobrindo por acaso que cumprir missões secundárias (aka virar garoto de recados) era o que avançava com a história, pois ajudar os NPCs é o que o jogo quer dizer com “explore a ilha”.

No fim desse mesmo capítulo, você precisa encontrar um baú de tesouro baseado na ilustração de um mapa (lembra das Chocographs de Final Fantasy VII? É tipo isso). Eu acabei vendo a localização em um vídeo do Youtube, simplesmente porque não estava com saco para ficar procurando — pela ilha inteira — onde diabos estava o tal baú. E tem mais mapas de tesouro além desse, viu?

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Achar um baú de tesouro específico no vasto mapa do game dá trabalho.

O fato é: o mundo aberto e a exploração de One Piece: World Seeker funcionam. Porém, a estrutura de suas missões não faz lá o melhor uso destes elementos. Falta variedade, criatividade. Eu me diverti com o jogo como um todo, mas ali pelas 7 ou 8 horas, já estava bem de saco cheio da forma repetitiva com que suas missões e objetivos são apresentados.

Audiovisual

Jogos baseados em mangás/animes possuem altos e baixos quando são transferidos para outras mídias. Do lado positivo, temos a beleza de Dragon Ball FighterZ, que é o mais próximo de um anime controlável que eu já vi. No outro extremo do gráfico, há Jump Force e toda aquela gama de jogos tridimensionais onde os personagens têm um visual borrachudo e artificial.

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O visual do jogo é muito bonito

One Piece: World Seeker, felizmente, encontra um agradável meio termo. Rodando em uma engine exclusiva da Ganbarion (produtora), ele é um jogo tridimensional, mas que faz um bom uso do cel shaded para transferir o visual 2D para o ambiente 3D, mantendo praticamente intacta a rica identidade artística dos animes/mangás.

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Trocar uma ideia com os membros da sua tripulação também é importante

Essa transição funciona muito bem: o mundo do game é vasto, colorido e com um FOV (field of view/campo de visão) impressionante. Ainda que os modelos de NPCs se repitam mais do que deveriam, os cenários e personagens principais são caprichados e bem modelados. Destaque para a Cidade do Aço, um ambiente tipicamente urbano cheio de prédios, fachadas e placas que é o que mais se destaca no mapa.

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A imponente Cidade do Aço

O áudio traz algumas músicas que até são boas, mas tornam-se um pouco repetitivas — até por passarmos várias vezes pelos mesmos lugares. A dublagem em japonês é boa mas bastante limitada: os personagens quase não conversam de verdade, apenas falam os nomes uns dos outros e soltam gritinhos, gemidos, risadas e algumas expressões-chave do tipo “arigato”.

Conclusão

Ainda que seu formato de mundo aberto pareça um pouco antiquado, One Piece: World Seeker é um jogo imersivo e divertido, com visual caprichado e gameplay competente. Sair se pendurando e planando com Luffy é muito satisfatório, e ainda que a estrutura de suas missões seja bastante repetitiva, a história que é contada é boa, e o carisma da turma dos Chapéus de Palha sem dúvida injeta bastante personalidade no jogo.

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A história do game traz lições de moral envolvendo família, amizade e lealdade

E o melhor é que o game funciona mesmo para quem não é “versado” em One Piece: eu conheço só o básico (e recorri a muitas Wikis para não escrever besteira neste review), mas o jogo funcionou para mim, e me divertiu mesmo sem eu estar familiarizado com tudo aquilo. Quem é fã do anime/mangá provavelmente vai gostar ainda mais e catar muitas referências que me escaparam, mas é bom saber que ele não demanda um conhecimento prévio daquele universo para ser apreciado.

Eu realmente espero que o jogo venda bastante e ganhe uma sequência, para que os camaradas da Ganbarion absorvam o feedback dos fãs e refinem a fórmula, deixando-a ainda melhor. Franquias como Street Fighter, Uncharted e Titanfall evoluíram muito do primeiro para o segundo jogo, e é fácil identificar no que One Piece: World Seeker pode ser aprimorado. Com menos repetição, mais criatividade e variedade de missões, ele seria um jogo ainda mais legal.

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De qualquer forma, recomendo o jogo, por ser uma quebra de paradigmas feita com muito capricho — e pode ser curtido tanto por quem é fã de carteirinha de Luffy e sua turma quanto para quem mal sabe quem são estes personagens. Que One Piece: World Seeker vire uma franquia e mostre a outros estúdios que nem só de pancadaria pode se fazer um bom jogo baseado em mangá/anime.

One Piece: World Seeker foi lançado em 14 de março, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One (versão que analisamos, no Xbox One X). O game possui áudio em japonês, mas traz menus e legendas muito bem localizados em português brasileiro.

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