Análise Arkade: Fantasy Strike simplifica (até demais) as mecânicas de um jogo de luta

25 de julho de 2019
Análise Arkade: Fantasy Strike simplifica (até demais) as mecânicas de um jogo de luta

De uns anos para cá, anda rolando uma clara simplificação dos jogos de luta: easy combos, botão de habilidade especial e menos combinações mirabolantes andam tornando os fighting games bem mais acessíveis para quem não cresceu soltando hadokens e aplicando fatalities.

Vimos franquias bem tradicionais abraçando esta causa — The King of Fighters e Marvel Vs. Capcom, por exemplo — e até mesmo novos jogos, criados a partir de mecânicas muito mais simples (caso de Blade Strangers e SNK Heroines: Tag Team Frenzy).

Análise Arkade: Fantasy Strike simplifica (até demais) as mecânicas de um jogo de luta

Fantasy Strike, indie game de luta produzido pela Sirlin Games que está chegando hoje, dá um novo passo nesta direção: ele é provavelmente o fighting game mais acessível e simples que eu já joguei. Só não tenho muita certeza se isso é bom. Mas antes de falar de gameplay, vamos falar da…

História

Personagens de jogos de luta saem na porrada pelos mais variados motivos: pode ser para ser o campeão de um torneio, vingar-se de algum inimigo, ou para encontrar o oponente mais poderoso possível. Mesmo jogos de luta com boas histórias — tipo Mortal Kombat — ainda recorrem a “desculpas” estúpidas para justificar a pancadaria (vide as tretas de Johnny Cage e Sonya Blade).

Neste ponto, Fantasy Strike se sai bem. Ainda que não tenha um modo história cinematográfico como diversos outros jogos contemporâneos, ele está sim, preocupado em contar uma história — e aborda temas bastante delicados no processo.

Análise Arkade: Fantasy Strike simplifica (até demais) as mecânicas de um jogo de luta
Rook recrutando os competidores

O principal personagem do jogo é Rook, um imenso golem de pedra que, em suas viagens pelo mundo, cansou de ver seres humanos e outras espécies saindo no soco por futilidades. Para desbancar o tirano Chanceler Quince, Rook decide convocar os maiores guerreiros do mundo para um torneio… mas não é para ver “quem é o melhor”, mas sim para que todos se conheçam, formem laços e trabalhem juntos contra o vilão.

Ainda que a história nunca seja apresentada de forma particularmente empolgante, ela é muito engajada com temas atemporais como preconceito, racismo, escravidão, homossexualidade, entre outros.

Análise Arkade: Fantasy Strike simplifica (até demais) as mecânicas de um jogo de luta
Valerie é uma personagem lésbica, que só quer ficar de boa com sua parceira

A justificativa para os combates aqui é muito mais”do bem” que em outros jogos, e nesse ponto o game se destaca positivamente.

Simplicidade máxima

O gameplay de Fantasy Strike se apoia em um botão de ataque, dois de habilidades especiais, um de agarrão e outro de super habilidade. Ah, e tem também um botão de pulo. Pois é, aqui não bastas mover o direcional pra cima para pular, o que é bem estranho.

A falta de “meias luas” e golpes mais elaborados concede ao jogo uma vibe meio Super Smash Bros., mas ele consegue ser ainda mais simples mecanicamente do que o jogo da Nintendo: aqui apenas um botão alterna entre diferentes tipos de ataque se combinado com o direcional, os outros 2 têm basicamente um ataque padrão no chão (geralmente uma magia ou projétil) e outro no ar, e só. Sem contar que Smash Bros é mais um party game do que um jogo de luta (fãs, não me odeiem por dizer isso), enquanto Fantasy Strike se parece (e se comporta) como um jogo de luta mais tradicional.

Análise Arkade: Fantasy Strike simplifica (até demais) as mecânicas de um jogo de luta
Argagarg está entre os piores nomes de personagem que eu já vi…

As esquisitices não param por aí: em Fantasy Strike, é impossível se agachar; simplesmente não há esta opção. Além disso, existe um contra-ataque para agarrões — o Yomi Counter — que é automático… DESDE QUE você não esteja pressionando absolutamente nenhum botão, nem mesmo direcional. Sem sacanagem, há um counter bem poderoso que é ativado automaticamente somente quando não tem nenhum imput de comando sendo feito.

Outro detalhe curioso: as barras de vida dos personagens são divididas em quadrantes (o número de quadrantes varia conforme o lutador). Enquanto ataques comuns costumam sugar um quadrante, personagens mais fortes como DeGrey e Rook são perfeitamente capazes de definir um round com 2 ou 3 golpes… por outro lado, um soquinho “comum” corre o risco de gastar o mesmo que uma magia, ou um golpe especial.

Análise Arkade: Fantasy Strike simplifica (até demais) as mecânicas de um jogo de luta
Olha a quantia de dano que um agarrão do Rook causa! 😮

Confira algumas lutas que fiz no modo Survival clicando no play aí embaixo:

A verdade é que essa vibe “inclusiva” do jogo acaba sendo uma faca de dois gumes. Ele sem dúvida é um jogo bastante acessível para quem não “manja dos paranauês” típicos de jogos de luta… mas acaba sendo raso e limitado demais para quem cresceu com os dedos calejados de tanto jogar Street Fighter, The King of Fighters, Mortal Kombat e tantos outros jogos.

Vi muita gente elogiando esse fator acessibilidade do jogo, mas a mim, realmente, não agradou. Eu gosto de fighting games mais frenéticos e cheios de combos (Skullgirls <3), mas também consigo me virar com jogos que têm um pacing mais lento — tipo o recente Samurai Shodown, por exemplo. Fantasy Strike não é nem um, nem outro, e a falta de uma curva de aprendizado para “dominar” o gameplay de um personagem não me motiva a querer praticar mais e mais.

Personagens & Modos de Jogo

Fantasy Strike chega com um enxuto elenco de 10 personagens, entre humanos, golens, pandas (?!) e homens-peixe. Curiosamente, ele divide seus personagens em diferentes classes, no melhor estilo Overwatch.

Análise Arkade: Fantasy Strike simplifica (até demais) as mecânicas de um jogo de luta
Repare nas divisões de classes na lateral direita

Para começar, temos os Zoners, que são personagens com ataques longos, que podem controlar a luta à distância. Já os guerreiros da classe Rushdown se destacam por sua velocidade. Os Grapplers, como o nome sugere, são os brucutus especializados em agarrões Zangief-style. Por fim temos os Wildcards, que são os personagens mais imprevisíveis, com golpes tão estranhos quanto poderosos.

Essa divisão por classes é interessante e deixa a impressão de que o jogo tem uma preocupação em ser mais estratégico que os fighting games tradicionais. Na teoria isso é lindo, mas na prática não acho que funciona tão bem, e o notável desbalanceamento do jogo não tira real proveito destas nuances de comportamento entre os lutadores.

Análise Arkade: Fantasy Strike simplifica (até demais) as mecânicas de um jogo de luta
Mais um jogo com panda lutador!

Se o jogo peca pela falta de personagens, o mesmo não se pode dizer dos modos de jogo: tanto quem quer jogar sozinho quanto quem planeja reunir os amigos — online ou offline — vai encontrar uma boa variedade de modos de jogo. Temos coisas manjadas tipo Arcade e Survival, até um curioso modo Boss Rush, além de interessantes desafios diários que visam manter os players retornando regularmente.

Audiovisual

Fantasy Strike é o tipo de jogo que não tenta ser mais do que realmente é. Ele tem um visual bonito, com cenários legais e um character design bem variado, mas tecnicamente as coisas nunca são impressionantes, ainda que também não sejam feias — na verdade, há algumas animações bem legais. O jogo possui personagens tridimensionais que receberam uma demão de cel shaded para “parecerem” desenhados, e ainda que os cenários sejam 3D e apresentem alguma profundidade, o gameplay em si se mantém totalmente 2D.

Análise Arkade: Fantasy Strike simplifica (até demais) as mecânicas de um jogo de luta
Essa animação do Rook é uma das mais legais

Eu gosto da vibe “fantasiosa” dos personagens, ainda que só 2 ou 3 sejam realmente diferentões. Não há muitos detalhes, texturas nem nada, e a escassez de combatentes invariavelmente acaba deixando o jogo um bocado repetitivo — em um Survival de 50 lutas, por exemplo, você vai enfrentar diversas vezes os mesmos adversários.

As super habilidades tentam emular as animações estilosas e os ângulos de câmera arrojados de Street Fighter, mas não têm o mesmo impacto (nem o mesmo capricho). Novamente, nada aqui parece feio ou mal feito, a questão é que tudo é simples demais, chapado demais.

Análise Arkade: Fantasy Strike simplifica (até demais) as mecânicas de um jogo de luta

A trilha sonora e os efeitos sonoros também ficam nesta linha, não sendo ruins, mas também não conseguindo oferecer nada que fuja do básico, ou seja memorável. No geral, em termos de apresentação, Fantasy Strike ganha pontos por ser bem colorido e ter alguns personagens bem exóticos, mas não se esforça para impressionar o jogador.

Conclusão

Fantasy Strike me deixou dividido. Eu entendo e respeito a ideia de um jogo de luta mais amigável e acessível, porém não sou o público-avo dele. Eu preciso de um gameplay mais denso, profundo, com mais “sustança”.

Análise Arkade: Fantasy Strike simplifica (até demais) as mecânicas de um jogo de luta

Apesar disso, é fato que Fantasy Strike tem um público em potencial enorme, e sem dúvida vai agradar a galera que só quer distribuir uns sopapos, sem ter que decorar combinações complexas de botões.

Resta saber se a comunidade vai abraçar a causa, uma vez que o jogo não tem o nome nem a imponência de um Street Fighter da vida.

Fantasy Strike passou um longo tempo em Early Access no Steam, mas hoje (25/07) está sendo lançado em definitivo, com versões para PC, Playstation 4 e Nintendo Switch.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

Mais Matérias de Rodrigo

Comente nas redes sociais